05 - Resultados das Avaliações

Equipe Editorial Bibliomed

As avaliações formais constatam que a maioria dos programas para adultos jovens pode aumentar seu conhecimento da saúde reprodutiva e estimular atitudes positivas com relação a um comportamento mais saudável (veja a Tabela 10). Para dar um passo mais além e tentar reduzir o comportamento perigoso, os programas necessitam não só dar informações precisas mas também mostrar aos jovens como eles podem se proteger, ajudá-los a identificar e resistir às pressões que os forçam a iniciar a atividade sexual precoce, bem como ajudá-los a praticar técnicas de negociação para evitar o sexo ou, pelo menos, garantir um comportamento sexual mais seguro. Esses programas não aumentam a atividade sexual entre os jovens, como alegado por certos críticos. As constatações se baseiam principalmente em programas de grande porte e bem financiados conduzidos nos EUA. No entanto, esses programas não são os que têm a maior chance de sucesso. Geralmente, eles ocorrem em escolas cujos alunos têm maior probabilidade de se envolverem em relações sexuais precoces e freqüentes.

Os Programas Ajudam ou Prejudicam?


A educação sexual conduz à promiscuidade? Este é o medo dos opositores dos programas de educação sexual. Argumentam que a discussão sobre o sexo aguçará a curiosidade dos jovens, reduzirá sua reticência sobre as questões sexuais e estimulará a atividade sexual (103, 180, 427, 522).

As evidências apontam em sentido contrário. De acordo com uma análise encomendada pela Organização Mundial da Saúde, não há fundamento na alegação de que a educação sexual estimula a experimentação sexual ou o aumento dessa atividade (181). Depois de analisar mais de 1.000 relatórios sobre programas de educação sexual no mundo inteiro, os autores concluíram que os cursos de educação sexual não conduzem ao sexo precoce e que, em alguns casos, até o adiam.

Adiamento da primeira relação sexual. Os programas escolares podem dotar os jovens das técnicas de que necessitam para adiar sua primeira relação sexual (36, 181). Entre alunos de escola secundária dos EUA que freqüentaram um curso de 15 horas denominado "Redução de Risco", somente 29% do grupo de tratamento tinham se iniciado sexualmente 18 meses depois de terminar o curso, em comparação com 38% do grupo de comparação, que não tinham feito o curso (260) (veja a Tabela 10). O curso ajudou os estudantes a se preparar para dizer "Não" às propostas indesejadas de sexo.

Um segundo programa nos EUA, "Adiamento do Envolvimento Sexual", teve como resultado o adiamento das relações sexuais entre adolescentes (homens e mulheres) de 13 e 14 anos (216) (veja a Tabela 10). Depois que o programa se iniciou em 1983, os estudantes foram entrevistados quanto às suas necessidades. Cerca de 84% das moças queriam saber "como dizer 'não' sem magoar a outra pessoa" (216). O programa foi adaptado de forma a suprir essa necessidade e, agora, os adolescentes mais velhos ensinam num programa que ajuda os jovens a resistir às pressões dos colegas, dando informação sobre sexualidade humana e uso de anticoncepcionais. Estudos feitos por outros programas de informação sexual, no México e nos EUA, relatam que os jovens que completam o curso não se iniciam sexualmente mais cedo do que qualquer outro grupo de jovens (115, 264, 378).

Nenhum aumento na freqüência das relações sexuais. Na Austrália, Suíça, Tailândia e EUA, as avaliações concluíram que os programas que informam sobre anticoncepcionais aos adultos jovens sexualmente ativos não fizeram aumentar a freqüência das relações sexuais ou o número dos parceiros sexuais (181, 196) (veja a Tabela 10). Além disso, o fornecimento de serviços de saúde reprodutiva nas escolas, ou próximo a elas, não aumentou a atividade sexual e, na verdade, adiou a iniciação sexual em alguns casos (264, 266, 564).(Veja o Quadro 4)

