06 - Como obter o apoio da comunidade e de adultos jovens

Equipe Editorial Bibliomed

Dois desafios são particularmente importantes para os programas de saúde reprodutiva voltados para os adultos jovens. Eles devem persuadir a comunidade a apoiar suas atividades e convencer seus clientes potenciais de que vale a pena proteger sua saúde. Muitos programas de saúde enfrentam esses dois desafios, mas os programas para adultos jovens geralmente os consideram particularmente difíceis e cruciais.

O apoio da comunidade pode ser algo difícil de conquistar. A educação sexual e os serviços para adultos jovens estão quase sempre sujeitos a controvérsias. Os profissionais de saúde que desejam satisfazer às necessidades de saúde dos adultos jovens devem começar ajudando a comunidade a entender e concordar sobre a necessidade de um programa, bem como sobre suas metas e abordagens. Freqüentemente, isso envolve persuadir adultos que os jovens devem ser tratados de uma forma solícita, ao invés de autoritária.

No final das contas, pouco poderá ser conseguido pelos programas educacionais e de saúde para os jovens se as comunidades não reconhecerem que eles necessitam ajuda e orientação especial para se tornarem adultos sexualmente responsáveis. As comunidades não ajudam os jovens quando ignoram sua necessidade de compreender as relações sexuais, quando não se empenham para protegê-los contra o abuso e quando os abandonam em caso de gravidez ou doença. As comunidades necessitam desenvolver políticas positivas de orientação dos jovens e, em seguida, unir-se aos esforços para atender às suas várias necessidades.

Os próprios jovens desejam aprender sobre o sexo, as relações sexuais e a saúde reprodutiva. Mas nem sempre estão conscientes dos riscos que enfrentam e, por isso, não conseguem, às vezes, se proteger. Assim, o segundo desafio aos programas é o de fornecer informação e serviços de uma forma que convença e permita aos adultos jovens conduzir sua vida sexual de uma forma saudável. Para ajudar os jovens nesse sentido, é preciso conceber uma variedade de abordagens, que sejam as mais adequadas aos jovens de diferentes idades, sexo, orientação sexual e experiência sexual. Os programas devem poder atingir os vários tipos de clientes com mensagens convincentes e com serviços que sejam úteis, acessíveis e fáceis de usar.

Como Conseguir o Apoio da Comunidade


Na transição da autoridade paterna para a liberdade, característica da adolescência, prevalece uma incerteza sobre quem é responsável pelo comportamento dos adultos jovens, como eles devem se comportar, o que se espera deles e que nível de permissão deve ser-lhes dado. Esses sentimentos e desavenças se mostram mais fortes na área do comportamento sexual, comportamento este intensamente pessoal mas fortemente controlado e circunscrito pelas regras e valores sociais.

Assim, a educação quanto à saúde reprodutiva e os serviços para os adultos jovens atraem a atenção pública e geram controvérsias. Os líderes religiosos, políticos, educadores ou pais poderão objetar a tais programas. Essa oposição pode surpreender aos profissionais de saúde, que acreditam que as metas desses programas são as de melhorar e proteger a saúde, metas essas que eles supõem serem plenamente aprovadas por todos. No entanto, a saúde não é a primeira preocupação de muitos dos oponentes dos programas. Eles freqüentemente vêem o comportamento sexual como uma questão moral ou uma questão ligada à autoridade paterna. Eles poderão argumentar que somente os pais ou os líderes religiosos devem ensinar aos jovens sobre o sexo, considerando os profissionais das áreas de saúde ou educação como fontes não apropriadas de informação e orientação. Na verdade, a maioria dos adultos concorda que os pais devem informar seus filhos quanto ao sexo e orientá-los em seus comportamento. Também, em lugares tão diferentes quanto o Quênia, México e Zaire, os líderes comunitários são tradicionalmente considerados como fontes respeitadas de educação sexual há muitas gerações (31, 40, 252, 256, 279). Em comparação a tudo isso, a idéia de compartilhar a responsabilidade com programas organizados é relativamente nova.

