03 - Crescimento, mudanças e riscos
Equipe Editorial Bibliomed
Como grupo, os jovens estão entre os membros mais
saudáveis da comunidade. Sobreviveram às doenças da infância e contam com os mais
baixos índices de mortalidade de qualquer grupo etário, tanto nos países desenvolvidos
como em desenvolvimento (185, 540). Os riscos relacionados à atividade sexual e aos
partos estão entre os mais graves enfrentados pelos jovens. Podem colocar em perigo não
só a saúde física como também o bem-estar emocional, econômico e social a longo
prazo. Os riscos que os jovens enfrentam contra sua saúde reprodutiva incluem: Doenças sexualmente transmitidas (DSTs) incluindo a infecção pelo vírus da imuno deficiência humana (HIV), que resulta na doença AIDS; Violência e coerção sexual, incluindo estupro, abuso sexual e o comércio do sexo; Gravidez e parto demasiado precoces, com risco elevado de lesões, doenças e morte
tanto para a mãe quanto para o bebê; Gravidez involuntária, conduzindo geralmente a um aborto perigoso e a complicações
posteriores.
Além disso, os jovens que se tornam pais muito precocemente, sobretudo as moças,
enfrentam as conseqüências econômicas e sociais da interrupção dos estudos e de
salários mais baixos. A maioria sabe pouco a respeito das DSTs, mesmo quando são sexualmente ativos (8, 303).
Mesmo quando eles visitam clínicas de planejamento familiar, os jovens podem não receber
informações específicas sobre as DSTs. No estudo feito na África do Sul, os
voluntários jovens que buscavam preservativos receberam orientação sobre AIDS em
somente 1 das 48 visitas às clínicas (5). Mesmo quando estão informados sobre as DSTs, os adultos jovens usam os preservativos de forma inconsistente (146, 175). Quanto mais cedo as pessoas se tornam sexualmente ativas, maior a probabilidade de
trocar de parceiro sexual e, em conseqüência, de enfrentar maior risco de exposição
às DSTs. Os organismos patogênicos das DSTs podem penetrar mais facilmente no muco cervical das
mulheres jovens do que no das mulheres mais velhas. O colo uterino de uma mulher jovem
está mais sujeito à infecção gonorréica e à clamidíase bem como ao vírus do
papiloma humano (HPV) que é transmitido sexualmente e causa o câncer uterino (64, 312,
340, 341). Os adultos jovens podem relutar ainda mais do que os adultos a buscar tratamento para as
DSTs, já que sua atividade sexual é desaprovada. Além disso, os jovens podem não saber
que são portadores de uma doença. Podem ter vergonha de procurar uma clínica ou não
dispor de acesso a uma clínica, ou ainda não dispor de recursos para pagar pelos
serviços. Muitos procuram curandeiros tradicionais não qualificados ou obtém
antibióticos em farmácias ou vendedores ilegais de medicamentos, sem se submeter a um
diagnóstico adequado. O tratamento das DSTs, quando é inadequado ou incompleto, poderá
mascarar os sintomas sem curar completamente a doença, tornando mais provável que a DST
seja transmitida a outras pessoas e que resultem complicações tais como a infertilidade
(185). Em todo o mundo desenvolvido, milhões de adolescentes vivem ou trabalham nas ruas e
muitos vendem sexo para ganhar a vida, aumentado sua exposição às DSTs (38, 60, 163,
225, 403, 404, 420). Alguns jovens podem ser forçados a uma relação sexual e outros têm pouco poder na relação sexual para exigir o uso de preservativos, particularmente se o parceiro sexual
for mais velho (324) — o que constitui um risco duplo, já que homens mais velhos têm
maior probabilidade de estarem infectados (76). Em algumas áreas, os homens adultos que
buscam parceiros sexuais não infectados para um relacionamento de curto prazo, buscam
cada vez mais mulheres jovens (305, 352, 484).
