08 - Melhor comunicação entre clientes e provedores

Equipe Editorial Bibliomed

Uma boa comunicação entre os clientes e os provedores de serviços de planejamento familiar durante a orientação é um elemento essencial da escolha informada. Quando a orientação é vista sob a forma de uma parceria, na qual os clientes e os provedores comunicamse com franqueza, trocam informações, expressam emoção, fazem e respondem perguntas livremente, os clientes ficam mais satisfeitos, entendem e se lembram das informações com maior facilidade, usam a contracepção de forma mais eficaz e vivem vidas mais saudáveis (104, 109, 173).

O processo de escolha informada de planejamento familiar começa, evidentemente, muito antes da pessoa visitar o serviço especializado, e muitas pessoas fazem escolhas informadas mesmo sem um contato pessoal com um provedor de serviços. Mas se o/a cliente decide consultar um serviço, existe comprovada evidência do que clientes e provedores podem fazer juntos para garantir que as decisões de planejamento familiar sejam baseadas no princípio da escolha informada.

A orientação voltada à escolha informada, como toda boa orientação em geral, deve ser vista como uma parceria entre dois especialistas—o provedor de serviços, na qualidade de especialista médico, e o cliente, na qualidade de especialista em sua própria situação e necessidades (391, 432). Os clientes podem assumir um papel ativo na sessão de orientação (248), enquanto que os provedores podem entender e tratar das preocupações, desejos e necessidades dos clientes desde que todos concordem em se envolver em um diálogo franco e expressivo (299, 436).

Aperfeiçoamento da orientação

Tanto clientes como provedores de serviços de planejamento familiar têm a responsabilidade de garantir que o processo de orientação reflita o princípio da escolha informada e leve os clientes a tomar suas próprias decisões de planejamento familiar.

(Veja Quadro 7 e Quadro 8)

Existem alguns obstáculos que geralmente aparecem no caminho de uma boa comunicação entre clientes e provedores. Entre estes estão: as barreiras médicas desnecessárias e outras restrições que os provedores introduzem nos serviços; as próprias preferências dos provedores quanto à contracepção e a favor ou contra certos métodos; possíveis dificuldades, tanto de clientes como de provedores, para discutir a sexualidade; as diferenças de condição e conhecimento entre provedores e clientes; e os preconceitos inerentes a cada sexo. A busca de formas de superar estes obstáculos ajudar a fomentar a escolha informada.

Evitar barreiras médicas desnecessárias. Algumas vezes os programas e os provedores impedem, inadvertidamente, que os clientes recebam o método anticoncepcional que preferem, quando insistem em seguir políticas ou práticas não justificadas cientificamente, baseadas apenas em parte em argumentos médicos (39, 382). As contraindicações obsoletas continuam, às vezes, a fazer parte das diretrizes oficiais de um programa ou das rotinas de triagem informal adotadas pelos provedores (39).

Estas barreiras médicas desnecessárias podem inibir a escolha informada mesmo quando as diretrizes oficiais tentam garantir que clientes aprovados medicamente obtenham os métodos que realmente desejam (383, 467). Por exemplo, em um estudo feito em cinco países africanos, observouse que muitos provedores impunham duas vezes mais critérios de qualificação do que as diretrizes nacionais de planejamento familiar em vigor (288).

Também no Quênia, um estudo de 1999 estimou que 78% das mulheres que não menstruavam voltavam para casa sem receber nenhum serviço, com a instrução de que esperassem até sua próxima menstruação para confirmar que não estavam grávidas, restrição esta desnecessária para a maioria dos métodos hormonais (399). Muitas clientes que voltam para casa sem receber um método acabam nunca recebendo seu método preferido ou nenhum outro método, muitas vezes porque não têm condições de voltar às clínicas (396).

Evitar impor as tendências dos provedores. O princípio da escolha informada significa que os provedores devem refrear suas próprias preferências e respeitar as preferências dos clientes, mesmo que estes escolham um método menos eficiente, usem um método apenas esporadicamente, troquem freqüentemente de método ou recusem algum ou todos os serviços que lhes são oferecidos (139). No entanto, existem muitos provedores que acham que devem tomar as decisões de planejamento familiar por seus clientes por “serem eles, os provedores, os que sabem o que é melhor” (102, 119, 244).

