Proteção dupla para evitar a gravidez e o HIV/AIDS
O preservativo é o único método anticoncepcional que dá proteção
dupla, ou seja, que protege tanto contra a gravidez como a
maioria das IST’s, inclusive o HIV. O uso do preservativo junto
com outro método de planejamento familiar para dar proteção
extra contra a gravidez também constitui uma proteção dupla.
Outras formas de evitar as IST’s e a gravidez são praticar a
abstinência sexual e evitar o sexo com penetração (138).
O que os programas de planejamento familiar podem fazer
Ao promover a proteção dupla, os programas de planejamento
familiar podem ajudar a prevenir a gravidez indesejável entre os
jovens e, ao mesmo tempo, contribuir para sustar a disseminação
do HIV/AIDS (21, 95). A OMS recomenda que os programas de
planejamento familiar façam mais para contribuir à prevenção do
HIV/AIDS e outras IST’s (417). Os programas que enfatizam o
uso de preservativos podem ser eficazes contra o HIV e algumas
IST’s desde que estes sejam usados corretamente e desde que os
programas possam garantir o fornecimento amplo e contínuo de
preservativos de boa qualidade, a preços econômicos (291).
Para estimular o uso dos preservativos, os programas de planeja-mento
familiar podem promover atitudes positivas com relação
aos preservativos por parte dos jovens que se
preparam para ter suas primeiras experiências
sexuais, ou seja, antes que as pessoas comecem
a adotar comportamentos sexuais arriscados.
Os programas podem também servir de elemento
de ligação com os serviços de exame
e aconselhamento sobre o HIV (74). Este elo
pode ser de importância vital porque as pessoas
precisam ter certeza de que elas ou seus
parceiros não estão infectados antes de inter-romper
o uso dos preservativos para usar um
método anticoncepcional diferente. É mais
provável que o uso do preservativo seja mais
consistente no início do relacionamento e depois
vá decrescendo à medida em que o parceiro(a)
seja percebido como “seguro” (197, 279).
Mas a estratégia de dupla proteção—uso do
preservativo para proteger contra infecções,
junto com um outro método anticoncepcional
—enfrenta certos obstáculos, sobretudo entre
os jovens. Para muitos destes, o uso de um
método já é considerado uma dificuldade,
quanto mais o uso de dois métodos diferentes.
Muitos adolescentes não têm condição financeira
ou estão impossibilitados de outra forma
de adquirir ambos os métodos. Além
disso, quando se acrescenta um segundo
método,
pode-se prejudicar o uso contínuo do primeiro (47, 319).
Apesar dos obstáculos, cada vez mais os jovens estão usando os
preservativos (162). Estudos feitos no mundo inteiro documentam
este aumento. Em Tamil Nadu, na Índia, a proporção de
jovens que usaram o preservativo em relações sexuais ocasionais
aumentou de 45%, em 1996, a quase 70%, em 1998 (162). No
Brasil, a proporção de homens jovens que declararam ter usado
o preservativo em sua primeira relação sexual aumentou de apenas
5%, em 1986, a 50%, em 1999 (162). Também em Uganda,
o número de homens de 15 a 19 anos que já tinham usado o preservativo
alguma vez aumentou de 15%, em 1989, para 55%, em
1995, e de 6% a 39% entre as mulheres da mesma faixa de idade
(14). O uso dos preservativos parece agora ser mais aceitável
entre os jovens do que entre homens mais velhos (162).
Os adolescentes que usam os preservativos de forma mais uni-forme
também são, provavelmente, aqueles que têm a confiança
necessária para insistir com seus parceiros(as) quanto ao uso dos
preservativos, de assumir responsabilidade pessoal pelo uso dos
preservativos, de ter maior nível de controle sobre seus próprios
impulsos e de iniciar o uso dos preservativos quando ainda bastante
jovens (66, 86, 197, 302). Outros atributos associados ao
uso contínuo do preservativo são: ter discutido com os pais a
questão do uso dos preservativos; procurar a companhia de amigos
e colegas que também aprovam e estimulam o uso de preservativos;
ter interesse em atingir um nível educacional superior;
ter um alto nível de renda familiar; adotar geralmente um nível
de vida mais saudável como, por exemplo, não consumir álcool
ou drogas (181, 191).
Avaliação da eficácia dos preservativos
Em recente seminário especializado para avaliação das pesquisas
sobre a eficácia dos preservativos, concluiu-se que estes já se
demonstraram eficazes na prevenção da “transmissão do HIV
entre homens e mulheres cujos atos sexuais incluem o coito
vaginal”. Os pesquisadores concluíram que os preservativos
masculinos também se mostraram eficazes na “redução da
gonorréia entre os homens” (262). Existe concordância generalizada
de que os preservativos, quando usados de forma correta e
contínua, previnem a maioria das IST’s, inclusive o HIV (440).
No entanto, eles oferecem menos proteção
contra o herpes, o vírus do papiloma
humano (HPV) e outras IST’s que podem
ser transmitidas pelo contato epidérmico
das partes do corpo não protegidas pelo
preservativo (95).
Os pesquisadores estimam que a eficácia
do preservativo masculino para a prevenção
da gravidez pode ser medida pela ocorrência
de 3 gravidezes por cada 100
mulheres no primeiro ano de uso, quando
este uso é o “mais adequado”, ou seja,
quando o preservativo é usado correta e
consistentemente, e de 14 gravidezes por
100 melhores, quando o uso é “típico”
(117). O preservativo feminino parece ser
um pouco menos eficaz do que o masculino
na prevenção da gravidez (138). Sua
eficácia contra o HIV e outras IST’s não
foi ainda suficientemente avaliada.
Microbicidas?
Se existissem microbicidas, eles oferece-riam
proteção dupla (417). Os microbicidas
são produtos químicos que, para dar proteção
dupla, seriam colocados na vagina
antes do ato sexual para eliminar o HIV e
outros patógenos das IST’s e, ao mesmo tempo, incapacitar ou
aniquilar o esperma. Infelizmente, não existe ainda este tipo de
produto. Apesar de mais de 50 destes produtos já estarem em
estágios diferentes de exames, nenhum deverá ser lançado no
mercado pelo menos dentro dos próximos 5 anos (293, 294).
O desenvolvimento de microbicidas representa um grande desafio.
Por exemplo, o produto não pode irritar o revestimento da
vagina. Acreditava-se que o Nonoxinol-9, espermicida ampla-mente
utilizado, fosse eficaz contra o HIV. Mas pesquisas posteriores
constataram que, quando este produto era usado pelas
trabalhadoras do sexo—que o utilizavam muito mais freqüentemente
do que outras mulheres—o Nonoxinol-9 parecia provocar
lesões vaginais, aumentando assim a probabilidade de transmissão
do HIV (161). Mesmo que se encontrasse um microbicida
seguro e eficaz para os adultos, ainda assim seria preciso avaliar
separadamente sua segurança, eficácia e aceitação por parte dos
adolescentes.
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA