Capítulo 10 - Febre Reumática

Elia M. Ayoub

A febre reumática é uma doença colágeno-vascular multissistêmica que geralmente sucede uma infecção por estreptococos do grupo A, e ataca sobretudo pessoas com uma predisposição genética. O processo patológico subjacente é uma inflamação difusa do tecido conjuntivo, característica esta que também é comum a outras doenças colágeno-vasculares. A febre reumática, entretanto, difere de outras doenças colágeno-vasculares em 3 (três) aspectos principais. Primeiro, o agente que dá início ao processo patológico já foi identificado, estando bem definido. Segundo, o comprometimento cardíaco é muito mais freqüentemente associado à febre reumática do que às outras patologias do colágeno. Em todo o mundo, a febre reumática ainda é a causa mais comum de doença cardíaca não-congênita em crianças e adolescentes. Por fim, e provavelmente o mais importante: a febre reumática é uma doença que pode ser evitada.

Uma diminuição acentuada nos índices de incidência da febre reumática foi verificada nos Estados Unidos e na Europa Ocidental na 2ª metade do Século XX. Este fato talvez tenha sido a causa da crença prematura de que a febre reumática possa ser totalmente erradicada dessas regiões, e isto, por sua vez, conduziu a uma menor preocupação com a doença na áreas de educação médica e prática clínica. Um ressurgimento inesperado da febre reumática em diversos pontos dos EUA,1-7 no entanto, fez reacender o interesse enfatizando a necessidade de uma conscientização constante dos danos potenciais que poderiam advir caso ignorássemos esta doença "previnível". Além disto, os dados recolhidos durante os últimos surtos trouxeram à tona informações novas e importantes com relação aos fatores bacteriológicos e de hospedagem que podem desempenhar um papel relevante na patogênese da febre reumática.

Epidemiologia

Dada a relação de causa-efeito que existe entre as infecções estreptocócicas do grupo "A" e a febre reumática, a epidemiologia das duas doenças está intimamente relacionada. Nem todas as infecções estreptocócicas do grupo "A" provocam o aparecimento da febre reumática. Estudos epidemiológicos revelaram que a febre reumática se segue a infecções do trato respiratório superior, mas raramente, caso realmente ocorra, em seguida a infecções cutâneas (impetigo).8 A epidemiologia da febre reumática, conseqüentemente, está mais intimamente ligada àquela das faringites estreptocócicas do grupo "A". Apenas 2 a 3 destes pacientes, caso não sejam tratados, desenvolvem estas complicações e o seu tratamento adequado pode evitar o surgimento da febre reumática em quase todas as pessoas.

A faixa etária de maior incidência da febre reumática equivale àquela das faringites estreptocócicas, sendo mais comum entre os 6 e 16 anos. Homens e mulheres são igualmente atingidos. As diferenças raciais são ilustradas pelo elevado índice de incidência da febre reumática entre a população Maori na Nova Zelândia, transcendendo, inclusive, os fatores de ordem socioeconômica.9 De modo geral, os fatores socioeconômicos, condições precárias de vida, ausência de acesso a cuidados médicos adequados têm influência nos índices de incidência da febre reumática. Esta influência, que foi anteriormente documentada nos EUA, se manifesta nos índices de incidência da doença nos países em desenvolvimento. Neles, a taxa de incidência é 10 vezes mais elevada do que nos países industrializados. Estimativas atuais indicam que a incidência da febre reumática nos EUA é inferior a 1/100.000 habitantes, enquanto que na Índia a relação é de 100 a 150/100.000 habitantes. Aproximadamente 6.000.000 de indianos em idade escolar são afetados pela doença e de 30 a 50 dos casos de doenças cardíacas em crianças e adolescentes são decorrentes da febre reumática.10,11

Patogênese
Agente Etiológico


Os estreptococos beta-hemolíticos possuem a característica de provocar a hemólise completa das células vermelhas do sangue ao redor de colônias, quando desenvolvidas em um meio de cultura ágar de sangue de ovelhas. A célula bacteriológica individual ou "COCOS" consiste em um protoplasma envolto por uma parede celular. Esta contém 3 estruturas principais: um polissacarídeo, uma proteína e uma metade glicopeptídica. Algumas cepas dão origem a uma cápsula de ácido hialurônico em torno da parede celular, durante o processo de formação celular. As cepas que produzem cápsulas grandes são reconhecidas por sua aparência mucóide das colônias de bactérias no meio ágar de cultura. Com base nas diferenças de composição dos polissacarídeos da parede celular, os estreptococos beta-hemolíticos foram divididos em 20 grupos (A a T), utilizando-se soro de coelhos imunizados com os estreptococos dos diferentes grupos. Os estreptococos do grupo "A" foram posteriormente separados em aproximadamente 80 tipos (sorotipos Ml a M80), com base nas diferenças de estrutura de sua proteína "M". Os estreptococos do grupo "A" produzem uma quantidade de produtos extracelulares enquanto crescem. Estes produtos incluem estreptolisinas O e S, que são responsáveis pelo rompimento dos glóbulos vermelhos, além de uma variedade de outras enzimas, tais como a estreptocinase, enaluronidase, quatro isoenzimas deoxirrubonuclease (A,B,C e D), das quais a isoenzima do tipo B é a mais comumente produzida e um dinucleotídeo de nicotinamida - edenina.