Às vezes, os provedores erguem barreiras com base na idade das pessoas, estado civil ou outros critérios não adequados (178, 289). Em particular, muitos provedores negam o atendimento de planejamento familiar a jovens não casados (195, 247). Por exemplo, numa pesquisa feita em Gana em 1994, 26% dos provedores entrevistados declararam que o casamento era um prérequisito para obter atendimento de planejamento familiar. Cerca de 76% dos provedores exigia idade mínima para dar atendimento de contracepção porque pensavam que o acesso à contracepção leva os adultos a se comportarem de forma promíscua (423).

Os provedores têm às vezes suas próprias preferências e idéias preconcebidas sobre que método anticoncepcional é melhor para os clientes (102, 193, 378, 410). Em um estudo feito na Jamaica em 1993, 90% dos médicos disseram que preferiam a pílula para as mulheres que desejam adiar a primeira gravidez e 40% disseram que se opunham a pelo menos um método de planejamento familiar, geralmente os injetáveis ou os métodos baseados na percepção da fertilidade (176).

Na Índia, um estudo de 1994 constatou que a maioria dos provedores eram influenciados pelos alvos específicos do método naquela época do programa e, portanto, escolhiam a esterilização, o DIU e, em menor escala, a pílula para suas clientes (255, 446). No Quênia, uma razão pela qual o uso do DIU diminuiu dramaticamente ao longo de um período de 10 anos foi o fato de que muitos provedores de serviços eram tendenciosos contra o método (400).

Uma apresentação equilibrada é a melhor opção, ou seja, uma discussão tanto dos aspectos positivos como negativos dos métodos (2, 413, 421). Quando os provedores estão mais cientes de seus próprios preconceitos, inclinações e percepções, eles evitam fazer escolhas para os clientes e procuram, ao invés, ajudálos a fazer escolhas informadas por si sós. Uma indicação de que um certo provedor é tendencioso com relação a certos métodos é quando se constata que seus clientes escolheram uma combinação de métodos anticoncepcionais drasticamente diferente daquela de outros provedores. De forma semelhante, se a combinação de métodos anticoncepcionais entre os clientes de uma certa clínica apresentase tendenciosa com relação a um método particular, a razão pode ser as preferências do próprio provedor (41, 382).

Para resolver os problemas de imposição de preferências, podem ser feitos exercícios de representação de papéis e grupos de discussão com clientes para ajudar os provedores a entenderem como seu comportamento afeta as escolhas feitas pelos clientes (69, 128, 358). A modelagem do comportamento— isto é, a apresentação de exemplos positivos de orientações—pode ajudar os provedores a melhorarem sua interação com os clientes (325, 374).

Sentir-se à vontade com o tema da sexualidade. Os provedores de serviços de planejamento familiar podem, eles mesmos, não sentir-se à vontade para discutir certas questões sexuais, passando portanto a evitá-las, e muitos assumem que os clientes também não querem discuti-las (34, 294, 300). Mas sem uma discussão da sexualidade, muitos clientes provavelmente farão escolhas mal informadas de planejamento familiar (100, 294).

Para muitos clientes, a sessão de orientação é a única oportunidade de discutir as questões sexuais, onde eles realmente têm interesse em discutir tais assuntos. No Egito, 71% dos clientes disseram que não se sentiram envergonhados de discutir a sexualidade durante a orientação. Um deles disse: “Se a médica nos pergunta... nos contaríamos a ela nossos problemas, mas se não pergunta, eu teria vergonha de contar a ela” (3). O treinamento que recomenda aos provedores de serviços refletir sobre seus próprios sentimentos e experiências com a sexualidade pode ajudá-los a se sentirem mais à vontade discutindo o assunto com os clientes (34, 294).

