Population Reports - Série A - Nº10 - Anticoncepcionais Orais (AOs) - 03 - Continuação e troca de método

Equipe Editorial Bibliomed

As mulheres param de tomar a pílula por várias razões. Algumas, porque desejam engravidar. Outras não necessitam mais da contracepção. Ainda outras podem decidir adotar um outro método que melhor atenda à mudança das necessidades de planejamento familiar de sua família. Mas muitas mulheres param de tomar a pílula e não adotam imediatamente um outro método, apesar de continuarem sexualmente ativas e apesar de não desejarem engravidar. Algumas destas mulheres permanecem desprotegidas por meses a fio e uma boa parte delas engravida (veja o quadro).

Se o número de mulheres que param de tomar a pílula sem adotar outro método - apesar de ainda necessitarem da contracepção – for reduzido em apenas 1%, seriam evitadas 620.000 gravidezes não intencionais a cada ano.

Continuação

A taxa de continuação indica quantas mulheres de um grupo original de 100 usuárias de anticoncepcionais continuam usando o mesmo método depois de períodos determinados, os quais são geralmente de 12 meses ou múltiplos de 12 meses. Em geral, as taxas de continuação do uso de pílulas – bem como de injetáveis e preservativos – são mais baixas do que as do DIU e dos implantes. É muito fácil uma usuária parar de usar a pílula, os injetáveis ou os preservativos por conta própria, ao contrário do DIU ou dos implantes que têm que ser removidos por médicos ou em clínicas de saúde.

As taxas de continuação dos anticoncepcionais orais variam bastante dependendo do país ou do programa. Em 8 dos 10 países que dispõem de dados de pesquisas, cerca de dois terços ou menos das usuárias de pílulas continuaram o uso do ACO por mais de 12 meses, e metade ou menos das usuárias continuaram o uso da pílula durante pelo menos 2 anos (veja a Figura 3). Como comparação, em 7 dos 9 países com dados comparáveis, dois terços ou mais das usuárias de DIU continuaram usando o DIU por mais de dois anos (4, 58, 139, 153, 225).

De modo geral, os programas de planejamento familiar ajudam um número maior de mulheres a satisfazerem suas intenções reprodutivas quando eles se concentram no atendimento de mulheres que já usam um método ao invés de limitar-se a atrair novas usuárias (102). Na medida em que o uso de anticoncepcionais se tornar mais difundido, o número de usuárias que continuam a usar os anticoncepcionais será cada vez maior do que o número de novas usuárias em potencial. Por exemplo, nos EUA estimou-se que somente um quinto das quase 19 milhões de usuárias da pílula em um determinado ano tinham iniciado o uso naquele mesmo ano (181).

Veja Figura

Comparação dos usos a curto e longo prazo. Algumas mulheres usam os ACOs por pouco tempo – quatro a seis meses, em média (62, 177). As usuárias de curto prazo têm maior probabilidade de interromper o uso devido a efeitos colaterais tais como enjôo, sangramento inesperado, surgimento de manchas, aumento de peso e hiper-sensibilidade dos seios (124, 139, 180, 182, 192, 193, 227).

Apesar de um grupo considerável de usuárias de ACOs deixarem de usá-los após alguns meses, muitas outras mulheres são usuárias de ACOs a longo prazo. Os dados relativos a usuárias tanto de curto como de longo prazo permitem constatar que é grande o número das mulheres que dependem da pílula por muito tempo. Por exemplo, em meados da década de 90, o tempo médio de uso da pílula era de 18 meses nas Filipinas (153) e de 27 meses na Indonésia (58). Em Zimbábue, onde a maioria das usuárias do planejamento familiar dependem da pílula, a duração média de uso dos ACOs era de 28 meses (186). Uma pesquisa canadense de 1995 constatou que a duração média de uso da pílula era de 7 anos e que, entre as usuárias da pílula com mais de 35 anos, cerca de 70% tinham usado a pílula por mais de 10 anos (17).

