Population Reports - Série M - Nº 12 - Oportunidades para a mulher através da livre escolha reprodutiva - 05 - Como os programas de planejamento familiar podem beneficiar as mulheres?

Equipe Editorial Bibliomed

O uso de anticoncepcionais protege as mulheres dos riscos de saúde relacionados a uma gravidez não desejada, dando-lhes maior controle sobre suas próprias vidas. Os programas de planejamento familiar ajudam as mulheres principalmente pela oferta de métodos anticoncepcionais. O que mais podem fazer os programas para atender às necessidades das mulheres? As mulheres interagem com os programas de planejamento familiar deforma rápida e infreqüente. No entanto, esses contatos rápidos podem ser planejados de forma a incrementar a capacidade das mulheres para cumprir seus papéis atuais e assumir outros. Os responsáveis pelos programas podem tentar:

• Encorajar o respeito pelas mulheres,

• Oferecer uma gama de cuidados de saúde reprodutiva, e

• Programar atividades que fortaleçam a capacidade das mulheres em aproveitar novas oportunidades.

Encorajar o respeito por todas as mulheres

Ao demonstrar seu respeito pelas mulheres, os programas de planejamento familiar ajudam as mulheres a incrementar sua auto-confiança e auto-estima, fortalecendo sua capacidade para tomar suas próprias decisões e agir na defesa de seus interesses. Também, ao mostrar respeito pelas mulheres como clientes, dá-se o exemplo correto à comunidade.

Os programas de planejamento familiar são uma excelente oportunidade para promover o respeito pelas mulheres. Infelizmente, alguns programas não tiraram proveito dessa oportunidade, seja porque o pessoal encarregado tem as mesmas atitudes socialmente difundidas que denigrem as mulheres, ou porque o programa está mais preocupado em agarrar mais clientes do que em atender às suas necessidades, ou porque o pessoal simplesmente não entende que a cortesia é um fator importante, ou finalmente, porque os provedores de serviços têm muito pouco tempo para dedicar a cada cliente.

Os responsáveis pelos programas podem estimular o respeito pelos clientes de várias formas:

• Garantindo uma escolha bem informada. Os programas que ajudam as mulheres a tomar suas próprias decisões informadas sobre fecundidade, demonstram respeito pelo direito e capacidade das clientes em tomar decisões. Para garantir uma escolha informada, os gerentes de programas devem garantir que as clientes tenham à sua disposição: (1) uma variedade de métodos, (2) a informação de que necessitam sobre cada método, e (3) o método que realmente desejam, desde que não haja uma razão médica para não usá-lo (67). (Veja quadro 8)

• Comunicando de forma respeitosa. Todas as pessoas, independentemente de sua função, devem sempre tratar as clientes de forma cortês, respeitosa e simpática. O pessoal do programa demonstra seu respeito pelas clientes quando presta atenção no que elas dizem, responde suas perguntas satisfatoriamente, nunca desprezando suas preocupações e questões, e compreende e cumpre os desejos das clientes (294, 344). Além disso, os programas devem respeitar o pudor das clientes e saber preservar a confidencialidade do contato com as mesmas (186).

Treinando o pessoal. Os gerentes de programa devem treinar suas equipes para que pensem nas necessidades das clientes e saibam se comunicar com as mesmas. Também (levem aprender de que forma manifestar seu respeito.

Recompensando o respeito. Os gerentes podem recompensar os funcionários que tratam as clientes de forma respeitosa. Podem medir o sucesso dos programas e dos provedores de acordo com a satisfação e não apenas o número de clientes do serviço. Para medir a satisfação cias clientes, os gerentes devem fazer pesquisas com as mesmas, pedindo-lhes sua opinião sobre o serviço recebido. O fato de que uma cliente volte mais tarde para obter outros serviços, demonstra também seu nível de satisfação.

Levantando o moral da equipe. O pessoal de planejamento familiar acaba tratando mal as clientes, se eles próprios tem que trabalhar em condições precárias, com pouco tempo, materiais, espaços ou remuneração. Nesses casos, os gerentes devem reconhecer os problemas e remediá-los, dentro do possível, e, ao mesmo tempo, deixar claro que as frustrações do pessoal não constituem razão para tratar as clientes de forma desrespeitosa. Também recomenda-se fazer promoções públicas que realcem a imagem dos provedores, juntamente com o treinamento adequado, elevando o moral e incentivando o pessoal a comportar-se de acordo com sua nova imagem.

