Population Reports - Série A - Nº10 - Anticoncepcionais Orais (AOs) - 04 - Como os meios de comunicação de massa podem ajudar

Equipe Editorial Bibliomed

Quanto mais as mulheres estiverem informadas sobre a pílula, melhor saberão usá-la. Por exemplo, um estudo feito com estudantes universitários britânicos constatou que as mulheres que tinham um bom conhecimento geral dos ACOs tinham menor probabilidade de esquecer de tomar a pílula durante até 12 horas do que as que tinham menos conhecimento dos ACOs (231). Na Holanda, as mulheres que receberam informação detalhada sobre a pílula usavam os ACOs de forma mais eficaz desde o início e tinham uma opinião mais positiva dos seus benefícios médicos do que outras mulheres (40).

De forma correspondente, o recebimento de menos informação e orientação sobre a pílula resulta num uso menos adequado da mesma. Na Europa, em um estudo feito com mais de 6.500 usuárias atuais e passadas de ACOs, as que declararam não terem recebido informação suficiente sobre a pílula nem ajuda suficiente dos profissionais de saúde tinham 1,5 vezes mais probabilidade de se esquecer de tomar uma ou mais pílulas por ciclo do que as mulheres que declaravam ter recebido informação e orientação adequadas (182).

Um nível correto de conhecimento é essencial para tomar decisões corretas sobre a própria saúde reprodutiva. Existem estudos que demonstram que muitas mulheres têm condições de tomar decisões tão boas quanto as dos profissionais de saúde que as aconselham, desde que recebam e entendam as informações necessárias (29, 250).

Apesar da orientação ser valiosa, uma única sessão de orientação com um profissional de planejamento familiar não consegue, geralmente, cobrir todas as informações que uma pessoa necessita para fazer uma escolha bem informada entre os vários métodos de planejamento familiar. Por outro lado, os orientadores e outros profissionais de saúde que tratam diretamente com o público não podem arcar exclusivamente com a responsabilidade de garantir que os clientes estejam plenamente informados.

Uma forma de informar às usuárias da pílula, usuárias em potencial e seus parceiros sobre o planejamento familiar é utilizar os meios de comunicação de massa, inclusive rádio, TV, vídeo e jornais (157). Os meios de comunicação de massa atraem a atenção das pessoas para o planejamento familiar, mesmo antes destas pessoas falarem com um profissional de saúde e, freqüentemente, eles dão início ao processo de tomada de decisões que induz as pessoas a buscar os serviços de planejamento familiar (158). Como os meios de comunicação de massa também atingem as usuárias que já utilizam o planejamento familiar, eles podem ajudá-las a lembrar-se de tomar a pílula.

Em muitos países em desenvolvimento, os meios de comunicação de massa constituem um veículo importante de disseminação de informações sobre o planejamento familiar e contribuem para melhorar o comportamento relacionado à saúde reprodutiva (156). Os meios de comunicação de massa atingem vários grupos diferentes, influenciando o uso do planejamento familiar entre os casados e não casados, alfabetizados e não alfabetizados, homens e mulheres (238).

As pessoas obtêm grande parte das informações necessárias sobre a pílula por intermédio dos meios de comunicação, mesmo quando tal informação não é oferecida especificamente para auxiliar a escolha e uso dos anticoncepcionais. Por exemplo, na Nigéria, uma pesquisa de 500 alunas universitárias mostrou que 40% obtinham informações sobre a pílula nos jornais e revistas, 28% pela televisão e 26% pelo rádio. Cerca de 44% relataram obter informações sobre a pílula de suas colegas e amigas, 42% de serviços de atendimento de saúde e 30% de enfermeiras (1). Mas, normalmente, a informação encontrada nos meios de comunicação de massa não é detalhada o suficiente para auxiliar as pessoas a escolher um método específico de planejamento familiar e a usá-lo da forma mais eficaz.

Como os meios de comunicação atingem um público muito amplo e diversificado, os programas de planejamento familiar podem usar os meios para melhorar o uso dos ACOs e de outros métodos anticoncepcionais. No Nepal, por exemplo, o Ministério da Saúde usou o rádio como meio de comunicação de massa para instruir os ouvintes sobre diferentes anticoncepcionais e seu uso, transmitindo a novela Faça Seu Paletó Conforme o Tecido quatro vezes por semana desde 1995. Este método dá informação detalhada sobre como funcionam os ACOs e outros métodos, suas vantagens e desvantagens e seu uso mais adequado (104, 105).

