Population Reports - Série Q - Nº 01 - Melhoria da Interação entre o/a Cliente e o/a Prestador/a de Serviços de Saúde - 04 - Apoio ao Papel do Cliente
Equipe Editorial Bibliomed
Em qualquer consulta relacionada à saúde, há sempre dois "peritos" presentes:
o prestador de serviço de saúde e o/a cliente (85, 142). A compreensão das
preferências da/o cliente e de sua situação é tão essencial a uma boa tomada de
decisão sobre a saúde reprodutiva quanto o conhecimento técnico do prestador de
serviços de saúde.
Mas foi só recentemente que os programas de planejamento familiar aprenderam a
reconhecer e a apoiar o papel dos clientes na tomada de decisões. Isto exige uma
mudança de atitudes e de comportamento, tanto da parte dos prestadores de
serviços de saúde como dos clientes. Para serem eficazes, os prestadores de
serviços de saúde precisam entender e respeitar as perspectivas e as
expectativas dos clientes e devem adaptar a informação e orientação que oferecem
de forma a atender às necessidades específicas de cada cliente. Da mesma forma,
os clientes mais se beneficiam de uma consulta quando assumem a responsabilidade
de tomar decisões, quando se comunicam de forma ativa com os prestadores de
serviços de saúde, e quando insistem na qualidade do atendimento.
A Perspectiva dos Clientes é Essencial para Decisões de
Planejamento Familiar
A escolha bem informada é um dos direitos fundamentais dos clientes de
planejamento familiar (7, 58, 157). Ela ocorre quando um/a cliente toma
voluntariamente uma decisão bem pensada, com base num conhecimento e pleno
entendimento das alternativas (41). Porém este direito também implica em
responsabilidades: os clientes precisam tomar suas próprias decisões sobre saúde
reprodutiva depois de examinar minuciosamente as opções ao seu dispor. Esta não
é uma tarefa fácil, já que a tomada de decisões sobre saúde reprodutiva é um
processo complexo e permanente. Por exemplo, o/as clientes precisam decidir se e
quando vão procurar estes serviços, que métodos de planejamento familiar desejam
experimentar, e ainda se querem continuar, trocar ou interromper os métodos
escolhidos (41). Para facilitar os clientes a tomar decisões bem pensadas, os
prestadores de serviços de saúde necessitam entender como o/as clientes encaram
as decisões reprodutivas e os desafios que enfrentam para tomá-las.
O contexto social domina a tomada de decisões. Para o/as clientes, a
tomada de decisões relativas à sua saúde é geralmente um processo intuitivo de
equilíbrio de necessidades individuais, responsabilidades familiares e
expectativas sociais. Normalmente, as influências mais importantes sobre a
tomada de decisões vêm de fora do ambiente dos serviços de saúde. Para tomar
suas decisões anticoncepcionais, as pessoas consideram aspectos pessoais,
sociais e econômicos, juntamente com considerações relativas à fertilidade e à
saúde (52, 147). Estes aspectos incluem o relacionamento com os parceiros, os
efeitos previstos sobre a situação social e, às vezes, até a preocupação de que
os efeitos colaterais dos anticoncepcionais possam limitar sua capacidade de
trabalho (22).
Antes de fazer uma opção anticoncepcional, as pessoas geralmente seguem um longo
processo de coleta de informações e tomada de decisões, durante o qual buscam
falar com seus amigos e familiares que já usam anticoncepcionais para discutir
suas experiências (134). Este processo não termina quando uma mulher adota um
método. Ela continua a trocar idéias com outras pessoas e a monitorar sua
experiência com o método que está usando para, eventualmente, decidir se
continua a usá-lo ou não. Vistos sob esta perspectiva, as visitas às clínicas e
outros contatos com prestadores de serviços de saúde são momentos breves de um
processo de tomada de decisões que é principalmente social.
As crenças locais sobre reprodução, saúde e o significado dos sintomas físicos –
que podem estar em conflito com os modelos médicos – também influenciam as
decisões (134). Por exemplo, em Togo, as alterações menstruais levavam muitas
mulheres a interromper o uso dos métodos hormonais, não porque as alterações
fossem desconfortáveis ou inconvenientes, mas porque as mulheres acreditavam que
tais alterações eram sinais de esterilidade ou de doenças graves (52).
Negligenciar tais crenças como meros mitos ou boatos só faz aguçar ainda mais o
nível de desconfiança entre clientes e prestadores de serviços de saúde. Ao
invés disso, os prestadores de serviços de saúde devem aprender a reconhecer
seus próprios pressupostos médicos e a tratar as preocupações das clientes séria
e respeitosamente.