Dando o exemplo. Os gerentes constituem um modelo de comportamento para o pessoal do programa. Se eles mesmos não tratam corretamente as clientes e o pessoal, não podem esperar que o pessoal o faça.

As clientes sabem quando são tratadas com respeito. As mulheres chilenas entrevistadas por uma clínica de planejamento familiar dirigida pelo Instituto Chileno de Medicina Reprodutiva (ICMER), declararam que "ser tratadas como seres humanos" era o principal elemento de identificação de um bom serviço de saúde (344). Em uma clínica dirigida pela Coalizão de Saúde das Mulheres de Bangladesh, uma mulher fez o seguinte comentário sobre o serviço que lhe foi oferecido: "Ouvi falar de planejamento familiar anteriormente, mas não desta forma. Esta foi a única clínica onde me ofereceram uma cadeira e me trataram como igual. Se soubesse que isso existia, acha que eu teria tido 6 filhos?" (161).

As pessoas que são tratadas com respeito desenvolvem o auto-respeito. Não é um contato rápido com um programa de planejamento familiar que vai revolucionar a vida das mulheres. Mas para muitas, o contato com um serviço de planejamento familiar de alta qualidade pode ser o primeiro passo, ou um passo à frente, ou ainda, quase uma revolução. No Chile, uma jovem mãe atribuiu a um serviço de planejamento familiar o mérito de melhorar sua auto-estima: "Agora me dou mais valor, passei a compreender que valho alguma coisa, que sou uma pessoa e chie sou eu que devo cuidar de mim..." (344).

Oferecimento de outros serviços de saúde reprodutiva

Quando se dá aos serviços de planejamento familiar uma orientação baseada em saúde reprodutiva, pode-se melhorara saúde das mulheres e ampliar suas opções. Judith Bruce e Anrudh Jain definem a orientação baseada na saúde reprodutiva como aquela que ajuda as clientes a atingir suas metas de fecundidade de uma maneira saudável (151). Esse sistema procura inicialmente garantir que as clientes disponham de serviços de planejamento familiar de alta qualidade e, em seguida, oferecer serviços adicionais para ajudaras mulheres a atender múltiplas necessidades de saúde no mesmo momento e local.

Para que sejam de alta qualidade, os serviços de planejamento familiar exigem os seguintes componentes: interação respeitosa e proveitosa entre provedor e cliente e pessoal de alto preparo técnico. Para garantir a alta qualidade, os programas de planejamento familiar devem: (1) determinar os serviços que poderão oferecer, (2) desenvolver padrões de atendimento definidos localmente, e (3) estabelecer procedimentos de garantia de qualidade (31). Por exemplo, as pessoas que aconselham as clientes quanto ao uso dos anticoncepcionais devem ter a qualificação necessária para explicar qualquer método oferecido, compreender as necessidades das clientes e ajudá-las a escolher entre as várias opções. As pessoas que executam procedimentos médicos necessitam ter treinamento técnico. Todo treinamento deve ser dado de forma a aperfeiçoar a perícia dos provedores, segundo um padrão demonstrado de competência. O acompanhamento e a supervisão reforçam os padrões de qualidade, para garantir que os programas ofereçam uma escolha informada de métodos, cuidados higiênicos e procedimentos médicos seguros. A organização AVSC International desenvolveu a técnica COPE e o Population Council criou o método conhecido como Análise Situacional para avaliar a qualidade da interação entre cliente e provedor e a capacidade técnica do provedor (200, 213).

Muitos médicos preferem a orientação baseada em saúde reprodutiva porque consideram que uma ida à clínica de planejamento familiar é uma oportunidade única para informar, triar e tratar as mais variadas condições de saúde reprodutiva das mulheres, bem como doenças transmitidas sexualmente (DTS) (87, 114, 362) e condições ocasionadas pela gravidez (156, 167). Além disso, pode-se orientar meninas e adolescentes no que se refere à nutrição, anemia e saúde em geral, de forma a evitar a morbidade e mortalidade ocasionadas por futuras gravidezes (1 15, 288, 362). Alguns programas poderão, ainda, achar mais conveniente tratar de todas as necessidades de saúde em uma única visita à clínica (33, 87).