A função dos estreptococos beta-hemolíticos na patogênese da febre reumática tem sido documentada através de estudos clínicos e microbiológicos. A associação da febre reumática com crises de faringite e escarlatina forneceram evidências iniciais que fundamentaram tais associações. Estudos posteriores desenvolvidos por diversos pesquisadores definiram a função específica dos estreptococos do grupo "A" neste processo de associação. Até recentemente, acreditava-se que todos os estreptococos podiam provocar a febre reumática. Evidências obtidas durante surtos recentes da doença, entretanto, parecem confirmar observações anteriores de que certas cepas têm uma maior capacidade de provocar a febre reumática do que outras. Estas cepas reumatogênicas pertencem aos sorotipos Ml, M3, M5, M6 e M18, e muitas são altamente encapsuladas e, num meio de cultura, dão origem a colônias mucóides.12

Processo de Hospedagem


O sistema de predisposição genética à febre reumática foi incialmente sugerido a partir de observações que indicaram que apenas 2 a 3 das pessoas desenvolvem a febre reumática em seguida a uma faringite estreptocócica do tipo "A", enquanto que as recorrências se desenvolvem em até 50 dos pacientes de febre reumática latente e que venham a sofrer uma nova crise de faringite estreptocócica.13 A análise do histórico familiar de pacientes com febre reumática sugeriu que a suceptibilidade à doença tem a ver com um único gene recessivo.14 Dados que forneceram um embasamento maior ao papel da hereditariedade no maior ou menor grau de propensão à febre reumática surgiram a partir da descoberta de um marcador alotípico sobre linfócitos do tipo B, reconhecido por um anticorpo monoclonal (D8/17), que estava presente nos linfócitos de quase todos os pacientes com febre reumática, e em apenas 14 dos indivíduos sadios utilizados para efeito de comparação com os pacientes.15 Outras evidências relacionadas com a influência genética foram se acumulando a partir do estudo da freqüência de antígenos HLA em portadores da febre reumática.16-20 Muitos destes estudos revelaram um acréscimo mais significativo nos índices de incidência de certos antígenos da classe II ou HLA-DR (HLA-DR4, HLA-DRl e HLA-DR3) em pacientes com febre reumática do que naquelas pessoas consideradas sadias. A associação dos vários antígenos parece estar relacionada ao fator "raça".

Mecanismos dos Danos aos Tecidos

O mecanismo exato pelo qual a infecção com estreptococos do tipo "A" ocasiona danos orgânicos naqueles pacientes mais susceptíveis àquele microorganismo permanece pouco claro. As primeiras teorias relativas aos danos causados aos tecidos, quer seja pelo estreptococos quer seja através de um de seus produtos tóxicos, foram substituídas por uma outra que sugeriu o envolvimento potencial de um mecanismo auto-imune no processo de indução do dano aos tecidos em conseqüência da febre reumática.21 A imunização de animais com estreptococos do grupo "A" produziu antissoro que adere aos tecidos dos mamíferos, inclusive aos tecidos do coração, articulações e cérebro. Além disto, o soro dos pacientes com febre reumática contém anticorpos que também aderem a esses tecidos. Estas observações, juntamente com a descoberta de determinantes antigênicos comuns entre componentes das células dos estreptococos do grupo "A" e estes tecidos de mamíferos, reforçam o conceito de que as reações imunológicas cruzadas sejam um mecanismo que provavelmente justificaria o comprometimento de vários órgãos no processo inflamatório da febre reumática.