Por isso a obtenção do apoio da comunidade, que é importante para todo programa social, é uma necessidade vital e um desafio para os programas de saúde reprodutiva para adultos jovens. Para angariar o suporte da comunidade é preciso ajudar os pais e líderes a compreender as questões de saúde inerentes ao comportamento sexual dos jovens, a reconhecer as necessidades de ação programática, a concordar sobre as soluções e a trabalhar com os profissionais de saúde e confiar na sua capacidade de realizar essas tarefas (572).

O trabalho com os líderes comunitários. Vários programas obtiveram o apoio da comunidade e dos líderes religiosos formando alianças com líderes dispostos favoravelmente, mostrando que as necessidades de saúde dos adultos jovens são importantes, e envolvendo os líderes comunitários na concepção e implementação dos programas. Na Etiópia, Quênia e Filipinas, por exemplo, os programas em curso informam aos adultos nas comunidades sobre as necessidades de saúde dos jovens (200, 351, 449). No México, um programa conseguiu alistar líderes comunitários como agentes de extensão em comunidades pobres e, dessa forma, permitiu que esses líderes tivessem informação direta sobre as preocupações de saúde reprodutiva dos adultos jovens (219, 408). Na Jamaica, líderes comunitários ajudaram a montar serviços de saúde e, em seguida, participaram das atividades dos programas e da sua monitoração. Como resultado, o programa foi aceito em uma área onde a dissidência comunitária tinha prejudicado esforços prévios (503).

Os profissionais de saúde são, também, líderes comunitários e merecem atenção especial. O Programa de Educação Internacional em Saúde Reprodutiva da Johns Hopkins (JHPIEGO) já trabalhou com médicos da América Latina e de outras regiões para estabelecer padrões quanto à qualidade do atendimento e para aumentar o apoio aos serviços voltados aos adultos jovens (116).

O trabalho com os pais. Uma boa forma de trabalhar com os pais é dar-lhes a ajuda e o apoio que necessitam para orientar seus filhos. Os pais e jovens declaram, freqüentemente, que querem discutir as questões sexuais mas quase nunca o fazem (88, 174, 199, 229, 230, 249, 279, 343, 348, 444) (veja o Quadro 4). Muitos pais adiam falar com os filhos, talvez porque se sentem também mal informados ou não estão à vontade com o assunto. Alguns não conseguem reconhecer que a incerteza é normal no aprendizado de como tomar decisões sexuais e, por isso, afastam seus filhos ao exigir uma obediência rígida. Outros apresentam a sexualidade de uma forma negativa que os filhos não acham plausível (31, 130, 174, 279, 392, 496, 527).

Vários programas já ajudaram os pais a se comunicar com seus filhos adolescentes. Um programa dos EUA conscientizou os pais sobre as pressões sociais que seus filhos sofriam para se iniciarem sexualmente. Os pais praticaram formas de ajudar seus filhos a resistir a tais pressões (68). Nas Filipinas, a Fundação para o Desenvolvimento Adolescente (FAD) produziu um vídeo para demonstrar aos pais que sua comunicação com os filhos molda a forma com que esses jovens se comunicam com os outros (449). Em um estudo dos EUA, os professores deram aos alunos a tarefa de conversar com seus pais sobre a abstinência sexual e a anticoncepção. Esta abordagem contornou a relutância de certos pais em começar esse tipo de conversa (260). Como parte de um esforço mais amplo de atender às necessidades de adultos jovens, a partir de 1986, o Conselho Nacional de Planejamento Familiar do Zimbábue (ZNFPC) ofereceu um Programa de Educação dos Pais para ajudá-los a educar seus filhos adolescentes quanto à sexualidade humana e a saúde reprodutiva (594). Na Tanzânia, os educadores comunitários oferecem um manual para ajudar os pais a discutir a sexualidade com seus filhos (496). (Veja a Foto 6)

Os adultos jovens aprovam a informação e a ajuda aos pais. Em pesquisas realizadas em Gana e nos EUA, os jovens solicitaram programas que aumentassem a percepção de seus pais sobre as pressões a que estão sujeitos seus filhos (102, 343).

Os programas que valorizam o interesse dos pais e buscam seu apoio podem envolvê-los em todos os estágios do projeto. Os programas de saúde para os jovens pesquisaram as opiniões e atitudes dos pais antes de preparar sua programação, testaram com antecedência o material do programa junto aos pais, montaram grupos consultivos para obter o parecer dos pais de forma contínua e solicitaram aos pais que avaliassem o programa (31, 325).