Geralmente, as mulheres não vêem muita diferença entre suas necessidades de planejamento familiar, outras necessidades referentes à saúde reprodutiva e outras necessidades de saúde, incluindo a de seus filhos. Quando o pessoal de planejamento familiar não pode ajudar, as mulheres acabam sentindo que não está interessado em sua saúde (301). Na clínica ICMER no Peru, as mulheres queriam que as visitas à clínica fossem uma oportunidade para aprender mais sobre sua saúde reprodutiva e sobre como protegê-la. Elas preferiam discutir todos os seus problemas de saúde com um só provedor (344).

Quando se atende a várias necessidades de uma só vez, as mulheres sentem-se animadas a utilizar os serviços. Por exemplo, na Tunísia, um programa de planejamento familiar reconheceu que as novas mães tinham múltiplas preocupações: sobre a saúde do bebê, sua própria saúde e sua capacidade de amamentar (59). Por isso, uma clínica em Sfax começou a oferecer serviços neonatais, puerperais e de planejamento familiar, tudo em uma só visita. Convida-se as mulheres a comparecer à clínica 40 dias depois de dar à luz, ou seja, no dia tradicional em que uma nova mãe sai de casa pela primeira vez. Em 1987, 83% das mulheres que haviam dado à luz fizeram essa visita à clínica, sendo que 56% delas adotaram um método de planejamento familiar (59). Esta orientação está, agora, sendo adotada em todo o país.

No entanto, nem todas as mulheres necessitam de todos os serviços. Por exemplo, algumas mulheres desejam um método anticoncepcional mas não desejam submeter-se a um exame pélvico ou de Papanicolaeu. Quando se exige que as clientes aceitem serviços que elas não querem, corre-se o risco de que acabem não aceitando nenhum serviço (61).

Ao aconselhar as mulheres, os programas poderiam ainda ampliar seu enfoque, abordando outras questões além de gravidez e doença (76, 91, 94). Por exemplo, as mulheres têm o direito de negar-se a ter relações sexuais que não desejam, embora, freqüentemente, não possam fazê-lo. Para ajudar as mulheres em questões como essa, é preciso saber mais sobre suas vidas privadas. Ruth Dixon-Mueller argumenta que os provedores não podem atender às necessidades das mulheres referentes ao uso de anticoncepcionais, prevenção de doenças ou proteção contra a violência, se não souberem pelo menos um pouco sobre as formas de atividade sexual da cliente (76). Por exemplo, os provedores talvez necessitem saber se uma cliente tem vários parceiros sexuais ou se é forçada a ter relações sexuais contra sua vontade. São poucos os provedores de serviços de planejamento familiar preparados para extrair esse tipo de informação e fazê-lo com simpatia e compreensão. Será necessário um treinamento adequado e uma nova maneira de pensar sobre o papel dos provedores. Evidentemente, as clientes não devem ser forçadas a divulgar informações de foro íntimo, se não desejarem fazê-lo.

Ponderação sobre as opções dos programas. Cada programa deve determinar sua própria capacidade de oferecer novos serviços. Alguns programas podem estar com sua capacidade esgotada, por servir o máximo de clientes possível. A escassez de recursos limita o número de opções que esses programas podem oferecer. Outros programas talvez desejem atrair mais clientes, em cujo caso a ampliação dos serviços e a melhoria da qualidade poderão ajudá-los. Para decidir que serviços adicionar, cada programa deve avaliar as necessidades de suas clientes bem como os recursos disponíveis.

De qualquer forma, existem alguns princípios gerais que se aplicam a essas decisões. Elizabeth Maguire, Diretora Interina do Escritório de População da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, exorta os programas de planejamento familiar a considerar outros serviços de saúde reprodutiva "que beneficiem o maior número possível de mulheres, a um custo acessível, e que tenham o mais alto impacto na saúde pública" (201). Segundo esse critério, uma enfermidade grave e comum que possa ser tratada ou evitada, teria a mais alta prioridade. Os provedores e outros especialistas de saúde pública devem contar com a contribuição das clientes para decidir que enfermidades devem ser consideradas como graves (14, 33, 161, 344), sem abandonar, no entanto, seu critério profissional.