Redução da defasagem social. As diferenças de classe social entre provedores e clientes, bem como de níveis de instrução, conhecimento científico e outros tipos de condições, geralmente interferem com a boa comunicação entre eles. Às vezes, os provedores tratam os clientes de nível sócio-econômico mais elevado de forma diferente dos de nível mais baixo (139, 429). Os provedores tem uma tendência particular de acreditar que sabem o que é melhor para os clientes de menor poder aquisitivo. Os provedores de serviço de situação mais elevada geralmente subestimam seus clientes de situação mais baixa e, por isso, acabam tomando decisões por eles (429).

(Veja Foto 16)

Por exemplo, um estudo feito na Bolívia em 1993 revelou que muitos clientes de origem indígena Aimará reclamavam que os provedores comportavam-se de forma descortês e esnobe e ofereciam somente o DIU como opção anticoncepcional, sem explicar os efeitos secundários (370).

Os provedores e clientes geralmente têm opiniões diferentes quanto à saúde e maneiras diferentes de entender como o corpo funciona e o que causa as doenças. Normalmente, o entendimento do provedor se baseia na ciência, enquanto que o do cliente se baseia na tradição, opiniões populares e discussões informais (166, 188).

Os clientes raramente mencionam suas próprias crenças de saúde, a não ser que os provedores indaguem sobre as mesmas, mas frequentemente eles rejeitam informações que não se casam com suas próprias crenças (110, 150, 157, 254). Os provedores podem reduzir estas defasagens de entendimento expressando respeito pela crenças dos clientes e procurando criar vínculos entre estas visões e o modelo médico de saúde (188).

A questão de diferença entre os sexos. Os papéis do sexos— papéis que uma determinada cultura considera como apropriados para o homem e para a mulher—são pouco discutidos, mas afetam freqüentemente a forma em que os provedores e clientes interagem e as decisões que os clientes tomam. Quando os clientes são mulheres, os provedores têm menor tendência de responder a perguntas, dar informações técnicas, oferecer alternativas de tratamento e diagnosticar e tratar de certas doenças, além de terem maior probabilidade de atribuir as reclamações das clientes a fatores psicossomáticos (242, 321).

Às vezes, os provedores assumem que os homens não querem tomar decisões de planejamento familiar ou usar a contracepção. Na verdade, estes provedores fazem as escolhas para os homens, o que explica o fato de que os métodos anticoncepcionais voltados aos homens são usados muito menos amplamente do que os métodos voltados para as mulheres (111, 429). Para tratar das diferenças entre os sexos com relação às decisões sobre planejamento familiar, os provedores podem perguntar a cada cliente se ele/ela deseja envolver outras pessoas na sua decisão sobre planejamento familiar. Se algum familiar do/a cliente opõe-se às suas intenções de planejamento e se o/a cliente sente-se à vontade para conversar sobre o assunto, o provedor pode convidar o cônjuge ou outros membros da família do/da cliente para discutir as várias opções de planejamento familiar e explicar porque é melhor quando os próprios clientes tomam suas decisões de planejamento familiar (77, 298).

No entanto, quando estão acompanhadas de seus parceiros na sessão de orientação, as mulheres participam menos do que quando estão sozinhas e podem ter menos influência nas decisões sobre planejamento familiar. Por exemplo, no Quênia, os clientes do sexo masculino comunicavam-se mais ativamente do que as do sexo feminino durante as sessões de orientação para casais. Os homens davam voluntariamente informações adicionais ou faziam perguntas em 66% das vezes que tinham oportunidade de falar, mas no caso das mulheres, isto só acontecia em 27% das vezes. Os provedores ofereciam informações mais detalhadas aos homens do que às mulheres e os homens tinham mais influência sobre o conteúdo, direção e duração da sessão (242).

O treinamento pode ajudar os provedores, tanto homens como mulheres, a entender melhor os papéis de cada sexo.

Quando os provedores entendem como as diferenças entre os sexos influenciam fatores vitais como a comunicação conjugal, as intenções de procriação e a violência doméstica, eles conseguem ajudar melhor os clientes a fazerem escolhas bem informadas de planejamento familiar (106, 186, 326).

