Geraldo Boaventura Leite Sobrinho
Introdução
A dor é uma sensação subjetiva, impossível de ser
medida, não sendo fácil de definir e multas vezes difícil de ser avaliada. Podemos
considerá-la um sinal de alerta para uma lesão real ou iminente de algum tecido do
organismo.
Ela constitui o sintoma mais freqüente que leva o
paciente a procurar o médico.
Em qualquer experiência dolorosa, há um componente
emocional e, assim, as pessoas reagem e toleram à dor com multas variações individuais,
em função de vários dados, tais como experiência dolorosa, vivida anteriormente,
significado que a dor tem para o enfermo etc. A dor pode ser melhor entendida como uma
experiência global que envolve não só a percepção dolorosa mas também as respostas
psicológicas, emocionais, cognitivas e de conduta que acompanham a dor.20
Para interpretá-la bem, é necessário que ela seja
estudada e analisada sob seus múltiplos aspectos: anatômico, fisiopatológico,
etiológico e clínico.
Vias de Transmissão da Dor Abdominal. Para que haja a dor
abdominal, são necessários: um estimulo adequado, um sistema receptor juntamente com a
via nervosa aferente, intacta, que conduzirá os impulsos até as porções límbicas do
córtex cerebral, onde eles são percebidos, localizados e interpretados.
Da transmissão da dor abdominal participam as duas
seguintes vias sensitivas aferentes: (1) do sistema nervoso cerebrospinal que transmite a
dor somática (também chamada de parietal) proveniente da parede do abdômen, (2) do
sistema nervoso autônomo, no qual o sistema simpático aferente (divisão toracolombar)
é o responsável pela condução dos impulsos sensitivos das vísceras e outras
estruturas anatômicas da cavidade celômica. O parassimpático aferente não participa da
dor abdominal, sendo que o mesmo ocorre, obviamente, com as vias eferentes autônomas, com
seu neurônio pré-ganglionar, tendo como mediadores a acetilcolina e a noradrenalina.
Sistema
Nervoso Cerebrospinal
Nervos Espinhais Torácicos e Primeiro Nervo Lombar.
Resultam da união da raiz dorsal (ou posterior), que é sensitiva com a correspondente
raiz ventral (ou anterior), que é motora, ambas provenientes da medula espinhal. (As
figuras são modificadas de Netter, 196226) (Fig. II-2-1)
Constituição. São formadas por (1) fibras eferentes
motoras; somáticas ou parietais, que terminam na placa motora dos músculos estriados; da
parede do abdômen e vão produzir a sua contratura, quando, por exemplo, o peritônio,
parietal for irritado ou estimulado por agentes químicos, bacterianos ou mistos, como
pode ocorrer no abdômen agudo (Fig. II-2-2);
(2) fibras aferentes sensitivas somáticas ou parietais, que conduzem os impulsos nervosos
provenientes da parede do abdômen, possuindo grande importância na via de transmissão
da dor somática (Fig. II-2-3); (3)
fibras simpáticas eferentes p6s-ganglionares, que não participam da dor abdominal.
O nervo espinhal pode conter os três tipos de fibras ou
então ser formado apenas por uma ou duas delas.19 Teremos assim os nervos
mistos, os motores, ou os que são puramente sensitivos. 13,17
Inervação da Parede Abdominal. Todos os planos
anatômicos que limitam a cavidade abdominopélvica são inervados pelo sexto ao décimo
segundo nervos torácicos (T6 a T12), pelo primeiro nervo lombar (L1)
e nervo frênico.
A inervação somática, (também chamada de parietal) é
muito densa, especialmente na pele, no peritônio parietal e nas raízes dos mesos.
Na parede do abdômen, cada dermatômero, juntamente com a
musculatura estriada subjacente, o peritônio, parietal e as raízes dos mesos recebem
fibras somáticas aferentes de um mesmo nervo espinhal. É importante assinalar que nos
limites cutâneos entre um dermatômero e outro existe uma superposição da inervação
que conduz à sensibilidade dolorosa.
A cicatriz umbilical corresponde ao dermatômero do
décimo nervo torácico (T10),
Receptores da Sensibilidade Somática da Parede Abdominal.