Os meios de massa podem também atingir os profissionais de saúde, da mesma forma que o público em geral. Os profissionais podem se manter atualizados sobre os mais recentes avanços do planejamento familiar fazendo cursos de aprendizado à distância pelos meios de comunicação de massa. No Nepal, um curso de aprendizado à distância, O Serviço Compensa, é ministrado semanalmente a profissionais da área de saúde, complementando a informação veiculada por uma novela radiofônica dirigida aos usuários de planejamento familiar. Com isto, melhorou sensivelmente a qualidade da interação entre clientes e provedores de serviços de saúde (104, 106, 214).

Uma boa comunicação

Para chegar às usuárias da pílula, o desafio dos programas de planejamento familiar, clínicas e profissionais, e meios de comunicação de massa é o de passar informações que sejam precisas, eficazes, fáceis de lembrar e fáceis de colocar em prática. Por exemplo, no caso da novela radiofônica do Nepal, as mensagens vêm entrelaçadas com uma história interessante sobre as vidas de vários personagens. Em um episódio de 15 minutos sobre a pílula, as ouvintes podem aprender:

  • Como a pílula permite evitar a gravidez,
  • Quais são as melhores candidatas ao uso da pílula,
  • Os benefícios da pílula na prevenção do câncer,
  • A necessidade de tomar a pílula todo dia, no mesmo horário,
  • Como compensar por uma pílula não tomada,
  • Efeitos colaterais mais comuns, e
  • Onde obter a pílula.

O programa aconselha às interessadas procurar um profissional de saúde para obter mais informações e orientação (105). A novela tem um efeito muito forte e positivo sobre as percepções das ouvintes e seu comportamento com relação ao planejamento familiar (214).

A pílula não é necessariamente o melhor método para toda e qualquer pessoa. Os meios de comunicação de massa necessitam informar as pessoas sobre toda a gama de opções anticoncepcionais existentes. Quanto mais opções de planejamento familiar estiverem disponíveis, e quanto mais a gama de opções for conhecida, maior a probabilidade de que cada pessoa encontre o método que mais a satisfaça. Como resultado, todos os métodos anticoncepcionais, inclusive os ACOs, serão usados de forma mais eficaz. Veja Figura

Os homens também podem ajudar

As mulheres usam a pílula de forma mais eficaz quando contam com o apoio e envolvimento de seus parceiros. Existem estudos que demonstram que, quando os parceiros participam na seleção e uso dos ACOs, as mulheres usam estes anticoncepcionais durante mais tempo, conseguem controlar melhor os efeitos colaterais e até usam a pílula de forma mais eficaz. Por exemplo, um estudo de 10 clínicas na Guatemala, Hong Kong, Jordânia, Quênia, Nepal e Trinidad-Tobago demonstrou que as mulheres usavam a pílula durante mais tempo quando este método era a sua primeira opção e quando seus parceiros concordavam que o casal devia praticar o planejamento familiar (96).

De forma semelhante, na área rural de Bangladesh, as mulheres cujos maridos participavam na seleção dos ACOs usavam este tipo de anticoncepcional por mais tempo do que as mulheres cujos maridos não se envolviam na seleção de um método de planejamento familiar. Além disso, a taxa de abandono da pílula devido à ocorrência de efeitos colaterais revelou-se mais baixa entre as primeiras. Os pesquisadores constataram que os maridos ajudavam muito ao insistir que suas esposas obtivessem mais informações ou orientação de profissionais de saúde sobre como lidar com os efeitos colaterais. Quando as mulheres podiam discutir os efeitos colaterais com seus parceiros, isto as deixava mais tranqüilas. A discussão também torna mais fácil a troca de método, se for o caso (170).

Quando os homens ajudam na seleção de um método anticoncepcional, eles têm maior probabilidade de contribuir para seu uso correto. Um estudo chinês examinou a influência do envolvimento dos parceiros na eficácia do uso do anticoncepcional. A taxa de gravidez entre as usuárias de métodos temporários revelou-se mais baixa entre as mulheres que haviam participado de sessões de orientação sobre o uso de anticoncepcionais junto com seus maridos do que entre as mulheres que haviam obtido o método sozinhas (232).