Como Atrair os Adultos Jovens


Em todos os estágios do desenvolvimento social e físico, os jovens adultos necessitam de informação e orientação para fazer face às mudanças que estão experimentando. Eles poderão se confundir enormemente segundo o nível de conflito das mensagens que recebem sobre a sexualidade. Os pais, professores e outros adultos freqüentemente enfatizam o aspecto negativo, ou seja, a possibilidade de contrair uma doença ou uma gravidez involuntária (218, 243). Ao mesmo tempo, os adultos jovens vêem que a geração mais velha tem interesse e desfruta as relações sexuais—nem sempre da forma mais saudável—e que seus companheiros jovens consideram o sexo e as relações sexuais estimulantes e cercadas de prazer. Tanto os meios de entretenimento modernos como os valores tradicionais valorizam ao máximo a conquista sexual masculina, isolando o sexo de outros aspectos do relacionamento humano e ignorando as conseqüências sociais e de saúde.

Assim, apesar do seu interesse pelo sexo e por relações íntimas, os adultos jovens podem ser difíceis de alcançar pelos programas. As mensagens confusas da sociedade deixam os adultos jovens desconfiados. Eles percebem e rejeitam rapidamente as mensagens sobre comportamento sexual carregadas de hipocrisia e passam a desconfiar dos adultos que tentam esconder os aspectos positivos da sexualidade. Começaram a aprender sobre o sexo através da experimentação e da experiência ao invés de ouvir aos mais velhos. Estão dispostos a correr riscos de forma a testar sua capacidade de fazer escolhas e, freqüentemente, experimentam ou adotam comportamentos insalubres tais como a bebida, o fumo ou o sexo desprotegido. Além disso, eles são geralmente pessoas saudáveis e podem não ver os problemas de saúde que a atividade sexual pode acarretar. Portanto, é preciso saber ouvir os adultos jovens para tentar compreender seus pontos de vista e aprender a conversar com eles, se os programas e profissionais realmente desejarem servir a esses clientes.

Determinação das necessidades insatisfeitas. Um primeiro passo na atração dos jovens é trabalhar com eles para se inteirar de suas necessidades. Essas podem diferir, mesmo entre jovens de idade semelhante e mesmo sexo. Por exemplo, muitos adultos jovens necessitam apoio para adiar sua iniciação sexual. Outros são sexualmente ativos apenas esporadicamente e necessitam saber como se proteger contra uma gravidez involuntária ou contra as doenças. Outros não são casados mas praticam o sexo regularmente, em alguns casos com membros do seu próprio sexo, necessitando portanto de serviços amplos de saúde reprodutiva. Alguns sofrem abuso sexual ou são forçados a fazer sexo, necessitando de tratamento e proteção. Muitas mulheres jovens são casadas e necessitam de praticamente os mesmos serviços que as mulheres mais velhas. Algumas estão tendo filhos e necessitam serviços de saúde materna para ter esses filhos de forma saudável e cuidar deles depois.

Uma boa maneira de pesquisar as necessidades dos adultos jovens é perguntando. As pesquisas, discussões em pequenos grupos e entrevistas de maior profundidade são pontos de partida tradicionais para preparar os programas de jovens, da mesma forma que para todos os programas de serviços. Uma forma ainda mais útil é envolver os adultos jovens no programa, por exemplo, desenvolvendo mensagens, revisando os materiais do programa, avaliando o impacto do programa, trabalhando como companheiro educador ou em outras funções, servindo em conselhos de planejamento ou conselhos consultivos e trabalhando em campanhas de promoção. As percepções dos jovens ajudam a garantir que o programa seja atraente. Além disso, sua participação poderá despertar o interesse de outros jovens pelo programa e ajudar a tornar o programa mais aceitável.