Os receptores podem ser:
1. Da sensibilidade superficial ou cutânea: (a) dor -
seus receptores formam uma vasta rede de terminações nervosas livres na pele, as quais
são sensíveis à picada, ao corte, aumento de tensão nos tecidos, traumatismos diversos
etc. A reação inflamatória é muito dolorosa quando acompanhada de exsudato ou edema,21
uma vez que eles reduzem drasticamente o limiar da sensibilidade à dor, transformando em
dolorosos os estímulos comumente inócuos; (b) tato, pelos corpúsculos de Meissner; (c)
calor, pelos corpúsculos de Ruffini; (d) frio, pelos corpúsculos de Krause, entre
outros.15 Isto explica por que o excesso de estímulo de calor ou de frio se
torna doloroso; (e) receptores da dor nas raízes dos cabelos.
2. Das sensações profundas da parede do abdômen, como
os corpúsculos de Vater-Paccini, através dos quais a sensação de pressão pode
manifestar-se por dor, pelos fusos nervosos musculares e também pelas terminações
livres das fibras responsáveis pela inervação do peritônio, parietal e raízes dos
mesos.
Via Aferente da Transmissão da Dor Somática. É formada
por neurônios unipolares, localizados nos gânglios dorsais do sexto ao décimo segundo
nervos torácicos (T6 a T12), primeiro nervo lombar (L1)
e do terceiro, quarto e quinto nervos cervicais (C3, C4 e C5),
pertencentes ao nervo frênico. O ramo periférico desses neurônios inerva a parede do
abdômen. O ramo central6 faz sinapse com o neurônio do corno posterior da
modula espinhal, cuja fibra da origem ao feixe espinotalâmico lateral, que vai até o
tálamo e, dai, para as porções límbicas do córtex cerebral (Fig. II-2-3).
Mediadores da Dor por Lesão Tissular. Quando ocorre
lesão dos tecidos orgânicos, são liberadas várias substâncias, culminando com a
formação de prostaglandinas, que são os principais mediadores da dor.18
Sistema Nervoso
Autônomo
Plexos Nervosos. Existem na cavidade abdominopélvica
quatro importantes plexos:22 (1) celíaco ou solar, localizado ventral e
lateralmente ao tronco arterial celíaco. Seus ramos seguem os vasos sangüíneos,
especialmente as artérias, e vão constituir os plexos hepático, gástrico, frênico,
esplênico, supra-renal e renal; (2) plexo mesentérico superior; (3) plexo, mesentérico
inferior, (4) plexo pélvico ou hipogástrico.
Simpático
Aferente do Abdômen
Receptores Simpáticos Viscerais. O estômago e o
intestino são insensíveis ao cortei à queimadura (p. ex.: cauterização), ao estímulo
pela corrente farádica, à picada etc.
Os órgãos abdominais são sensíveis, por exemplo, aos
seguintes estímulos: (a) aumento da tensão da musculatura lisa da parede de órgãos
ocos, como o estômago, as vias biliares, o intestino, tanto por espasmo como por
distensão, (b) aumento de tensão produzido pelo edema e congestão vascular secundária
à reação inflamatória da parede da víscera, o que diminui acentuadamente o limiar da
dor visceral; (c) rápida distensão da cápsula de órgãos sólidos ou parenquimatosos,
como o fígado, o baço e os rins; (d) isquemia do intestino. As terminações nervosas
entéricas; são muito suscetíveis ao estímulo provocado pelas substâncias químicas
liberadas pela hipoxia. Exemplos: a angina intestinal, o estrangulamento entérico, a
trombose mesentérica etc.: (e) distensão da túnica adventícia das artérias do
abdômen, pois ela é muito inervada,25 como ocorre nó aneurisma dissecante da
aorta.
Há casos em que vários estímulos atuam produzindo a dor
visceral, como na úlcera cloridropéptica gastroduodenal, em que ocorrem imitação da
úlcera pelo ácido clorídrico, aumento de tensão produzida pela inflamação da zona
ulcerada e, finalmente, espasmo da musculatura lisa do estômago e duodeno. 23
Via Aferente da Transmissão da Dor Visceral. O neurônio
unipolar da via simpática aferente sensitiva está localizado no gânglio dorsal, a raiz
dorsal do sexto ao décimo segundo nervos torácicos (T6 a T12) e no
primeiro nervo lombar. (Os nervos torácicos são também chamados de intercostais.)
