Population Reports - Série M - Nº 12 - Oportunidades para a mulher através da livre escolha reprodutiva - 07 - Emprego de mulheres nos programas de planejamento familiar
Equipe Editorial Bibliomed
Oferecendo-lhes emprego, 05 programas de planejamento familiar permitem que milhares de
mulheres assumam novos papéis e oportunidades. Os programas de planejamento familiar
consideram importante contratar mulheres, especialmente como provedoras de linha de
frente. Em quase todas as sociedades, a melhor maneira de transmitir informação sobre o
planejamento familiar é mediante as comunicações de mulher a mulher. Quando a mulher é
a provedora de serviços de planejamento familiar, ela pode conversar com as outras
mulheres e compreender suas necessidades melhor que os homens (45).
A Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) estima que, atualmente,
500.000 mulheres trabalham nos programas de planejamento familiar dos países em
desenvolvimento. No mundo inteiro, o Banco Mundial estima que exista um milhão de
trabalhadoras na área de planejamento familiar (139, 385). Os cargos ocupados por
mulheres incluem distribuidoras comunitárias, administradoras de programas, médicas,
enfermeiras e parteiras.
Benefícios do emprego nos programas de planejamento familiar
O que as mulheres ganham por trabalhar na área de planejamento familiar? As pesquisas
feitas até agora abordaram principalmente as distribuidoras comunitárias. Estudos
realizados em sete países concluíram que as mulheres que trabalham como distribuidoras
comunitárias se beneficiam porque são remuneradas, recebem um treinamento útil e
adquirem mais prestígio na comunidade (157, 302). Evidentemente, existem outros empregos
não relacionados ao planejamento familiar, que podem beneficiar as mulheres a nível
igual ou superior, se bem que outros ainda podem piorar suas condições de vida.
Remuneração. Os salários, honorários ou gratificações pagas por serviço
realizado na área de planejamento familiar podem repercutir na qualidade de vida de uma
mulher. Em pesquisa realizada pelo Centro de Desenvolvimento de Atividades Populacionais
(CEPDA) de 305 agentes locais empregados em 11 projetos de planejamento familiar de
Bangladesh, índia, Quênia, Mali, Nepal, Paquistão e Turquia, 76% indicaram que a
remuneração recebida por seu trabalho contribuía para melhorar sua condição
econômica (157).
A maior parte dessas mulheres usa seu salário para ajudar suas famílias (24, 162, 163).
No estudo CEPDA, 51 % usavam seus rendimentos principalmente para gastos domésticos; 29%,
para a educação dos filhos, 10%, para si próprias, e 6%, para outras despesas diversas
e não essenciais. Os restantes 4% entregavam o dinheiro aos seus maridos (157).
Quando têm algum tipo de remuneração, as mulheres geralmente melhoram sua posição na
família. A maioria das mulheres do estudo CEDPA obteve maior controle sobre a educação
de seus filhos, os cuidados médicos e os gastos domésticos. Muitas também descobriram
que as relações com maridos e sogros tendiam a melhorar (157). Mas o simples fato de
obter rendimentos não garante melhor posição na família. Alguns estudos de caso de
mulheres que obtinham rendimentos no setor informal (não relacionado ao planejamento
familiar) não demonstraram qualquer aumento do nível de influência nos seus lares (126,
193).
Evidentemente, muitos programas empregam mulheres como voluntárias. Mesmo quando não
são pagas por seu trabalho, os programas devem esforçar-se para reconhecer as
contribuições das voluntárias e agradecer-lhes publicamente pela sua contribuição à
comunidade.
Competência em novas habilidades. As provedoras de planejamento familiar obtêm
mais informações e adquirem novas habilidades. No estudo CEPDA, os relatórios
preparados pelas distribuidoras comunitárias indicam que melhoraram substancialmente sua
capacidade de liderança e técnicas de comunicação, bem como seu conhecimento de
métodos de planejamento familiar e prestação de serviços (157). Para muitas, esse é
seu primeiro trabalho pago. Ao contrário de trabalhos manuais tais como costura,
agricultura ou datilografia, o trabalho em planejamento familiar ensina às mulheres
certas habilidades que atendem às necessidades sociais da comunidade, permitindo ainda
que passem esse ensinamento a outras mulheres. As provedoras do planejamento familiar na
comunidade ajudam, freqüentemente, as pessoas a obter cuidados médicos nas clínicas.
Algumas delas aprendem a administrar diretamente ou a ensinar a terapia de reidratação
oral, imunização, serviços nutricionais, técnicas seguras de parto e serviços mais
amplos de maternidade (302).
Prestígio e respeito profissional. As agentes de planejamento familiar geralmente
angariam o respeito dos demais, devido ao seu conhecimento. Essas mulheres tornam-se
especialistas comunitárias em planejamento familiar e ou tras questões de saúde. Em
Matlab, Bangladesh, tanto as agentes como a própria comunidade estão de acordo que as
primeiras são excelentes recursos comunitários não só para os serviços de
planejamento familiar como também para fins de orientação médica geral e
encaminhamento a outros serviços. Os integrantes da comunidade buscam também a
orientação das agentes para resolver questões financeiras e disputas entre vizinhos
(302).
Mas o respeito não é coisa que se obtenha facilmente. Os novos papeis assumidos pelas
mulheres ameaçam, às vezes, as normas da comunidade e aquelas que infringem as normas
passam a ser mal vistas. Por exemplo, nos países islâmicos, onde se pratica o purdah,
os costumes proíbem as mulheres de apresentar-se sozinhas em público. No entanto, as
agentes de planejamento familiar devem visitar sozinhas as residências e as clínicas.