As organizações africanas de jovens africanas que trabalham com a Organização Mundial da Saúde (OMS) usaram um inovador "método narrativo" para coletar informações sobre as vidas dos adultos jovens e, a partir daí, planejar os programas (549). Em 11 países, líderes jovens em reunião em seminários, prepararam histórias sobre um rapaz e uma moça que se conhecem, tornam-se amigos e depois enfrentam a tomada de decisões sobre seu relacionamento. Utilizando um processo de dramatização, os participantes determinaram como esses eventos ocorreriam em suas comunidades. Também sugeriram vários caminhos diferentes que a história poderia seguir em pontos cruciais. Por exemplo, se a moça descobre que está grávida, ela pode contar à sua mãe, tentar fazer um aborto ou fugir com o namorado. Finalmente, estas histórias foram revistas por 13.000 jovens em 11 países. Eles escolheram os caminhos da narrativa que eles consideravam mais típicos (548). Os adultos jovens envolvidos nessa pesquisa usaram as narrativas completas para desenvolver mensagens, materiais de treinamento e exercícios de dramatização (549).

Criação de formas de comunicação que atraiam aos jovens. Os programas para adultos jovens devem lutar contra uma maré de informações errôneas e atitudes equivocadas ao tentar apresentar mensagens equilibradas e plausíveis sobre a verdadeira vida sexual do ser humano. Para realizar essa tarefa, é preciso oferecer aos adultos jovens a informação que necessitam e que desejam, ou seja, sobre como a sexualidade afeta o curso de suas vidas e seus relacionamentos com os outros. Como este é um processo gradual de aprendizado, os programas devem tornar suas mensagens apropriadas aos vários estágios das vidas dos adultos jovens. Um dos maiores desafios enfrentados pelos programas é a segmentação do público, ou seja, como atingir pessoas que têm necessidades amplamente diversas com as mensagens específicas e os serviços apropriados a cada uma. Novamente, os programas devem trabalhar com os jovens para preparar mensagens que sejam atraentes, atendam às necessidades de informação e estimulem o comportamento saudável. Os adultos e os jovens podem interpretar as questões de forma muito diferente, mas, em colaboração, poderão criar mensagens e materiais que os adultos aceitem e os jovens sintam ser relevantes.

Para atingir os jovens, deve-se combinar uma mensagem atraente com uma apresentação interessante. Como os jovens gostam de música, vídeos, filmes, dramas e outros meios de entretenimento, é uma boa idéia usá-los para veicular mensagens sobre a saúde reprodutiva. Os adultos jovens já dependem dos meios de massa como fontes de informação sobre relações sexuais (veja o Quadro 4), mas muito do que eles recebem desses meios é incorreto, incompleto, equivocado ou mal orientado, representando o comportamento irresponsável como algo interessante e altamente compensador. Alguns programas de saúde já começaram a usar os meios de entretenimento para chegar aos adultos jovens com mensagens sobre saúde reprodutiva. Vários usam a transmissão de canções no rádio ou vídeos de música na televisão para atingir os jovens. Outros tratam das necessidades de grupos específicos de jovens com vídeos, dramas, programas cômicos, linhas de consulta telefônica e outros materiais que utilizam os meios de comunicação (109, 235, 270, 368, 414, 480).

Como chegar aos jovens sejam onde estiverem. Ainda mais que os adultos, os jovens podem não se sentir à vontade para procurar as clínicas ou podem não saber como obter um atendimento médico de qualquer espécie. Os programas podem conseguir atingir mais jovens se montarem clínicas ou empregarem agentes de extensão em escolas, fábricas, centros desportivos ou nas esquinas das cidades. A organização Street Kids International, por exemplo, usa caminhonetas com equipamento de vídeo para aproximar-se dos jovens que vivem nas ruas de cidades como Colombo, Nairobi, Manila, Nova York, Rio de Janeiro e Toronto (107). Na România, um programa abriu uma clínica em um balneário popular durante a temporada de verão (509).

Os companheiros educadores podem se aproximar dos adultos jovens onde quer que estes se reúnam. Por exemplo, a Associação Cristã de Saúde do Quênia treina jovens como "professores de vida adulta", que usam discussões, palestras, filmes, visitas às escolas e atividades de clubes para atingir os jovens (313). No México, jovens trabalhadores circulam pelas escolas, fábricas, bases militares, bares ou eventos esportivos, ou seja, em qualquer lugar onde possam ter a oportunidade de falar com os jovens (309, 408). Os companheiros trabalhadores freqüentemente podem fornecer preservativos, um método que não exige a visita a uma clínica.