Muitos gerentes de planejamento familiar estão debatendo se devem oferecer serviços de tratamento de doenças transmitidas sexualmente. A inclusão dessas doenças nos serviços de planejamento familiar poderá ser apropriada, já que (1) as pessoas necessitam de cuidados de saúde, (2) os serviços combinados seriam uma conveniência adicional para as clientes, (3) a maioria das DTS podem ser tratadas, (4) o aconselhamento poderia ajudar as mulheres a evitar as DTS, e (5) a maior parte dos programas de planejamento familiar já faz distribuição de preservativos masculinos. Além disso, as doenças transmitidas sexualmente estão se propagando e trazem sérias conseqüências à saúde. Sabe-se que a infecção do vírus de imunodeficiência humana (HIV), que causa a AIDS, é mais prevalente naqueles que já estão infectados por outras DTS (veja o artigo "Controle das Doenças Transmitidas Sexualmente, no Population Reports, L-9, Junho de 1993). No entanto, alguns programas de planejamento familiar poderão ter dificuldades para incluir serviços de atendimento de DTS. É claro que os gerentes dos programas de planejamento familiar poderão optar por vários níveis de serviços voltados às DTS, a saber: (1) prevenção, incluindo informação, orientação e distribuição de preservativos e espermicidas; ou (2) além do item anterior, a execução de triagem e envio dos casos suspeitos de DTS para diagnóstico e tratamento em outras clínicas; ou (3) diagnóstico e tratamento, bem como prevenção e triagem inicial. O potencial de impacto e custos é diferente em cada nível.

O tratamento depois de um aborto séptico é outra necessidade importante, já que muitas mulheres morrem em decorrência de procedimentos feitos em condições perigosas. Na Conferência Internacional sobre População, realizada na Cidade do México em 1984, os delegados recomendaram aos governos que ajudassem as mulheres a evitar a realização de abortos, mas também que as tratassem de forma humana, quando elas tivessem se submetido a tal procedimento (368). As autoridades podem reduzir o número de mortes decorrentes de abortos, melhorando o tratamento oferecido depois de um aborto séptico e associando os cuidados pós-abortos com o aconselhamento e os serviços referentes ao uso de anticoncepcionais (361). Quando oferece o uso de anticoncepcionais a todos os que o desejam, os programas de planejamento familiar podem reduzir o número de abortos, alcançando principalmente as mulheres com alto risco de gravidez indesejada, incluindo adolescentes, além de oferecer orientação pós-aborto e serviços de planejamento familiar em hospitais onde as mulheres recebem o tratamento normal após tais intervenções.

Atualmente, em todo o mundo, desenvolve-se uma grande variedade de programas de saúde reprodutiva. Por exemplo, algumas organizações da África e América Latina, afiliadas à Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF), já oferecem orientação e encaminhamento dos clientes com sintomas de DTS (185). Na Colômbia, a Associação de Bem-estar da Família (Profamilia) oferece métodos anticoncepcionais, triagens de doenças transmitidas sexualmente, orientação sexual, clínicas para homens, prevenção de AIDS e até serviços jurídicos para homens e mulheres de baixa renda (316, 345).

Na Bolívia, uma coalizão de 18 instituições de saúde, públicas e privadas, lançou recentemente uma campanha nacional para promover serviços de saúde reprodutiva. O Programa Nacional Boliviano de Saúde Reprodutiva estimula os casais a usar serviços que melhoram a saúde geral da família, incluindo a redução da alta taxa de mortalidade materna. Esses serviços incluem o planejamento familiar, os cuidados pré-natais, cuidados adequados durante o parto e após o mesmo, promoção da amamentação e prevenção de abortos. Para informar as pessoas sobre esses serviços, as organizações contam com a ajuda técnica dos Serviços de Comunicação Populacional Johns Hopkins (JHU/PCS), tendo desenvolvido um logotipo da campanha, letreiros nas clínicas, posters, anúncios de rádio e televisão, vídeos para exibição nas clínicas, materiais para clientes e provedores e fitas de áudio que são transmitidas nos ônibus (285). A campanha informa aos casais que eles têm o direito e a responsabilidade de proteger a saúde das mulheres e crianças.

Fortalecimento das habilidades da mulher

Freqüentemente, a mulher necessita desenvolver sua habilidade e auto-confiança antes de poder aproveitar as novas oportunidades (140). A inclusão, nos programas de planejamento familiar, de atividades que reforçam a auto-segurança das mulheres, bem como sua capacidade de comunicação e de tomada de decisões, ajuda a prepará-las para exigir um tratamento mais justo e aproveitar novas oportunidades. No processo de prestação de serviços de saúde, a boa qualidade de um programa de planejamento familiar poderá ajudar a reforçar tais habilidades, ao:

• Ensinar as mulheres a fazer opções bem informadas, com relação a novas áreas de suas vidas;

• Dar apoio às opções feitas pelas mulheres;

• Estimular as mulheres a reconhecer e desenvolver seus pontos fortes;

• Aprimorar as habilidades das mulheres para comunicar-se com seus cônjuges e com outras pessoas fora de seu círculo familiar; e

• Criar novas imagens e modelos de mulheres competentes e homens solícitos.