Efeitos colaterais

Geralmente, os efeitos colaterais são a principal razão individual pela qual as mulheres param de usar a pílula depois de pouco tempo. Em Bangladesh, por exemplo, das 45% de usuárias da pílula que interromperam o uso dentro de um ano, metade o fez devido aos efeitos colaterais. Um número muito menor de mulheres que interromperam o uso – somente 16% - pararam porque desejavam engravidar, enquanto que 13% pararam por outras razões tais como desaprovação do marido, disponibilidade, custo, desejo de adotar um método mais eficiente, conveniência e preocupações quanto aos efeitos da pílula sobre a saúde (139). De forma semelhante, os efeitos colaterais foram a razão citada pela metade das mulheres que deixaram de usar a pílula no Equador, Egito e Tunísia depois de um e dois anos de uso (4, 139, 153, 186) (veja a Tabela 1).

Uso irregular da pílula. A regularidade ou irregularidade com que as mulheres tomam a pílula pode afetar a incidência dos efeitos colaterais. Quando se deixa de tomar uma ou mais pílulas, ou quando as pílulas são tomadas com atraso, isto pode aumentar a ocorrência de enjôos, vômitos, manchas de sangue e sangramento inesperado (37, 124, 163, 179).

Na verdade, o uso irregular da pílula pode criar uma seqüência indesejada de eventos. Por exemplo, uma mulher deixa de tomar uma pílula, provocando o surgimento de spotting (manchas) ou sangramento inesperado. No dia seguinte, ela toma duas pílulas para compensar a pílula que não tomou anteriormente, porém isto pode provocar enjôo e, talvez, vômito. Devido a estes problemas, ela deixa de tomar outras pílulas – pensando erroneamente que ao parar de tomar a pílula, os efeitos colaterais desaparecerão, o que, por sua vez, pode provocar ainda mais efeitos colaterais. Em breve, esta seqüência de eventos poderá levar a mulher a cessar totalmente o uso da pílula.

Muitas mulheres interrompem o uso da pílula porque não foram bem informadas, desde o início, de que a pílula poderia provocar efeitos colaterais (180, 235). Quando os efeitos colaterais são inesperados, eles podem causar medo e insegurança. Uma das mensagens mais importantes sobre o uso da pílula que os serviços e as clínicas podem passar é explicar antecipadamente às mulheres os possíveis efeitos colaterais e mostrar que o uso irregular pode agravar, e não melhorar, os efeitos colaterais (veja quadro).

Sangramento inesperado e manchas. Para muitas mulheres, o uso da pílula torna suas menstruações mais regulares e reduz a perda de sangue. No entanto, o sangramento inesperado e o surgimento de manchas sanguíneas ocorrem em algumas usuárias e afetam o uso da pílula, sobretudo quando as mulheres não entendem a razão do sangramento. Algumas mulheres pensam erroneamente que o sangramento irregular indica a existência de uma doença grave como o câncer (88, 166) e, por isso, acabam parando de tomar a pílula.

As usuárias que ocultam o uso da pílula – isto é, mulheres que usam a pílula sem que seus parceiros saibam – temem que o sangramento inesperado acabe revelando aos seus parceiros ou famílias que elas estão usando um anticoncepcional. As mudanças do padrão menstrual, o sangramento irregular e a amenorréia são uma fonte importante de preocupação e, geralmente, são a principal razão do abandono da pílula por parte das usuárias que ocultam o uso (22). Por exemplo, as mulheres muçulmanas não podem rezar quando estão menstruadas e, portanto, quando faltam seguidamente às sessões de oração, os maridos e outros membros da família poderão suspeitar de que elas estejam usando anticoncepcionais de forma oculta (22).

Nas culturas que restringem as atividades das mulheres durante a menstruação, o sangramento inesperado é muito mais do que um efeito colateral desagradável ou assustador. A participação das mulheres na preparação dos alimentos, nos rituais religiosos, eventos comunitários, atividades escolares - ou seja, sua mobilidade, de modo geral – fica seriamente restrita quando estão menstruadas (13, 134). Por exemplo, algumas mulheres na Índia não podem tocar seus filhos quando estão menstruadas, e outras são forçadas a passar as noites separadas de suas famílias (77). Os episódios de sangramento prolongado ou freqüente, que limitam as atividades rotineiras das mulheres, podem contribuir muito para convencê-las a interromper o uso dos ACOs.

