Capítulo 03 - Diagnóstico e Exame Físico Primário Capítulo 03 - Diagnóstico e Exame Físico Primário

O diagnóstico da parada cardiorrespiratória pode ser feito através da observação de ausência de resposta a estímulos, ausência de pulsos carotídeos ou femurais e ausência de movimentos respiratórios. Entretanto a avaliação pupilar fornece subsídios importantes na detecção de lesão cerebral. A dilatação pupilar inicia-se aproximadamente 45 segundos após a interrupção da circulação, atingindo dilatação máxima em torno de 1 minuto e 45 segundos. Na presença de midríase paralítica, sabe-se que pelo menos um minuto do período de reversibilidade de lesão cerebral foi perdido (Fig. 3-1).

O exame físico primário em uma pessoa em provável parada cardiorrespiratória deve ser breve, sumário e objetivo: avaliar nível de consciência, detectar presença ou ausência de respiração e de pulsos em artérias centrais (carotídeo e femoral) e rápida palpação corporal na pesquisa de eventual fratura, de modo que a assistência seja iniciada no menor tempo possível.

Durante as manobras de ressuscitação, o exame físico deve centrar-se na reavaliação da atividade cerebral, através da avaliação do tamanho pupilar e de sua fotorreagência, uma vez que o paciente permanece inconsciente; da efetividade da ventilação através da ausculta pulmonar, e da efetividade da compressão torácica externa através da palpação dos pulsos arteriais centrais (carotídeo ou femoral.)

Este exame físico inicial deve ter como objetivo servir de subsídio no diagnóstico da causa da parada cardiorrespiratória, ou de seus fatores desencadeantes, e da avaliação da efetividade das manobras de ressuscitação cardiorrespiratória.

Após a reversão da parada cardiorrespiratória e estabilização do paciente, a enfermeira deve realizar um exame físico detalhado, que lhe será de importância fundamental para o levantamento dos diagnósticos de enfermagem durante a realização do histórico de enfermagem.

O exame físico deve seguir o sentido céfalo-caudal, e na avaliação da cabeça deve-se palpar todo o crânio na pesquisa de lesões ou solução de continuidade, sempre com o cuidado de não tracionar a coluna cervical, e, em todas as situações em que houver suspeita de trauma, o colete cervical deve ser colocado na primeira abordagem do paciente. As pupilas devem ser examinadas quanto ao seu tamanho (considerar o uso de atropina durante a ressuscitação), isocoria e fotorreagência. Observar a presença de desvio de septo nasal, que será um dado importante para a prescrição da narina de escolha para a introdução da sonda nasogástrica. A cavidade oral deve ser inspecionada quanto à sua integridade, condições dos dentes, relação do posicionamento do tubo endotraqueal e a implantação dentária. No pescoço, deve-se observar a presença de estase jugular e presença de cateteres venosos.

Na avaliação torácica, observa-se sua expansibilidade, utilização de musculatura respiratória acessória, integridade da pele, ausculta pulmonar (observar presença de ruídos adventícios: roncos, sibilos, estertores, atritos), ausculta cardíaca (caracterizar e identificar as bulhas fisiológicas — primeira e segunda, e as patológicas —, terceira e quarta, presença de sopros, atritos, ritmos de galope, e arritmias). Quanto ao exame abdominal, deve-se proceder à inspeção: observar o aspecto da pele, que pode apresentar manchas arroxeadas pela isquemia periférica que ocorre no paciente em choque, pelo desvio de sangue da periferia para os órgãos vitais, rede venosa dilatada, que pode sugerir obstrução da veia cava inferior, presença de hérnias; contorno do abdome (plano, distendido, globoso, côncavo) . Imediatamente após a inspeção, realiza-se a ausculta, que deve preceder a percussão e palpação, uma vez que estas técnicas podem alterar a freqüência dos ruídos intestinais. A ausculta deve ser feita nos quatro quadrantes e no epigástrio, e os borborigmos podem oscilar entre 5 e 34 por minuto. É importante estar atento à presença de sopros sistólicos na região da artéria aorta abdominal. A percussão permite avaliar a distribuição do timpanismo e macicez. Uma percussão maciça suprapúbica indica uma bexiga distendida. A palpação deve delimitar as estruturas, identificar "massas" anormais, avaliar o grau de flacidez e pesquisar processos inflamatórios.

Os membros superiores também requerem atenção da enfermeira em sua avaliação, que identificará as características da musculatura, rede venosa, unhas (tipo "vidro de relógio"), presença de baqueteamento digital, pulsos arteriais periféricos e perfusão periférica através do teste de enchimento capilar.   

A avaliação dos membros inferiores inclui massa muscular, presença de veias varicosas, úlceras, pulsos arteriais femoral, poplíteo, tibiais e pedioso, alterações ósteo-articulares, sinais de insuficiência venosa ou arterial e enchimento capilar.

As condições da pele devem ser avaliadas em todo o corpo, principalmente o grau de hidratação, sinais de infecção, solução de continuidade e manchas (Fig. 3-2).

Este exame físico minucioso servirá de base para a enfermeira levantar os diagnósticos de enfermagem, uma vez que não é possível realizar a entrevista com um paciente intubado. Após a estabilização do paciente, a entrevista deve ser feita com a família, com o objetivo de identificar os hábitos de vida do paciente.37,39

Os diagnósticos de enfermagem nortearão a enfermeira para a realização da prescrição de enfermagem, e o exame físico a cada 24 horas lhe permitirá avaliar os resultados dos cuidados prestados ao realizar a evolução de enfermagem.

Além dos dados obtidos no exame físico, os valores dos sinais vitais das últimas 24 horas, a prescrição dos medicamentos, as anotações de enfermagem e os resultados de exames laboratoriais e complementares serão a base para a realização da evolução diária de enfermagem, que sempre deve preceder a prescrição (Figs. 3-3, 3-4 e 3-5).

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