Os programas de planejamento familiar necessitam considerar os clientes num
contexto mais amplo, ou seja, como partes de um casal, de um clã familiar, de
redes sociais informais e da comunidade como um todo. Devem também saber levar
em consideração as pressões econômicas, as questões sociais e as crenças locais
que podem afetar as decisões dos clientes. Os prestadores de serviços de saúde
conseguem isto fazendo perguntas aos clientes sobre suas necessidades e
situações e sobre que conseqüências às decisões dos clientes poderiam ter sobre
seu trabalho, amigos e relações com familiares.
Os gerentes de programas podem investigar o contexto mais amplo da tomada de
decisões durante as atividades de monitoração e avaliação (ver Capítulo 7 -
Avaliação da Qualidade da ICP). Por exemplo, no Nepal, a monitoração mais
detalhada de um serviço móvel de esterilização feminina incluiu entrevistas com
as próprias clientes. Mais de metade das clientes entrevistadas declararam ter
medo de morrer como resultado do procedimento, mas achavam também que o risco
valia a pena se fosse para evitar mais uma gravidez (66).
Os efeitos colaterais exigem discussão. Os efeitos colaterais dos
anticoncepcionais são um dos fatores mais importantes nas decisões das clientes
sobre o planejamento familiar. O medo dos efeitos colaterais é muito comum. Ele
geralmente se baseia em experiências reais (147). As informações equivocadas e
as crenças infundadas também se disseminam com muita facilidade. A própria
expectativa de que os efeitos colaterais realmente ocorrerão já desestimula
muitas pessoas a adotarem certos métodos de planejamento familiar e, ao
experimentar realmente tais efeitos colaterais, muitas mulheres decidem
interromper o uso do método (33, 53).
O treinamento em orientação anticoncepcional geralmente ensina como discutir os
efeitos colaterais com as clientes, porém freqüentemente os prestadores de
serviços de saúde evitam o assunto por pensarem que uma informação negativa
afastará as clientes (26, 71). Mas esta estratégia é autodestrutiva, já que as
mulheres serão informadas de qualquer forma sobre os efeitos colaterais por suas
amigas e familiares. A experiência das clientes com os efeitos colaterais poderá
ser muito pior se elas não estiverem preparadas e informadas sobre a
possibilidade de ocorrência dos mesmos. Seus temores poderão ser exacerbados
pelas crenças locais que interpretam tais efeitos colaterais de uma forma mais
perigosa do que eles realmente são (52).
Os prestadores de serviços de saúde podem minimizar muitos destes temores quando
ajudam as mulheres a entenderem quais são os efeitos colaterais que ocorrem com
mais freqüência e quanto tempo eles geralmente duram, além de tranqüilizá-las de
que eles normalmente não são perigosos nem indicam nenhum perigo e de que quase
sempre desaparecem na medida em que o próprio corpo se ajusta aos mesmos. Os
prestadores de serviços de saúde devem apresentar esta informação de uma forma
precisa, porém não alarmante (123).
As pesquisas já comprovaram que quando as clientes recebem orientação com
relação aos efeitos colaterais antes de iniciarem a usar um método, elas têm
mais probabilidade de continuar a usar o método quando ocorrerem efeitos
colaterais do que as clientes que não recebem nenhuma orientação sobre a
possível ocorrência destes efeitos (25, 91). Por exemplo, no México, a
porcentagem de mulheres que deixavam de usar anticoncepcionais injetáveis depois
de um ano era muito menor entre as que tinham recebido orientação prévia sobre
os possíveis efeitos colaterais (17%) do que entre as que não tinham recebido
nenhuma orientação (43%) (25).
Igualmente importante é a reação dos prestadores de serviços de saúde quando as
clientes voltam à clínica para reclamar de efeitos colaterais. Ao invés de
considerar estas reclamações com a seriedade que merecem, muitos prestadores de
serviços de saúde diminuem a importância das mesmas e chegam a criticar as
mulheres por quererem abordar novamente um assunto que já tinham discutido
anteriormente (52, 73). Os prestadores de serviços de saúde necessitam entender
que, apesar dos efeitos colaterais não serem prejudiciais, eles podem ser
inconvenientes, desconfortáveis e perturbadores para a cliente.
