04 - Visão geral dos programas para adultos jovens
Equipe Editorial Bibliomed
Os programas de saúde reprodutiva estão se tornando cada
vez mais perceptivos quanto às necessidades dos adultos jovens, mas a maioria dos
esforços até agora foram pequenos e isolados. Os programas de planejamento familiar
começaram e continuam a se concentrar nas mulheres casadas, um grupo de grande porte e
que tem óbvias necessidades em termos de saúde reprodutiva. Por outro lado, os esforços
para atender as necessidades dos jovens continuam a buscar abordagens que sejam tanto
eficazes como politicamente aceitáveis. Nos anos 60, os planejadores do desenvolvimento
iniciaram os primeiros programas escolares para informar aos alunos sobre o rápido
crescimento populacional. Sob o nome de Educação para a Vida Familiar (EVF), esses
programas evoluíram de forma a abordar o planejamento da vida. Nos anos 80, os educadores
começaram os programas de prevenção da AIDS. Mas os serviços de saúde reprodutiva
para os jovens, seja em escolas ou em outras partes, continuam a ser pequenos pois são
objeto de controvérsia e, portanto, difíceis de estabelecer e financiar. Os esforços
para reduzir os riscos do sexo entre os jovens têm tido maior sucesso no norte da Europa,
onde programas bastante abrangentes refletem o suporte da comunidade ao tratamento das
necessidades dos adultos jovens. (Veja o Quadro 3)
Programas Escolares de Grande Porte
Os programas escolares foram os primeiros e continuam a ser os maiores programas para
adultos jovens (veja a Tabela 9). Esses
programas oferecem informação e educação, mas não serviços.
Nos anos 60, a preocupação com o rápido crescimento da população introduziu os
programas de educação populacional nas escolas. Esses planos de estudo focalizavam o
relacionamento entre o crescimento populacional, a nação e o indivíduo. Os alunos
aprendiam que suas escolhas em termos de tamanho da família moldavam seu futuro e o
futuro da própria nação. Os planejadores de desenvolvimento assumiam que essa
informação motivaria os jovens a limitar o tamanho de suas próprias famílias (74). Os
primeiros programas nacionais, na Índia, Filipinas e Coréia do Sul, empreendidos no
final dos anos 60 e início dos anos 70, não cobriam as questões de sexualidade e
anticoncepção. Alguns dos primeiros programas da América Latina, nos anos 70,
conseguiram discutir a fisiologia reprodutiva humana, ao passo que os da África
enfatizaram o desenvolvimento econômico e as questões ambientais (74, 424, 495). Naquela
época, como agora, cada nação concebia seu próprio currículo escolar e decidia como o
programa seria implementado.
Agora, a maioria dos programas, sob o tema mais amplo de Educação para a Vida
Familiar, busca ajudar os jovens a planejar uma vida mais produtiva. Os materiais do curso
discutem o crescimento populacional mas também tratam de questões tais como saúde e
nutrição pessoal, planejamento da vida, tomada de decisões e respeito tanto por
mulheres como homens (446). Alguns programas também incluem a discussão da fisiologia
reprodutiva, sexualidade e anticoncepção. Apesar de algumas nações tais como a Índia
e Quênia terem programas uniformes com currículos preparados pelos ministérios da
educação, outros países permitem que as regiões, distritos escolares e até escolas ou
professores individuais escolham os tópicos que serão abordados (446). Em muitos
lugares, os programas EVF estão sujeitos à controvérsia e, mesmo onde o governo os
endossa, eles não são sempre implementados, freqüentemente porque os professores não
aprovam o material ou não foram treinados suficientemente (320). A maioria dos programas
EVF não foi avaliada ou mesmo descrita em detalhe, conhecendo-se muito pouco sobre seu
impacto.
Ao final dos anos 80, muitas nações e sistemas escolares viam o EVF nas escolas como
uma forma rápida e eficiente de informar ao público sobre a AIDS. Os programas
existentes acrescentavam informação sobre a AIDS (495). Em alguns países, tais como
Malavi e Peru, novos programas EVF foram iniciados para cobrir a AIDS (81, 234).
O Fundo Populacional das Nações Unidas (UNFPA) e a Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) financiaram a maioria dos programas EVF nos
países em desenvolvimento. Em 1995, o UNFPA dava suporte aos programas escolares
nacionais ou regionais de 79 países do mundo inteiro. Em alguns casos o UNFPA também dá
assistência aos programas EVF de extensão dirigidos por organizações não
governamentais e grupos de jovens tais como os Escoteiros e os Bandeirantes (447).
Programas de Saúde de Menor Porte
A controvérsia e o medo da controvérsia bloquearam os programas de grande porte de
prestação de serviços na maioria dos países. Em sua maioria, as autoridades de saúde
e as organizações não governamentais puderam angariar suporte público e político
somente para os programas de menor porte, que atendem às necessidades de grupos
específicos de jovens cujos problemas de saúde são os mais óbvios e urgentes. Entre
esses estão as adolescentes grávidas, jovens sem lar, prostitutas jovens e toxicômanos.
