Capítulo 01.11. Broncoscopia de Urgência

Maurício São Tiago Fulgêncio

A broncoscopia feita em regime de emergência tem duas grandes indicações: o sangramento respiratório maciço e a iminência de obstrução da via aérea. Permite localizar a origem da hemorragia, tamponá-la, cauterizar vasos rompidos e remover coágulos. Desobstrui a via aérea, remove corpos estranhos e aspira secreções. Ocasionalmente, a intubação traqueal só é possível após chegar à glote por broncoscopia.

Instrumental

Os broncoscópios foram introduzidos no inicio do século. Eram tubos rígidos de diferentes diâmetros e comprimentos, abertos e iluminados proximal ou distalmente. A visão se obtinha através de sua luz, por onde penetravam pinças, aspiradores, cautérios, ópticas etc. No final dos anos 60, apareceram os broncofibroscópios, que modificaram a técnica. Nestes, a iluminação e a imagem são transmitidas por um feixe de fibras ópticas e os aparelhos são flexíveis. O instrumental é, portanto, composto de dois tipos de aparelhos: o endoscópio rígido, aberto, e o fibroscópio, fechado. Cada um deles tem indicações e limitações precisas.

Campo Visual

A área de alcance dos broncoscópios rígidos incluí traquéia, brônquios principais, intermediário e segmentares dos lobos inferiores. Com ópticas de visão perpendicular, lateral e retrógrada, são visíveis os segmentares do lobo superior, médio e língula. Os fibrosc6pios mais modernos atingem até os brônquios de quarta ordem, ou seja, brônquios subsegmentares.

Indicações

No pós-operatório da cirurgia de urgência, a broncoscopia é necessária em casos de hemoptise; trauma torácico; obstrução respiratória; intubação difícil; aspiração de tóxicos; espasmo brônquico; inundação da árvore brônquica e suspeita de inoperabilidade.

Hemoptise

A hemoptise constitui-se em evento comum na patologia respiratória, atingindo 15% dos casos. Varia, de mancha sangüínea até hemorragia maciça, como é considerada a perda de 200 ml ou mais de sangue em 24 horas. Suas causas são: bronquite crônica; bronquiectasia; carcinoma brônquico; tuberculose; embolia pulmonar; trauma e aspiração.

Há consenso da indicação da broncoscopia na vigência da hemoptise. A inspeção cuidadosa de toda via respiratória deverá, inicialmente, afastar uma origem alta, na faringe ou nariz. Na árvore brônquica e traquéia, após completa remoção dos coágulos poder-se-6 encontrar o local do sangramento. A possibilidade de sucesso na localização do ponto sangrante é muito maior na vigência da hemorragia. A localização é fundamental para o tamponamento e cauterização do vaso ou da área sangrante. No intervalo, a situação se complica com a tosse e a respiração, profunda espalhando coágulos pela árvore brônquica. Pequenas hemoptises, menores que 5 cm3 têm como causa Comum episódios de bronquite, Hemorragia maciça tem implicação séria, sendo potencialmente ata. Trata-se de situação de emergência com taxa de mortalidade em torno de 30% dos casos.

O volume de sangramento, mais que a extensão ou a natureza da doença, é que determina este elevado percentual de mortalidade, A cirurgia de urgência estará indicada sempre que possível. A localização endoscópica do ponto sangrante determinará que medidas serão necessárias de imediato. Não se deve relacionar a priori uma lesão radiológica com a causa da hemoptise, sem a confirmação broncoscópica. Os endoscópios rígidos serão a opção inicial, já que permitem as medidas de hemostasia. Entretanto, a pesquisa poderá ser feita corri os fibroscópios e a seguir, entram em cena os aparelhos rígidos conduzindo aspiradores, cautérios, tampões etc.

Trauma Torácico

O trauma, que afeta gravemente a traquéia cervical, é tratado com cirurgia externa e tem bom prognóstico se a hipofaringe e o esôfago cervical, não forem afetados- Traumas menores à traquéia e brônquios cicatrizam prontamente. Perfurações de traquéia e brônquios podem causar hemoptises, enfisema mediastinal, abscesso e empiema. A asfixia é iminente, se o trauma afetar simultaneamente os dois brônquios principais.

O reconhecimento da extensão, gravidade e profundidade das lesões e o conseqüente tratamento constituem precisa indicação de endoscopia de urgência. O agente lesivo pode ser mecânico ou químico (gases tóxicos, suco gástrico etc.). A ruptura de um brônquio por trauma fechado, compressão ou impacto é mais comum que por traumatismo aberto. Quase sempre é lesado um grande brônquio. A cartilagem pode estar rompida, mas a estrutura mais freqüentemente acometida é a membrana interanelar. Hemoptise após trauma torácico exige broncoscopia de urgência.