Tranqüilizar as clientes quanto aos efeitos colaterais é muito importante, mas
nem sempre é suficiente (52). É preciso oferecer às clientes várias opções de
providências a tomar, entre elas: esperar para ver se efeitos colaterais
desconfortáveis desaparecem ao longo do tempo, fazer certas mudanças de
comportamento (ex., consumir mais alimentos que contenham ferro ou tomar
cápsulas de complemento férrico para evitar a anemia, nos casos em que o DIU
provoca forte sangramento menstrual), tomar outros medicamentos (tais como
anticoncepcionais orais combinados de ação rápida ou um antiinflamatório não
hormonal para os casos de sangramento leve durante o uso de implantes), ou
trocar de método (164).
Clareza e Equilíbrio nos Papéis dos Clientes e dos
Prestadores de Serviços de Saúde
Na tomada de decisões de saúde, encontrar o equilíbrio entre a contribuição do
cliente e a do prestador de serviços de saúde é um desafio permanente (135). A
evolução da medicina rejeita agora os modelos paternalistas que deixam as
decisões totalmente nas mãos dos prestadores de serviços de saúde. Mas os
conceitos de tomada de decisões de forma "compartilhada" e "informada", que dão
aos clientes um papel central, são muito novos para muitos prestadores de
serviços de saúde e ainda mais estranhos para o/as clientes, especialmente nos
países em desenvolvimento (28).
De acordo com o modelo de escolha bem informada, adotado por programas de
planejamento familiar do mundo inteiro, os clientes são responsáveis por
escolher um método anticoncepcional e devem também ter participação majoritária
na maioria das outras decisões relativas à saúde reprodutiva. De sua parte, os
prestadores de serviços de saúde tem o importante papel de confirmar ou
facilitar a decisão do cliente, primeiro ajudando o cliente ou a cliente a
examinar e avaliar suas próprias necessidades, preferências e conhecimentos, e
depois usando seus próprios conhecimentos especializados, sua experiência
profissional e as técnicas de comunicação para ajudar o/a cliente a tomar uma
decisão correta tanto do ponto de vista médico como pessoal (159).
Pode ser difícil garantir que as decisões sejam tomadas de forma bem informada.
Estudos realizados tanto em países desenvolvidos (17) como em desenvolvimento
(71, 72) comprovaram que a maioria das consultas não consegue atingir o ponto
ideal de uma decisão bem informada. Uma causa comum deste problema pode ser a
falta de discussão do papel do cliente na tomada de decisões. Os clientes de
planejamento familiar podem não entender que, dada a segurança e eficácia dos
métodos anticoncepcionais disponíveis, eles têm o direito e a responsabilidade
de escolherem um método que melhor corresponda às suas necessidades e
preferências pessoais. Como resultado disto, eles poderão assumir o papel
passivo que os pacientes geralmente assumem, ou seja, o de submeter-se sem
questionamento ao conhecimento especializado dos prestadores de serviços de
saúde e esperar que estes tomem as decisões para eles (57, 71).
Da mesma forma, os prestadores de serviços de saúde que não entendem
corretamente o papel dos clientes na tomada de decisões poderão também não agir
de forma adequada. Partindo da premissa equivocada de que as decisões devem ser
deixadas inteiramente aos clientes, os prestadores de serviços de saúde às vezes
abdicam totalmente do seu próprio papel (71). Depois de passar as informações
que eles acham que os clientes de planejamento familiar necessitam, estes
prestadores de serviços de saúde podem esperar passivamente que os próprios
clientes entendam o significado exato destas informações e cheguem às suas
próprias decisões, sem necessidade da ajuda posterior dos prestadores de
serviços. Apesar de se entender perfeitamente a reação contra abordagens
autoritárias antiquadas, esta última abordagem é igualmente deficiente.
As atividades que visam melhorar a qualidade da orientação dos clientes e
permitir uma escolha bem informada podem convencer os prestadores de serviços de
saúde de que os clientes têm o direito e a capacidade de tomar suas próprias
decisões sobre o uso de anticoncepcionais. Elas também podem convencer os
prestadores de serviços de saúde de que, se estimularem os clientes a tomarem
suas próprias decisões, isto permitirá alcançar resultados muito melhores para
os clientes e os programas. Por exemplo, depois de receber treinamento para dar
orientação sobre planejamento familiar, os médicos de quatro países da Ásia
Central passaram a respeitar mais o papel dos clientes na tomada de decisões (8)
e, em Gana, os prestadores de serviços de saúde passaram a deixar mais
freqüentemente a escolha final do método anticoncepcional aos clientes (55).