Clientes ativos

Os clientes que participam ativamente do processo de orientação— ou seja, que fazem perguntas, demonstram suas opiniões, expressam suas preocupações e oferecem voluntariamente informações pessoais relevantes—tomam melhores decisões de saúde (105, 230, 346). Quando os clientes cumprem um papel ativo nas decisões sobre planejamento familiar, eles têm maior confiança nos resultados e têm maior probabilidade de levar a cabo o processo (201, 244).

Para participar ativamente das sessões de orientação, os clientes precisam ser estimulados (373). A maioria dos clientes sente-se mais à vontade para se abrir quando convidados a fazê-lo pelo provedor. Os clientes que ainda não tiveram muito contato com provedores de serviços de planejamento familiar geralmente não sabem qual deve ser sua atuação ao visitar uma clínica. Muitos pensam que os provedores preferem que os clientes não façam perguntas ou então temem estar usando muito do tempo do provedor. Alguns adotam uma atitude passiva porque não querem parecer ignorantes, enquanto que outros jamais contestariam a autoridade do provedor (14, 353). Os clientes relutam particularmente em fazer perguntas quando acham que “o provedor é quem sabe tudo” e acabam aceitando um método recomendado pelo provedor, mesmo que não seja seu método preferido.

Os provedores às vezes acreditam incorretamente que o silêncio dos clientes é sinal de que não têm perguntas ou dúvidas. Mas, geralmente o silêncio indica falta de confiança para fazer perguntas ou espera de uma deixa do provedor para que o cliente tome a palavra (37, 68). Os provedores freqüentemente não dão aos clientes informação suficiente para que eles possam assumir um papel mais ativo (14, 137). É verdade que o bombardeio dos clientes com perguntas nem sempre faz com que eles se comuniquem mais ativamente (173, 243), mas os provedores solícitos—que tranquilizam, demonstram aprovação e fazem sugestões construtivas—geralmente ajudam os clientes a participarem muito mais (248).

Os provedores podem tranquilizar os clientes, mostrando-lhes que podem falar livremente sobre questões delicadas e assegurando- lhes que nada dito durante a sessão de orientação será comentado com qualquer outra pessoa (299). Podem pedir aos clientes que expressem seus sentimentos e que sintam- se à vontade para discutir sua situação pessoal (38). Os provedores poderão encorajar os clientes a contarem suas próprias histórias, a falarem daquilo que mais lhes interessa, sem forçar os clientes em uma direção particular (391). Esta abordagem geralmente traz à discussão os aspectos que são mais importantes para os clientes.

Aumento da participação do cliente. Os programas de planejamento familiar aumentam a participação dos clientes fazendo uso mais produtivo do tempo que eles passam na clínica e preparando os clientes para ter uma participação ativa. O tempo que o cliente passa esperando sua consulta pode ser também uma oportunidade de aprendizado (14, 353, 416). Se o cliente tiver oportunidade de aprender mais sobre os vários métodos anticoncepcionais disponíveis, antes da consulta com o provedor, terá mais tempo para focalizar os métodos que mais lhe interessam (245).

Antes da orientação, os clientes podem se preparar marcando numa lista de checagem as perguntas que eles gostariam de fazer aos provedores (447) (veja Quadro 7). Também ajudaria mostrar um vídeo apresentando clientes que servem de modelo, oferecer material de leitura, ou empreender discussões na própria sala de espera (13, 230, 408). Os programas também podem preparar os clientes para participarem mais ativamente na tomada de decisões. Pesquisas feitas principalmente em países desenvolvidos, em outras áreas de saúde além do planejamento familiar, constataram que esta preparação ajuda os clientes a buscarem informações mais eficientemente, a informarem mais aos provedores sobre sua condição de saúde e a verificarem a informação que recebem dos provedores (68, 353, 394). A preparação dos clientes para adotar um comportamento mais ativo faz com que eles não só obtenham mais informações nas sessões de orientação, mas também se lembrem mais delas (394). A preparação dos clientes pode cobrir o direito de fazer escolhas informadas de planejamento familiar, as técnicas para obter informações, e como serem mais dinâmicos em suas comunicações com os provedores (230, 250, 394).