Uma DST não tratada pode causar a infertilidade tanto em homens quanto mulheres, além
de ter outras conseqüências devastadoras para as mulheres jovens e seus filhos. Nas
mulheres, as DSTs, especialmente a gonorréia e a infecção clamídica, podem provocar a
doença inflamatória pélvica (DIP), a qual pode acarretar danos irreversíveis às
trompas de Falópio e, portanto, causar a infertilidade (65, 286, 411, 521, 541). Mesmo um
único episódio de DIP aumenta o risco de gravidez ectópica, uma condição que pode ser
mortal devido à hemorragia interna súbita e grave que é produzida quando a gravidez
extra-uterina perfura a trompa de Falópio. A DIP também pode levar a dores pélvicas
crônicas, à dor durante o coito, a irregularidade menstrual e a episódios repetidos de
DIP (64). A infertilidade é particularmente trágica para mulheres jovens em culturas
onde os filhos representam o meio principal de prestígio social da mulher (293, 541). Idade da
mulher
Fonte: Mishra & Dawn 1986 (329) Obter um nível mais baixo de instrução, Contar com menos possibilidades de emprego e rendimentos mais baixos, Se divorciar ou se separar de seu parceiro (405, 450), e Viver na pobreza.
As conseqüências sociais da procriação precoce variam de acordo com as várias
culturas. Quando as mulheres se casam cedo e começam a procriar também cedo, a
maternidade acaba trazendo maior prestígio social e respeito. Quando se espera de uma
mulher que prove sua fertilidade como parte do processo matrimonial — como ocorre em
algumas partes da África — mesmo a gravidez involuntária pode melhorar as
circunstâncias sociais da mulher jovem, ao acelerar o processo do matrimônio ou
garantindo o suporte econômico (55, 373, 398). Também nos casos em que as moças têm
poucas chances de continuar seus estudos ou de conseguir um trabalho remunerado, a
maternidade precoce, mesmo se a moça não for casada, pode ser vista como a melhor rota
em direção à maturidade e à satisfação social (49, 50, 398, 458).
Doenças Sexualmente Transmitidas
Milhões de jovens em todo o mundo são infectados por DSTs a cada ano (394). Entre
todos os grupos etários dos EUA, por exemplo, as moças de idade entre 15 a 19 anos têm
a mais alta incidência de gonorréia entre as mulheres, enquanto que os rapazes da mesma
faixa etária têm a segunda maior incidência entre os homens (498). Além disso, pelo
menos a metade — até 6 milhões — de pessoas infectadas pelo HIV têm menos de 25
anos (394). Com 1 milhão de casos de AIDS no mundo inteiro, a alta incidência constatada entre jovens com idade atual na faixa dos 20 anos indica que muitos se infectaram com o HIV antes de completar 20 anos. Os padrões de transmissão, tanto nos países
desenvolvidos como em desenvolvimento, indicam que as mulheres jovens constituem o grupo
que enfrenta o mais alto risco de infecção pelo HIV, através de contato heterossexual
(92). Por exemplo, num estudo recente feito no Zimbábue, 30% das moças grávidas, de
idade entre 15 e 19 anos, eram HIV-positivas (508).
Os adultos jovens são particularmente vulneráveis às DSTs porque:
Em mulheres grávidas, as DSTs podem afetar a saúde do bebê bem como a saúde da
mulher. As DSTs contribuem ao nascimento prematuro e ao baixo peso no nascimento (90,
286). A infecção pela sífilis e herpes genital pode causar aborto espontâneo, morte
pré-natal ou perinatal (117). A gonorréia e a infecção clamídica podem atingir os
olhos do bebê durante o nascimento, prejudicando a visão se não forem tratadas (184,
419).
Violência e Coerção Sexual
No mundo inteiro, adultos jovens e crianças sofrem os traumas físicos e emocionais da
agressão sexual e do estupro (202, 463). Como grande parte da violência sexual não é
divulgada, é difícil estimar quantos jovens sofrem do abuso sexual, coerção sexual,
incesto ou violência. Freqüentemente, os responsáveis pela violência sexual contra
crianças e jovens não são pessoas estranhas; pelo contrário, são parentes, vizinhos
ou conhecidos (63, 356, 462). Quanto mais jovem for a mulher ao passar por sua primeira
experiência sexual, maiores as chances de que essa experiência tenha sido forçada.
Entre mulheres americanas, 74% e 60% das que tiveram relações sexuais antes dos 14 e 15
anos, respectivamente, declararam ter sido forçadas (17).