O treinamento, juntamente com uma boa supervisão e orientação individual, pode
tornar os prestadores de serviços de saúde mais conscientes de suas possíveis
atitudes tendenciosas – por exemplo, eles podem se dar conta de que favorecem
algum método em particular ou de que se opõem à troca de métodos – atitudes
estas que prejudicam o direito dos clientes de tomarem suas próprias decisões.
Os prestadores de serviços de saúde também podem aprender a envolver os clientes
na tomada de decisões, sem abrir mão de seu próprio papel neste processo (124).
Por outro lado, certas atividades complementares voltadas aos clientes podem
ensinar-lhes a assumir um papel mais ativo na tomada de decisões. Veja
Figura 4.1.
Veja quadro
4.1
Os Modelos de Orientação Ajudam a Guiar a Tomada de
Decisões
Equilibrar os papéis dos clientes e dos prestadores de serviços de saúde na
tomada de decisões é um grande desafio para os prestadores de serviços de saúde,
os quais necessitam – e nisto os clientes podem ajudar – de um processo
sistemático ou seqüência de passos para chegar a uma decisão sábia e
equilibrada. Ao mesmo tempo, cada cliente é um indivíduo e, portanto, tanto o
processo como o conteúdo da orientação deve se adaptar à situação particular
deste indivíduo.
Idealmente, o próprio processo de orientação deveria ajudar os prestadores de
serviços de saúde a individualizar a consulta. Para atingir este objetivo, a
maioria dos modelos de orientação se baseia em seqüências curtas de passos dos
quais o profissional de saúde se lembra facilmente para focalizar as condições e
necessidades específicas de cada cliente. Certas abordagens, tais como o Guia
REALCE de 6 passos (Receber, Encorajar, Atualizar, Levar, Comentar, Estabelecer)
(124) ou o modelo REDI (Relacionamento, Exploração, Decisão, Implementação) de 4
passos (42, 132), conseguem atingir um equilíbrio entre as contribuições do
profissional de saúde e as do/da cliente ao processo de tomada de decisões.
Enquanto que os modelos de orientação ou aconselhamento focalizam geralmente as
tarefas dos prestadores de serviços de saúde, Young Mi Kim e seus colegas, com
base em pesquisa realizada no Quênia, descrevem as tarefas dos clientes no
processo de tomada de decisões anticoncepcionais segundo um modelo de 4 passos:
entender as circunstâncias pessoais, considerar alternativas, escolher a melhor
opção e implementar a decisão (71).
Os modelos de orientação podem reconhecer e responder às diferenças fundamentais
entre os clientes, entre elas as diferenças entre clientes novos e clientes já
existentes, entre os clientes que voltam à clínica com ou sem problemas, e ainda
clientes preocupados ou não com as infecções sexualmente transmitidas (ISTs)
(124). Evidentemente, os prestadores de serviços de saúde têm que pensar em
categorias muito mais amplas do que as precedentes para adaptarem a sessão de
orientação a cada cliente individual. Dentro da estrutura criada por um modelo
de orientação qualquer, o profissional de saúde tem que usar suas habilidades de
relacionamento pessoal para que o/a cliente fale e discuta com o profissional os
detalhes específicos de sua situação e de suas preferências, inclusive seu
histórico médico, suas práticas sexuais, relacionamento com parceiros/as,
vulnerabilidade à violência, sua possível necessidade de ocultar o uso do
planejamento familiar, se tem condições ou não de pagar por um método
específico, talvez até as dúvidas de certas mulheres se devem tomar injeções ou
pílulas. (Ver o
quadro 4.1.)
Estímulo à Participação dos Clientes
Quando os clientes tomam a iniciativa durante as consultas de saúde reprodutiva
– por exemplo, pedindo privacidade, fazendo perguntas ou procurando esclarecer
instruções – eles estão melhorando a qualidade da ICP e do processo de tomada de
decisões. Eles ajudam a manter o enfoque da sessão exatamente onde ele deve
estar: em suas próprias necessidades, preocupações e prioridades. Fazendo isto,
eles estão também obtendo informações suficientes para tomar decisões corretas e
verificando se realmente entenderam as informações oferecidas.
A maior participação dos clientes pode também compensar por possíveis
deficiências do prestador de serviço de saúde no trabalho de orientação do
cliente. Um exame detalhado de prontuários médicos da Indonésia comprovou que,
em alguns casos, eram os próprios clientes de planejamento familiar que tomavam
a iniciativa de conduzir certas etapas essenciais do processo de tomada de
decisões que, freqüentemente, eram esquecidas pelos prestadores de serviços de
saúde, entre elas a identificação do problema que necessitava de solução (72).