Os clientes têm maior probabilidade de fazer perguntas quando têm tempo para pensar nelas antecipadamente (416). Em 2000, um projeto piloto da Indonésia, “Paciente Inteligente”, trabalhou com 525 clientes individualmente para redigir suas perguntas, priorizá-las e depois ensaiá-los a fazê-las. A preparação deixava os clientes mais seguros de que fariam perguntas durante a sessão de orientação. Em avaliação posterior, constatou-se que os clientes preparados previamente falavam com muito mais freqüência, faziam mais perguntas (média de 5,5, comparada a 3,5 perguntas para os outros) e discutiam mais preocupações (média de 5,6, comparada a 4,5 preocupações para os outros). Apesar do projeto ser difícil de implementar em todas as clínicas do país, ele demonstra que a preparação dos clientes antecipadamente leva a um comportamento mais dinâmico (250).

Como ajudar clientes a fazerem escolhas informadas

Qualquer profissional dos serviços pode aprender a dar um tipo de orientação que propicie a escolha informada por parte dos clientes. Todo o pessoal de planejamento familiar pode ser instruído para estabelecer uma melhor comunicação com os clientes e a promover o princípio da escolha informada(21, 403).

A melhor forma dos provedores ajudarem a promover a escolha informada é através de sessões de orientação centradas nos clientes, nas quais as preocupações, os desejos e o bem-estar dos clientes são os elementos mais importantes e são os clientes que controlam o intercâmbio (244). A orientação centrada no cliente leva a melhores decisões de planejamento familiar (114, 295, 432). Por exemplo, no Egito, pesquisas feitas sete meses depois da sessão de orientação constataram que os índices de continuação do uso de anticoncepcionais eram mais altos e a satisfação dos clientes era três vezes mais elevada quando as sessões de orientação eram centradas nos clientes ao invés de serem centradas nos provedores (4).

A iniciativa MAQ (Maximização do Acesso e Qualidade) elaborou seis princípios da interação entre cliente e provedor que podem ser usados pelos serviços de planejamento familiar com o fim de promover a escolha informada (298). Estes princípios focalizam a necessidade de tratar cada cliente muito bem, oferecer o método preferido do cliente e oferecer informação e orientação relevantes. De forma semelhante, o processo REALCE ajuda tanto conselheiros como clientes utilizando um processo de tomada de decisões que informa as escolhas dos clientes (ver Population Reports, Guia REALCE de Orientação/Aconselhamento, Série J, No. 48, Dezembro de 1998).

Preferências de métodos. Para iniciar, o provedor pode perguntar: “Em que podemos ajudá-lo/a hoje?” e depois perguntar aos novos clientes se têm um determinado método em mente. Geralmente, os métodos que os clientes preferem são os melhores métodos para seus casos. Os provedores podem discutir o método preferido, pedindo aos clientes que expliquem em suas próprias palavras o que já ouviram falar sobre o método, sem contestar ou criticar os clientes (100, 348). Os provedores podem também dar os nomes de outros métodos anticoncepcionais que estejam disponíveis e perguntar aos clientes se gostariam de conhecê-los melhor (298). Mesmo que os clientes não queiram mais informações sobre tais métodos, pelo menos saberão que existem e que estarão disponíveis se e quando suas necessidades se modificarem.

Mas antes que os clientes se decidam sobre um método qualquer, os provedores não podem se esquecer de informar-lhes que o preservativo é o único método anticoncepcional que protege contra as infecções sexualmente transmitidas (IST’s) (ver o quadro 3). Os programas de planejamento familiar podem incorporar a orientação sobre IST/HIV e ajudar todos os clientes a entenderem seu próprio risco de infecção e, se for o caso, oferecer-lhes a possibilidade de fazerem exames. Os provedores podem ajudar as mulheres HIV-positivas a entenderem que arriscam-se a transmitir o HIV aos filhos se ficarem grávidas e a pensarem muito antes de tomarem a decisão de ter filhos (9).