Este neurônio tem um único prolongamento que se bifurca
em, forma da letra T, constituindo um ramo periférico, que vem das vísceras e outras
estruturas intra-abdominais, e outro ramo central que penetra na medula espinhal (Fig. II-2-4).
O ramo periférico parte da cápsula de órgãos sólidos,
como o fígado, baço, rins etc. ou da parede de víscera oca, acompanhando as artérias.
Atravessa especialmente os plexos celíaco e mesentérico superior, segue em um dos três
nervos esplâncnicos, ultrapassa a cadeia ganglionar simpática e penetra no nervo
torácico pelo ramo comunicante branco, atingindo assim o seu corpo celular no gânglio
dorsal.
O ramo central do neurônio unipolar penetra na medula
espinhal pela raiz dorsal do nervo torácico ou primeiro lombar, onde faz sinapse com
outro neurônio localizado no corno posterior da medula espinhal. O axônio deste último
vai, na minoria, para o feixe espinotalâmico ipsilateral, porém a maioria atravessa a
medula espinhal para formar o feixe espinotalâmico lateral, do lado oposto.4
No tálamo, o axônio faz sinapse com um neurônio cujo axônio termina nas porções
límbicas do córtex cerebral, onde são percebidos, localizados e interpretados. Um grupo
de axônios; vai ao hipotálamo.
Inervação Simpática das Vísceras Abdominais
1. A via simpática sensitiva aferente do fígado,
vesícula e vias biliares, estômago, duodeno, pâncreas, baço e rins atinge a medula
espinhal ao nível dó sexto, sétimo e oitavo nervos torácicos (T6, T7
e T8).
2. Ás fibras do intestino delgado, o apêndice vermiforme
e a porção superior dos ureteres correspondem ao nono e décimo nervos torácicos (T9,
T10), onde penetram na medula espinhal.
3. A via simpática dos órgãos citados abaixo penetram
na medula espinhal em vários níveis: (a) ceco, cólon ascendente: T10, T11
e T12; (b) cólon transverso: T12 e L1; (C) cólon
descendente: T12 e L123 ; (d) reto e bexiga: plexo
pélvico; (e) porção média e inferior do ureter: T11, T12 e L1.
Comentário. Do exposto, seis fatos se destacam em
relação as bases anatomofisiológicas da dor abdominal: (1) a inervação sensitiva
visceral é muito esparsa se a comparamos com a inervação somática da pele e peritônio
parietal; (2) o gânglio, dorsal da raiz dorsal dos nervos torácicos (T6 a T12)
e do primeiro nervo lombar (L1) contém não só os corpos celulares dos
neurônios unipolares da via aferente sensitiva simpática visceral como também os da via
aferente sensitiva somática dos nervos acima citados (Fig. II-2-5); (3) os impulsos das
terminações nervosas viscerais chegam ao mesmo ponto de recepção das células do corno
posterior da medula espinhal que os impulsos de origem somática. Assim podemos compreender a
distribuição da dor nas doenças viscerais, a qual será sentida na área somática ou
peritoneal que partilha de uma via final comum;21 (4) os feixes
espinotalâmicos laterais conduzem tanto os impulsos viscerais autônomos como os de
origem somática; (5) a inervação das vísceras abdominais pelo sexto ao décimo segundo
nervos torácicos (T6 a T12) explica a ocorrência de dor abdominal
originada em afecção do tórax; (6) o cérebro tem a imagem corporal da parede abdominal
e por isso pode localizar a dor com o auxilio de um ou dois dedos, o que não acontece com
os impulsos oriundos das vísceras abdominais, pobremente localizados por ele.
Tipos de Dor Abdominal. Distinguimos três tipos de dor:
8,23,24 (1) somática (também chamada parietal); (2) visceral; e (3) irradiada
(também denominada referida).
É importantíssimo distinguir uma dor oriunda de
afecção clínica daquela do abdômen agudo cirúrgico.
Dor Somática
Tem como características: é bem localizada, bem definida
e próxima ao ponto onde ocorrem o estímulo ou a irritação dos planos anatômicos da
parede do abdômen.