Os componentes estreptocócicos que parecem possuir determinantes antigênicos comuns com os tecidos humanos incluem a proteína M, a membrana do protoplasto, o polissacarídeo da parede celular e o hialuronato celular.21-26 Tanto a proteína M quanto a membrana do protoplasto possuem antígenos que reagem de forma cruzada e são encontrados no sarcolema e na miosina do coração e também no núcleo caudado do cérebro. A reação imunológica cruzada entre o polissacarídeo da parede celular e as glicoproteínas valvulares também foi descrita. Outras observações relatando a presença destes anticorpos circulantes no soro de pacientes que não tinham febre reumática, no entanto, levantam a dúvida quanto à função patogenética destes anticorpos que reagem em cadeia. Uma explicação alternativa sugere que a imunidade celular possa desempenhar um papel mais pertinente no processo da patogênese dos danos aos tecidos decorrentes da febre reumática. Pesquisas demonstraram que linfócitos de sangue periférico de pacientes com febre reumática aguda são citotóxicos às celulas cardíacas criadas em tecido de cultura.27,28 Alguns destes também indicam que esta citotoxicidade é anulada pela adição de soro autológico, sugerindo assim uma função protetora de anticorpo circulante que reage de forma cruzada.28

Estas descobertas não fornecem uma explicação para a maior susceptibilidade inerente a certas pessoas à febre reumática. A possibilidade de que estes indivíduos possuam uma reação imunológica anormal, geneticamente determinada, ao antígeno do estreptococo já foi explorada. A descoberta de uma reação imunológica exagerada a um dos antígenos estreptocócicos – o grupo específico dos polissacarídeos – em pacientes com uma patologia de válvula mitral de fundo reumático poderia fundamentar esta hipótese. Uma explicação alternativa invocaria a interação dos superantígenos, seja a proteína M ou a toxina eritogênica com antígenos HLA de linfócitos como um mediador potencial da reação hiperimune no antígeno estreptocócico putativo.29

Patologia


A inflamação do tecido conjuntivo é o processo patológico inicial na febre reumática aguda. Subjacente a este processo há uma vasculite que leva ao comprometimento de vários órgãos, como o coração e o cérebro. Esta vasculite, no entanto, é mais evidente, em termos clínicos, na pele, onde se manifesta a erupção mais característica da doença – o eritema marginatum – os pequenos vasos são mais comumente compremetidos e numa análise histológica, apresentam proliferação de células endoteliais.

O comprometimento cardíaco se caracteriza pela presença de inflamação do endocárdio e do miocárdio. A inflamação aguda leva ao comprometimento do pericárdio. Ao contrário de outras doenças colágeno-vasculares, tais como o lupus eritematoso sistêmico ou a artrite reumatóide, nas quais a serosite não é incomum, a ocorrência de pericardite isolada, isto é, sem a presença concomitante com a miocardite, é raramente encontrada em casos de pacientes com febre reumática. Alterações histológicas não são detectadas nas fases iniciais do processo inflamatório. Estas alterações incluem edema dos tecidos e uma infiltração celular consistindo de linfócitos e células de plasma com pouca participação polimorfonuclear. A degeneração do colágeno está associada ao surgimento de depósitos eosinofílicos denominados fibrinóides.

A lesão patognomônica da miocardite reumática é a célula ou corpo de aschoff. Este corpo é formado por grandes células com um citoplasma basofílico e um núcleo polimorfo, dispostos em forma de roseta em torno de um centro não vascular de fibrinóides. O corpo de aschoff é geralmente encontrado em tecido retirado do apêndice atrial esquerdo, podendo também ser encontrado em qualquer parte do miocárdio. Caracteristicamente, esta lesão aparece em miocardites subagudas ou crônicas, estando também ocasionalmente presente em pacientes com miocardite aguda e naqueles sem uma história de febre reumática.30

A valvulite, um traço característico da cardite reumática, geralmente afeta a válvula mitral (Quadro 10-1). O comprometimento aórtico isolado ocorre menos freqüentemente. Já o comprometimento simultâneo das válvulas mitral e aórtica se deve à febre reumática em 97 dos casos.31 A inflamação endocárdica provoca, na essência, as mesmas alterações histológicas vistas na miocardite. Alterações de grande porte incluem degeneração hialina com formação de verruga na borda das válvulas atingidas. Esta lesão impede o fechamento total da válvula, causando regurgitação. A cura deste quadro poderá eventualmente acontecer com a reversão do processo inflamatório. A evolução do processo na válvula mitral poderá levar a um quadro de fibrose e calcificação, resultando posteriormente em estenose.