Alguns provedores querem tanto evitar escolher em nome dos clientes que acabam discutindo todos os métodos igualmente, ao invés de focalizar somente os métodos que mais interessam a cada cliente (244). Não é mais necessário, como antes se acreditava, informar a cada cliente individualmente tudo que é preciso saber sobre todo método anticoncepcional (veja o quadro 8).

(Veja Foto 17)

Muitos provedores não perguntam aos clientes se preferem um método anticoncepcional particular. O percentual varia consideravelmente de um país a outro. De acordo com Análises de Situação feitas em 12 países da região sub-Saara da África entre 1992 e 1997, no ponto mais baixo da escala estava Burkina Faso, onde os provedores perguntavam a 48% dos novos clientes de planejamento familiar que método preferiam. No ponto mais alto da escala estava o Senegal, com 82% (289).

Às vezes, as preferências iniciais se baseiam em informações imprecisas. Para garantir que estas escolhas sejam informadas, os provedores podem pedir, sem transmitir qualquer idéia de aprovação ou desaprovação, que os clientes expliquem sua escolha (244, 348). Levantamentos feitos mostraram que os provedores do Equador perguntavam a 99% dos seus clientes suas razões para escolher um determinado método, em Zimbábue, 87%, e em Uganda, 73% (407) (ver a Figura 6).

Para os novos clientes que não têm ainda um método anticoncepcional em mente, obter informações sobre seus interesses específicos—como, por exemplo, o espaçamento ou limitação de partos, a contracepção de emergência ou a proteção contra IST’s—ajuda a focalizar a discussão sobre os métodos de maior interesse (139). Os provedores podem perguntar aos clientes o que eles gostariam de saber sobre o planejamento familiar (100, 348), adaptar a informação com base no que os clientes desejam saber e ajudar os clientes a pensar em que atributos eles desejam em um método (31, 299).

É variado o percentual de provedores que discutem métodos anticoncepcionais em detalhe com seus clientes. De acordo com pesquisa feita com mais de 15.000 clientes em 8 países latino-americanos, 83% dos clientes disseram que a duração da consulta foi suficiente para tratar de suas necessidades, 88% disseram que tiveram oportunidades para fazer perguntas e esclarecer dúvidas, e 90% disseram que o uso do método foi explicado claramente (459). Uma pesquisa feita no Quênia observou que os provedores explicavam como o método funcionava em 56% das consultas (300). Em Uganda, os provedores informavam a 94% dos clientes como usar o método selecionado, comparados com 83% no Equador e 85% em Zimbábue (407) (ver a Figura 6).

A informação anticoncepcional que os provedores dão ou deixam de dar durante as sessões de orientação podem ser essenciais ao uso eficiente do anticoncepcional. Por exemplo, em uma clínica do Quênia, as mulheres cujos anticoncepcionais falharam tinham três vezes mais chances de terem recebido informações inadequadas sobre seu método do que outras mulheres que usavam o mesmo método (307). Como explicou uma mulher da África do Sul: “Eu estava tomando a pílula, parei de tomar e me deram uma dessas coisas gelatinosas para usar, mas como não entendi muito bem como a coisa funcionava, acabei engravidando. Só depois é que aprendi muito mais sobre o método” (167).

Ao ajudar os clientes a fazer escolhas informadas, é particularmente importante dar orientação sobre os efeitos secundários antes que eles comecem a usar um método qualquer, para que possam escolher outro método, se preferirem. Por exemplo, na China os índices de continuação de uso de injetáveis eram muito maiores quando os provedores informavam às mulheres antecipadamente sobre possíveis mudanças dos padrões de sangramento menstrual do que quando não informavam, em parte porque as mulheres que não teriam tolerado tais mudanças escolhiam então um outro método (267).

A orientação sobre efeitos secundários também é importante para garantir a continuação do uso do anticoncepcional (92, 141, 191, 193, 458). Em Níger, por exemplo, somente 19% das mulheres que disseram ter recebido informação adequada sobre os efeitos secundários interromperam o uso do anticoncepcional dentro de seis a oito meses, comparado com 37% das mulheres que disseram ter recebido informação inadequada. Em Gâmbia, a diferença foi ainda maior—14% comparado com quase 50% (89).

