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aparecendo, como olhos, boca e nariz secos, além
da fadiga e das dores persistentes. Em 2009, Paulo
teve um pneumotórax espontâneo, e foi a partir
daí, que surgiu a suspeita de Síndrome de Sjögren.
“Fiz diversos exames ao longo desse tempo, e
recebi vários diagnósticos errados. Até de leucemia
chegaram a desconfiar. Só mesmo depois do
problema no pulmão e de uma bateria de exames
mais específicos é que descobriam a doença”, diz.
“Como tratamento, que foi a base demedicamentos
e acompanhamento periódico, hoje levo uma vida
normal. Ainda tenho consultas regulares para
acompanhar o desenvolvimento da doença e utilizo
produtos de higiene pessoal específicos, como
creme dental próprio e colírios, que garantem
minha qualidade de vida. Medicamentos eu não
tomo mais”, relata o jornalista.
Mulheres: as mais afetadas
Noventa por cento dos portadores da Síndrome de
Sjögren são mulheres. Segundo a Dra. Kakehasi,
não há na medicina uma explicação clara sobre
o porquê disso, mas acredita-se que fatores
hormonais possam influenciar na predominância
das mulheres entre os pacientes.
“Além da participação do estrógeno, pacientes
com Síndrome de Sjögren apresentam maior
concentração dos níveis de prolactina, um
hormônio feminino, que indivíduos sem a doença.
Outra explicação seria a herança ligada aos genes
femininos, cujas informações poderiam influenciar
o desenvolvimento de distúrbios auto-imunes”, diz
a reumatologista.
A paulista Adriana Nunes, de 37 anos, descobriu
há oito anos ser portadora de Síndrome de Sjögren.
Seu diagnóstico foi um pouco mais rápido do que
o do jornalista Paulo Marques, mas não menos
devastador. Como sofre com ceratocone, Adriana
precisa usar lentes de contato rígidas, o que é
dificultado pela secura dos olhos.
“Com o passar dos meses a médica percebeu que
minhas lágrimas eram de má qualidade, e comecei
a sentir meus olhos muitos secos quando estava
com as lentes”, conta Adriana. “Fiz alguns exames
e fui diagnosticada com uma doença de nome
estranho. Na época não me preocupei, nem levei
a sério, mas com o passar dos anos os sintomas
foram piorando, e hoje me sinto insegura em
relação à síndrome”.
A principal preocupação de Adriana é em relação
aos olhos, que, segundo ela, são seu ponto fraco.
“Preciso das lentes para conseguir enxergar, mas
elas me incomodam. Há alguns anos os médicos me
encaminharam para realização de um transplante,
mas descartaram essa possibilidade por causa dos
olhos secos”, relata.
A doença também está afetando a vida profissional
da paulista. Como pedagoga, ela utiliza a voz
durante longas horas, e a secura na boca e garganta
dificultam o trabalho.
A Síndrome de Sjögren também pode dificultar um
sonho de muitas mulheres: o de ser mãe. Segundo
Dra. Kakehasi, mulheres portadoras dessa doença
queixam-se com frequência de secura e prurido
vaginal e dor durante o ato sexual, além de
apresentaremmaior chance de terem endometriose
e gravidez mais tardia.
Adriana descarta a possibilidade de gravidez. “Essa
é uma doença muito triste. Não quero ter um filho
para que ele fique sujeito à possibilidade de sofrer
como eu”, diz, ressaltando ter o apoio do marido
nessa decisão.
A Síndrome de Sjögren não tem cura, mas com o
SAÚDE DA FAMÍLIA