Manifestações Clínicas

As primeiras manifestações da febre reumática aguda surgem num período de aproximadamente 20 dias após o início da faringite aguda. Durante este período de latência, o paciente permanece assintomático. O estabelecimento efetivo da doença é marcado pelo início da febre, juntamente com uma gama de sintomas que refletem a inflamação de determinados órgãos. O mais comum destes sintomas é a artrite migratória, comprometendo as grandes articulações. Esta manifestação é vista em aproximadamente 70 dos pacientes com febre reumática aguda. Entretanto, a cardite, presente em aproximadamente 50% do pacientes, é a mais séria das várias manifestações. A Doença de São Vitus (Coréia de Sydenham) ocorre em 10 a 15% dos pacientes. Ao contrário de outras importantes manifestações da febre reumática aguda, os sintomas da Coréia de Sydenham aparecem de 2 a 12 meses após a faringite inicial. Outras importantes manifestações da febre reumática aguda incluem o altamente específico eritema marginatum e o aparecimento de nódulos subcutâneos. Estas manifestações são encontradas em mais ou menos 5% dos pacientes. Qualquer uma das principais manifestações poderá ser vista isoladamente ou em associação com uma ou mais outras no decorrer da fase aguda da doença. As manifestações menores são menos específicas e são encontradas freqüentemente em associação com um número de outras doenças, particularmente outras patologias colágeno-vasculares.

A freqüência com a qual as principais manifestações foram detectadas nos EUA permanece aproximadamente inalterada, embora uma incidência mais elevada da Coréia de Sydenham tenha sido relatada em algumas localidades durante os surtos mais recentes1,7 (Quadro 10-2). Uma incidência excepcionalmente elevada de cardite foi relatada no surto ocorrido em Utah. É possível que tenha sido relacionada com o uso de ecocardiografia de doppler, já que a exclusão daqueles pacientes em que não foi detectada a presença de sopro cardíaco por auscultação reduziu a freqüência da cardite, se comparada à conclusão de outros estudos. A ecocardiografia de doppler pode identificar regurgitações mínimas da válvula mitral em indivíduos normais, daí ser necessário usar de cautela quando se trata de fazer um diagnóstico baseado exclusivamente nos dados ecocardiográficos. Relatórios oriundos de países em desenvolvimento descrevem um índice elevado de comprometimento cardíaco, sobretudo estenose da mitral, que pode refletir quer uma tendência a coletar dados de pacientes hospitalizados apenas quando a doença cardíaca já está em fase aguda ou quando já apresentam um quadro de cardite aguda resultante de surtos recorrentes da febre reumática, em função da ausência de medidas profiláticas.

Manifestações Maiores

A artrite é a mais comum e, ao mesmo tempo, a menos específica das manifestações mais importantes da febre reumática. As grandes articulações são as mais afetadas e, na maioria dos casos, há sintomas de inflamação (vermelhidão, calor e dor acentuada). A dor às vezes é tão intensa que o paciente se recusa a usar o membro afetado, levando ao surgimento de uma pseudoparalisia. Uma das características da artrite é sua natureza migratória, isto é, a melhora de uma articulação antes do surgimento de sintomas em uma outra. Uma outra característica da artrite relacionada à febre reumática é sua reação sensível aos salicilados. Freqüentemente os pacientes apresentam uma resolução rápida e total do quadro da artrite após a administração de uma dose inicial de aspirina. A artrite relacionada à febre reumática raramente dura mais de 48/72 horas após o início do tratamento à base de salicilato.

A cardite representa o lado mais sério do caráter mórbido desta doença e responde pela maioria dos casos de mortalidade a ela associados. Inflamação cardíaca durante a fase aguda da doença compromete principalmente o miocárdio e, ocasionalmente, o pericárdio. O comprometimento de todas as três camadas do coração caracteriza a pancardite, a forma mais séria da cardite. A cardite pode ocorrer isoladamente ou em conjunto com uma ou mais das outras principais manifestações da febre reumática aguda. A cardite pode suceder a artrite em alguns pacientes, geralmente uma semana após o estabelecimento da artrite. A gravidade relativa do surgimento concomitante da artrite e cardite é geralmente recíproca. Quanto mais aguda for uma patologia, menos aguda será a outra. Em pacientes em que se primeiro diagnosticou a Coréia de Sydenham, poderá ocorrer uma cardite branda e bastante sutil: o sopro de uma regurgitação leve da válvula mitral poderá passar despercebido.

A cardite aguda se manifesta clinicamente através de taquicardia e é quase sempre associada com o aparecimento de sopro valvular. Anormalidades transitórias da condução cardíaca ocorrem durante a inflamação do miocárdio, incluindo graus variáveis de retardo na condução como: prolongamento do intervalo "PR" no eletrocardiograma. Estes dados, entretanto, não definem o diagnóstico de febre reumática. A miocardite aguda pode resultar em insuficiência cardíaca manifestada através do crescimento do coração verificado na radiografia do tórax, além de diminuição da capacidade da contração do ventrículo, no ecocardiograma. O crescimento do apêndice atrial esquerdo na radiografia de tórax (Fig. 2-18) é quase que patognomônico da regurgitação mitral decorrente da febre reumática. Evidências clínicas da valvulite se refletem na presença de sopros característicos. O sopro da regurgitação mitral é um sopro agudo, sistólico, que começa em S1. É mais facilmente ouvido no ápice e se irradia nitidamente para a axila esquerda. O sopro da regurgitação mitral aguda tende a ser do tipo decrescente, enquanto que o sopro da regurgitação mitral crônica tem uma intensidade constante. Um sopro apical mesodiastólico ocasionado por um enchimento rápido do ventrículo esquerdo pode ser ouvido, naqueles pacientes, com significativa regurgitação mitral. O sopro diastólico característico de insuficiência aórtica começa imediatamente após o componente aórtico de S2 e é mais facilmente ouvido no terceiro espaço intercostal esquerdo, na borda do esterno. A presença de pericardite é indicada pela dor torácica e por atrito pericárdico. Já o derrame pericárdico, raramente de porte substancial, pode ser detectado através do ecocardiograma.