No entanto, nem todos os provedores aconselham os clientes sobre os efeitos secundários dos anticoncepcionais. Em Uganda, 85% dos clientes foram informados sobre os efeitos secundários, 70% em Zimbábue e 70% no Equador (407). No Quênia, entrevistas realizadas com clientes à saída das clínicas mostraram que os provedores de serviços informavam aos clientes o que fazer caso houvesse efeitos secundários em 76% das consultas, descreviam possíveis efeitos secundários em 60%, e perguntavam aos clientes se tinham alguma pergunta em 60% (300).

Triagem de pacientes quanto à qualificação médica. O último passo para ajudar uma pessoa a escolher um método anticoncepcional é fazer uma triagem para detectar possíveis razões médicas que impediriam o uso seguro de algum método. Depois que o cliente demonstrar uma clara preferência por um método, o provedor poderá indagar sobre as condições médicas específicas que impediriam o uso seguro do método. Um provedor pode ajudar o cliente a pesar e comparar os riscos e benefícios tanto da gravidez como do uso do método particular de planejamento familiar (258). Nos casos em que o uso do método realmente não for possível por razões médicas e a cliente não puder obter seu método preferido, o provedor poderá explicar por quê e ajudá-la a escolher outro.

Os clientes que continuam o uso. A decisão de continuar a usar um método anticoncepcional deve ser tão bem informada como se fosse uma escolha inicial. Quando se pergunta aos clientes que continuam o uso se eles têm tido qualquer problema com o método atual, isto ajuda os clientes a pensarem em possíveis problemas que poderiam provocar a interrupção do uso. Um componente essencial da escolha informada e da satisfação dos clientes é que estes estejam informados de que podem trocar de método sempre e quantas vezes quiserem (59).

Mesmo assim, muitos provedores ainda não oferecem esta informação durante a orientação. Por exemplo, no Quênia, de 224 novos clientes entrevistados em 1995, 41% tinham sido informados sobre a opção de trocar de métodos se ficassem eventualmente insatisfeitos com o método que haviam adotado (303). Em Zimbábue, um estudo semelhante feito em 1996 constatou que, de 168 novos clientes entrevistados, somente 13% tinham sido informados sobre a possibilidade de mudar de método (112).

Os altos índices de continuidade do uso de um método indicam, às vezes, que as pessoas não sabem que podem mudar de método ou então que dispõem de uma escolha limitada de métodos (10). Por exemplo, pesquisa feita na Indonésia constatou que os índices de continuidade entre usuárias de implantes eram quatro vezes superiores aos das usuárias de DIU, em parte porque as usuárias de implantes não sabiam que era possível removê-los antes de cinco anos, ao passo que as usuárias do DIU sabiam que este poderia ser removido a qualquer momento (419).

Mas quando as pessoas param de usar um anticoncepcional qualquer, isto não significa necessariamente que estejam insatisfeitas com o método escolhido. As pessoas que interrompem um método depois de longo tempo de uso geralmente o fazem devido a mudanças em suas necessidades ou intenções reprodutivas (10, 138, 291). Tais mudanças devem ser esperadas e não necessariamente implicam na existência de problemas com a escolha original de método. Pelo contrário, revela que as pessoas estão fazendo escolhas que melhor refletem suas necessidades (110, 139).

Quer considerem adotar o planejamento familiar, escolher algum método entre vários, ou continuar o uso de um método específico, as pessoas podem tomar decisões mais saudáveis se fizerem escolhas informadas—ou seja, escolhas feitas por conta própria, baseadas em informações precisas e na disponibilidade de várias opções anticoncepcionais. Os programas e provedores de serviços de planejamento familiar, juntamente com os governos e entidades doadoras, podem fazer muito para ajudar as pessoas a fazer escolhas informadas de planejamento familiar. (Edição em português: outubro de 2002)

Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA

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