Population Reports - Série Q - Nº 01 - Melhoria da Interação entre o/a Cliente e o/a Prestador/a de Serviços de Saúde - 08 - Um Passo Além do Planejamento familiar

Equipe Editorial Bibliomed

Tendo em vista as recomendações do Programa de Ação da CIPD, os serviços de planejamento familiar estão sendo integrados cada vez mais aos outros serviços de saúde sexual e reprodutiva. Além do planejamento familiar, os serviços integrados de saúde sexual e reprodutiva podem tratar do HIV/AIDS e de outras DSTs, infecções e cânceres do sistema reprodutivo, infertilidade, atendimento ginecológico e maternal, atendimento pós-aborto, violência baseada em gênero, e educação sobre as questões da sexualidade e criação dos filhos (51, 157). A necessidade de olhar além do controle da natalidade ao trabalhar com clientes de planejamento familiar criou novos desafios e oportunidades para a ICP.

Focalizar a Orientação sobre ISTs no Indivíduo

Os prestadores de serviços de saúde têm que fazer um melhor trabalho de abordagem dos riscos, prevenção e tratamento do HIV/AIDS e de outras ISTs. Como o serviço de planejamento familiar pode ser um dos poucos contatos que as mulheres têm com o sistema de saúde, os prestadores de serviços de saúde têm aí uma oportunidade e responsabilidade única de ajudar as clientes a fazer escolhas apropriadas para se protegerem tanto contra uma gravidez indesejada como contra as ISTs e o HIV (144).

Mas os prestadores de serviços de saúde poderão relutar em discutir questões delicadas com as clientes, especialmente se as clientes forem casadas e, portanto, supostamente sujeitas a um risco menor de infecção, suposição esta às vezes errônea. Esta relutância poderá ajudar a explicar por quê, a meados da década de 90, somente cerca de 25% das 3.000 clientes receberam informações sobre HIV/AIDS e/ou ISTs durante consultas de atendimento maternal e infantil de saúde e consultas para fins de planejamento familiar em cinco países africanos (Botsuana, Gana, Quênia, Zâmbia e Zimbábue) (105).

Algumas estratégias comuns para incorporar as questões de ISTs/HIV na orientação relativa ao planejamento familiar são problemáticas. Acrescentar informações sobre as ISTs e o HIV/AIDS às informações básicas rotineiras dadas às clientes poderá não ser viável devido à falta de tempo dos profissionais que prestam os serviços de saúde. Isto também gera o perigo de sobrecarregar as clientes com mais informação do que elas podem absorver (107). Também não é muito melhor dar informações sobre as ISTs e o HIV/AIDS somente às clientes que se encaixam no "perfil" de alto risco, tais como trabalhadoras do sexo ou mulheres cujos maridos viajam muito. Os perfis não são muito confiáveis para identificar pessoas com risco de infecção e, além disso, estigmatizam injustamente algumas clientes (141).

Pelo contrário, a informação sobre avaliação de risco, prevenção e tratamento de ISTs/HIV deve fazer parte normal das discussões de saúde na clínica, da educação comunitária e das campanhas nos meios de massa. Durante as consultas, os prestadores de serviços de saúde podem então se concentrar no trabalho de garantir que toda cliente entenda que tipos de comportamentos são arriscados e como se proteger de uma possível infecção. Nas consultas de planejamento familiar, isto significa auxiliar as clientes a avaliar seus riscos de ISTs para que elas tenham condição de escolher um método apropriado ou uma combinação de métodos (30, 158).

Os Profissionais de Planejamento Familiar Podem Ajudar as Vítimas da Violência

No mundo inteiro, estima-se que uma de cada três mulheres já foi espancada, forçada ao ato sexual ou agredida de outras formas (51). A violência contra as mulheres e meninas pode ser física, sexual, psicológica ou econômica, porém o sexo forçado e a agressão dentro do matrimônio estão entre suas manifestações mais comuns.