A Coréia de Sydenham (também conhecida como Doença de São Vitus) indica comprometimento do sistema nervoso central decorrente de febre reumática. Seu aparecimento pode se dar, em média, três a quatro meses depois do aparecimento da artrite ou cardite. Suas manifestações incluem movimentos involuntários dos músculos das extremidades, ausência de coordenação muscular, fasciculação dos músculos da língua (língua worman) quando estendida, contrações irregulares dos músculos das mãos quando o paciente aperta os dedos do meio (aperto da ordenhadora) e, quando o paciente estende seus braços horizontal ou verticalmente, suas mãos se contraem em forma de colher, com pronação. Esses dados são freqüentemente associados à labilidade emocional.

Eritema marginatum é uma erupção cutânea característica da febre reumática. Consiste em lesões-musculares eritematosas e sergipinosas, pálidas no centro, localizadas sobretudo no tronco, braços, coxas e nádegas (nunca no rosto), que se acentuam com o calor e não são pruriginosas.

Nódulos subcutâneos são raramente vistos na ausência da cardite crônica. São formas indolores e imóveis, recobertos de pele normal. Estes nódulos estão presentes, de modo geral, nas superfícies extensoras das grandes articulações na região occipital e sobre a apófise espinhosa das vértebras.

Manifestações Menores

Febre e artralgia são duas manifestações clínicas não específicas que estão associadas também a várias outras doenças. A febre acontece no estágio inicial da febre reumática aguda. A artralgia causa dor nas articulações, sem alterações objetivas.

Alterações laboratoriais associadas à febre reumática aguda incluem taxas elevadas de sedimentação de eritócitos e de proteínas C-reativas, na maioria dos pacientes com artrite ou cardite. As reações anormais, presentes na fase aguda da doença, são índices confiáveis da atividade aguda da doença. Um intervalo prolongado de PR é uma constante no eletrocardiograma, mas como isto também pode ocorrer com outros processos inflamatórios, não é, por si só, um critério definitivo para o diagnóstico correto da cardite.

Diagnóstico

O diagnóstico da febre reumática é feito, basicamente a partir de dados clínicos. Considerando-se que não existe até o presente momento um teste específico que se permita fazer o diagnóstico definitivo da febre reumática aguda, foram estabelecidos os "critérios Jones"32 (Quadro 10-3) para melhor orientar o médico clínico na confirmação deste diagnóstico. A revelação de duas das manifestações maiores, acrescida de dois dos sintomas secundários acima descritos, confirma o diagnóstico. Considerando-se que a febre reumática aguda é uma conseqüência de uma faringite estreptocócica do grupo A, para que se possa fazer um diagnóstico é preciso que se tenha evidências de uma infecção recente deste tipo. Por outro lado, dado o caráter tênue das evidências clínicas da faringite estreptocócica, os dados laboratoriais são considerados mais confiáveis. Uma cultura de esfregaço da garganta com resultado positivo ou um rápido teste de antígenos podem ser usados como evidências da infecção, embora a taxa elevada de estreptococos do grupo A, neste local, diminua a credibilidade destes testes no diagnóstico de uma infecção antecedente. Evidências sorológicas da presença de estreptococos do grupo A, através da utilização dos testes com anticorpos específicos, são mais confiáveis.