Aumento do uso de anticoncepcionais. Se bem que a maioria dos programas não tenha feito aumentar o uso de anticoncepcionais, alguns conseguiram fazê-lo. Um estudo suíço constatou que o uso regular de preservativos entre os jovens aumentou depois que uma campanha de informação sobre a AIDS utilizou apresentações nas escolas, linhas de consulta telefônica, uma rede de computadores e exibições em festivais de cidades pequenas, se bem que tal uso tenha aumentado somente depois da primeira vez que os jovens tiveram relações sexuais com um novo parceiro/a. Entre as moças, o número das que usavam preservativos regularmente aumentou de 71% a 77% e, entre os rapazes, de 38% a 54% (196). Vários programas EVF constataram que, se conseguiam atingir os jovens antes de sua primeira relação sexual, tais jovens aumentavam o uso de anticoncepcionais quando se tornavam ativos sexualmente. Por exemplo, entre 1.632 jovens sem experiência sexual pesquisados no México, 82% das moças e 55% dos rapazes que freqüentaram um curso EVF usaram anticoncepcionais quando começaram a ter relações sexuais, em comparação com 75% das moças e 32% dos rapazes que não participaram do curso (379). No entanto, neste estudo mexicano e em dois estudos feitos nos EUA, o programa EVF não afetou o uso de anticoncepcionais entre estudantes que já eram ativos sexualmente quando fizeram o curso (215, 260, 378, 379).

O que Explica o Sucesso dos Programas?

Muitos programas aumentam o entendimento dos jovens com relação à saúde reprodutiva, o primeiro passo que se faz necessário. Um número muito menor de programas, no entanto, leva a um comportamento sexual mais seguro. Douglas Kirby analisou 49 estudos de avaliação feitos nos EUA, os quais mediram resultados de comportamento de várias formas e incluíram mais de 80 estudantes da amostra do estudo (258). Ele observou que quatro programas levaram a uma melhoria estatisticamente significativa de comportamento sexual seguro. Os programas, cujos nomes eram Treinamento em Técnicas de Comportamento; Orgulhe-se e Seja Responsável; Fique Alerta sobre a AIDS e Reduza Seu Risco, tinham as seguintes características:

  • Focalizaram atentamente a redução do nível de risco assumido;
  • Eram baseados na teoria de mudança comportamental;
  • Duraram pelo menos 14 horas ou incluíram práticas intensas em pequenos grupos;
  • Usaram métodos de ensino que envolviam os alunos;
  • Forneceram informação básica e precisa sobre os riscos das relações sexuais não protegidas e sobre as formas de se proteger;
  • Abordaram as pressões sociais para ser sexualmente ativo;
  • Reforçaram valores claros e apresentaram mensagens que fortaleceram os valores individuais e as normas de grupo contra o sexo sem proteção;
  • Apresentaram modelos e praticaram técnicas de comunicação e negociação;
  • Treinaram os indivíduos responsáveis pelo programa.

Os outros 45 programas não levaram claramente a um comportamento sexual mais seguro e não apresentaram todas as nove características acima. Os quatro programas bem sucedidos eram todos baseados em suposições similares sobre a forma em que as pessoas aprendem e modificam seu comportamento, e eram semelhantes em termos de conteúdo do programa, concepção do programa e ênfase no treinamento.

Usando como base a teoria de mudança do comportamento. Os quatro programas que demonstraram um impacto positivo sobre o comportamento sexual ou anticoncepcional se baseavam na teoria de aprendizado social, teorias de influência social e teorias de ações racionais. A teoria de aprendizado social postula que as pessoas aprendem um comportamento observando e imitando os outros, bem como através da educação formal. As teorias de influência social sugerem que, como o comportamento é moldado por normas e atitudes de grupo bem como individuais, é importante que as pessoas possam identificar as pressões sociais e, em seguida, desenvolver valores individuais e grupais que apóiem um comportamento saudável e apropriado. As teorias de ação racional estabelecem que a intenção das pessoas de adaptar o novo comportamento manifesta as crenças e expectativas das pessoas e as normas sociais percebidas.