A pele dá origem à dor quando sofre unia lesão, como
picada, corte, esmagamento, queimadura, congelamento etc.
Como existem receptores em grande número e muito
próximos uns dos outros, um pequeno estimulo, como uma alfinetada, pode excitar vários
receptores, fazendo com que haja um rápida resposta dolorosa, que habitualmente leva o
organismo a se defender desse estímulo nocivo. A lesão tissular produz a liberação de
substâncias químicas diversas, já citadas anteriormente e que vão estimular as
terminações nervosas.
Algumas afecções são fáceis de diagnosticar, como o
furúnculo, abscesso, lesões superficiais dos traumatismos abdominais, incisões
cirúrgicas recentes, herpes zóster, que é uma forma especial de irritação das raízes
dorsais dos nervos espinhais, produzindo uma dermatose inflamatória aguda cuja dor
acompanha o trajeto do nervo torácico.
A dor da musculatura estriada, ou seja, a mialgia, resulta
de traumatismo, hemorragia, hematoma, infecções ou exercício do músculo isquêmico,
esgarçamento de sua bainha conjuntiva, necrose ou injeção de substância irritante.
O peritônio parietal é estimulado por agentes químicos,
bacterianos ou mistos, como ocorre nas fístulas digestivas, com o escape de bile, sucos
gástrico, pancreático e entérico, bem como a exposição rápida de grande quantidade
de sangue e urina.1 A irritação pelos agentes bacterianos, como o pus, é
observada nas diversas infecções agudas das vísceras da cavidade celômica, como a
apendicite aguda, a colecistite aguda, a pancreatite aguda, diverticulite etc. Na
peritonite, a dor é constante, sendo sua localização relacionada com o órgão doente.
O enfermo mostra, com os dedos, o ponto que dói. Ela aumenta com os movimentos do
paciente no leito, a tosse e a deambulação. Por isto freqüentemente ele permanece
imóvel na cama, ao contrário dos portadores de dor tipo cólica, de origem visceral, que
se apresentam inquietos.
A dor somática oriunda de irritação do peritônio
parietal se acompanha de contratura reflexa de forma localizada ou generalizada da
musculatura estriada da parede do abdômen. A úlcera cloridropéptica gastroduodenal, com
perfuração livre, determina o abdômen em tábua, pela grande extensão do estímulo
peritoneal.
A contratura muscular é o substrato anatômico da
irritação do peritônio parietal, caracterizando o abdômen agudo cirúrgico. Deve ser
diferenciada da contração voluntária ou daquela que ocorre, por exemplo, em doença
extra-abdominal, sobretudo as do tórax. Neste último caso, a contratura pode ser
desfeita se aumentamos a força de palpação exercida pela mão do examinador, sem haver
aumento da dor. A hiperalgesia cutânea é freqüente.
É preciso chamar a atenção, contudo, para o fato de que
a irritação do peritônio parietal pélvico não causa rigidez da musculatura da parede
do abdômen.
As afecções que mais freqüentemente podem provocar a
irritação do peritônio parietal podem ser agrupadas em cinco itens: (a) síndromes
inflamatórias: formas agudas dá apendicite, colecistite, pancreatite, diverticulite
etc.; (b) síndrome de perfuração: úlcera cloridropéptica gastroduodenal com
perfuração livre, ruptura traumática de víscera oca, perfuração de carcinoma
gastroduodenal, perfuração por corpo estranho, perfuração na trombose mesentérica
etc.; (c) síndromes hemorrágicas: gravidez ectópica rota, ruptura do baço, do fígado
ou de aneurismas da aorta abdominal e de seus ramos; (d) síndrome de oclusão:
obstrução intestinal mecânica estrangulada, com gangrena da alça entérica; (e)
síndrome traumática: resulta de traumatismo fechado ou aberto do abdômen.
Dor visceral
Os estímulos que causam a dor abdominal visceral variam
conforme o tipo de tecido orgânico afetado, como as vísceras parenquimatosas do
abdômen, as ocas, as artérias esplâncnicas 25 etc.
Caracteriza-se por ser profunda, difusa, maldefinida,
podendo localizar-se na linha média do abdômen (regiões epigástrica, periumbilical e
hipogástrica), ou nos quadrantes da parede abdominal, dependendo da inervação da
víscera de onde partem os estímulos.