A infecção causada por estreptococos do grupo A provoca uma reação imunológica a vários de seus antígenos. Inúmeros testes que medem o nível dos anticorpos do soro nos produtos extracelulares já se encontram disponíveis e podem ser usados no diagnóstico da infecção estreptocócica do grupo A (Quadro 10-4). Destes testes, o melhor é o ASO, tanto no que diz respeito à padronização quanto ao grau de confiabilidade, além de ser o mais amplamente accessível, sendo também considerado como o teste fundamental para detecção de anticorpos estreptocócicos. Considerando que a reação dos anticorpos à estreptolisina "O" ocorre em apenas 85, aproximadamente, dos pacientes com febre reumática, (Quadro 10-5), um ou mais dos demais testes deverá ser utilizado nos pacientes que apresentam um valor de concentração de ASO cuja normalidade é suspeita. O teste Anti-DNase B é considerado atualmente mais confiável do que os demais, e já está disponível no mercado. Outros testes são menos reprodutíveis, mas podem ser utilizados, caso sejam encontrados. Deve-se ressaltar que o teste da estreptozima é o menos específico de todos os citados e não se deve confiar nele como um teste primário para o diagnóstico de uma infecção estreptocócica antecedente.33

Reações de anticorpos aos antígenos do estreptococos atingem seu ápice de duas a três semanas após a infecção que as provocou. Com exceção da Coréia, os sintomas da febre reumática aguda surgem neste espaço de tempo. O desempenho dos testes para detectação dos anticorpos quando aplicados em amostras de soro colhido por ocasição do contrato com o paciente é, portanto, correto. Raramente se faz necessária a comparação com valores de concentração de anticorpos em pacientes convalescentes da febre reumática aguda para confirmar a ocorrência de uma infecção estreptocócica recente. O teste ASO deve ser feito primeiramente. Caso resulte negativo, deve-se realizar um dos outros testes, de preferência o Anti-Dcanase B. Apesar do longo período de latência da Coréia, cerca de 80 dos pacientes que apresentam um quadro isolado da doença também revelam uma reação de anticorpos a um dentre dois antígenos estreptocócicos (Quadro 10-5).

Ainda não se encontram disponíveis critérios estabelecidos para o diagnóstico da doença cardíaca crônica de origem reumática a maioria dos testes para detecção de anticorpos apresentando resultado normais nestes casos. A continuidade de níveis elevados de anticorpos aos carboidratos estreptocócicos do grupo A foi verificada na maioria dos pacientes com patologia reumática crônica da válvula mitral.34-36 Este teste, disponível em alguns laboratórios, pode ajudar a distinguir a insuficiência mitral de fundo reumático da não-reumática naqueles pacientes que não possuam um histórico de febre reumática aguda. Vale lembrar que, isoladamente, nenhum dos testes para a detecção de anticorpos define o diagnóstico da febre reumática. Eles apenas fornecem evidência da ocorrência de infecção estreptocócica, além de complementar os "critérios de Jones" no diagnóstico da febre reumática aguda. O aumento do apêndice atrial esquerdo (ver Fig. 2-18) em um paciente com regurgitação mitral é uma evidência forte de uma etiologia reumática. Um quadro de hipertrofia do ventrículo esquerdo, caracterizada por ondas Q pequenas ou mesmo ausentes e ondas "T" planas ou negativas em V6 e V7 (Fig. 10-1), é igualmente comum na doença cardíaca crônica de fundo reumático.

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial da febre reumática aguda inclui, inicialmente, aquelas doenças que se manifestam através da febre e artrite ou cardite. As doenças colágeno-vasculares (por exemplo artrite reumatóide juvenil, lupus eritematoso sistêmico ou doença mista do tecido conjuntivo e doença do soro) devem ser consideradas quando um paciente se apresenta com artrite. A artrite pós-infecciosa, assim como a artrite gonocócica e a doença de Lyme, também devem ser consideradas. Ao contrário da artrite migratória, característica da febre reumatóide, a artrite reumatóide é simétrica e as articulações atingidas, embora edemaciadas quentes, não se apresentam eritomatosas. A artrite reumatóide juvenil geralmente se manifesta em crianças com menos de 6 anos e, na maioria dos casos, a reação da artrite à administração de salicilatos não é dramática. Em pacientes não-reumáticos, para a evidência de uma infecção estreptocócica anterior, e naqueles pacientes com febre reumática aguda, os testes para detecção de anticorpos que utilizam elementos antinucleares geralmente são negativos. O sopro da regurgitação da válvula mitral decorrente da febre reumática deve ser diferenciado daquele causado por prolapso da mitral ou outra doença cardíaca congênita. Foi sugerido que a febre reumática seja uma causa do prolapso da válvula mitral, mas esta possibilidade é pouco provável. A miocardite ou pericardite de etiologia virótica deverá ser considerada quando não houver evidência de uma infecção estreptocócica anterior. A pericardite, quando ocorre isoladamente, só raramente acompanha a febre reumática sem que haja evidência de uma miocardite concomitante.

Tratamento

O tratamento minucioso de pacientes com febre reumática inclui a prevenção de episódios primários da febre reumática em pacientes com faringite estreptocócica do grupo A, o tratamento das manifestações agudas da doença, a prevenção de recorrências em pacientes que tenham tido febre reumática e a prevenção da endocardite bacteriana em pessoas com patologia valvular.