Por isso os serviços de saúde reprodutiva para os jovens — sejam eles clínicas de
extensão, distribuição de preservativos ou orientação quanto a
anticoncepcionais—sempre foram esforços pequenos e isolados (veja a Tabela 9). O alto índice de infecção pelo HIV
entre os jovens levou ao maior apoio dos programas de prevenção da AIDS, que fornecem
informação, preservativos e treinamento em técnicas de negociação para jovens nas
categorias de risco.
A experiência desses programas, que são pequenos mas freqüentemente inovadores,
poderia inspirar esforços de maior monta, se fossem mais amplamente conhecidos e aceitos.
Por exemplo, existem programas de menor porte que oferecem serviços de saúde nos centros
de jovens da Jamaica, nos albergues da Associação Cristã de Mulheres de Gana, nas
fábricas do México e Tailândia e na região dos clubes noturnos do Chipre (87, 95, 186,
479, 503). No Brasil e na Tanzânia, os programas piloto experimentam métodos de
treinamento de assistentes sociais e profissionais de saúde que trabalham com pessoas
jovens (116, 372, 589).
Programas e Normas Sociais
para os Jovens Europeus
Os países do norte da Europa que têm programas nacionais de saúde reprodutiva para
todos os jovens são os que apresentam os menores índices de gravidez entre jovens, bem
como de DSTs e de abortos do mundo desenvolvido (17). Nesses países, as normas sociais
são tolerantes e se combinam com os serviços amplamente disponíveis para os jovens. Mas
como as nações diferem entre si de várias formas, é difícil determinar com precisão
como esses bons resultados poderiam ser duplicados em outras partes. O fato de que se
trata de países pequenos, com populações relativamente homogêneas e alto padrão de
vida pode contribuir para a existência de normas que dão suporte à responsabilidade
reprodutiva dos cidadãos jovens.
Os países do norte da Europa enfatizam a responsabilidade sexual para aqueles que já
são sexualmente ativos, facilitando seu acesso a anticoncepcionais e suprimentos. Eles
não reduziram a atividade sexual entre os jovens (159, 237, 238). Cada um desses países
desenvolveu sua própria abordagem, mas todos têm tanto programas educacionais como
serviços acessíveis. Por exemplo, a Dinamarca, Finlândia e Suécia estabeleceram
educação sexual obrigatória nas escolas, enquanto que o governo da Holanda patrocina
esforços de extensão, tais como programas informativos pela televisão e uma revista
especial que é enviada a todos os jovens (164, 237, 295). Isso não significa que o
governo tenta substituir os pais na educação dos filhos. Na Holanda, 80% dos 100.000
jovens entrevistados declararam ter aprendido sobre sexo com seus pais (17, 435).
A maioria dos países do norte da Europa coloca serviços médicos gratuitos e
convenientes à disposição de todos os residentes, inclusive adultos jovens. A Suécia
estabeleceu clínicas especiais para jovens nos anos 70 mas, atualmente, os jovens usam
uma combinação de clínicas de saúde básica, programas de distribuição de
preservativos e serviços especiais para jovens (237, 511). A Holanda também conta com
uma rede de clínicas de jovens (237, 374). Na Dinamarca, os estudantes de 14 ou mais anos
de idade fazem visitas organizadas a clínicas de planejamento familiar para aprender
sobre métodos anticoncepcionais. Aos 16 anos, os jovens recebem seus próprios cartões
de seguro de saúde, permitindo-lhes escolher seus próprios médicos e obter serviços
gratuitos e confidenciais (164). (Veja a Foto 5)
Toda essa liberdade de informação e serviços não significa, porém, que os jovens
desses países começam sua atividade sexual muito antes do que em outros. Por exemplo, a
juventude dinamarquesa recebe mais informações sobre sexualidade e métodos
anticoncepcionais do que os jovens dos EUA e, no entanto, tanto na Dinamarca como nos EUA,
a idade média por ocasião da primeira relação sexual é em torno de 17 anos (17, 164,
525). A experiência do norte europeu sugere que uma estratégia nacional eficaz para
baixar os índices de gravidez entre mulheres jovens inclui a permissão para que os
jovens assumam responsabilidade pela sua própria saúde reprodutiva, dando-lhes
informações precisas e relevantes e orientação (159, 238).
Uma abordagem como essa não é necessariamente cara. Os programas europeus tiveram
sucesso em parte porque os jovens receberam informação através dos programas escolares
e obtiveram acesso aos mesmos serviços subsidiados que os adultos utilizavam. Mais
importante ainda é o fato de que as normas sociais prevalentes na região dão suporte ao
comportamento sexual responsável (295). Os jovens não temem fazer perguntas e procurar
os serviços, e muitos adultos não temem ensinar seus filhos a proteger sua saúde se
forem sexualmente ativos.
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA
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