Capítulo 01 - História da Ressuscitação e Conceitos Gerais sobre a Parada Cardiorrespiratória
Capítulo 01 - História da Ressuscitação e Conceitos Gerais sobre a Parada Cardiorrespiratória
História da Ressuscitação Cardiorrespiratória
A ausência de batimentos cardíacos e a falta de respiração eram considerados sinal de morte desde os primórdios da humanidade. Naquelas pessoas que sobreviviam, e ocorrendo sua recuperação, esse processo era chamado de ressuscitação e relacionado com fenômenos sobrenaturais ou milagrosos. A primeira menção sobre a respiração artificial relacionada com a vida está registrada no Gênesis da Bíblia, com Adão e Eva recebendo o sopro divino.3,57
Antes da década de 50 do século atual não se dispunha de técnica de ressuscitação de emergência eficaz e aplicável. O surgimento da moderna ressuscitação respiratória ocorreu na década de 50 e da cardíaca na década de 60, sendo que a pesquisa promissora do ponto de vista terapêutico sobre ressuscitação cerebral começou em 1970.27
Apesar de os relatos da moderna ressuscitação cardiorrespiratória datarem da década de 50, suas idéias foram concebidas ou mesmo descobertas acidentalmente muitos anos antes, mas ficaram hibernando até essa época em virtude da falta de avaliação de sua importância ou da falta de visão, aceitação, comunicação, aprimoramento ou ensino.
A ressuscitação cardiorrespiratória atual resultou de um processo que passou pelas seguintes etapas, decorrentes de relato da história: - 530: Paracelso utilizava um fole comum para a introdução de ar nos pulmões de pessoas aparentemente mortas;
- 1628: Harvey relatou o caso de ressuscitação de uma pomba, após compressão torácica da mesma com o dedo;
- 1743: Tossach, após resultado satisfatório em um minerador, identificou a respiração boca-a-boca como manobra de ressuscitação;
- 1770: Prochownick utilizava a técnica da inversão e suspensão da vítima pelos membros inferiores atados.
- 1776: Hunter, utilizando animais, provocava parada cardíaca neles e restabelecia seus batimentos cardíacos após 10 minutos, usando foles adaptados à traquéia, permitindo assim ventilação artificial.
- 1831: Dalrymple, em vítimas de afogamento, enrolava um lençol em seu corpo, o qual era tracionado por duas pessoas.
- 1874: Shiff iniciou investigações sobre parada cardíaca produzida por anestésicos e a criação de ventiladores mecânicos. (ressuscitação com tórax aberto)
- 1901: Igelsrud praticou a ressuscitação através da massagem cardíaca direta, durante acidente intra-operatório em anestesia por clorofórmio.
- 1947: Beck utilizou a corrente elétrica com sucesso durante a ressuscitação, através de desfibrilação interna direta no coração.
- 1954: Elam utilizou a respiração assistida, empregando o ar exalado pelo socorrista, que aplicava sua boca sobre a máscara facial adaptada ao rosto da vítima.
- 1956: Zoll utilizou a desfibrilação elétrica externa do coração em pacientes
- 1956: Zoll introduziu batimentos elétricos cardíacos com estímulos elétricos externos, em pacientes com síndrome de Stokes-Adams (marca-passo cardíaco elétrico)
- 1960: Kouwenhoven, engenheiro, descreveu a técnica da massagem cardíaca externa com o tórax fechado.
- 1973: Em Washington D. C. realizou-se a conferência sobre os padrões para a ressuscitação cardiorrespiratória e de cuidados cardíacos de emergência pela American Heart Association (Associação Americana de Cardiologia), "Academia Nacional de Ciências" e "Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos", estabelecendo-se os parâmetros de assistência, que são universalmente aceitos.3
Essas entidades, a partir daí, vêm promovendo novas conferências com o aperfeiçoamento das técnicas, promoção de cursos com a finalidade de aprimoramento, ensino e divulgação dessas novas técnicas, suas padronizações e novos conceitos.