O abuso sexual na infância pode levar a um comportamento de alto risco mais tarde na
vida, incluindo o início precoce da atividade sexual consensual (63, 72, 137, 463). Por
exemplo, em Barbados, numa amostra de probabilidade de 407 homens e mulheres, o abuso
sexual durante a infância era o fator determinante mais importante de uma atividade
sexual de alto risco quando adulto jovem (188). Em um recente estudo realizado nos Estados
Unidos com 535 mães jovens, 93% das quais engravidaram antes dos 17 anos, dois terços
declararam ter sido agredidas sexualmente quando crianças. O estudo determinou que as
jovens mães que tinham sofrido abuso sexual quando crianças tinham iniciado sua
atividade sexual, em média, um ano antes do que outras pessoas de sua mesma idade que
não tinham sofrido abuso sexual. Além disso, elas tinham maior probabilidade de ter
consumido drogas e bebidas alcoólicas e menor probabilidade de ter usado
anticoncepcionais (63).
Em todo o mundo, a pobreza força muitos jovens de ambos os sexos a exercer uma
atividade sexual precoce como fonte de renda. Esses jovens geralmente dispõe de pouco
poder de barganha em suas relações sexuais e poderão não ser capazes de se proteger
contra a gravidez e as DSTs. Na Tailândia, estima-se que 800.000 moças de idade inferior
a 20 anos usam a prostituição como fonte de renda. Na verdade, a prostituição já se
tornou uma forma aceitável para as moças ganharem dinheiro antes do casamento (225). Em
partes da África, algumas jovens têm relações sexuais com homens muito mais velhos
que, em troca, pagam seus estudos ou lhes compram roupas e outras necessidades básicas (305, 352, 484).
Na América Latina, estima-se em 40 milhões o número de meninos da rua, número este
que atinge 25 a 30 milhões na Ásia, e 10 milhões na África, crianças essas que fogem
de seus lares devido à pobreza, abuso, abandono ou porque a AIDS os deixou órfãos (60,
163). Muitos meninos de rua são homens (38, 404). Somente no Brasil, cerca de 7 milhões
de crianças e jovens vivem nas ruas das cidades. Outros 10 milhões trabalham nas ruas em
tempo integral, muitos deles dedicados ao comércio sexual (60, 225, 403). Um estudo
realizado no Brasil constatou que um terço das mulheres que viviam ou trabalhavam nas
ruas e que já tinham tido relações sexuais declararam que tinham sido forçadas a tais
relações (507). Como os "meninos de rua" são evitados pela comunidade e,
freqüentemente, são recusados pelos serviços públicos, eles tendem a evitar o sistema
de saúde, tornando-se particularmente difíceis de alcançar com os serviços de saúde
reprodutiva.
Riscos da Gravidez Precoce para a
Saúde
Quando uma mulher é muito jovem, a gravidez, seja ela desejada ou indesejada, pode se
tornar perigosa tanto para a mãe quanto para o bebê. As complicações do parto e de um
aborto feito sem segurança estão entre as principais causas de morte entre as mulheres
com menos de 20 anos (394, 439, 461). Mesmo sob condições ideais, as jovens mães,
especialmente as que têm menos de 17 anos, tem maior probabilidade que mulheres acima de
20 anos de sofrer complicações relacionadas à gravidez e de morrer devido ao parto
(161, 327, 436, 490, 538). O risco de morte pode ser de duas a quatro vezes superior,
dependendo das condições de saúde da mulher e de sua condição sócio-econômica (212,
275, 301, 329, 428). (Veja Foto 2) Por exemplo, em um estudo retrospectivo de cerca de 11.000 gravidezes durante um período de 5
anos, os resultados constatados em um hospital de Bengala Ocidental, na Índia, variaram
de acordo com a idade, conforme se expõe a seguir:
Mortes maternas / 1.000
nascimentos
Peso médio de
recém-nascido
Nascimento prematuro (%)
Mortes perinatais / 1.000
nascimentos
12 a 19
3,80
1,9 kg
20
29,6
20 a 30
2,55
2,5 kg
16
18,4
Mais de 31
1,07
2,65 kg
11
4,3
As complicações da gravidez, que colocam em perigo a vida de mulheres de idade
inferior a 20 anos, são os mesmos riscos que todas as outras mulheres enfrentam:
hemorragia, septicemia, hipertensão ocasionada pela gravidez, inclusive pre-eclampsia e
eclampsia, parto obstruído, causado por desproporção cefalopélvica, complicações
resultantes de abortos inseguros, e anemia por deficiência de ferro. As mulheres jovens
enfrentam riscos maiores que as mulheres mais velhas de hipertensão, desproporção
cefalopélvica, anemia por deficiência de ferro, e abortos inseguros (7, 275, 281, 293,
330, 432, 451). Estes riscos são maiores nas mulheres mais jovens não só devido à sua
idade, mas também porque os partos de mulheres mais jovens são geralmente seus primeiros
partos, que são mais arriscados que o segundo, terceiro ou quarto partos. Fatores
econômicos, tais como pobreza, subnutrição, falta de instrução, e falta de acesso ao
atendimento pré-natal ou ao atendimento obstétrico de emergência, podem aumentar ainda
mais o risco de uma mulher jovem de sofrer complicações relacionadas à gravidez (19,
212, 428). Entre as jovens, bem como entre as mais velhas, os riscos são maiores para as
mulheres mais pobres, que são subnutridas e têm menores chances de obter um atendimento
pré-natal.
