04 - Intervalos reais ou preferidos entre os filhos

Equipe Editorial Bibliomed

Em média, as mulheres de países em desenvolvimento têm intervalos muito mais curtos entre os partos do que prefeririam ter (15). Muitas mulheres não só não conseguem realizar suas próprias metas reprodutivas, mas também estão praticando intervalos muito mais curtos do que o período de 3 a 5 anos entre um parto e outro, período este considerado como o mais saudável pelas novas evidências que têm surgido. Se mais mulheres conseguissem fazer valer os intervalos que preferem entre seus partos, as taxas de fertilidade ficariam ainda mais reduzidas, já que intervalos mais longos entre partos geralmente significam que as mulheres têm menos filhos ao longo de toda a sua vida reprodutiva (29).

Intervalos reais entre os nascimentos

Os intervalos entre os nascimentos estão se alongando, mas a maioria das mulheres ainda pratica intervalos mais curtos do que o ideal de 3 a 5 anos. O intervalo médio de partos de uma mesma mulher nos países em desenvolvimento é de cerca de 32 meses, ou seja, 4 meses aquém de 3 anos, conforme indica análise feita por Population Reports de 55 países que possuem dados do programa DHS. Apesar desta estatística sugerir que muitas mulheres estão próximas de atingir o intervalo mais saudável entre seus partos, na verdade, 57% das mulheres dos países incluídos na análise dão menos de 3 anos entre um parto e outro (ver a Figura 2).

Intervalos atuais entre os partos. Um número muito maior de mulheres necessita espaçar mais os nascimentos para poder contar com os benefícios à saúde. Mesmo na Indonésia, onde os intervalos entre nascimentos atingem uma mediana mais elevada (45 meses), 36% das mulheres ainda apresentam intervalos menores do que 3 anos. Em Zimbábue, que apresenta a segunda mediana mais elevada de intervalos entre nascimentos (40 meses), 40% das mulheres ainda apresentam intervalos menores do que 3 anos. (A mediana refere-se ao intervalo de nascimentos de um país que se encontra no "meio" exato, ou seja, metade das mulheres desse país apresentam intervalos mais longos e a outra metade intervalos mais curtos que a mediana).

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Em cada região, é semelhante a proporção – ponderada pela população – de mulheres que apresentam intervalos entre partos mais curtos do que 2 anos, de 2 a 3 anos, de 3 a 4 anos, e de mais de 4 anos. A porcentagem de mulheres com intervalos entre partos de menos de 3 anos varia de 52% na América Latina a 60% na África sub-Saara. A África sub-Saara apresenta menos mulheres com intervalos entre partos inferiores a 2 anos do que qualquer outra região. Somente 22% das mulheres dessa região têm intervalos tão curtos, comparado a 26% na Ásia e Pacífico e 31% na Europa Oriental e Ásia Central.

Talvez de forma surpreendente, entre os 55 países da análise, as maiores proporções de mulheres com intervalos inferiores a 3 anos tendem a surgir em alguns países em desenvolvimento de renda mais alta, tais como a Jordânia, Turquemenistão e Iêmen. Nos países em desenvolvimento de renda mais alta, o uso de métodos anticoncepcionais de longo prazo para limitar os nascimentos é mais comum do que os métodos para espaçar de curto prazo. Os intervalos entre nascimentos são mais curtos em tais países porque muitas mulheres preferem ter seus filhos logo em seguida e depois usar a contracepção para limitar ao invés de espaçar os nascimentos (15).

Tendências dos intervalos entre nascimentos. Os intervalos entre nascimentos estão aumentando ao longo do tempo, na maioria dos países. Dos 34 países que dispõem de múltiplas pesquisas desde 1986, a proporção de mulheres que espera pelo menos 3 anos entre um parto e outro aumentou entre a primeira e a segunda pesquisa, em quase todos os países. Há várias razões para isto: as mulheres podem se sentir mais motivadas a espaçar seus partos porque as oportunidades de educação e emprego estão se ampliando e, em função disto, mais mulheres poderão desejar adiar sua próxima gravidez (17, 106, 147). Além disso, as pessoas têm agora meios melhores de controlar sua fertilidade pois os serviços de planejamento familiar se expandiram, sobretudo nas áreas urbanas. Ao mesmo tempo, em alguns países, a instabilidade econômica ou política pode ter convencido mais casais a esperar mais tempo antes de começar a ter filhos (5, 199).

