Capítulo 02 - Representação Extracelular da Excitação Elétrica de uma Célula
Miocárdica Longa (Fibrilação Cardíaca)
Capítulo 02 - Representação Extracelular da Excitação Elétrica de uma Célula Miocárdica Longa (Fibrilação Cardíaca)
José Hallake
Introdução
Para iniciar, imaginemos uma célula miocárdica longa (aproximadamente cilíndrica) totalmente polarizada em repouso (Fig. 2-1).
Para facilidade didática, vamos representar apenas uma face dessa célula (Fig. 2-2), chamando as extremidades de A e B.
Se um estímulo é feito em A, aí ocorrerá um potencial de ação (inversão das polaridades) (Fig. 2-3). A partir dessa extremidade ocorrerá, espontaneamente, uma propagação da atividade (Inversão de polaridade) (Fig. 2-4), até que se atinja a situação da célula totalmente despolarizada, isto é, uniformemente negativa por fora e positiva por dentro.
Galvanômetro e Registro da Atividade Elétrica
Como vimos, o galvanômetro é um instrumento capaz de registrar a 611 de potencial entre dois pontos. Por exemplo, se houver uma diferença potencial entre os pontos X e Y da ordem de 4 mV, a agulha do galvanômetro acusará (Fig. 2-5), e isso poderá ser registrado em gráfico (Fig. 2-6A e 2-6B).
É claro que um dos eletrodos exploradores poderá estar sempre em um ponto cuja carga seja nula e, então, o outro eletrodo (EE) estará medindo o valor absoluto da carga a ele exposta (Fig. 2-7). Usando esse artifício, o galvanômetro pode servir para o estudo da despolarização de uma única célula miocárdica. Assim, colocando um eletrodo explorador na extremidade B da célula, na situação de repouso não haverá oscilação da sua agulha (Fig. 2-8 etapa 1). No entanto, ao se estimular a extremidade A, dando início à despolarização, esse fenômeno poderá ser captado pelo galvanômetro (Fig. 2-8 etapa 2).
A Fig. 2-8, nas etapas 2 a 6, mostra a despolarização da célula A B, de A para B, até o momento de total despolarização (etapa 7), quando novamente teremos equilíbrio de cargas negativas por fora e positiva por dentro. A célula agora está totalmente despolarizada ou com polaridade invertida (Fig. 2-8 - etapa 7).
Durante todo o tempo em que se propaga a despolarização, o galvanômetro que está com um dos eletrodos em zero (exploração unipolar) registra, através do outro eletrodo (EE), um potencial diferente de zero, cujo gráfico constituirá a parte do traçado correspondente à despolarização da célula. Nota-se que, na etapa 7, não mais havendo diferença de potencial, o gráfico volta à linha de base.
A progressão da despolarização -+ pode ser representada por um pequeno vetor. Esse vetor é a unidade de despolarização, e, como todo vetor, tem direção, sentido e magnitude. No caso, sua magnitude é a unidade.
Com esse novo conceito, a Fig. 2-8 poderia ser representada como mostra a Fig. 2-9. Colocando-se o eletrodo explorador (EE) nas posições A, B ou C, teremos gráficos diferentes.
Ao término da despolarização como vimos, o registro retoma à linha isoelétrica ou de base (zero). Depois de um pequeno período de repouso nessa situação, inicia-se a repolarização. No miocárdio ventricular, ocorre uma particularidade: ela se inicia na extremidade oposta à que teve início a despolarização. A Fig. 2- 10 apresenta esquematicamente todo o processo de despolarização e repolarização da célula AB e os registros captados pelo eletrodo explorador colocado nas posições A, B e C.
A respeito do exemplo didático em que se coloca o EE sobre a superfície da célula cardíaca, podemos dizer que o que influencia o EE é a proximidade e a direção do vetor. A voltagem é positiva se o vetor aponta para o EE; e será tanto mais positiva quanto mais próximo estiver o vetor. A voltagem é sempre negativa se o vetor aponta em direção oposta ao EE.
Na despolarização, o vetor aponta na direção de propagação da atividade elétrica e se desloca acompanhando a frente de transição repouso-atividade. Assim à medida que ele se aproxima do EE, vamos registrando a ascensão da curva (maior positividade), até seu ápice.
Na repolarização, o que influencia o EE é também a proximidade e a direção do vetor. Mas, como podemos ver na Fig. 2-10 - etapas 8 a 11, o vetor caminha de "marcha-ré", já que, por convenção gráfica, aponta sempre na direção das cargas positivas (que vão a reboque na transição atividade-repouso). Assim, a gráfica da repolarização captada na extremidade B será uma onda positiva que já começa no máximo de amplitude e vai diminuindo à medida que o vetor de repolarização vai, de "marcha-ré", afastando-se do EE (colocado na extremidade B).
É importante notar que, tanto na despolarização quanto na repolarização, sempre que o vetor em deslocamento passa no local em que se situa o EE a voltagem medida no galvanômetro muda bruscamente de sinal. Ela é de fato a zero quando o vetor coincide espacialmente com o EE.
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