Capítulo 07 - Socorro Especializado (Suporte Avançado de Vida em Cardiologia)
Capítulo 07 - Socorro Especializado (Suporte Avançado de Vida em Cardiologia)
O socorro especializado fundamenta-se no emprego de equipamentos e medicamentos com a finalidade de administrar terapia definitiva para recuperação da vítima de PCR.17
Consiste no socorro básico (A, B, C), ventilação inicial e desfibrilação precoce, assim como no emprego de equipamentos acessórios e técnicas especiais, como intubação endotraqueal, monitorização cardíaca, desfibrilação e cardioversão elétrica, marcapasso transcutâneo ou transitório, estabelecimento e manutenção de via de acesso para infusão venosa e administração de medicamentos, que só podem ser realizados em âmbito hospitalar. Como parte do socorro especializado estão as medidas acessórias após a estabilização do paciente e o transporte para um centro de terapia especializada.
Portanto o socorro especializado consiste na seguinte seqüência:
A. intubação endotraqueal;
B. avaliação bilateral da elevação do tórax e ventilação. Quando ocorre dificuldade na intubação endotraqueal, a vítima pode ser ventilada através de máscara facial e ambu. A técnica consiste no socorrista posicionar-se no pólo cefálico da vítima, manter a dorsoflexão da cabeça e colocar a máscara no rosto, cobrir a boca e o nariz com os dedos polegar e indicador da mão esquerda, devendo manter uma adaptação adequada entre o rosto e a máscara, e com os três dedos restantes manter a tração para cima da mandíbula. A bolsa é comprimida com a outra mão, observando-se a expansão do tórax durante cada ventilação;
C. circulação: acesso intravenoso, determinação do ritmo cardíaco, medicação apropriada;
D. diagnóstico diferencial: procurar, encontrar e tratar as causas.
Emprego de Equipamentos Acessórios na Ventilação
Intubação endotraqueal
É a técnica mais eficiente para a obtenção de uma via aérea que otimize a ventilação e a oxigenação do paciente. Permite a oferta de altas concentrações de oxigênio, fornece uma via alternativa para administração de adrenalina, atropina e lidocaína enquanto não se obtém acesso venoso, corrige parte da acidose metabólica presente na parada cardiorrespiratória através da ventilação com altas concentrações de oxigênio. Deve ser realizada pela pessoa mais experiente da equipe no momento da ressuscitação. Se a intubação não se processar em 30 segundos do início da tentativa, deve-se fornecer ventilação através de bolsa-valvula-máscara, enriquecida com oxigênio a 100%, evitando-se assim o risco de agravar a hipóxia e a acidose já existentes (Fig. 7-1).17
Cânula Orofaríngea (Guedel)
Apresenta-se de forma semicircular, é de material plástico, quando colocada corretamente, desloca a língua da parede posterior da faringe, mantendo a via aérea aberta, podendo ser utilizada também em pacientes com cânula traqueal, evitando que o reflexo de morder cause dano à cânula (Fig. 7-2).35
Cânula Nasofaríngea
Possui forma tubular em semicírculo, é de material plástico, sendo indicada quando a cânula orofaríngea não pode ser inserida. A técnica de inserção consiste em lubrificar a cânula e introduzi-la suavemente na narina; se houver resistência à passagem, tenta-se pela outra narina.3
Obturador Esofágico
Consiste em um tubo com cuff, colocado através de máscara facial, com fundo cego na porção distal e múltiplos orifícios na porção proximal. É introduzido às cegas no esôfago em pacientes inconscientes, sendo a máscara fixada e o cuff inflado (Fig. 7-3).35
Tubo Combinado Gastresofagiano (Combitubo)
É um tubo de duplo lúmen com um balão proximal maior para oclusão da orofaringe e outro menor distal que oclui a traquéia ou o esôfago, e que pode ser inserido sem visibilização da via aérea. Um dos lúmens apresenta fundo cego e orifícios laterais e o outro é pérvio. Para sua introdução, o socorrista deve manter a cabeça da vítima ligeiramente fletida, levantando a língua e a mandíbula com uma das mãos e introduzir o tubo com a outra, inserir até que um anel pintado por fora do tubo esteja alinhado com os dentes, insuflando-se então o balão maior e em seguida o menor. A seguir, ventila-se pela extremidade distal (azul) e observa-se se há ventilação adequada; caso não haja, ventila-se pela outra extremidade (Fig. 7-4)35.
