Capítulo 06 - Socorro Básico
Capítulo 06 - Socorro Básico
O socorro básico é constituído por um conjunto de procedimentos de emergência que pode ser executado por profissionais da área da saúde ou por leigos treinados, consistindo no reconhecimento precoce da ausência de respiração e de pulso arterial, com aplicação das manobras de ressuscitação cardiorrespiratória, através da seqüência abaixo:
1. abertura das vias aéreas (desobstrução)
2. boca a boca (respiração)
3. circulação artificial (compressão torácica externa)
4. desfibrilação precoce
Abertura das Vias Aéreas (desobstrução)
A causa mais comum de obstrução das vias aéreas é a queda da língua devido à ausência de tônus muscular suficiente e também em decorrência de um mecanismo tipo válvula pela pressão negativa criada nas vias aéreas pelo esforço inspiratório (Fig. 6-1).
Caso haja prótese dentária, deve-se retirá-la, assim como corpos estranhos, restos sólidos ou semi-sólidos de vômito e sangue. Outras causas são anafilaxia e epiglotite (Fig. 6-2).
Posicionamento do socorrista
O socorrista deve se colocar ao nível dos ombros da vítima e ajoelhar-se, quando esta tiver no solo (Fig. 6-3).
Avaliação do Estado de ConsciênciaA abordagem inicial da vítima com provável parada cardiorrespiratória deve-se dar através da tentativa de comunicação verbal, tocando-a, porém sem movimentá-la, de modo a identificar se está com o nível de consciência rebaixado ou apenas sonolento (Fig. 6-4).
Solicitação de Auxílio
Ao detectar que a vítima está inconsciente, deve-se solicitar auxílio às pessoas próximas ao local e pedir que liguem para 193 (Fig. 6-5).
Posicionamento da Vítima
A vítima deve ser movimentada em bloco (cabeça, pescoço e tronco simultaneamente), sendo colocada em decúbito dorsal horizontal em uma superfície rígida, com os braços ao longo do corpo (Fig. 6-6).
Dorsoflexão da cabeça
A elevação do queixo se dará colocando a palma de uma das mãos na fronte da vítima, com uma pressão firme para trás, e as pontas dos dedos indicador e médio da outra mão sob a mandíbula, elevando-a e promovendo o deslocamento da língua junto com a elevação do queixo, tracionando-o para frente e para cima, mantendo permeáveis as vias aéreas (Fig. 6-7).
Outra maneira de se conseguir a abertura das vias aéreas é através da manobra da mandíbula, que consiste em o socorrista posicionar-se atrás da cabeça da vítima com os cotovelos apoiados na superfície na qual ela está deitada, e colocar os dedos de ambas as mãos nos ramos atrás do ângulos da mandíbula, deslocando-a para frente enquanto a cabeça é dorsofletida. Se a boca permanecer fechada, o lábio inferior deve ser retraído com o auxílio dos polegares. Esta manobra está indicada quando se suspeita de trauma cervical (Fig. 6-8).57
Respiração Boca a Boca
Avaliar a presença de respiração espontânea
O socorrista deve colocar o ouvido junto à boca e ao nariz da vítima, olhando para seu tórax, e verificar se há movimentos respiratórios (ver) ; observar se há ruídos respiratórios (ouvir) ; perceber se há fluxo de ar exalado sobre sua face (sentir) . Essa avaliação deve ser feita no máximo em cinco segundos (Fig. 6-9).45
Movimentos respiratórios presente
O socorrista deve manter as vias aéreas abertas e colocar a vítima na posição de recuperação (Fig. 6-10).