Veja o quadro 8.1

Os prestadores de serviços de saúde reprodutiva dispõem de uma oportunidade sem igual e têm uma responsabilidade especial de ajudar as vítimas da violência baseada em gênero, porque:

  • Este abuso pode ter um impacto muito forte na saúde reprodutiva da mulher e no seu bem-estar sexual;
  • A violência e o sentimento de impotência podem limitar a capacidade da mulher de tomar decisões bem informadas e voluntárias sobre sua saúde sexual e reprodutiva; e
  • Os prestadores de serviços de saúde reprodutiva podem ser os únicos contatos dessas mulheres com o sistema de saúde e com os serviços de apoio comunitário (51).

Os sistemas de saúde necessitam assumir o compromisso de identificar e responder às necessidades das mulheres e crianças que sofrem abusos. Muitos prestadores de serviços de saúde não estão cientes do alcance da violência contra as mulheres. Alguns deles podem até contribuir para piorar o problema, considerando-o como trivial ou tratando-o como comportamento normal e esperado, culpando as vítimas, violando sua confidencialidade, e colocando sua segurança em risco (117). As vítimas têm uma série de necessidades e o apoio da ICP pode abrir as portas para a satisfação das mesmas.

O treinamento, as diretrizes e os materiais de apoio podem ajudar os prestadores de serviços de saúde a reconhecerem seus próprios valores e preconceitos, a aumentarem a empatia e a melhorarem sua capacidade de comunicação sobre questões delicadas tais como o abuso sexual (45, 60). Por exemplo, na Venezuela, o número de novas clientes que relataram sofrer com um quadro de violência aumentou de 7% a 38% depois que a Asociación Civil de Planifación Familiar (PLAFAM) realizou seminários especiais de treinamento de prestadores de serviços de saúde para aumentar sua percepção e suas habilidades, introduziu um protocolo de orientação e um formulário de triagem, e preparou materiais de informação das clientes (46).

Uma Boa ICP Beneficia a Saúde Sexual e Reprodutiva

A integração do planejamento familiar com outros serviços de saúde sexual e reprodutiva estabelece a oportunidade de adaptar e aplicar os princípios e lições da ICP aprendidos no planejamento familiar a outros serviços de saúde. O potencial de benefícios é duplo: aumento do reconhecimento e da proteção dos direitos dos clientes, e melhoria da qualidade da atenção.

O direito dos clientes de tomarem decisões reprodutivas e colocá-las em prática é o que norteou em grande parte o trabalho de ICP no âmbito do planejamento familiar. O Programa de Ação da CIPD reconhece o direito de casais e indivíduos de tomarem tais decisões livremente, sem discriminação, coerção ou violência (157).

O respeito aos direitos dos clientes é ainda mais importante no campo mais amplo da saúde sexual e reprodutiva. Por exemplo, a violação da confidencialidade traz consigo um maior risco de estigma e violência no caso da assistência pós-aborto ou relativa a HIV/AIDS do que no caso do controle da natalidade (126). Além disso, a preocupação com a saúde de outros, tais como os parceiros dos clientes com IST, poderá gerar pressões sobre o direito dos clientes de tomar suas próprias decisões. Se estes direitos não forem protegidos, os clientes evitarão buscar a assistência de saúde, o que prejudicará as metas da saúde pública e negará aos clientes o acesso aos serviços.

Uma boa ICP pode melhorar a qualidade do atendimento em outros serviços de saúde sexual e reprodutiva, da mesma forma do que na área de planejamento familiar. A comunicação interpessoal e a orientação fornecida pelos prestadores de serviços de saúde podem ajudar a responder a uma gama variada de necessidades dos clientes, por exemplo, ao:

  • Oferecer apoio emocional durante o parto, a assistência pós-aborto, ou os testes de HIV;
  • Estabelecer um relacionamento confiável que permite a uma mulher revelar uma situação de abuso doméstico, ou a uma adolescente explicar porque necessita de serviços de planejamento familiar;
  • Fortalecer o sentimento de autoconfiança de uma cliente, para que ela se sinta à vontade para pedir ao seu parceiro que use camisinhas;
  • Garantir que uma cliente entenda porque os tratamentos das ISTs devem continuar mesmo depois do desaparecimento dos sintomas, e
  • Explicar claramente que um cliente de IST será infectado novamente, a não ser que seu parceiro ou parceira também for tratado contra esta infecção.