Evidentemente, os vários meios de comunicação também podem chegar aos jovens onde quer que eles se encontrem. As novelas, os vídeos, comerciais de televisão, cartazes em eventos esportivos, linhas de consulta telefônica, canções, camisetas e representações teatrais são todas formas utilizadas para veicular as mensagens de saúde aos jovens.

Articulação dos esforços de comunicações com os serviços de saúde. Os programas freqüentemente conseguem informar os adultos jovens sobre a saúde reprodutiva, porém os jovens não podem utilizar tal informação se não souberem onde obter maiores informações ou serviços (veja o Quadro 6). Os jovens necessitam de vários recursos. Se forem sexualmente inativos, poderão desejar saber onde obter orientação e proteção para se preparar para as ofertas sexuais indesejadas.

Os jovens sexualmente ativos e as moças grávidas necessitam de serviços de saúde. A informação sobre como usar os recursos comunitários sociais e de saúde é parte essencial porém freqüentemente negligenciada dos programas EVF.

Os programas para jovens podem manter um diretório de serviços aos quais encaminhá-los, porém servem ainda melhor quando também se dirigem aos jovens com ofertas para encaminhá-los a tais serviços. No Peru, a organização Apoio a Programas de População (APROPO) montou representações teatrais de rua que preencheram a lacuna entre informação e serviços de várias formas. Os atores distribuíam panfletos e apresentavam cenas humorísticas de 15 minutos cada uma sobre os métodos anticoncepcionais. Em seguida, convidavam o público a se manifestar, fazendo perguntas, e, às vezes, encaminhando membros do público aos "quiosques de orientação", onde podiam discutir pessoalmente com um conselheiro. Os atores e conselheiros também forneciam endereços de clínicas e divulgavam uma linha de consulta telefônica onde os conselheiros estavam prontos para dar maiores informações e fazer encaminhamentos posteriores (387) (veja a Foto 8). A Campanha Multimídia Filipina de Jovens promoveu e colocou em funcionamento uma linha de consulta telefônica que encaminha os jovens que ligam a uma das 40 agências que oferecem uma variedade de serviços (414). (Veja o Quadro 7)

Como Facilitar o Acesso aos Suprimentos


Os adultos jovens enfrentam muitas barreiras para obter informação e serviços de saúde reprodutiva. Os adultos mais velhos podem enfrentar as mesmas barreiras, por exemplo, ignorância sobre as fontes de informação e atendimento, altos custos e horários e locais inconvenientes. Mas os adultos jovens enfrentam também restrições legais e informais na área de atendimento, especialmente em serviços confidenciais, além de deparar-se com profissionais hostis e preconceituosos. Em muitos casos, para poder obter o apoio essencial da comunidade, mesmo os programas para adultos jovens estabelecem limites nos serviços ou na informação que fornecem. Infelizmente, podem estar com isso eliminando o que alguns adultos jovens mais necessitam, ou seja, a informação sobre anticoncepcionais e a confidencialidade dos serviços.

Redução das restrições legais e informais. A idade de consentimento para um tratamento médico pode ser de 14 anos, em partes do Canadá e Nova Zelândia, a até 18 anos, na África do Sul. Em alguns lugares, tais como o Reino Unido, a idade legal de consentimento a procedimentos médicos é mais baixa do que para votar ou assinar contratos legais (371). Devido à controvérsia que cerca a orientação e tratamento de menores, muitos departamentos de saúde e secretarias de educação adotam a posição conservadora de negar serviços ou programas a jovens ainda menores do ponto de vista legal.

Muitos adultos jovens têm dificuldades para obter garantias de confidencialidade. Se os jovens não tiverem o direito legal de escolher e consentir em receber um atendimento de saúde reprodutiva, poderá ser-lhes negada a confidencialidade. Além do mais, nos locais onde o ato sexual é ilegal para menores, alguns argumentam que os profissionais dos serviços de saúde que oferecem aconselhamento ou métodos anticoncepcionais aos jovens estão participando de atos ilegais (2, 22, 197). No plano das políticas programáticas e não da lei, alguns pais insistem que eles devem estar presentes ou ser avisados quando seus filhos buscam atendimento na área de saúde reprodutiva. Argumentam que os jovens são muito imaturos para entender a orientação médica e para tomar decisões de saúde, exigindo o acompanhamento e a orientação dos pais. (Veja a Foto 7)

Também certos requisitos de consentimento por parte do cônjuge podem negar a confidencialidade até a jovens casados. Quando as mulheres se casam jovens, seus maridos, famílias ou profissionais de saúde podem não reconhecer seus direitos de tomar suas próprias decisões sobre a saúde reprodutiva.