Mas, geralmente, os clientes adotam uma atitude passiva e hesitam em fazer
perguntas e expressar suas necessidades. Os clientes, assim como os prestadores
de serviços de saúde, têm certas expectativas sobre seu papel nas consultas de
saúde reprodutiva – expectativas estas que são influenciadas pela família, pelos
amigos e pela comunidade, bem como pelos próprios prestadores de serviços que
prestam assistência de saúde. Muitos clientes acham que o comportamento mais
adequado é o de ouvir passivamente os prestadores de serviços de saúde e aceitar
suas decisões porque "eles é que são os especialistas".
O que os prestadores de serviços de saúde dizem (ou deixam de dizer) e fazem
pode reforçar as expectativas negativas dos clientes ou então estimulá-los a
falar. Por exemplo, na Colômbia e Indonésia, as clientes que recebiam
assistência pós-aborto relataram que não faziam perguntas porque os prestadores
de serviços de saúde pareciam estar sempre muito ocupados e porque eles nunca
tinham dito a elas que podiam fazer perguntas (155). Este tipo de pesquisa pode
ajudar a esclarecer os tipos de barreiras locais que existem à participação dos
clientes (70, 76, 165).
Se as habilidades de comunicação e tomada de decisões dos clientes forem
limitadas, seu grau de passividade aumenta. A maioria das clientes tem pouca
habilidade para formular suas perguntas e para obter esclarecimento dos
prestadores de serviços ou ainda para julgar as vantagens e desvantagens das
várias opções de assistência de saúde. Dependendo da cultura prevalente no lugar
onde vivem, elas podem nem estar familiarizadas com o conceito de "processo
consciente de tomada de decisões".
As clientes poderão inibir-se ainda mais se houver diferenças de sexo e idade
entre si e os prestadores de serviços de saúde, bem como disparidades
educacionais e socioeconômicas (134). O próprio arranjo físico de uma clínica e
a forma em que o trabalho é aí realizado podem representar barreiras à
participação das clientes se não colocarem à disposição destas um espaço
privativo onde podem discutir questões mais delicadas, sem interrupções.
Várias estratégias para aumentar a participação dos clientes. Alguns
programas e pesquisas conduzidos em países, tanto desenvolvidos como em
desenvolvimento, permitiram agregar uma ampla variedade de materiais e
atividades que estimulam a participação dos clientes nas consultas relativas à
sua saúde (3, 43, 143). A maioria se concentra em duas áreas:
- Legitimar o direito dos clientes de se expressar e, assim, sintam que é adequado – e até mesmo esperado – que eles assumam um papel ativo nas consultas de saúde; e
- Reforçar as habilidades básicas de comunicação, para que os clientes se sintam confiantes na sua capacidade de fazer perguntas, prestar informações e verificar se entenderam as informações recebidas.
Os materiais impressos têm sido usados para atingir ambas as metas. Por
exemplo, o cartaz da International Planned Parenthood Federation (IPPF) sobre os
"Direitos dos Clientes" estimula-os a lutar por seus direitos à informação, ao
sigilo e à privacidade durante as consultas (58). O cartaz já foi traduzido a
mais de 20 idiomas e é exibido em milhares de clínicas do mundo inteiro. Outros
materiais são os folhetos que listam os tipos mais comuns de perguntas. Eles
podem estimular os clientes a formular suas próprias perguntas aos prestadores
de serviços de saúde e a se lembrarem de fazê-las durante as consultas (79).
As campanhas pelos meios de comunicação de massa podem mostrar exemplos de
clientes que assumem um papel mais ativo nas interações com o pessoal de saúde e
que se transformam, assim, em modelos de comportamento. Como tais publicações
atingem um público muito amplo, estas representações podem também acabar mudando
certas normas da comunidade sobre o comportamento dos clientes. Por exemplo,
algumas campanhas de comunicação no Egito e Nepal mostraram anúncios pela TV e
novelas de rádio exemplificando a orientação centrada nos clientes (39, 153).