A prevenção de um primeiro ataque de febre reumática é obtida com um diagnóstico apropriado e o tratamento da faringite estreptocócia. Um cultura de material colhido da garganta ou um teste rápido é aceitável como método confiável para se estabelecer o diagnóstico da faringite estreptocócica. O resultado negativo de um teste rápido, entretanto , deverá ser confirmado através de uma cultura de material da garganta.37 Uma vez que através de um desses dois procedimentos se determine que a etiologia de uma infecção de garganta é devida ao estreptococos do grupo A, deve-se dar início ao tratamento apropriado, embora um atraso de um dia no início da terapia com antibiótico tenha pouca ou nenhuma importância no que tange à prevenção da febre reumática – muito mais importante é a duração da terapia. As doses administradas deverão assegurar níveis adequados de concentração no sangue por, no mínimo, 10 dias. O quadro 10-6 mostra os tratamentos à base de antibióticos já provados no combate à faringite estreptocócica. A penicilina ainda é a base do tratamento; até hoje, os estreptococos do grupo A não se mostraram resistentes à penicilina. Apesar de mais eficaz, a administração da penicilina de ação prolongada por via intramuscular é menos tolerada pelos pacientes do que por via oral. Aqueles pacientes alérgicos à penicilina são tratados com eritromicina. O uso de antibiótico de amplo espectro não é recomendado, por não serem estes mais eficazes do que a penicilina. Por outro lado, a sulfa e seus derivados, tal como Trimetoprim-sulfametoxazol, não evitam as ocorrências de surtos primários de febre reumática e não deverão ser usados no tratamento da faringite estreptocócica.

O tratamento de um paciente com febre reumática aguda começa com a erradicação de estreptococos do local infectado. Isto se obtém através da administração de um dos antibióticos citados no Quadro 10-6. O tratamento posterior irá se dirigir especificamente às manifestações individuais da doença. A associação da artrite com a febre reumática é autolimitada e reage prontamente à terapia, mesmo a doses moderadas. Deve-se antecipar a solução do quadro de artrite em prazo de 72 horas após o início do tratamento com salicilatos. A dosagem recomendada é de 75/80 mg/kg/dia em quatro doses/dia durante duas semanas. Em seguida, nas duas semanas seguintes, essas doses são reduzidas e, finalmente, suspensas. Deve-se evitar o tratamento da artrite isolada com esteróides.

O tratamento da cardite depende da gravidade do comprometimento cardíaco. A cardite branda, sem insuficiência cardíaca, é tratada com salicilatos (80/100 mg/kg/dia por duas a quatro semanas), de acordo com a reação clínica. Esta dosagem é gradualmente reduzida e finalmente suspensa, num prazo de quatro a seis semanas, ao mesmo tempo em que se acompanham os dados clínicos e laboratoriais, tais como proteína C reativa e a velocidade de sedimentação de eritócitos. Do mesmo modo que com a artrite, a redução gradual da dose de salicilatos entre o retorno das anormalidades laboratoriais e clínicas que ocorrem às vezes após a interrupção repentina do tratamento. As recaídas impõem o retorno das doses de solidificação, bem como a sua posterior suspensão gradual. A cardite aguda associada à insuficiência cardíaca, sobretudo a pancardite, exige uma terapia à base de esteróides. Esta terapia poderá efetivamente salvar a vida do paciente à medida que rapidamente bloqueia a reação inflamatória. Deve-se administrar 2 mg/kg/dia de prednisona, até a dosagem máxima de 60 mg/dia, por duas a três semanas. Em seguida, por período igual, a dose é gradativamente reduzida até ser suspensa. O salicilato age no sentido de combater o acúmulo de sódio em pacientes com insuficiência cardíaca, mas deverá ser iniciado segundo as recomendações acima, quando se reduz a dosagem de esteróides com intuito de evitar a ocorrência de nova crise. Cumpre não interpretar a ação destas drogas de forma equivocada. Nem os salicilatos nem os esteróides alteram o desenrolar da doença no que tange à patologia valvular residual. Pacientes com problemas de cardite aguda são submetidos a terapia à base de oxigênio, digital, restrição à ingestão de líquido e consumo de sal, além do uso de diuréticos. Uma vez que a miocardite torna o tecido mais sensível ao digital e aumenta a irritabilidade cardíaca, deve-se proceder à digitalização com todo o cuidado, utilizando as doses mínimas recomendadas para o tratamento de insuficiência cardíaca. Repouso na cama, só na fase aguda. O paciente deverá ser posto para andar cuidadosamente, assim que os sintomas de cardite ativa se resolvam ou se o status cardíaco permanece estável. O aumento na freqüência cardíaca está diretamente relacionado ao grau da cardite, sendo, portanto, um útil indicador. Torna-se desnecessário manter acamada uma criança com doença cardíaca sob controle.