A hipertensão induzida pela gravidez, quando não tratada, pode provocar parada
cardíaca ou derrame, resultando em morte tanto para a mãe como para o bebê. A
hipertensão ocorre mais freqüentemente entre as mulheres que estão tendo seu primeiro
filho, sendo responsável por uma alta proporção das mortes de mulheres de idade
inferior a 20 anos (293, 451).
A desproporção cefalopélvica — ou seja, o caso em que a abertura pélvica de uma
mulher é muito pequena para permitir que a cabeça do bebê passe durante o
parto — pode retardar ou evitar o parto vaginal. Em alguns casos, se não for possível
realizar uma cesariana, o útero da mulher poderá se romper provocando a morte da mãe e do bebê. A desproporção pélvica é comum em mulheres muito jovens, cujo crescimento
pélvico ainda não se completou, bem como em outras mulheres de qualquer idade cuja baixa
estatura foi provocada por subnutrição quando crianças (281, 330). O parto prolongado
associado à desproporção cefalopélvica aumenta o risco de fístula, ou seja, uma
laceração entre a vagina e o trato urinário ou reto, que permite o vazamento de fezes
ou urina pela vagina. Em muitos países africanos, as lesões de fístula ocorrem mais
comumente em mulheres com menos de 20 anos, sendo o parto obstruído a principal causa
destas lesões (394, 490, 538). A fístula pode ser reparada por cirurgia. No entanto,
quando a mulher não tem acesso a um atendimento adequado, a lesão pode deixá-la
incapacitada pelo resto da vida e excluída da comunidade.
Em muitas regiões, a anemia por deficiência de ferro é um fator importante em quase
todas as mortes maternas. Uma mulher anêmica tem cinco vezes maior probabilidade de
morrer por motivos ligados à gravidez do que uma mulher não anêmica (510). As mulheres
anêmicas tem menor capacidade de resistir à infecção e de sobreviver à hemorragia e a
outras complicações do trabalho de parto e do parto. A anemia contribui ainda ao
nascimento prematuro e ao baixo peso do bebê (47).
A anemia por deficiência de ferro é particularmente comum entre mulheres grávidas,
sendo que as grávidas mais jovens têm maior probabilidade de ficar anêmicas que as mais
velhas, mesmo nos países desenvolvidos. Por exemplo, uma análise de oito estudos
clínicos realizados nos EUA constatou que as mulheres grávidas com menos de 20 anos de
idade tinham duas vezes a probabilidade de estar anêmicas do que as mais velhas (432). Um
estudo feito nos EUA com adolescentes grávidas que freqüentavam uma clínica pré-natal,
constatou que 70% tinham deficiência de ferro (47). O sangramento menstrual normal, uma
dieta deficiente em ferro absorvível e a malária são as causas principais de anemia em
mulheres grávidas. Para evitar a anemia durante a adolescência, as jovens necessitam de
duas vezes mais ferro do que as adultas do mesmo peso (66, 537).
Falta de atendimento pré-natal. Um cuidado pré-natal adequado pode reduzir a
mortalidade relacionada à gravidez e suas complicações, especialmente entre mulheres
muito jovens (19, 161, 314, 353, 432). No entanto, nos países em desenvolvimento, muitas
mulheres não contam com qualquer atendimento pré-natal (417) e as mulheres jovens são
as que têm menor chance de obter esse tipo de atendimento, mesmo em países desenvolvidos
(248, 460). Quando elas o conseguem, geralmente, já é no final da gravidez (293). Mesmo
quando ele está disponível, o serviço de atendimento pré-natal pode não ser usado
pois o parto é considerado normal para mulheres jovens e, portanto, como algo que não
exige cuidados médicos.
