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chega em casa muito cansada, faz um relaxamento,
escuta uma música que gosta, descansa, entra em
sintonia. Tudo isso faz muito bem.
O que a senhora faz para manter sua mente ativa?
Nossa, eu faço muitas coisas. A minha neta, no
Dia do Idoso, me mandou um cartão escrito assim:
“Dudu”, porque ela não me chama de avó, é de
Dudu. “Você não é idosa, porque você brinca com
a gente, você nada, você corre, você dança...”,
enfim, colocaram tanta coisa que ela não queria
me cumprimentar pelo Dia do Idoso.
Eu também criei um dever de casa, todo mundo ri
dele, mas ele dá certo demais para minha cabeça,
para minha memória. Às vezes quando tem alguém
que fala para mim “ai Dulce, eu to assim com a
minha cabeça, não sei o que” eu falo “vai fazer
o dever de casa”. Dever de casa eu acho que toda
mulher depois de 60 anos deveria fazer. Eu pego
um caderno, da letra A até a Z. Então todo dia
eu sou obrigada a fazer 72 palavras de cada letra.
Isso é obrigatório para mim. Primeiro da letra A,
amanhã é da letra B, depois é da letra C. E nada de
olhar em jornal, em revista ou pedir ajuda. Muita
palavra cruzada também, essas coisas também
ajudam demais.
Outra coisa que me faz muito bem é que tem dois
anos que estudo espanhol na UEMG. Sabe, isso
tudo é gostoso na vida da gente, não nos deixa
para trás. A gente encontra com jovens, é muito
bom...
Para algumas pessoas envelhecer é sinal de
sofrimento, para a senhora percebe-se que não.
Porque a senhora acha que chegou tão bem a essa
idade enquanto outras pessoas não?
E fiquei viúva aos 58 anos. Depois da missa de
sétimo dia fui trabalhar. Então muitas pessoas
criticaram, mas gente, eu precisava trabalhar. A
gente não tinha plano de saúde nem nada, era
tudo muito caro. Você tinha que pagar médico na
hora, cirurgia na hora, enfermeiro na hora, tudo
na hora. Meus filhos estavam todos na faculdade,
nenhum deles tinha como me ajudar ainda. Então
nós temos que encarar a vida. Você perdeu uma
pessoa que amou muito, mas agora o espaço é
outro.
Sua relação com a religião é muito forte?
Sim, é. Eu tenho uma irmã que é religiosa. Ela é
carmelita descalça da ordem de Santa Terezinha,
elas morrem para o mundo e vivem para Deus.
Inclusive na morte da minha mãe e do pai ela não
foi, elas não podem sair. É uma vida muito santa,
muito bonita, mas eu não entraria em uma dessas,
eu acho que é uma fria para mim, entende? Não
é minha vocação. A primeira coisa que eu faria lá
dentro é uma piscina, a segunda é um carnaval. E
quando eu chego lá elas adoram, porque eu conto
casos, conto piadas. Tem horas que minha irmã
fica apavorada com medo de eu falar alguma coisa
imprópria, porque às vezes eu levo uma fantasia
e já chego pronta com aquela roupa dizendo:
“Cheguei!”. E elas levam o maior susto.
A gente fala assim brincando, mas eu acho que
a religião esta dentro de nós. Eu respeito todas
as religiões, porque eu acho que eu acho que o
capa
“Dever de casa eu acho que
toda mulher depois de 60
anos deveria fazer. Eu pego
um caderno, da letra A até
a Z. Então todo dia eu sou
obrigada a fazer 72 palavras
de cada letra.”