Estes resultados positivos de uma boa ICP beneficiam os clientes individuais e seus parceiros, ajudam a prevenir e tratar doenças e estabelecem as unidades de atendimento de saúde como lugares em que as pessoas são respeitadas e suas necessidades são atendidas.

Os Princípios de ICP se Aplicam aos Serviços Integrados

Os prestadores de serviços de saúde poderão questionar se os direitos dos clientes e outros princípios da ICP desenvolvidos no planejamento familiar se aplicam também a outros serviços de saúde reprodutiva. Os clientes de planejamento familiar são, em geral, indivíduos saudáveis que tomam decisões de sua própria escolha. Em contraste, os clientes que buscam os prestadores de serviços de saúde para obter outros serviços de saúde reprodutiva podem estar necessitando de tratamento imediato, exigindo que os prestadores de serviços de saúde tomem decisões clínicas.

Talvez seja útil pensar no relacionamento entre clientes e prestadores de serviços de saúde sexual e reprodutiva como uma interação dinâmica que depende:

  • Da urgência da assistência à saúde,
  • Do impacto potencial da decisão sobre a saúde,
  • Se a decisão a ser tomada é basicamente por razões clínicas ou se baseia principalmente nas preferências e situação pessoal do/a cliente,
  • Da disponibilidade de várias opções de tratamento ou métodos alternativos com os mesmos resultados ou resultados comparáveis,
  • Das implicações mais amplas de saúde para outros indivíduos ou para a comunidade como um todo, e
  • Da probabilidade de que os valores e atitudes dos prestadores de serviços de saúde ou dos clientes venham a influenciar adversamente a comunicação e o processo da tomada de decisões (6).

Veja a Figura 8.1

O momento mais oportuno e a natureza exata da ICP variam com base nos fatores acima. Mas mesmo – ou especialmente – em situações de vida e morte, o direito do/a cliente de tomar suas próprias decisões e ter acesso a informações relevantes continua a ser importante.

Os programas devem preparar os prestadores de serviços de saúde reprodutiva para ponderar todos estes fatores quando interagirem com os clientes com necessidades variadas e em situações diferentes de saúde ou doença (42). Na medida em que o planejamento familiar for sendo incorporado aos serviços mais gerais de saúde reprodutiva, os prestadores de serviços de saúde também se tornarão mais responsáveis por oferecer uma variedade maior de serviços. Mesmo quando os prestadores de serviços de saúde são alocados exclusivamente a serviços de planejamento familiar, o mais provável é que seus clientes tenham também outras necessidades e preocupações de saúde reprodutiva, as quais podem geralmente ser mais bem identificadas e abordadas durante as consultas de planejamento familiar.

Os prestadores de serviços de saúde devem estar preparados para conseguir que os clientes falem de suas preocupações inter-relacionadas de saúde sexual e reprodutiva e para avaliar e responder a tais preocupações, oferecendo qualquer serviço que o cliente necessite ou peça, mesmo que tenha para isto que encaminhar o cliente a outras instituições ou serviços. O treinamento de ICP para serviços integrados enfatiza a necessidade de ver o cliente como um todo e fazer uma avaliação abrangente das necessidades de cada cliente, ao mesmo tempo em que se baseia no mesmo repertório de técnicas essenciais de orientação usadas para prestar serviços de planejamento familiar (42). Quando a comunicação é realmente "centrada no/a cliente" e os prestadores de serviços de saúde sentem-se à vontade para discutir outras questões além dos aspectos clínicos do planejamento familiar, os/as clientes podem dirigir a interação e a orientação de forma que suas necessidades mais amplas sejam atendidas.

Veja quadro 8.2

Population Reports é publicado pelo Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA.

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