Apesar do seu objetivo principal ter sido aumentar as expectativas dos clientes
quanto ao comportamento dos prestadores de serviços de saúde, estes avisos e
novelas apresentavam também um modelo positivo de cliente, sobretudo do cliente
que pede mais informações. Observando-se sessões de orientação no Nepal, foi
possível comprovar que os clientes participavam de forma mais ativa depois de
ouvirem a novela pelo rádio, quer os prestadores de serviços de saúde tivessem
recebido treinamento de ICP ou não, concluindo-se, portanto, que tais
transmissões encorajavam este tipo de comportamento (152).
Veja Figura
4.2
Na Indonésia, foram feitos testes sobre o aconselhamento individual de clientes
sobre seu papel na ICP. Educadores do Conselho Nacional de Coordenação do
Planejamento Familiar ((BKKBN) do Ministério da População daquele país passaram
cerca de 20 minutos com cada cliente de planejamento familiar e lhes explicaram
que, como clientes, tinham o direito e a responsabilidade de expressar suas
necessidades. Ajudaram os clientes a formular e anotar suas perguntas e dúvidas
e a praticar a discussão das mesmas com os prestadores de serviços de saúde. A
comparação entre os grupos do experimento e os grupos de controle permitiu
concluir que a orientação persuadia os clientes de que tinham o direito de
falar, aumentava sua participação e aperfeiçoava o nível de informações
prestadas pelos prestadores de serviços de saúde, mas tinha um impacto apenas
marginalmente significativo sobre os índices de continuação do uso de
anticoncepcionais, conforme verificado através de um acompanhamento realizado
após oito meses (79).
A educação em grupo, seja na sala de espera ou na própria comunidade, pode
atingir um público muito mais amplo do que a orientação prestada
individualmente. Num teste piloto deste tipo de abordagem, aplicado na
Indonésia, trabalhadores comunitários treinados especialmente realizaram
reuniões de grupo em aldeias, fábricas, mesquitas e clínicas. Discutiram os
direitos e responsabilidades das clientes, mostraram às mulheres como preencher
uma lista de verificação ilustrada das perguntas mais comuns antes de visitarem
um profissional de planejamento familiar, e recomendaram a elas que fizessem
perguntas e expressassem suas preocupações durante as consultas. Entrevistas
familiares realizadas posteriormente mostraram que as mulheres que viviam nas
comunidades onde estas reuniões de grupo foram realizadas tinham maior
probabilidade de preparar as perguntas antecipadamente às suas visitas aos
prestadores de serviços de saúde, além de fazerem mais perguntas durante as
consultas propriamente ditas (69).
Os programas de saúde reprodutiva que usam uma abordagem mais ampla de
potencialização das mulheres também estimulam uma maior participação das
clientes, como demonstraram dois projetos realizados por organizações feministas
do Peru. Os seminários para mulheres organizados por Consorcio Mujer
(139) e pelo projeto ReproSalud (29) discutiram direitos reprodutivos e
questões ligadas ao gênero, bem como o atendimento de saúde. Esta abordagem
permitiu aumentar a auto-estima das mulheres, o reconhecimento de seus direitos
e seus conhecimentos sobre saúde reprodutiva, o que, por sua vez, induziu as
mulheres a discutirem abertamente seus problemas com os prestadores de serviços
de saúde, fazer perguntas a eles e solicitar mais serviços. Os grupos
comunitários e de prestadores de serviços de saúde patrocinados por Consorcio
Mujer conseguiram também negociar iniciativas para melhorar o nível de ICP,
inclusive estabelecendo procedimentos para recompensar ou disciplinar o pessoal
das clínicas de acordo com seu nível de desempenho ao interagir com as clientes
(139).
Muitos programas de planejamento familiar tentam influenciar o comportamento dos
clientes de forma indireta, promovendo o treinamento e realizando outras
atividades voltadas aos prestadores de serviços de saúde. Por exemplo, o
treinamento centrado nos clientes instrui os prestadores de serviços de saúde a
darem às clientes mais oportunidades para falar, a induzirem as clientes a fazer
perguntas e expressar suas preocupações, e a facilitar o processo de tomada de
decisões das clientes (159). Na Indonésia, este tipo de treinamento dos
prestadores de serviços de saúde na comunicação pessoal e nas técnicas de
orientação aumentou o número médio de perguntas feitas pelas clientes de
planejamento familiar, mesmo quando não havia nenhuma atividade direta para
estimular as clientes a participarem (77).
Population Reports é publicado pelo Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA.
Palavras chave: decisões, saúde, clientes, tomada, é, cliente, tomada decisões, serviços, tomar, à, prestadores, serviços, prestadores serviços, o/as clientes, prestadores serviços saúde, serviços saúde, não, processo, familiar, o/as,
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