Maiores riscos para os bebês. A gravidez antes dos 20 anos traz também riscos
para o bebê da jovem mãe. Os dados das Pesquisas Demográficas e de Saúde (DHS) e de
outros estudos demonstram que os índices de mortalidade e morbidade são mais altos entre
os bebês nascidos de mães mais jovens (468). As mães mais jovens, especialmente aquelas
com menos de 15 anos, enfrentam índices maiores de parto prematuro, aborto espontâneo,
morte do bebê ao nascer e bebês de menor peso (161, 314, 329, 353, 394, 428, 432, 434,
464, 493, 538). Quando o bebê sobrevive, o alto risco de morte persiste durante toda a
primeira infância (32, 56, 113, 314, 329, 432, 464, 468, 490, 493).
Gravidez
Involuntária e Complicações Resultantes de Abortos Perigosos
Quando se deparam com uma gravidez involuntária, muitas jovens mulheres buscam o
aborto como solução, mesmo quando ele não é legal ou seguro. As estimativas de abortos
entre mulheres de idade inferior a 20 anos nos países em desenvolvimento variam de 1
milhão a 4,4 milhões, anualmente. A maioria desses abortos é feita sob condições
precárias de segurança, sendo que para algumas mulheres, esses abortos inseguros
resultam em incapacidade permanente, infertilidade ou morte (65, 106, 227, 319, 394, 566).
Quando o aborto não é seguro, ele pode se constituir num dos maiores riscos de saúde
que uma mulher jovem, sexualmente ativa, enfrenta na vida (301).
As mulheres com menos de 20 anos contribuem de forma desproporcional ao número de
casos de complicações de abortos e de mortes daí resultantes que são relatados por
hospitais dos países em desenvolvimento (207, 394, 410, 473). Por exemplo, estudos feitos
na América Latina demonstraram que de 14% a mais de 40% das mulheres hospitalizadas por
complicações de abortos durante os anos 80 tinham menos do que 20 anos (34, 397). Em
estudos conduzidos na África, os percentuais eram ainda mais altos: as mulheres com menos
de 20 anos eram responsáveis por até 68% das complicações de abortos tratadas em
alguns hospitais (9, 11, 78, 328). As mulheres jovens e solteiras têm maior probabilidade
que mulheres mais velhas de recorrer a pessoas não capacitadas para fazer um aborto, bem
como de tentar abortos tardios e, freqüentemente, auto-induzidos (54, 147, 220, 394,
538). Além disso, devido ao medo, vergonha, falta de acesso ou falta de dinheiro, as
mulheres jovens têm maior probabilidade de adiar a busca de cuidados médicos adequados
quando surgem complicações após um aborto (566).
Os riscos dos abortos perigosos à saúde incluem a septicemia (infecção) causada por
instrumentos anti-higiênicos ou abortos incompletos, hemorragia, lesões aos órgãos
genitais (tais como laceração cervical e perfuração uterina), além de reações
tóxicas a substâncias químicas e medicamentos usados para induzir o aborto. Entre as
complicações não fatais incluem-se a infertilidade e a fístula vesicovaginal (241,
282).
Conseqüências
Sociais e Econômicas da Procriação Precoce
Para as mulheres jovens que apenas começaram sua vida adulta, os riscos da
procriação não terminam no parto. Comparada com uma mulher que adia a procriação para
depois dos 20 anos, a mulher que tem seu primeiro filho antes dessa idade tem maior
probabilidade de:
No entanto, muitas sociedades condenam as jovens mulheres solteiras que dão à luz e
consideram que elas merecem o sofrimento emocional e econômico (366). Assim, muitas
famílias preferem dar suas filhas em casamento quando ainda estão muito jovens, para
evitar o risco de que uma moça engravide antes de casar. Em sociedades onde o divórcio
é inaceitável, as mulheres forçadas a se casar cedo por estarem grávidas, certamente
enfrentarão a violência e o abandono sem possibilidade de recurso (359). Se uma mulher
jovem engravidar antes do casamento, ela poderá ser expulsa de casa ou enviada para
longe. Se uma mulher jovem sentir que as sanções sociais e familiares são demasiado
fortes para suportar, ela poderá fugir ou tentar o suicídio (293). Em todo o mundo, é
desproporcionalmente alto o número de suicídios cometidos por adolescentes grávidas
(89, 162).