Ao invés de ensinar aos jovens a "simplesmente dizer não", os programas baseados nessas teorias partem do pressuposto de que a decisão de fazer sexo pode ser uma escolha individual mas é influenciada pelo ambiente social. Apesar dos jovens darem a impressão de estarem escolhendo fazer sexo, muitos podem, na verdade, ter relações sexuais porque, por exemplo, têm medo de recusar, porque são carentes de afeição, porque temem magoar seus parceiros/as ou porque necessitam ou desejam ter o dinheiro ou os presentes que receberão pela relação sexual. Por isso os programas escolares dos EUA que mais tiveram sucesso se concentraram no reconhecimento das influências sociais, na mudança dos valores individuais e das normas de grupo e no aprimoramento das técnicas sociais (258).

Conteúdo dos programas. Todos os quatro programas deram aos estudantes a informação básica que necessitavam sobre os riscos à saúde da prática sexual e mostraram-lhes exatamente como se proteger contra os mesmos (258). Também num estudo mexicano, os estudantes que haviam participado de um curso EVF, que tinha apresentado informação precisa e específica sobre anticoncepcionais e prevenção de gravidez, tinham maior probabilidade de usar anticoncepcionais do que estudantes que participaram de outros cursos onde se evitou discutir esses assuntos considerados freqüentemente como controversos. Entre os estudantes cujos cursos cobriram formas de evitar a gravidez, o percentual de jovens sexualmente ativos que usava anticoncepcionais passou de 20% para 70%. Entre os estudantes sexualmente ativos que receberam informações sobre como obter anticoncepcionais, o percentual de estudantes que usavam anticoncepcionais cresceu de 42% a 81%. Os estudantes cujos cursos não cobriam esses tópicos demonstraram um crescimento menor ou nenhum crescimento no uso de anticoncepcionais (378). O conteúdo dos quatro programas dos EUA que modificaram o comportamento também focalizaram a pressão social exercida sobre os estudantes para que se tornassem sexualmente ativos, bem como os valores e as técnicas mais adequadas de acordo com cada idade para ajudá-los a continuar abstêmios ou a negociar a possibilidade de praticar um sexo mais seguro.

Concepção e métodos dos programas. Os quatro programas usaram uma variedade de métodos para envolver os estudantes e ajudá-los a praticar novas respostas a situações que poderiam levar à prática de sexo inseguro (258). No programa "Reduza Seu Risco", os estudantes discutiram as possíveis formas de pressão que poderiam sofrer para ter relações sexuais com outros e aprenderam técnicas para tratar tais situações ou para evitá-las. Praticaram todas essas técnicas de relacionamento interpessoal por meio de exercícios práticos (44).

Outros programas também constataram que o envolvimento ativo dos estudantes no processo de aprendizado tem uma maior influência em seu comportamento do que uma simples palestra (262, 448). Por exemplo, uma pesquisa do Zimbábue comparou uma palestra sobre AIDS com uma sessão de preparação prática que envolvia a colocação de um preservativo em um boneco e a prática de negociação quanto ao uso do preservativo. Quatro meses depois, os jovens que participaram do curso de preparação prática sabiam mais sobre os preservativos e seu uso correto, sentiam menos barreiras à sua ação e tinham tido um número menor de parceiros sexuais do que aqueles que somente tinham ouvido a palestra (528).

Os programas dos EUA que produziram bons resultados em termos de comportamento seguro tinham todos pelo menos 14 horas de duração ou envolviam os estudantes em exercícios em pequenos grupos (258). Até o momento, poucos estudos compararam estratégias de ensino para determinar quais são as mais eficazes em termos de mudança de comportamento. (Veja o Quadro 5)

Ênfase no treinamento. Os quatro programas dos EUA com planos eficazes de estudo forneceram de seis horas a três dias de treinamento aos professores e companheiros educadores que ministravam os cursos (258). Novamente, existe pouca pesquisa de avaliação dos métodos e currículo de treinamento. Mas existem muitos exemplos de programas que fracassaram porque negligenciaram o treinamento dos professores. Nos programas de países em desenvolvimento, os professores resistem ensinar tais cursos porque têm objeções quanto aos materiais, sentem-se pressionados em termos de tempo ou se sentem despreparados para ensinar o assunto (97, 320, 244, 363, 425). Assim, certos cursos de treinamento de professores, como um levado a cabo na Etiópia, buscam primeiro melhorar as atitudes dos professores que não querem abordar o material relativo à vida familiar (198).