No entanto, muitos adultos jovens não estão dispostos a usar os serviços a não ser que sejam confidenciais. Os adultos jovens são freqüentemente tímidos e inseguros e temem ser ridicularizados e desaprovados. Por exemplo, em um estudo dos EUA, 30% das mulheres sexualmente ativas de idade até 19 anos declararam não buscar uma clínica de saúde reprodutiva porque temiam que seus pais acabariam descobrindo (565). Muitos dos defensores das causas jovens recomendam que os profissionais de saúde recomendem aos jovens que falem com seus pais, mas que não neguem o atendimento das necessidades dos jovens, haja ou não o envolvimento dos pais no processo (2).

Muitos jovens acham mais fácil comprar suprimentos tais como preservativos e espermicidas do que procurar uma clínica ou conselheiro. Assim, as leis e as políticas que permitem a venda de preservativos aos jovens e pessoas solteiras são muito importantes. Ao mesmo tempo, devem estar disponíveis outras formas de distribuicão de preservativos, particularmente àqueles que não conseguem encontrar o lugar para comprá-los ou que não têm dinheiro para adquiri-los.

Mudança das atitudes hostis, preconceituosas ou relutantes. Mesmo onde a lei e as políticas facilita o acesso dos adultos jovens à informação e serviços de saúde reprodutiva, certos indivíduos hostis ou relutantes poderão representar obstáculos posteriores. Podem haver professores ou profissionais de saúde que desaprovam fortemente os jovens que são sexualmente ativos ou que apenas buscam informação sobre a sexualidade. Esses indivíduos podem achar que seu trabalho é ditar as normas de comportamento aos jovens. Outros podem não se sentir à vontade para discutir com os jovens ou oferecer-lhes serviços de saúde reprodutiva. As determinações autoritárias e a vergonha definitivamente não auxiliarão os jovens a desenvolver atitudes positivas com relação à sexualidade (346).

Para evitar preconceitos, os gerentes das clínicas necessitam orientar claramente seu pessoal sobre como tratar os clientes jovens. Os dirigentes dos serviços devem também reconhecer e avaliar seus próprios sentimentos sobre o assunto. Numa clínica italiana, por exemplo, alguns profissionais repreenderam aos jovens clientes, recomendando que mudassem seu comportamento (110). No Senegal, assistentes de enfermeiras que faziam a triagem de mulheres na entrada de clínicas de planejamento familiar recusaram a entrada de jovens mulheres solteiras (393). Na África do Sul, algumas pessoas da clínica se recusaram a responder às perguntas de clientes jovens (5). Em todos os três casos, os gerentes das clínicas deveriam ter ensinado seu pessoal a tratar delicadamente o pessoal jovem. Isso pode ser feito, em parte, ajudando os profissionais a perceberem seus próprios sentimentos sobre a sexualidade dos adultos jovens. Mais particularmente, os conselheiros devem entender que não serão eficazes se ditarem aos jovens o que fazer. Pelo contrário, eles devem ajudá-los a tomar decisões responsáveis por si sós.

Os professores podem se sentir ainda menos à vontade discutindo a saúde reprodutiva do que se sentiriam os profissionais de serviços de saúde e poderão, ainda, temer a crítica dos pais. Normalmente, eles necessitam de apoio e treinamento adicional para ensinar o material EVF. Por exemplo, no Quênia, muitos diretores e professores de escolas se opõem ao ensino relativo à anticoncepção. Como resultado, somente cerca de 16% dos cursos escolares de EVF discutem os anticoncepcionais, apesar do governo dar suporte aos cursos EVF como forma de reduzir os índices de gravidez (320).

Os programas podem lidar com a relutância dos professores e auxiliá-los a enfrentar as críticas. Um programa mexicano envolveu os professores na concepção do programa, treinou-os a apresentar o material, reuniu-se com eles regularmente durante o período em que ensinavam, além de reunir-se com os pais, periodicamente, para responder às suas perguntas. Como resultado, os professores se convenceram ainda mais do valor do curso e se tornaram mais motivados para ensinar (482).