A Coréia de Sydenham é autolimitada quanto à sua duração, raramente durando além de umas poucas semanas. Ocasionalmente, ela persiste durante meses ou ressurge ao longo dos anos. Pacientes acometidos da doença em sua forma mais grave deverão ficar em cama acolchoada em um quarto calmo. Medicação sedativa (Fenobarbital - 15 a 30 mg 6/6 de 8/8 horas ou Haldol – dose inicial de 0,5 mg e chegando a 0,8 mg a cada 8 horas) poderá ser útil no controle dos sintomas. Há relatos da eficácia do valproato.38 Entretanto, a reação a estes sedativos varia de um paciente a outro. Os salicilatos e os esteróides não são úteis no tratamento em casos isolados de coréia.

Tratamento Continuado

Pessoas que tiveram uma crise de febre reumática são fortes candidatos a um novo episódio da doença, caso venham a sofrer uma nova faringite estreptocócica. A recorrência desta doença traz consigo a possibilidade de novo comprometimento cardíaco, naqueles casos que teriam escapado desta complicação anteriormente, ou, então, de uma lesão cardíaca em pacientes com seqüelas cardiológicas. A profilaxia secundária tem como objetivo evitar uma nova crise de febre reumática, evitando o ressurgimento de infecções estreptocócicas. Tal procedimento tem-se mostrado altamente eficaz na prevenção de novas crises de febre reumática e na redução da incidência de doenças cardíacas graves em todos os países que o adotam.

Regimes aprovados para a profilaxia secundária da febre reumática são citados no Quadro 10-7. Aplicação mensal de injeções de penicilina G-benzatinica é a medicação mais eficaz. A sulfadiazima por via oral não tem efeitos, não devendo, portanto, ser usada no tratamento da faringite estreptocócica, na prevenção primária da febre reumática, embora seja eficaz na profilaxia secundária dessa mesma doença. É recomendável para uso em pacientes alérgicos à penicilina. Para aqueles que não toleram a sulfadiazina, a opção é a eritromicina. Outros antibióticos, tais como as cefalosporinas, são teoricamente eficazes, mas ainda não foram devidamente testados clinicamente a ponto de provar sua eficácia na prevenção primária ou secundária da febre reumática.

Quanto maior for o tempo decorrido da última crise de febre reumática, menor será o risco de uma recorrência. O risco é máximo durante os primeiros cinco anos. Logo, a profilaxia secundária deverá ter início tão logo se chegue ao diagnóstico da febre reumática. A duração da profilaxia está relacionada à presença de comprometimento cardíaco e ao risco de se adquirir uma faringite estreptocócica. Pacientes com comprometimento cardíaco, sobretudo, com seqüelas graves, devem receber penicilina G-benzatinica intramuscular durante os primeiros cinco anos, findos os quais se deverá continuar esta medicação ou passar a seguir uma outra. Pacientes que tomaram varfarin — Succinato etil eritromicina/250 mg/ 12/12 h — (coumadin) por terem uma válvula artificial não deverão receber medicação por via intramuscular, sendo recomendável a terapia profilática por via oral. A profilaxia só deverá ser interrompida nos pacientes com artrite, e que, maiores de 20 anos, tenham completado no mínimo cinco anos de profilaxia. É preferível prosseguir com a profilaxia naqueles casos de pacientes com febre reumática que morem ou trabalhem em regiões cuja densidade populacional, sobretudo no que tange a crianças e jovens, se traduza em risco significativo de exposição à infecção estreptocócica.

Além do uso da profilaxia secundária na prevenção de ocorrências da febre reumática através da prevenção de faringites estreptocócicas, pacientes com patologia valvular como seqüela também deverão, como rotina, receber profilaxia para prevenir o surgimento da endocardite bacteriana (ver Cap. 15). Os pacientes deverão ser submetidos a exames regulares de acompanhamento após a última crise aguda. O propósito destas avaliações clínicas é o de verificar o estágio da doença e assegurar a adequação da profilaxia. A educação do paciente com relação aos motivos e importância da profilaxia é o modo mais eficaz de ter certeza de que o paciente, que, caso contrário, poderia se sentir bem, acate as medidas profiláticas prescritas. O argumento mais convincente a favor da profilaxia é saber que a cura das seqüelas cardíacas atinge 70 a 80 por cento dos pacientes com febre reumática que acatam e seguem o programa de medidas profiláticas após o episódio inicial.39

Referências


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