A não ser que os programas EVF escolares concentrem sua cobertura em informações e técnicas específicas, adotem uma abordagem de ensino interativa e de preparação prática e treinem o pessoal adequadamente, não poderão alterar o comportamento por si sós. O aumento do entendimento e a melhoria das atitudes talvez sejam as metas mais razoáveis para os programas escolares de EVF que usam palestras. Afinal de contas, comenta Kirby, outros programas acadêmicos que dependem de apresentações em salas de aula, medem sua eficácia pelas notas obtidas pelos alunos nos exames e não pelo comportamento dos alunos fora da escola (259). A pesquisa é, ainda, muito limitada para garantir que já foram identificadas todas as abordagens bem sucedidas. As características cruciais que distinguem os programas de sucesso necessitam ser identificadas ainda mais, refinadas e adaptadas a outros locais e culturas e testadas novamente. Ao mesmo tempo, os planejadores e defensores dos programas podem aprender lições muito importantes com a experiência dos outros (veja o Quadro 7).

Métodos e Necessidades da Avaliação


Conforme já observado, a maioria das avaliações dos programas de jovens abordaram os cursos EVF nas escolas dos EUA. Normalmente, os estudantes são divididos em dois grupos: o experimental e o de controle. Ambos os grupos são testados antes e depois do programa EVF quanto ao seu conhecimento do conteúdo do curso e suas atitudes com relação ao comportamento defendido pelo curso, bem como sua prática de tal comportamento. Os programas EVF fora dos EUA não foram ainda suficientemente avaliados ou mesmo descritos satisfatoriamente. Os programas de extensão, a distribuição de preservativos e as clínicas de saúde têm, freqüentemente, poucas oportunidades ou recursos para levar à frente uma avaliação completa. No entanto, eles podem medir as contribuições, tais como a qualidade do aconselhamento prestado por companheiros, ou os resultados, tais como o número de preservativos distribuídos, mesmo que não façam pesquisas com os clientes.

Exige-se pesquisa posterior sobre todos os tipos de programas de jovens e o exame de uma variedade de países, particularmente pesquisas que contribuam para melhorar a concepção e implementação dos programas. Por exemplo, os programas poderiam se beneficiar ao aprender mais sobre: (1) que elementos do programa são mais importantes para atingir as suas metas; (2) que nível de participação ou exposição é necessária para aumentar o entendimento, modificar atitudes e influenciar o comportamento; (3) custos e custo-benefício; e (4) eficácia de métodos diferentes de treinamento e ensino. Evidentemente, os métodos de avaliação e os indicadores devem ser apropriados ao tipo e porte do programa. Por exemplo, a avaliação da comunicação pelos meios de massa poderia medir o nível de lembrança, entendimento e aprovação das mensagens, a percepção de que os outros aprovam, a intenção de agir, a própria ação e o envolvimento junto com outros (575).

Várias iniciativas recentes buscam identificar as abordagens mais eficazes para estimular o comportamento seguro entre jovens de países em desenvolvimento. Um grupo de trabalho que examina os serviços de saúde reprodutiva oferecidos a adultos jovens, no qual estão representadas várias agências que trabalham neste campo, muitas com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), desenvolveu um manual de indicadores a ser usado na avaliação dos programas voltados para os jovens (459). Em 1996, a Organização Mundial da Saúde emitirá um documento técnico sobre a aceleração dos programas de adultos jovens. O relatório identificará intervenções bem sucedidas e discutirá estratégias, inclusive formas de mobilizar recursos para expandir programas pequenos ou programas piloto (551). Também em 1996, a Pathfinder International, em colaboração com o Futures Group e a Tulane University, começará um programa de 5 anos, com o suporte da USAID, para promover o entendimento das necessidades de saúde dos jovens e identificar estratégias de programas que aumentem a prática da abstinência e outros comportamentos sexuais mais seguros.


Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA

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