Apesar de deparar, inicialmente, com a hostilidade da comunidade, as agentes acabam
descobrindo maneiras de manter o auto-respeito. Por exemplo, as agentes de planejamento
familiar de Bangladesh redefiniram para si próprias as normas tradicionais do purdah
e do recato feminino (302). Começaram a introduzir o conceito de um "purdah
interior", retirando a ênfase do recolhimento físico para dar lugar a um código
interno de conduta moral (302).
Em várias culturas e países, as agentes de planejamento familiar sofreram a repulsa
inicial, mas conseguiram transformá-la em aceitação gradual e, finalmente, em respeito
(157, 188, 302). Por exemplo, em Bangladesh, as agentes que foram hostilizadas por
infringirem o purdah, acabaram retomando seu prestígio e ao mesmo tempo
legitimizaram os serviços de planejamento familiar (302). Em alguns poucos casos, as
agentes não conseguiram obter o respeito da comunidade. Um estudo de enfermeiras
obstétricas auxiliares, que prestavam serviços de planejamento familiar em Maharashtra,
na índia, constatou que muitas das mulheres tinham sido abandonadas por seus maridos ou
tinham dificuldade em encontrar casamento (152).
Em geral, as mulheres que trabalham como distribuidoras comunitárias sentem-se
fortalecidas em seu trabalho. Elas informaram, durante um estudo CEDPA, que suas
realizações e o valor que tinham para a comunidade contribuíam para sua auto-estima e
sentimento de autonomia (157). Particularmente nas culturas que isolam freqüentemente as
mulheres, o trabalho em planejamento familiar é uma porta de entrada às novas idéias,
informações e oportunidades (140).
Modelos de mudança
As mulheres que trabalham em planejamento familiar oferecem às outras algo mais além da
informação e materiais de planejamento familiar. Elas são, freqüentemente, agentes de
mudança e modelos de conduta para suas comunidades.
Ao perseverar e angariar o respeito, as mulheres que trabalham na área de planejamento
familiar oferecem um exemplo a outras mulheres. Elas legitimizam o emprego da mulher e, na
qualidade de agentes de planejamento familiar, servem de modelo que as mulheres mais
jovens desejam copiar (140).
As agentes de planejamento familiar podem estimular as mudanças em suas comunidades, de
várias formas. Seu trabalho pode afrouxar os tabus prejudiciais às mulheres e até
ajudar outras mulheres a se fazerem ouvidas. Por exemplo, depois de três anos de um
projeto comunitário gerido por mulheres em Mali, os habitantes dos vilarejos estavam mais
dispostos a discutir tópicos que antes eram considerados tabus, tais como o planejamento
familiar e o uso de anticoncepcionais (157). Tanto na índia como em Bangladesh, a
aceitação comunitária permitiu às agentes intervirem disputas familiares, repreendendo
e aconselhando homens e dando apoio moral às mulheres (157, 302).
Desafios que enfrentam os programas de planejamento familiar
Através de uma seleção cuidadosa, treinamento e suporte, os programas de planejamento
familiar podem empreender esforços para que as mulheres que empregam se beneficiem de seu
trabalho. O emprego de mulheres na área de planejamento familiar demanda estudos mais
detalhados. Deve-se pesquisar outras provedoras e não apenas aquelas centradas na
comunidade. Além disso, é preciso analisar as condições de trabalho e o potencial de
treinamento e de progresso na carreira, de forma a aumentar as oportunidades para as
mulheres.
As agentes selecionadas com a contribuição da comunidade têm maior chance de serem
aceitas do que as agentes selecionadas por terceiros, conforme sugere uma análise dos
programas comunitários na África (248). Em alguns casos, a colocação de agentes de
planejamento familiar recém-contratadas pode acabar substituindo profissionais informais,
tais como parteiras e assistentes de partos, que cumprem um importante papel social. A
colaboração pode ser importante para obter o apoio de profissionais tradicionais e
evitar a resistência que poderia tornar mais difícil a tarefa das agentes de
planejamento familiar.
Promovendo-se as provedoras de planejamento familiar, permite-se que as mulheres obtenham
o respeito da comunidade, como profissionais qualificadas e confiáveis. O fortalecimento
tanto da imagem quanto das habilidades das provedoras pode atrair e ajudar a manter
clientes. A organização Johns Hopkins Population Communication Services chama isso de
enfoque PRO, ou seja, a Promoção de Provedoras Profissionais (259). Uma pesquisa feita
no Quênia demonstra que as pessoas que ouviram a radionovela Haki Yako (É seu direito),
transmitida dentro da campanha do enfoque PRO, tinham menor chance de ter uma imagem
negativa das provedoras de planejamento familiar do que aquelas que nunca tinham ouvido
falar disso (320). Veja foto
Também ajudam os sinais visíveis de emprego nos programas de planejamento familiar. No
Quênia e Zimbábue, por exemplo, as distribuidoras comunitárias usam uniformes e pode-se
ver, no exterior de suas casas, a placa oficial de aprovação do trabalho que realizam.
Reconhecidas como líderes comunitárias e autoridades, as agentes de planejamento
familiar são, freqüentemente, as únicas mulheres que têm lugar de destaque durante os
eventos oficiais dos povoados (188).
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs,
The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore,
Maryland 21202-4012, USA
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