Lógico que os homens também podem influenciar suas mulheres a parar de usar o planejamento familiar. Cerca de 37% das mulheres em Bangladesh que tinham parado de usar a pílula apenas três meses depois de começar a tomá-la fizeram-no por influência de seus maridos (3).

Os programas de planejamento familiar podem entrar em contato com os homens de várias formas, especialmente em locais onde eles se reúnem – por exemplo, eventos esportivos e reuniões comunitárias – como também por meio de mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa (46). As mensagens sobre o uso da pílula nestes meios podem dirigir-se diretamente aos homens e abordar sua contribuição a uma melhor saúde reprodutiva do casal, inclusive mostrar a eles como podem ajudar suas parceiras a usar a pílula de forma mais eficaz. (Ver o Population Reports "Novas Perspectivas sobre a Participação dos Homens", Série J, No. 46, Outubro de 1998.)

A repetição reforça a mensagem. Um estudo feito na Holanda mostrou que mesmo as novas usuárias da pílula, que revelavam inicialmente as melhores práticas de uso, começavam a descuidar-se, deixando de tomar algumas pílulas, quando atingiam o terceiro ciclo. Estas mulheres declararam que, ao atingir o terceiro ciclo, ouviam suas instruções gravadas sobre o uso da pílula com muito menos freqüência do que o faziam inicialmente (40). Outro estudo sobre a regularidade do uso da pílula constatou que, em três meses de uso, as mulheres pulavam cada vez mais pílulas em cada nova cartela (147).

Uma implicação da constatação de que as mulheres deixam de tomar um número cada vez maior de pílulas com o passar do tempo é a necessidade de lembrar-lhes repetidamente o uso eficaz da pílula. Outra implicação é que, ao invés de depender exclusivamente de instruções que as próprias usuárias têm que buscar, as mensagens precisam atingir as pessoas de forma mais fácil e freqüente, como pelo rádio e TV.

Para aumentar o interesse, os meios de comunicação de massa podem reforçar as mensagens sobre o uso mais eficaz de várias formas. Por exemplo, em uma novela transmitida pelo rádio, pode-se ouvir uma personagem tomando sua pílula diária logo após ouvir um lembrete gravado. Ao mesmo tempo, podem ser veiculadas mensagens curtas dirigidas às ouvintes, do tipo "Você já tomou sua pílula hoje?".

Descrição correta da pílula. A forma dos meios de comunicação descreverem os ACO’s ao público – seja correta ou incorretamente – afeta fortemente as percepções e a forma de uso da pílula pelas mulheres. Houve ocasiões em que descrições negativas feitas pela mídia deixaram as pessoas preocupadas sobre a segurança dos ACOs e contribuíram para aumentar o uso irregular e o abandono (88, 235).

Por exemplo, no Reino Unido e outros países europeus, os meios de comunicação de massa deram ampla cobertura a relatórios publicados em meados da década de 90 sobre alguns tipos de ACOs e riscos de doenças cardiovasculares, relatórios cuja validade continua a ser questionada. Este tipo de publicidade provocou um medo generalizado da pílula. Muitas mulheres trocaram a pílula por outro ACO ou simplesmente pararam de tomar a pílula. Uma clínica de abortos legais no Reino Unido informou que 61% das clientes que queriam abortar tinham parado de tomar a pílula antes de terminar a cartela, assim que ouviram a cobertura da mídia mencionada (43, 76). Nos meses seguintes, o número de gravidezes não intencionais e abortos aumentou substancialmente (9, 26, 27, 101, 171, 242).

O envolvimento dos homens. Na maior parte do mundo, os homens têm mais acesso aos meios de comunicação de massa do que as mulheres e, portanto, as mensagens da mídia sobre o planejamento familiar poderão atingir os homens ainda mais do que as mulheres (238, 239). Com freqüência, os homens influenciam fortemente o comportamento de planejamento familiar de suas parceiras e podem ajudá-las a usar a pílula de forma mais eficiente (veja quadro).

Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA

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