Movimentos respiratórios ausentes
Uma vez realizada a abertura das vias aéreas, se a respiração espontânea não se manifesta, iniciar a respiração artificial, mantendo a dorsoflexão da cabeça. Deve-se ocluir o nariz da vítima com os dedos polegar e indicador da mão que está sobre a fronte, evitando escape de ar; inspirar profundamente e aplicar seus lábios sobre a parte externa da boca da vítima (vedação) e exalar o ar de seus pulmões. A ventilação inicial deve-se dar por duas respirações amplas (1 a 1, 5 segundo), com freqüência de 12/min (1 ventilação a cada 5 segundo) para adultos (Fig. 6-11) e 20/min para crianças (Fig. 6-12).59
Quando ocorre resistência à insuflação, é indicativo de obstrução das vias aéreas, quer por abertura imprópria das mesmas, quer por corpo estranho. No caso de haver sangue ou vômito na cavidade bucal prejudicando a respiração deve ser feita a limpeza utilizando-se os dedos médio e indicador recobertos por gaze. Havendo corpo estranho sólido, pode-se tentar a desobstrução através da manobra de Heimlich, que consiste em comprimir o abdômen da vítima acima do umbigo, quer abraçando-a por trás, quando a vítima está consciente ou quer pela frente, com a vítima inconsciente deitada (Fig. 6-13)57.
Em caso de insucesso das manobras realizadas, deve-se recorrer ao uso de pinças de Kelly ou Magill, guiadas por laringoscopia direta para a desobstrução, o que deve ser feito por pessoas com treinamento prévio.3
A ventilação boca a nariz deve ser realizada nos casos de ferimento na cavidade bucal, trisma ou impossibilidade de se conseguir uma boa vedação aérea, e é realizada da seguinte maneira: mantendo-se a dorsoflexão da cabeça, com a mão que se encontra sob a mandíbula faz-se o fechamento da boca e, selando os lábios em torno do nariz da vítima, o socorrista, após profunda inspiração, exala o ar nas narinas; a seguir a expiração se faz passivamente (Fig. 6-14).
A ventilação boca a estoma é realizada em pacientes portadores de laringectomia permanente ou traqueostomia temporária, com o cuidado de fechar a boca e as narinas da vítima durante a insuflação (Fig. 6-15).
Outra técnica utilizada é a ventilação boca a máscara, que tem a vantagem de diminuir ou eliminar o contato direto entre o socorrista e a vítima, com menor possibilidade de se adquirirem infecções através de secreções ou sangue provenientes da vítima. Utiliza-se uma máscara de plástico com uma entrada de oxigênio e uma válvula unidirecional. Essa válvula permite a passagem de fases ventilatórias até a vítima, mas faz com que os gases exalados sejam desviados para fora do sistema, sem entrar em contacto com a parte proximal, onde se dá a ventilação (Fig. 6-16).3
Esse tipo de máscara deve estar disponível para todo o pessoal paramédico que trabalha com emergências médicas.
Circulação Artificial: Compressão Torácica Externa (cte)
Reconhecimento da Parada Cardíaca
O reconhecimento da parada cardíaca deve-se dar em cinco a dez segundos, pela localização e palpação do pulso carotídeo no adulto, que fica situado no sulco entre a traquéia e o músculo esternocleidomastóideo (Fig. 6-17) e do pulso braquial no lactente, localizado na face interna do braço (Fig. 6-18). Uma vez detectada ausência de pulso, inicia-se a compressão torácica externa.59
Técnica da Compressão Torácica Externa
Posicionar a vítima em decúbito dorsal horizontal sobre uma superfície rígida e colocar-se a seu lado. Localizar a margem inferior do gradeado costal deslizando os dedos indicador e médio até o entalhe onde as costelas encontram a osso esterno, ângulo de Charpy (Figs. 6-19 e 6-20).