A dor visceral não se acompanha de contração da
musculatura estriada da parede abdominal.
Como exemplo de dor visceral citamos a obstrução
intestinal mecânica simples, na qual o peristaltismo, de luta do segmento entérico a
montante do ponto de oclusão determina dor tipo cólica, rítmica, repetindo-se,
periodicamente até que ocorra a fase de fadiga muscular, caso o tratamento cirúrgico
não tenha sido feito mal s precocemente. Podemos mencionar também a dor tipo cólica em
conseqüência do espasmo ou distensão súbita dos dutos biliares ou ureteres, ocasião
em que o enfermo se mostra agitado, inquieto, sem conseguir uma posição adequada.7
Dor Irradiada
A dor irradiada é considerada como a dor de uma estrutura
orgânica que pode ser percebida pelo sistema nervoso como se fosse proveniente de outro
órgão, em virtude de mútuas interconexões nervosas.
Participam da dor irradiada o sistema simpático aferente
e os nervos torácicos, não havendo um consenso entre os pesquisadores sobre o seu
mecanismo.
Uma hipótese é a seguinte:
Os impulsos aferentes viscerais chegam ao mesmo neurônio
localizado no corno posterior da medula espinhal, que os impulsos aferentes somáticos,
isto é, múltiplas estruturas de várias localizações, podem se projetar no mesmo
segmento modular e daí seguir até o córtex cerebral, onde são percebidos e localizados
erroneamente. Os impulsos aferentes da colecistite aguda, juntamente com os provenientes
da parede abdominal, sobretudo da pele e do peritônio parietal, podem se convergir,
através de várias vias, e alcançar o sétimo e o oitavo nervos torácicos, de onde são
conduzidos ao córtex cerebral, que interpreta a dor nos dermatômeros correspondentes a
estes dois nervos, uma vez que as fibras somáticas aferentes, especialmente as cutâneas,
são mais numerosas e melhor condicionadas do que as fibras sensitivas viscerais. Daí ser
freqüente a dor irradiada subescapular direita, oriunda da colecistite aguda.
Dor do Abdômen de Origem Extra-Abdominal
Afecções Torácica e dá Coluna Vertebral. Do sexto ao
décimo segundo nervos torácicos (T6 a T12) há uma inervação da
porção inferior do tórax e de quase todo o abdômen. Por isso pode ocorrer uma
afecção torácica acompanhada de dor abdominal aguda, com contratura reflexa da
musculatura estriada da parede do abdômen.
Como não existe substrato patológico na cavidade
celômica, a contratura e a rigidez podem ser desfeitas pela palpação prolongada sem
provocar dor adicional. Havendo doença na cavidade abdominal, a contratura não cede, e
qualquer tentativa de vencê-la é malsucedida e tende a agravar a dor.
As afecções torácicas que produzem dor abdominal são:28
(a) processos inflamatórios pulmonares que imitam a pleura parietal; (b) afecções da
pleura parietal; (c) pneumotórax e hemopneumotórax; (d) pericardite aguda; (e)
insuficiência cardíaca congestiva; (f) embolia e infarto pulmonares; (g) infarto do
miocárdio; (h) traumatismo torácico.
Entre as principais patologias da coluna vertebral
torácica, do sexto ao décimo segundo nervos torácicos (T6 a T12)
e primeiro lombar (L1), podemos citar: (a) tumores; (b) fraturas; (c) lesões
degenerativas da coluna vertebral; (d) mal de Pott; (e) osteomielite hematógena aguda da
coluna vertebral.
Estas doenças irritam as raízes nervosas dos nervos que
se distribuem ao abdômen
Afecções Neuro1ógicas. Como meningite, tabe dorsal,
abscessos espinhais, tumor medular, herpes zóster e as síndromes das raízes dos nervos
torácicos (síndromes radiculares).
A dor das síndromes radiculares dos nervos torácicos tem
como características: (a) mantém nítida relação com os movimentos do corpo; (b) surge
com o aumento da pressão intra-abdominal, como o esforço à defecação, à respiração
profunda, à tosse, ao espirro etc.; (c) manifesta-se após o paciente manter uma
posição do corpo por longo período de tempo, como o fato de se deitar à noite na cama
sem se mexer.