Conseqüências educacionais. As mulheres jovens que iniciam muito cedo o
processo de procriação, têm nível de escolaridade mais baixo do que as mulheres que
adiam a procriação para depois dos 20 anos (272, 273, 406). Nos países em
desenvolvimento, as estudantes que ficam grávidas raramente voltam à escola, sejam
casadas ou solteiras (178). Somente no Quênia, cerca de 10.000 alunas são forçadas a
abandonar a escola a cada ano por estarem grávidas (154). No Quênia e em outros países,
as escolas freqüentemente expulsam mulheres jovens que ficam grávidas, apesar de
raramente se tomar medidas contra os alunos homens que também sejam responsáveis por uma
gravidez. Muitas mulheres jovens arriscam abortos perigosos para evitar ter que deixar a
escola. Apesar de alguns países estarem modificando sua política de expulsão de alunas
grávidas, a maioria delas não podem voltar à escola pois devem cuidar dos filhos (178).
Alguns programas de extensão e centros femininos em todo o mundo procuram ajudar essas
jovens mães a combinar a função maternal com a escola (232, 385, 409). Por exemplo, o
Programa de Centros Femininos da Jamaica relatou que 64% de suas participantes voltaram à
escola, comparado com 15% das não participantes (232). Infelizmente, programas como esse
são pouco freqüentes. (Veja Foto 3)
Conseqüências econômicas. Devido às mudanças sociais e econômicas que
estão ocorrendo em todo o mundo em desenvolvimento, as conseqüências econômicas da
paternidade precoce são, freqüentemente, mais extremas e duradouras hoje em dia do que
no passado. Cada vez mais os jovens, sejam homens ou mulheres, se dão conta de que
necessitam de trabalhos remunerados e que, para obtê-los, é preciso se educar. Na
verdade, onde as mulheres jovens contam com poucas oportunidades de avançar
economicamente, como nas áreas rurais de muitos países em desenvolvimento, a
procriação precoce pode não piorar a sua perspectiva econômica. A maioria das áreas
urbanas oferece algumas oportunidades de trabalho remunerado à uma mulher jovem, desde
que ela tenha a habilidade necessária. Nas cidades, portanto, se uma mulher tem um filho
antes dos 20 anos, ela poderá sofrer as mesmas dificuldades econômicas que mulheres
semelhantes de países desenvolvidos, principalmente porque sua instrução foi
interrompida (209, 530). Na relação entre a pobreza e a paternidade precoce, a
causalidade parece existir em ambas as direções (582). Quanto mais pobre a mulher, maior
a probabilidade de que tenha filhos ainda jovem, ao passo que aquelas que têm filhos
ainda jovem têm maior probabilidade de continuar pobres (23, 43, 179, 273). No caso
extremo, muitas jovens mães solteiras são forçadas a praticar o comércio sexual para manter-se a si e aos filhos (516).
A maioria dos países em desenvolvimento toma poucas medidas legais para exigir que o
pai dê suporte financeiro à mãe e ao filho. Mesmo quando esse suporte é exigido, como
no caso dos EUA, o cumprimento da lei é irregular ou ineficaz. Em algumas sociedades, as
jovens mulheres solteiras que dão à luz recebem suporte econômico do pai da criança ou
de sua família, sobretudo quando o pai reconhece oficialmente a paternidade (373). Este
suporte poderá ser suficiente para salvar a jovem mãe da pobreza, como demonstra um
estudo chileno (79), mas o suporte poderá ser irregular ou ser interrompido depois de
alguns anos (530). (Veja Foto 4)
Conseqüências para os rapazes. Apesar da paternidade precoce poder aumentar o
prestígio social de um jovem em determinadas sociedades, os rapazes que se tornam pais
muito cedo podem perder oportunidades de melhorar seu nível de instrução ou progredir
economicamente. Quando eles se casam, deixam a escola para poder manter sua nova família
(440). Só recentemente, os pesquisadores começaram a analisar o impacto da paternidade
adolescente sobre homens jovens nos países desenvolvidos (42, 277, 369, 453). Pouca
informação existe no caso dos países em desenvolvimento.