Continuando a técnica de compressão torácica externa, com o dedo médio neste entalhe coloque o indicador na extremidade inferior do esterno, e a base da outra mão sobre o terço inferior do esterno ao lado do indicador da primeira mão (Fig. 6-21 A). Retire a mão que está delimitando o ângulo de Charpy e coloque-a sobre a mão que está sobre o esterno, entrelaçando os dedos (Fig. 6-21 B). Os braços do socorrista devem permanecer em extensão com a articulação dos cotovelos fixa, transmitindo ao esterno da vítima a pressão exercida pelo peso de seus ombros e tronco, num movimento de alavanca, que é mais eficaz e reduz a fadiga (Fig. 6-21 C).54,57
A pressão aplicada deve deprimir o esterno de 3, 5 a 5 cm no adulto (Fig. 6-22), com uma freqüência regular de compressões de 80 a 100 por minuto, seguindo-se um relaxamento de igual duração, mantendo as mãos na mesma posição. Para a compressão torácica em crianças com até 8 anos, deve-se utilizar apenas a base de uma das mãos na mesma localização dos adultos, e em lactentes traça-se uma linha imaginária sobre os mamilos, e comprime-se o esterno com as pontas dos dedos deprimindo-o de 1, 5 a 2, 5 cm (Fig. 6-23).54,57
A eficiência das manobras da ressuscitação pode ser avaliada observando-se a fotorreagência pupilar, a movimentação torácica e pela presença de pulso na artéria carótida.
Desfibrilação Automática
O desfibrilador automático externo é constituído por um osciloscópio para monitorização cardíaca, microprocessador para a análise da atividade cardíaca (o tempo de análise é de seis a doze segundos), bateria recarregável (fonte de energia pode prover até 20 descargas de 360 J; o tempo total para a carga completa das baterias varia entre 10 e 16 horas, a recarga é de 10 segundos para choques de 200 J e de 15 segundos para 360 J), módulo de controle médico (registra as partes críticas do ECG, número de descargas e marca a hora dos eventos), dois eletrodos removíveis (um positivo e outro negativo, para análise de arritmias na derivação DII (Fig. 6-16). A unidade tem a capacidade de dar as seguintes ordens: checar o paciente (indica que se deve checar o pulso quando não houver indicação de desfibrilação), dar o choque (este sinal encontra-se apenas nos semi-automáticos).56
O procedimento para a utilização do desfibrilador automático é o seguinte:
- proceder à seqüência ABC do socorro básico, isto é, verificar a inconsciência, abrir as vias aéreas, verificar a respiração, dar duas ventilações, verificar pulso carotídeo;se o pulso estiver ausente, ligar o desfibrilador automático externo;
- conectar os cabos aos eletrodos;
- colocar os eletrodos na posição adequada no tórax;
- ativar o analisador;
- e o choque estiver indicado, dar ordem de se afastarem. Choques de 200-300-360 J, ativando o analisador entre os choques;
- repetir a série de três choques, se houver indicação;
- se depois de qualquer desfibrilação, a unidade registrar que o choque não esta indicado, verificar o pulso, se presente, parar as manobras e desfibrilações, e, se ausente, continuar as manobras (Fig. 6-24).
Complicações
do Socorro Básico
O socorro básico pode ocasionar as seguintes complicações:
- cardíacas: rotura e perfuração do miocárdio e pericárdio ocorridas pela penetração de fragmentos de ossos fraturados, rotura dos pontos de ligação de prótese e miocárdio;
- gastrintestinais: rotura de estômago e esôfago pela distensão gasosa máxima, regurgitação de conteúdo gástrico, laceração do fígado e baço pela compressão do apêndice xifóide, principalmente nas crianças, em quem o volume dessas vísceras é maior;
- esqueléticas: fratura do esterno, quando se faz a compressão na porção superior, que é fixa; fraturas de costelas, quando os dedos do socorrista ficam apoiados sobre as mesmas; separação condrocostal em vítimas idosas;
- pulmonares: pneumotórax, hemotórax e laceração do pulmão, aspiração do conteúdo gástrico regurgitado, pneumoperitônio, enfisema subcutâneo;
- vasculares: rotura da aorta ascendente, veia cava inferior e veia esplênica.3
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