Population Reports - Série Q - Nº 02 - Organizando melhor o trabalho - 04 - Uso de práticas baseadas em evidências

Equipe Editorial Bibliomed

Sistema de Saúde

Os programas de saúde vêm usando cada vez mais uma abordagem baseada em evidências, ou seja, baseiam as suas diretrizes, normas e práticas em evidências científicas quanto à segurança, eficácia e eficiência (18, 44). A adoção de procedimentos e práticas baseados em evidências pode eliminar barreiras desnecessárias ao atendimento e, assim, permitir a prestação de um melhor serviço (45,104).

Veja Foto e quadro

Princípios do Uso de Práticas Baseadas em Evidências

1. Usar as intervenções e abordagens mais atualizadas. Conhecer e usar as abordagens baseadas na melhor evidência disponível permite às organizações oferecerem o melhor atendimento de saúde, de forma mais eficiente. As diretrizes baseadas em evidências – normas, padrões, protocolos e recomendações de práticas – ajudam o pessoal de atenção à saúde a tomar decisões acertadas sobre aspectos específicos do serviço, tais como o diagnóstico de problemas de saúde ou o fornecimento de métodos adequados de planejamento familiar (19).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu Critérios de Elegibilidade Clínica, que fornecem orientação sobre quem pode usar métodos anticoncepcionais com segurança, assim como Recomendações Selecionadas para a Prática Clínica, para orientação sobre como usar os métodos de forma segura e eficaz. Esta orientação é baseada em evidências disponíveis sobre a segurança e o uso de anticoncepcionais. Ela amplia o acesso aos serviços de planejamento familiar, procurando garantir que não seja negada às pessoas uma gama variada de métodos adequados. (Maiores informações sobre os Critérios de Elegibilidade Clínica e as Recomendações Selecionadas para a Prática Clínica da OMS podem ser obtidas em http://www.who.int/reproductive-health/family_planning/index.html). Muitas organizações e programas nacionais já incorporaram esta orientação às suas normas.

Nem sempre há disponibilidade de estudos científicos conclusivos sobre a eficácia e a segurança para justificar toda e qualquer prática na atenção à saúde. As organizações podem tentar se manter atualizadas com as diretrizes cientificamente válidas disponíveis a nível nacional e depois modificá-las e ajustá-las ao contexto e aos recursos locais. Na falta de evidência científica, as organizações devem continuar a basear suas práticas na experiência e em premissas lógicas, ou adaptar práticas já usadas em outros lugares. Os interessados nas melhores práticas disponíveis aos programas podem consultar a organização Advance Africa, que oferece o Compêndio das Melhores Práticas, um banco de dados on-line sobre práticas já provadas de serviços de saúde reprodutiva e planejamento familiar: http://www.advanceafrica.org/compendium/.

2. Evitar práticas ainda não provadas, que desperdiçam tempo e recursos, e adotar práticas que tenham maior impacto. Os programas que substituem diretrizes obsoletas com práticas baseadas em evidências podem prestar serviços de forma mais eficiente (ver o quadro nesta página). Por exemplo, as atuais práticas de atendimento pré-natal recomendam que as mulheres com gravidez normal visitem uma clínica apenas 4 vezes, ao invés de fazer visitas mais freqüentes e rotineiras. Uma análise sistemática da evidência disponível constatou que as visitas freqüentes são desnecessárias (20). Elas sobrecarregam o sistema de saúde e tomam muito tempo do pessoal e das clientes, sem necessidade (79,124).

Ainda, as novas práticas recomendam que as famílias se preparem e planejem o parto, decidindo quem deverá participar do mesmo, em que local a mulher dará à luz e o que fazer caso surjam complicações. Esta abordagem de planejamento e preparação substitui o modelo de "abordagem de risco", que identificava a gravidez de alto risco para que as gestantes pudessem ser referidas a um atendimento especializado. Mais de 10 anos de experiência já demonstraram que os fatores de risco não distinguem muito bem entre as mulheres que terão complicações no parto e as que não (102).

Ao usar práticas baseadas em evidências, os gerentes podem evitar práticas que não funcionam bem ou que resultam em custos desnecessários. Por exemplo, já foi demonstrado que o manejo de sintomas para corrimento vaginal é ineficaz para identificar as infecções do colo uterino, tais como gonorréia e clamídia (24,106). No entanto, o manejo de sintomas ainda pode ser usado com sucesso para identificar úlceras genitais e, no caso dos homens, as causas de corrimentos uretrais (27, 85, 120).

3. Remoção de barreiras desnecessárias que prejudicam o acesso à atenção à saúde. As barreiras clínicas desnecessárias, entre elas exames, normas, critérios de elegibilidade clínica, ou práticas que não têm valor cientificamente demonstrável, podem negar a muita gente o acesso aos serviços (8, 21, 54, 82, 104, 108, 110). Também podem aumentar os custos para os clientes, desperdiçar seu tempo e restringir suas opções, por exemplo, limitando desnecessariamente os tipos de métodos anticoncepcionais que as pessoas podem escolher (10).

As barreiras desnecessárias surgem por várias razões. As diretrizes de prestação de serviços que orientam as práticas do pessoal de atendimento podem estar desatualizadas. Os prestadores de serviços de saúde podem interpretar incorretamente ou ignorar as diretrizes e, além disso, impor barreiras próprias. Por exemplo, os prestadores podem criar barreiras baseadas em sexo ou raça ou impor contra-indicações inapropriadas para o uso de um método, tais como o fato da mulher ser ainda muito jovem ou ter ainda poucos filhos (126).

Uma prática restritiva desnecessária, porém comum, é negar à mulher o acesso a anticoncepcionais hormonais ou ao DIU se ela estiver menstruando (16, 76, 104, 108, 109). Os provedores querem ter certeza que a mulher não esteja grávida antes de começar a usar um destes métodos. Podem, no entanto, não saber que há outras perguntas que podem fazer a uma mulher para ter uma certeza razoável de que ela não está grávida. Uma simples lista de verificação pode reduzir esta barreira tão comum (109) (ver o diagrama à direita).

No Quênia, um estudo realizado para testar a eficácia do uso da lista de verificação constatou que descartava a gravidez em 88% das 1.800 novas clientes de planejamento familiar que não estavam menstruando. Comparando os resultados da aplicação da lista de verificação com os resultados de um teste comercial de gravidez, do tipo fita reagente, o estudo constatou que a probabilidade de que uma mulher identificada como não grávida pelo uso da lista de perguntas realmente não estivesse grávida era de 99% (35, 109).

É freqüente que prestadores de saúde neguem a certas mulheres o acesso ao planejamento familiar porque querem proteger as clientes contra métodos anticoncepcionais que acreditam, incorretamente, provocar a infertilidade ou outros problemas de saúde (6). Ou então, poderão ser contra certos métodos devido à sua própria experiência como usuárias, às experiências relatadas por algumas de suas clientes ou clientes de suas colegas, ou ainda devido a boatos em circulação. Quando as organizações corrigem estes tipos de entendimentos errôneos e demonstram em termos práticos como certas crenças erradas podem limitar as escolhas disponíveis às clientes, os prestadores de atendimento de saúde podem conseguir superar estas barreiras (ver o quadro).

(Ver também o quadro e figura).

Population Reports é publicado pelo Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA.

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