O que fazer vara
satisfazer às necessidades das mulheres?
Para melhorar suas vidas, as mulheres se deparam com muitos obstáculos, exigindo
mudanças em várias áreas. Por isso, as políticas que visam dar maiores oportunidades
às mulheres devem ser discutidas da forma mais ampla possível. Além de garantir a
capacidade da mulher de controlar sua própria fecundidade, deve-se fazer esforços nos
seguintes sentidos:
Melhoria da saúde. Nos países com o melhor atendimento de saúde, a
expectativa de vida das mulheres é 10%o mais longa do que a dos homens (243, 331, 347).
Já nos países em desenvolvimento, a esperança de vida das mulheres é próxima ou até
mais curta que a dos homens (203, 331). Isso ocorre porque as mulheres não recebem a
proporção justa dos cuidados de saúde e dos alimentos que lhes corresponderia, um
processo que começa desde a infância (57). Muitas
mulheres adultas não obtêm o alimento e os cuidados de saúde necessários a uma
procriação saudável (306, 371, 374, 380).
Estímulo à instrução. Nos últimos 20 anos, aumentou consideravelmente o
número de meninas que vai à escola, mas os meninos ainda recebem mais instrução que as
meninas. Estima-se que dois terços dos 300 milhões de crianças que não têm acesso à
educação são meninas. Também, dois terços dos 960 milhões de adultos analfabetos
são mulheres (329).
Garantia de oportunidades de emprego e remuneração eqüitativa. A maioria
das mulheres cumpre jornadas longas e árduas, mas ganha menos por esse trabalho do que os
homens (341). Mesmo em países desenvolvidos, é normal que a mulher receba 75%0 ou menos
do que ganha um homem, em cargo semelhante (326). Grande parte do trabalho executado por
mulheres não é paga. O trabalho doméstico, que as mulheres executam sem remuneração,
representa aproximadamente um terço da produção econômica mundial (306). Quando se
acrescenta o trabalho agrícola e o trabalho doméstico ao trabalho remunerado das
mulheres, vê-se que elas trabalham mais tempo que os homens (196, 326).
Garantia de proteção legal. Freqüentemente, os códigos legais sancionam
a desigualdade entre maridos e mulheres (341), permitindo o casamento de mulheres muito
jovens, casamento sem o consentimento da mulher, propriedade e controle desigual dos bens
da família, incluindo-se terras e outras propriedades, desigualdade nos direitos de
herança, além de direitos desiguais no divórcio e no sustento depois do divórcio (103,
105, 146, 287). Em muitos casos, a lei não reconhece mulheres como seres adultos, com a
mesma capacidade de tomar decisões dos seus maridos (105, 106). E quando existem leis que
protegem os direitos da mulher, elas, freqüentemente, não são cumpridas (127).
Acesso facilitado aos cuidados de saúde reprodutiva. A organização IPPF
(Federação Internacional de Planejamento Familiar) já informou que 46 dos 94 países
pesquisados exigem a concordância do cônjuge para o uso de anticoncepcionais, aborto ou
esterilização voluntária, serviços esses que são utilizados principalmente ou
exclusivamente pelas mulheres (147). No mundo inteiro, 54 países exigem que a mulher
obtenha a aprovação do marido antes de submeter-se a uma esterilização voluntária,
mas somente 20 desses países exigem o mesmo para a esterilização do homem (283). As
mulheres jovens e solteiras têm, freqüentemente, pouco ou nenhum acesso aos serviços de
saúde reprodutiva. No entanto, pesquisas feitas nos países da região ao sul do Sahara,
por exemplo, constataram que de 20% a 47% das mães adolescentes engravidam antes do
casamento (73).
Prevenção da violência contra mulheres. Muitas mulheres vivem, todo dia,
sob o medo da violência, freqüentemente praticada por seus próprios maridos. (341).
Pesquisas realizadas no Chile, Colômbia, Quênia, índia, México, Paquistão, Papua Nova
Guiné, San Salvador, Coréia do Sul e Tailândia demonstram que de 40% a 99% das mulheres
relataram abusos físicos perpetrados por seus maridos (43, 133, 264). A maioria dessas
mulheres não tinha outra opção que a de continuar a aceitar tais abusos e medos.
Abandonar o casamento não é, normalmente, uma opção realista, quando a mulher, privada
de instrução, empregos e direitos de herança, é economicamente dependente do marido
(43).
O ato sexual não consentido é uma das principais formas de violência contra a mulher
(326). Uma pesquisa realizada nos EUA mostrou que 13% das entrevistadas haviam sido
estupradas em algum momento de suas vidas, sem contar a violência conjugal (229). Ou
seja, uma mulher é estuprada a cada minuto (133). Metade dessas mulheres tinham menos de
18 anos ao serem estupradas e 75% conheciam o violador (229). Não existem dados
detalhados de estupros praticados em países em desenvolvimento.