Os intervalos entre os nascimentos estão aumentando mais rapidamente em alguns países (Indonésia, Zimbábue) do que outros. Na Indonésia, observa-se o aumento mais rápido dos intervalos entre os nascimentos. A mediana desses intervalos na Indonésia aumentou de 34 meses, em 1987, a 45 meses em 1997, um crescimento médio superior a 1 mês por ano. A porcentagem de mulheres com intervalos inferiores a 3 anos caiu de 55%, em 1987, a 36% em 1997, uma redução de quase 2% ao ano. Um forte apoio governamental ao planejamento familiar, maior acesso aos serviços, mudança das intenções reprodutivas, e níveis mais elevados de uso de anticoncepcionais ajudam a explicar o rápido aumento dos intervalos entre nascimentos na Indonésia (182, 191). Os intervalos entre nascimentos também estão aumentando em Zimbábue. A porcentagem de mulheres que dão intervalos inferiores a 3 anos entre seus partos caiu quase 2% ao ano, entre 1988 e 1999 (ver a Tabela 5). A rápida redução em Zimbábue do número de mulheres com intervalos mais curtos deve-se principalmente ao aumento do acesso e uso da contracepção por parte de mulheres tanto jovens como mais maduras (116, 170).

Ver Quadro: Medição dos intervalos dos nascimentos

Em alguns países – Haiti, Índia e Mali – os intervalos entre nascimentos não aumentaram. As razões principais parecem ser o declínio das práticas tradicionais que contribuem a intervalos mais longos entre os partos, tais como a abstinência após o parto e a amamentação prolongada (33, 125, 200) (ver a pág. 17). O uso de anticoncepcionais para o espaçamento dos nascimentos está aumentando somente minimamente em alguns países da África sub-Saara (3, 59).

Intervalos preferidos entre os nascimentos

Em muitos países, os intervalos preferidos pelas mulheres entre seus partos estão se alongando. Na medida em que a contracepção se torne mais amplamente disponível e as normas sociais mudem, mais pessoas escolhem intervalos mais longos. Por exemplo, uma análise constatou que, entre meados da década de 80 e início da década de 90, os intervalos médios preferidos entre os nascimentos aumentaram em todos os 11 países de 4 regiões, aumento este que chegou a 9 meses ou mais em 3 países (15).

Em um estudo de 9 países da África sub-Saara onde foram feitas pesquisas repetidas, os intervalos de tempo que as mulheres preferiam entre os partos aumentaram em todos os nove (142). O valor mediano dos intervalos preferidos entre os partos aumentou em média 5 meses desde as primeiras pesquisas, realizadas principalmente nos anos 80, e as pesquisas mais recentes dos anos 90. Os países com os aumentos mais pronunciados do intervalo de tempo preferido entre os partos foram o Senegal, com um aumento de 9,2 meses, e Mali, Uganda e Zimbábue, cada um com um aumento de 7,6 meses.

Comparação entre intervalos reais e preferidos. Na maioria dos países em desenvolvimento, os intervalos reais observados pelas mulheres entre um parto e outro são mais curtos dos que elas prefeririam (15). Mas em vários países, tais como o Egito e o Paquistão, os intervalos reais praticados pelas mulheres encontram-se próximos aos seus intervalos preferidos (160). Os países onde é mais longo o intervalo mediano preferido entre os nascimentos apresentam a maior defasagem entre os intervalos preferidos e os reais.

Um descompasso muito grande entre os intervalos reais e preferidos significa que está em curso uma transição de uma fertilidade alta a uma fertilidade baixa, ou seja, as metas reprodutivas estão mudando mas o comportamento contraceptivo ainda não começou a acompanhar a mudança (141). Em muitos países da África sub-Saara é justamente onde as mulheres encontram-se mais longe de atingir os intervalos que prefeririam entre os nascimentos, especialmente Comoros, Ruanda, Quênia, Zimbábue e Gana (por ordem da maior à menor defasagem). Em Comoros é onde as mulheres mais têm que alongar o espaçamento real – em um pouco mais da metade (17 meses) – para alcançar seu espaçamento preferido (47 meses) entre os nascimentos (142) (ver a Tabela 6).

Em quase todos os países da África sub-Saara, as mulheres que preferem intervalos mais longos têm maiores chances de que seu filho anterior tenha sobrevivido, de serem mais velhas (até os 40 anos, quando os relacionamentos se estabilizam), de terem mais filhos sobreviventes, de estarem informadas e de usarem a contracepção, de aprovarem o planejamento familiar, e de serem casadas com homens de melhor nível de instrução (142).

Se as mulheres de países onde é maior a defasagem entre intervalos reais e preferidos dos nascimentos conseguissem atingir suas metas de espaçamento, a mortalidade infantil seria reduzida substancialmente. No Quênia, a mortalidade neonatal cairia em 11%, a mortalidade infantil, em 13%, e a mortalidade abaixo dos 5 anos diminuiria 17% (142).

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Population Reports é publicado pelo Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA.

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