Conceitos Gerais
Parada Cardiorrespiratória
A parada cardíaca tem sido definida como a cessação do batimento cardíaco independente da presença de atividade elétrica. O Consenso Nacional de Ressuscitação Cardiorrespiratória a define como "a interrupção súbita da atividade mecânica ventricular, útil e suficiente, e da respiração".17
A definição mais didática para a parada cardíaca é aquela em que há um débito cardíaco inadequado para a manutenção da vida, em que um volume sistólico inadequado para a perfusão tecidual requer uma ressuscitação cardiorrespiratória.2
Enquanto entidade clínica, a parada cardiorrespiratória é subentendida nas situações em que há possibilidade de recuperação da vítima, excluindo-se as condições de doença crônica, debilitante ou incurável.54
A parada cardíaca é seguida em poucos segundos pela parada respiratória, e, na ausência da instauração das manobras de ressuscitação em aproximadamente 4 minutos para um adulto em normotermia, ocorrem alterações irreversíveis dos neurônios do córtex cerebral. Os reflexos corneanos e pupilares, controlados pelos centros nervosos, podem resistir até cerca de 10 minutos, e os neurônios da medula espinhal, por 20 minutos.59
Quando a parada respiratória acontece antes da parada cardíaca, os batimentos cardíacos são detectáveis até 30 minutos após sua ocorrência
Morte Clínica
Considera-se morte clínica, quando na vigência de inconsciência, os movimentos respiratórios e batimentos cardíacos eficientes estão ausentes, havendo porém viabilidade cerebral e biológica.17
Morte Biológica Irreversível
A morte biológica irreversível ocorre quando há deterioração irreversível dos órgãos, que se segue à morte clínica, uma vez que não se instituam as manobras de ressuscitação cardiorrespiratória.17
Morte Encefálica
A morte encefálica, segundo o Consenso Nacional de Ressuscitação Cardiorrespiratória, ocorre quando há lesão irreversível do tronco e do córtex cerebral, por injúria direta ou falta de oxigenação, por um tempo, em geral superior a cinco minutos em adulto com normotermia.17
Antes de serem iniciados os testes para o diagnóstico de morte encefálica, é necessário ter certeza de que o paciente esteja em coma profundo, sob ventilação mecânica (apnéia), e que estejam afastadas as causas reversíveis de depressão do tronco cerebral (drogas depressoras, álcool, anestésicos e sedativos, bloqueadores musculares, miastenia Grave, depressões fisiológicas com hipotermia). Deve-se estabilizar hemodinamicamente o paciente, pois a circulação cerebral reduzida pode tornar os achados clínicos e laboratoriais duvidosos, e descartar a possibilidade de intoxicação exógena.9
A função cerebral deve ser avaliada através dos reflexos cefálicos e pelo teste da apnéia.
Na avaliação dos reflexos cefálicos de uma pessoa em provável morte encefálica, as pupilas não reagem à luz e ocorre midríase paralítica. Na avaliação da midríase é importante que se exclua o uso prévio de atropina ou patologias preexistentes que possam levar a esta condição. Não há reflexos corneanos bilateralmente. Ao movimentar-se a cabeça em um ângulo de 180oC não ocorre movimentação ocular (olhos de boneca) .9
No teste calórico reflexo oculovestibular em que instilam-se pelo menos 100 ml de água gelada em cada ouvido, não há movimentação ocular em direção ao fluxo instilado.9
Todos os reflexos relacionados com nervos cranianos devem estar ausentes, incluindo tosse, deglutição e vômito.
Outro teste realizado para a avaliação da morte encefálica é o teste de apnéia, no qual deve-se ventilar o paciente com oxigênio a 100% durante 10 minutos e a ventilação mecânica deve ser descontinuada, porém mantendo-se um fluxo de oxigênio a 6 l/min, o que permite elevação da PaCO2 sem hipóxia. Deve-se observar se ocorrem movimentos respiratórios espontâneos em um período de 10 minutos de apnéia, que é suficiente para atingir uma PaCO2 de 60 mmHg, valor adequado para estimular o centro respiratório. Os movimentos reflexos dos membros superiores (sinal de Lazarus) e arqueamentos das costas podem ocorrer durante o teste de apnéia, ou quando o respirador é desligado definitivamente, porém não há movimento da musculatura facial, membros inferiores ou abdome. A atividade reflexa coordenada na medula espinhal pode permanecer por dias após a morte encefálica.9
Os exames complementares mais freqüentes para a avaliação da morte encefálica são: a medição do fluxo sangüíneo cerebral através de angiografia cerebral, identificando a ausência total de circulação intracraniana e interrupção da circulação no nível do Círculo de Willis; e através da monitorização da atividade elétrica cerebral pelo eletroencefalograma.
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