No entanto, alguns professores não são educadores apropriados na área de sexualidade. Por exemplo, pesquisas através de pequenos grupos de discussão, feitas num país africano, constataram que alguns professores do sexo masculino se aproveitavam de sua posição para forçar as alunas a ter relações sexuais com eles (41, 444). (Veja o Quadro 8)

A Defesa dos Direitos dos Adultos Jovens


No longo prazo, os programas de saúde reprodutiva para adultos jovens enfrentarão sozinhos o desafio até que a comunidade decida orientar os jovens no momento em que aprendem sobre a sexualidade. Nenhum programa de saúde ou educação terá nunca os recursos para causar grande impacto nas vidas das pessoas se tal programa tiver que funcionar contra as normas sociais. Em sua maioria, as normas sociais atuais negam o fornecimento de informações, orientação e serviços que poderiam ajudar os jovens a resistir contra a iniciação sexual precoce ou, quando isso não é possível, pelo menos proteger-se contra algumas de suas conseqüências mais adversas. Ao mesmo tempo, a cultura popular, tanto tradicional como moderna, freqüentemente glorifica e estimula a atividade sexual.

Assim, o trabalho principal de qualquer programa para jovens é o de ajudar a modificar essa situação. Para tanto, é preciso haver um movimento de defesa dos direitos dos adultos jovens, dentro de uma luta por maior compreensão, em toda a comunidade, do mundo em que esses jovens vivem, das pressões e decisões que enfrentam, do processo biológicoe social que passam ao se tornar sexualmente ativos e das melhores formas de organizar esforços para auxiliar os jovens. A mudança da situação também exige a luta por um comportamento adulto mais responsável, pelo fim do padrão duplo relativo à sexualidade que os adultos aplicam diferentemente a rapazes e moças, pela prevenção e punição do abuso sexual e pela representação e discussão responsável do sexo e da sexualidade nos meios de massa.

Nos casos em que as atitudes mudaram e os adultos estão dispostos a enfrentar as questões, os índices de fertilidade, DST e abortos baixaram entre os jovens. Um estudo de 37 países desenvolvidos constatou que esses índices eram os mais baixos nos países do norte da Europa, que facilitam o acesso dos jovens à informação e a serviços anticoncepcionais (164, 374, 455).

Para mudar as normas sociais, a defesa da juventude também é necessária. Os programas necessitam atingir os jovens e ajudá-los a aprender uma abordagem saudável à sexualidade. Os programas EVF em alguns países europeus enfatizam a responsabilidade no comportamento sexual e estimulam os jovens a adiar sua iniciação sexual pelo menos até que tenham desenvolvido uma amizade duradoura com seus parceiros (93, 295, 297).

Cada sociedade deve preparar sua própria resposta às necessidades de saúde reprodutiva dos adultos jovens. Ignorar os problemas não os fará desaparecer. Na verdade, os índices de DSTs aumentaram e as gravidezes entre mulheres jovens têm maior probabilidade de ocorrer fora do casamento, em muitos países, apesar da preocupação pública e condenação dessas tendências. Através da defesa dos direitos, os programas de saúde reprodutiva podem ajudar as comunidades a começar a resolver as várias necessidades dos adultos jovens.

Na medida em que um programa se inicia, desenvolve e se estabelece, seu papel de promoção se modifica. No início, a controvérsia que normalmente cerca um novo programa pode oferecer uma nova oportunidade para estimular um novo tipo de pensamento. Na medida em que o programa se desenvolve, pode-se apaziguar os temores quando se mantém a comunidade ciente das mudanças positivas e histórias de sucesso. O trabalho com os pais, lideres comunitários e organizações tais como igrejas, escolas e outros grupos de serviço ajuda a manter a confiança mútua e o entendimento. Eventualmente, com esforço e persistência, um programa pode se tornar uma voz respeitada na comunidade, com autoridade para se manifestar em nome dos adultos jovens. (Edição em português janeiro de 2000)


Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA

Palavras chave: jovens, saúde, adultos, programas, adultos jovens, de , sexual, comunidade, é, os , comportamento, não, serviços, e , às, ser, programas saúde, serviços adultos, os programas, acessíveis fáceis usar ,

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