Obstrução Respiratória

A obstrução respiratória põe em risco a vida, e o diagnóstico em crianças só pode ser feito por endoscopia. A própria introdução do tubo poderá ser impedida pelo obstáculo na via aérea. A estenose: da laringe, ao nascimento, pode ser causada por membrana congênita, que, em seu grau máximo obstrui a glote, sendo incompatível com a vida. Reconhecido o quadro, a passagem de um broncoscópio rígido, de pequeno diâmetro poderá ser todo o tratamento, não apenas para o obstáculo agudo, mas como cura definitiva. Membranas congênitas parciais têm importância na medida da área glótica obstruída. Casos extensos, que comprometem mais da metade da área g1ótica, causam dispnéia ao nascimento. A passagem de um broncoscópio rígido ou de uma seqüência de aparelhos de calibres progressivos poderá efetivar a cura. O estridor respiratório congênito é a síndrome indicadora de endoscopias, de emergência em crianças de baixa idade. As causas serão laringomalacia, traqueomalacia, cistos e papilomas congênitos, estenose e compressão da árvore respiratória. O diagnóstico diferencial é feito com precisão pela endoscopia, que permite muitas vezes a resolução imediata do caso.

Intubação Difícil

Várias condições podem representar grande risco, quando se impõe a intubação traqueal de urgência. Assim, um volumoso tumor glótico, e uma fratura extensa da mandíbula podem impedir o acesso à glote. Nestes casos é possível introduzir a sonda sob visão, conduzindo-a sobre um fibroscópio. A passagem respiratória será encontrada e a glote ultrapassada. A sonda deslizará sobre o broncoscópio e será introduzida na traquéia.

Aspiração

Na aspiração de gases tóxicos a indicação da endoscopia de urgência existe para determinar rapidamente a extensão da área afetada, bem como sua profundidade. Como nas causticações da via digestiva, trata-se de, inicialmente, manter a vida e, em segundo plano, cuidar das complicações tardias como estenoses e fibroses.

Espasmo Brônquico

Durante a respiração mecânica, ocorre, com certa freqüência, espasmo brônquio Em atos cirúrgicos de duração prolongada, pode ser necessário diferenciar este quadro de obstruções mecânicas por secreções ou coágulos. O fibroscópio permitirá esta diferenciação simultaneamente à ventilação. Isto permitirá adotar medidas adequadas de correção peroperatórias.

Inundação da Árvore Brônquica

Hemoptises, volumosas, ruptura de abscesso pulmonar, perda da capacidade de eliminar secreções (p. ex.: paralisias de intercostais) podem causar inundação. A broncoscopia pode, remover o acúmulo e mesmo fazer cessar a causa do excesso de secreções. Na paralisia unilateral da musculatura torácica, o processo de remoção endoscópica de secreções pode ser a única forma de manter a integridade do processo respirat6rio. Poderá ser necessário repeti-la algumas vezes ao dia,

Inoperabilidade

A broncoscopia pode indicar a inconveniência de se submeter um paciente a tratamento cirúrgico. Evitará, desta forma, procedimento sem eficácia, que apenas aumentaria o sofrimento do enfermo. São casos em que há contra-indicação ao tratamento cirúrgico, pela impossibilidade de se erradicar a doença. Um tumor maligno invadindo as paredes da traquéia ou carina, a paralisia por infiltração das cordas vocais em tumores de esôfago ou mediastino são exemplos de situações em que a endoscopia contra-indicará o tratamento cirúrgico.

Endoscopia Atual

A imagem dinâmica de um brônquio de quarta ordem, projetada em tela de TV em cores, é o presente da endoscopia. Sem dúvida, virá mais progresso. Os aparelhos serão mais finos, capazes de penetrar pequenas aberturas naturais ou provocadas. As câmaras cardíacas e os vasos sangüíneos não continuarão inacessíveis por muito tempo. O futuro da endoscopia incluirá todas as áreas onde exista uma cavidade, abertura ou passagem.

Referências Bibliográficas

1. IKEDA, S. Atlas de broncofibroscopia flexible. Editorial Jims, Barcelona, Espanha, 1970.

2. IKEDA, S. Ann. Otol. RhInol. Laringol., 791.916,197ó.,

3. JACKSON, C Bronchoesofogology, W.B. Saunders, Philadelphia, 1950.

4. KOCKM, MA Broncoscopia Dinâmica. Medicina Panamericana Editorial, Madri, 1978.

5. STRADLING, P. Diagnostic Broncoscopy: an Introduction. Churchill Livingstone Inc.; London, 1973.

Copyright © 2000 eHealth Latin America