Técnicas Especiais na Circulação Artificial
Compressão Torácica com Interposição de Compressão Abdominal
A compressão abdominal é feita durante a fase de relaxamento da compressão torácica. A pressão abdominal intermitente aumenta o retorno venoso e a pressão diastólica aórtica; desta maneira, melhora a perfusão miocárdica. Requer três socorrista e tem sido utilizada após intubação endotraqueal o primeiro socorrista ventila, o segundo executa a compressão torácica externa e o terceiro comprime o abdômen imediatamente após a compressão torácica, mantendo a mesma freqüência de compressões (Fig. 7-5).54
Ressuscitadores automáticos
São dispositivos mecânicos que executam a compressão torácica por meio de um massageador movido a gás comprimido. Acoplado existe um ventilador ciclado a tempo (oxigênio) e pressão programados para fornecer ventilação a cada cinco compressões (Fig. 7-6).35
Compressão e Descompressão Ativa
Realizada através de um dispositivo de compressão e descompressão ativa que consiste em uma borracha de sucção, um pistão e um pegador. Coloca-se a borracha na posição média do esterno, realizando-se de 80 a 100 compressões/minuto, cada uma com 4 a 5 cm de profundidade e com 50% do ciclo gasto em cada fase (Fig. 7-7).35
Compressão Torácica Direta
É realizada através de toracotomia. É indicada em parada cardiorrespiratória ocorrida durante cirurgia, em vítimas de acidente com sangramento torácico (tamponamento cardíaco), sangramento abdominal que possa ser controlado por clampeamento da aorta (Fig. 7-8)35.
Circulação ExtraCorpórea
É utilizada rotineiramente nas paradas cardíacas durante cirurgia cardíaca. É realizada através de aparelhos de circulação extracorpórea facilmente instaláveis por meio de punção da veia e artéria femoral. Esta técnica proporciona circulação de sangue bem oxigenado (Fig. 7-9).
Desfibriladores
Importância da Desfibrilação Elétrica
- Em casos de parada cardíaca súbita o ritmo mais freqüentemente observado é a fibrilação ventricular;
- tratamento eficaz da fibrilação ventricular é a desfibrilação elétrica;
- a probabilidade de sucesso na desfibrilação decai rapidamente com o passar do tempo;
- a fibrilação ventricular tende a se transformar em assistolia em poucos minutos depois de instalada.55
Tipos de Desfibriladores
O desfibrilador consiste em um sistema eletrônico que, partindo de uma fonte de corrente elétrica contínua, carrega um capacitador com alta voltagem, descarregando-o sobre o tórax ou sobre o miocárdio, de forma não-sincronizada com o ritmo cardíaco.17
Manual
Exige que o socorrista tenha a capacidade de determinar o ritmo cardíaco e decidir se requer ou não descarga de desfibrilação ou não (Fig. 7-10).
Semi-automático
Analisa o ritmo cardíaco e indica ao socorrista se requer ou não uma descarga de desfibrilação, prepara a corrente e o socorrista a deflagra (Fig. 7-11).
Transporte para Centro de Terapia Especializada
Após a obtenção de sucesso nas manobras de ressuscitação, a equipe deve preparar o paciente para ser transportado a uma unidade especializada.
Os acessos venosos devem ser verificados, de modo que estejam pérvios e sem infiltração, e sondagem nasogástrica e vesical devem ser introduzidas.
Todos os equipamentos devem estar com as baterias carregadas para o transporte: monitor-desfibrilador, bombas de infusão, oxímetro de pulso.
A maca ou cama de transporte deve ter grades de proteção elevadas e um torpedo pequeno de oxigênio deve estar carregado.
O paciente deve ser transportado com todos os aparelhos ligados, em pleno funcionamento, e a ventilação mecânica deve ser mantida, seja através de ambu conectado à fonte de oxigênio, seja por respirador automático de transporte.49
A equipe deve transportar o paciente com agilidade e segurança e, ao passar o paciente da maca para o leito, deve sincronizar todos os movimentos e fazê-lo em bloco, com o cuidado de não tracionar cateteres e cânula endotraqueal.
O plantão deve ser passado de forma clara, sucinta e bem organizada.
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