O medo de ser abandonada ou de sofrer atos de violência impede que a mulher defenda seus
próprios interesses. Por exemplo, no Egito, muitas mulheres não buscam tratamento para
seus problemas ginecológicos, tais como secreções ou fístulas vaginais, por medo de
que seus maridos as abandonem, por estarem gastando tempo e dinheiro com sua própria
saúde (167). Inclusive, as ameaças de violência impedem as mulheres de participar em
projetos de desenvolvimento (43, 150).
Aumento do respeito pela mulher. Como a maioria das sociedades valoriza
menos a mulher que o homem, muitas jovens crescem com a idéia de que são inferiores aos
homens. Este tipo de percepção é difícil de mudar. Por exemplo, há 40 anos que a
China estabeleceu direitos e papéis iguais para homens e mulheres. No entanto, 30%0 das
mulheres chinesas que participaram de uma pesquisa em 1990, acreditavam que os homens já
nascem destinados a ser mais importantes que as mulheres e 33% concordavam que as mulheres
deviam comportar-se de forma a não ter mais sucesso que seus maridos (52).
Programas para melhorar a vida da mulher
Os programas de ajuda a mulheres concentram-se, geralmente, na sua situação
econômica e legal. As próprias mulheres foram as iniciadoras de muitos desses programas.
Por exemplo, um grupo de mulheres na índia fundou a Associação de Mulheres Autônomas
(SEWA), em 1972, e o Fórum da Mulher Trabalhadora (WWF), em 1977, para mudar as posturas
municipais que interferiam com a capacidade da mulher de trabalhar como comerciante
ambulante (49, 282). Ambos os grupos ampliaram suas agendas, na medida em que os membros
começaram a pedir ajuda em questões relacionadas à saúde, educação e outras
necessidades. Na Tunísia, nos anos 70, o Presidente Habib Bourguiba fez seu governo
aprovar leis de proteção legal às mulheres . Em
Bangladesh, o professor universitário Mohammed Yunus convenceu o Banco Grameen, de
controle privado, a oferecer pequenos empréstimos às mulheres pobres (108).
Os planejadores de desenvolvimento social formularam dois critérios mais amplos para
avaliar as necessidades das mulheres e preparar programas destinados a satisfazê-las:
A condição da mulher, critério que compara a posição das mulheres e dos
homens em uma sociedade ou em todo o país. Depois de identificar áreas em que as
mulheres estão em desvantagem, os planejadores propõem programas para resolver esse tipo
de problema.
A habilitação da mulher, critério que visa ajudar a mulher a obter maior
controle sobre sua própria vida. Em primeiro lugar, as mulheres identificam e estabelecem
uma ordem de prioridade para suas próprias necessidades. Em função disso, os
organizadores do programa ajudam as mulheres a projetar, elas próprias, programas que
satisfaçam essas necessidades.
Ambos os critérios têm suas vantagens. A determinação objetiva da condição da mulher
documenta o problema para as autoridades superiores, motivando-as para que apóiem as
reformas políticas. As Nações Unidas basearam seus esforços na eliminação da
discriminação contra as mulheres em critérios de medição da situação, tais como
anos de instrução e salários. A abordagem que visa a habilitação da mulher pode
trazer resultados mais rápidos para certas mulheres, apesar de em escala mais reduzida.
Quando se envolve as mulheres na solução de seus próprios problemas, permite-se que
elas aumentem suas habilidades e auto-confiança e as soluções encontradas tornam-se
mais apropriadas aos locais específicos (113, 166, 352).
O uso de ambos os critérios poderá acelerar as melhorias para as mulheres e, na
prática, os dois critérios às vezes se confundem. Os organizadores de programas podem
usar o critério de condição da mulher para influenciar as políticas nacionais e para
avaliar seu impacto, ao mesmo tempo que usam programas de habilitação baseados na
comunidade para começar a mudar as coisas a nível local. Alguns dos programas
comunitários mais bem sucedidos começam resolvendo uma necessidade que as mulheres
reconheçam como importante, tal como a necessidade de melhores salários, e, em seguida,
passam a fortalecer habilidades especiais que as mulheres possam usar em outras atividades
de suas vidas.
Os defensores das mulheres pedem que os planos de desenvolvimento dêem maior atenção
aos efeitos de mudanças planejadas sobre as vidas das mulheres. Alguns planos de
desenvolvimento exigem, por exemplo, migração da mão de obra masculina ou trabalho
voluntário feminino, ambos colocando uma carga extra sobre os ombros da mulher (26, 37,
223). A nova abordagem, chamada de "planejamento de gênero", considera o
impacto de um programa proposto sobre as mulheres, homens e sobre seu relacionamento (198,
217, 245, 268). Seus objetivos são garantir que os programas de desenvolvimento não
prejudiquem involuntariamente as vidas dos homens e mulheres e que as vidas das mulheres
sejam melhoradas. |