Lacuna de proteção anticoncepcional

Algumas mulheres que desejam evitar a gravidez enfrentam uma lacuna de proteção anticoncepcional porque param de tomar a pílula mas não adotam outro método de planejamento familiar para substituí-la (36, 168, 180). Por exemplo, um estudo de um ano feito na Índia observou que 25% das mulheres que declararam ter interrompido o uso dos ACOs por outras razões, fora o desejo de ter um filho, não adotaram um outro método (65). Em Bangladesh, das mulheres que interromperam o uso da pílula dentro de 18 meses por qualquer outra razão fora o desejo de engravidar, metade não adotou nenhum outro método anticoncepcional (123). Entre as mulheres das Filipinas que interromperam o uso da pílula mas ainda necessitavam de contracepção, 68% passaram até um ano sem adotar outro método (153). Em Zimbábue, quase 75% das mulheres que deixam de tomar a pílula ficam sem nenhuma proteção contra a gravidez durante mais de um ano (186). Nos EUA, uma pesquisa de 1995 constatou que 20% das mulheres que interromperam o uso da pílula não tinham ainda adotado um outro método anticoncepcional um ano depois de terem parado de tomar a pílula (225).

Veja Tabela 1Foto

Esta lacuna na proteção anticoncepcional é responsável por muitas gravidezes, já que as mulheres recuperam rapidamente sua fertilidade depois de interromper o uso da pílula. Por exemplo, em Gana, 53% das mulheres que pararam de vir às clínicas de saúde para obter ACOs engravidaram dentro de quatro meses. Das mulheres que esperaram mais de quatro meses para voltar, 75% engravidaram. Cerca de 40% relataram tais gravidezes como não intencionais (227).

Mudança de método

Apesar de toda pessoa ter o direito de trocar de método de planejamento familiar, este direito deve ser exercido com pleno conhecimento, pois as mulheres que trocam a pílula por outro método de planejamento familiar podem aumentar o risco de uma gravidez indesejada (36, 168, 180). Uma análise dos hábitos de uso de um grupo de usuárias da pílula nos EUA ao longo de um ano, extrapolada a todas as usuárias de pílulas dos EUA, atribuiu 194.000 gravidezes não intencionais a cerca de 1,7 milhões de mulheres que trocavam os ACOs por métodos menos eficazes, entre eles os preservativos, diafragmas, espermicidas, outros métodos de barreira, coito interrompido e abstinência periódica (181).

Entre as mulheres das Filipinas que deixaram de usar a pílula, 25% adotaram um outro método tradicional de planejamento familiar, mas nenhuma dessas mulheres desejava outra gravidez (153). De forma semelhante, em Bangladesh, 12% das usuárias da pílula que trocavam de método ou interrompiam o uso da pílula adotavam um método tradicional (139).

Evidentemente, as mulheres que trocam os ACOs por métodos de longo prazo ou permanentes experimentam um número muito menor de gravidezes indesejadas do que as mulheres que adotam métodos menos eficazes. Por exemplo, das 880.000 usuárias da pílula nos EUA que, segundo estimativas, trocam a pílula por um DIU ou pela esterilização, cerca de 11.000 engravidarão de forma não intencional (181).

Depois de ter o número de filhos que desejavam inicialmente, as usuárias da pílula trocam-na freqüentemente pelo DIU, implantes ou esterilização. Na Finlândia, por exemplo, a pílula é o método mais comum usado pelas mulheres que ainda não têm filhos. O DIU é usado quase que exclusivamente por mulheres que já tiveram pelo menos um filho, enquanto que a esterilização torna-se mais comum entre as usuárias de anticoncepcionais que têm mais filhos (117). Em Sri Lanka, o número de usuárias com mais de 30 anos que trocaram a pílula pela esterilização era duas vezes superior ao das usuárias com menos de 30 anos (109).

Muitas mulheres que param de tomar a pílula acabam tomando-a novamente mais tarde. Em Gana, das mulheres que tinham interrompido o uso da pílula e voltaram mais tarde à mesma clínica buscando atendimento de planejamento familiar, metade escolheu a pílula mais uma vez (227). No Peru, cerca de 30% das mulheres que pararam de tomar a pílula por conta própria começaram a tomá-la novamente dentro de um ano (119). Um estudo feito nos EUA constatou que, um mês depois de interromper o uso da pílula, 65% das mulheres começaram a usar anticoncepcionais novamente. Destas, mais de um quinto decidiu usar novamente a pílula. Um ano depois de interromper o uso, 80% tinha retomado o uso de anticoncepcionais e, mais uma vez, um quinto escolhia a pílula (225).

Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA

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