Existem sempre pontos de hiperestesia na distribuição da
raiz nervosa acometida.
Esta dor é aliviada por certas posições, por tração,
pelo exercício físico ou com a correção de posição viciosa.
Quanto à localização, ela pode ocorrer em uma pequena
parte da área total inervada pela raiz irritada ou então em todo o dermatômero e
miótomo.
O caráter da dor é do tipo surda, incomodativa, causando
desconforto, sobretudo na compressão da raiz ventral, ou então aguda, de rápida
duração, irradiando-se freqüentemente como se fosse um choque elétrico, em
conseqüência da compressão da raiz dorsal. Os dois tipos podem coexistir.9
Dor Psicossomática. É freqüente por causa do estresse
da vida cotidiana.
Dor do Abdômen Oriunda de Doenças Metabólicas. São
várias as causas:18 (a) intoxicação pelo chumbo e derivados; (b)
aracnidismo; (c) uremia; (d) acidose diabética; (e) porfiria; (f) fatores alérgicos; (g)
hiperlipemias primárias; (h) hiperparatireoidismo; (i) febre mediterrânea familiar.
Avaliação Clínica da Dor Abdominal. A avaliação da
dor é uma tarefa difícil, pois não há uma maneira objetiva de se mensurá-la com
precisão. Temos pois que nos fiar na descrição subjetiva da dor, na extensão da
incapacidade, nos achados do exame clínico minucioso, nos dados laboratoriais e nas
alterações psicológicas que a acompanham.3,5,8,10,12,14,16,20
Há centros médicos que utilizam computadores na análise
da dor abdominal. 11,31
A dor abdominal pode se manifestar clinicamente de formas
aguda, subaguda, crônica e recorrente.
É muito importante investigar: (a) de forma lenta,
gradual ou abrupta, isto é, como se iniciou; (b) o caráter da dor, como a lancinante, em
cólica, constritiva, em queimação, latejante, contínua, dilacerante etc.; (c) a
localização - se difusa ou bem localizada; (d) a intensidade; (e) a irradiação; (f) a
duração; (g) os fatores que agravam ou diminuem a sua intensidade; (h) a freqüência,
se é constante ou intermitente; (i) os distúrbios associados, como sudorese, náuseas e
vômitos.
A dor abdominal pode, portanto, originar-se de uma
afecção de tratamento clínico ou então de uma patologia cirúrgica.
Localização da Dor. Podemos fazer uma hipótese da
etiologia da dor do abdômen 8,23,24 de acordo com a sua localização:1a
QUADRANTE SUPERIOR DIREITO: colecistite aguda, úlcera
duodenal perfurada (forma frustra), pancreatite aguda (dor bilateral), hepatite aguda,
hepatomegalia, congestiva aguda, pneumonia com reação da pleura parietal, pielonefrite
aguda, angina de peito, hepatite aguda, abscesso hepático etc.
QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO: ruptura do baço,
perfuração de úlcera péptica gástrica, pancreatite aguda, ruptura de aneurisma
aórtico, perfuração do cólon (tumor, corpo estranho etc.), pneumonia com reação
pleural, pielonefrite aguda, infarto agudo do miocárdio etc.
REGIÃO PERIUMBILICAL: obstrução intestinal, apendicite,
pancreatite aguda, trombose mesentérica, hérnia estrangulada da virilha, ruptura ou
dissecção de aneurisma da aorta, diverticulite (intestino delgado ou cólon), uremia.
QUADRANTE INFERIOR DIREITO: apendicite, salpingite aguda,
abscesso tubovariano, gravidez ectópica rota, torção de cisto do ovário, adenite
mesentérica, hérnia estrangulada da virilha, diverticulite de Meckel, diverticulite
cecal, ileíte regional, perfuração do ceco (tumor, corpo estranho), abscesso do psoas,
cálculo ureteral,
QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO: diverticulite do sigmóide,
salpingite aguda, abscesso tubovariano, gravidez ectópica rota, torção de cisto do
ovário, hérnia encarcerada ou estrangulada da virilha, perfuração do cólon
descendente (tumor, corpo estranho), enterite regional, abscesso do psoas, cálculo do
ureter.
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