Custos sociais. Especialmente quando as famílias não oferecem o suporte
econômico aos jovens pais e seu bebê, a procriação precoce impõe um custo à
sociedade. Estes custos, raramente quantificados, incluem a perda de produtividade de
jovens com baixo nível de instrução e empobrecidos, que se tornaram pais muito
precocemente, especialmente as jovens mães (82), além das despesas incorridas pelos
serviços governamentais. Nos EUA, o serviço de bem-estar social gasta anualmente US$10
bilhões com mulheres que tiveram o primeiro filho antes de completar 20 anos (77). Apesar
dos custos de bem-estar social não serem tão altos na maioria dos outros países, os
custos de saúde para jovens mães e seus filhos podem representar uma parte considerável
dos gastos totais em seguro social.
Atenção às
Necessidades e Prevenção dos Problemas
Os adultos jovens formam um dos maiores grupos cujas necessidades de serviços de
saúde reprodutiva continuam insatisfeitas. Necessitam ser capazes de se proteger contra o
sexo indesejado, as DSTs, a gravidez não planejada, a procriação precoce e os abortos
perigosos. Infelizmente, os adultos jovens enfrentam, geralmente, esses riscos sozinhos.
Em muitas partes do mundo, o apoio tradicional da família e da comunidade não se
encontra mais disponível ou não consegue mais acompanhar a realidade que muda
continuamente. As medidas sociais e de saúde organizadas pela comunidade ainda não
conseguiram preencher as lacunas, se bem que, em certos lugares e apesar da controvérsia,
tais medidas começam a ser implantadas. Apesar da revolução na área de planejamento
familiar ter ajudado a atender às necessidades de saúde reprodutiva de muitas mulheres
casadas e casais mais velhos, os jovens foram deixados à margem desse processo.
Com muita freqüência, quando os adultos discutem os jovens, a palavra mais usada é
"problema", ou seja, o problema da gravidez, o problema das DSTs, os problemas
de comportamento, de instrução dos jovens e da falta de responsabilidade. Mesmo assim,
os jovens são o potencial de crescimento e desenvolvimento de uma sociedade. São eles os pais, trabalhadores e líderes de amanhã. Para atender às necessidades de saúde reprodutiva dos adultos jovens de hoje é preciso muito mais do que resolver problemas.
Exige-se investimento no potencial dos jovens, ajudando-os a prevenir e resolver seus
problemas por conta própria.
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA
Palavras chave: jovens, mais, dsts, anos, mulheres, sexualmente, doenças, hiv, às, sexual, riscos, tanto, idade, de , incidência, idade 15, 15 19 anos, doenças sexualmente, alta incidência, 15 19,
conteúdos relacionados
Search_LibdocFree @SearchWordsAux='03 - Crescimento, mudanças e riscos jovens, mais, dsts, anos, mulheres, sexualmente, doenças, hiv, às, sexual, riscos, tanto, idade, de , incidência, idade 15, 15 19 anos, doenças sexualmente, alta incidência, 15 19, ',@type='ARTICLE', @libdocidant=12035, @max_rows=10, @key_rank=0- Artigo / Publicado em 11 de novembro de 2019
-
Orientação sexual: a difícil tarefa é de quem?
- Artigo / Publicado em 7 de maio de 2002
-
01 - Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) - Introdução
- Artigo / Publicado em 22 de agosto de 2000
-
01- Como satisfazer as necessidades de adultos jovens
- Artigo / Publicado em 17 de janeiro de 2003
-
03 - Como os jovens se infectam
- Artigo / Publicado em 4 de maio de 2021
-
Circuncisão masculina e prevenção da infecção pelo HIV
- Notícia / Publicada em 9 de abril de 2018
-
Muitos adultos não recebem avaliações adequadas de risco sexual
- Notícia / Publicada em 10 de agosto de 2015
-
Menos adolescentes estão fazendo sexo nos Estados Unidos
- Notícia / Publicada em 26 de maio de 2013
-
Estudo alerta para a incidência de melanoma nas crianças e adolescentes
- Notícia / Publicada em 30 de novembro de 2011
-
A atividade sexual entre adolescentes infectados pelo HIV é comum
- Notícia / Publicada em 15 de agosto de 2008
-
Comportamentos de risco para infecção por HIV em delinqüentes jovens com transtornos psiquiátricos