Esses esforços no sentido de reforçar as habilidades não exigem, necessariamente, novos treinamentos, novas e elevadas despesas ou aumento de pessoal. Pode-se fazer muito durante o processo diário de atendimento às clientes. Uma mudança de atitude e uma modificação da ênfase podem ter resultados significativos. Veja foto

A tomada de consciência pode ser o primeiro passo. O fato de um serviço atender ou não às necessidades da mulher depende das pressuposições do provedor do serviço quanto aos homens e mulheres (veja a tabela 5). Por exemplo, se o provedor partir do pressuposto de que as mulheres são as únicas responsáveis pelo uso de anticoncepcionais, acabará organizando serviços que dificultam a obtenção de informações e de serviços por parte dos homens. Se, ao contrário, o provedor parte do pressuposto de que tanto homens quanto mulheres necessitam dos serviços, terá maior probabilidade de organizar um serviço que tanto os homens quanto as mulheres possam usar diariamente.

Como fazer opções bem informadas. As mulheres tomam muitas decisões ao longo de suas vidas, mas necessitam ter mais confiança para tomar as novas decisões, relacionadas com o controle de sua fecundidade ou com o cumprimento de novos papéis sociais. Um estudo realizado no México constatou que as mulheres jovens que haviam engravidado de forma não planejada eram, justamente, aquelas que não percebiam que podiam decidir por conta própria. Em comparação com outras jovens, não grávidas, as primeiras tinham menor probabilidade de estar informadas sobre anticoncepcionais, de ter discutido questões sexuais com suas amigas e de ter aspirações e planos para o futuro (249). Mulheres pesquisadas em regiões de países tais como Bangladesh, Gana, Jordânia, Mali, Nigéria, Paquistão e Tanzânia declararam não participar das decisões a respeito da procriação. Muitas disseram que apenas obedeciam às determinações de seus maridos ou de Deus (88, 184, 205, 231, 242, 317, 384) (veja o quadro 9).

Os programas de saúde reprodutiva podem ajudar as mulheres a fazer opções mais amplas. Ao discutir as necessidades e metas de reprodução com as clientes, os provedores podem dar a elas um conhecimento prático para avaliar as diversas situações e tomar decisões bem pensadas. Muitas clientes podem não estar familiarizadas com as decisões sobre fecundidade e, por isso, o processo exige habilidade e paciência por parte do provedor. O ideal é que o provedor passe as informações, ouça com atenção, estimule a discussão, ajude as clientes a reconhecer suas próprias necessidades e responda às suas perguntas. As clientes é que tomam as decisões quanto ao número de filhos que desejam ter e quando desejam tê-los e quanto à melhor forma de levar adiante seus planos (186).

Como apoiar as opções das mulheres. O respeito aos desejos das clientes ajuda a fortalecer a confiança das mulheres em sua própria tomada de decisões e o seu direito de tomá-las. Por exemplo, muitas mulheres já sabem quais os métodos anticoncepcionais que desejam, antes de fazer uma visita ao provedor de serviços de planejamento familiar (68, 82). É importante respeitar a preferência de uma mulher, se o que se deseja é satisfazê-la em termos do planejamento familiar (32). Na Indonésia, por exemplo, 91% das mulheres que receberam o método escolhido por elas mesmas, ainda o utilizavam depois de um ano, em comparação com somente 28% das mulheres que receberam um método que não tinha sido sua primeira opção (244). Um estudo de 6 países, realizado pela IPPF, constatou uma maior probabilidade de continuação do uso de anticoncepcionais quando as mulheres recebiam o tratamento que elas próprias haviam escolhido (142).

As opções escolhidas pelas mulheres refletem suas próprias necessidades. Os provedores não podem presumir o que uma mulher deseja ou necessita. Por exemplo, no Peru, algumas mulheres que participaram de grupos de enfoque disseram que preferiam o método do ritmo ou tabela porque lhes dava o direito de escolher quando ter relações sexuais. Além disso, o fato de usá-lo significa que tinham a inteligência para encarregar-se de sua própria vida. As mulheres escolhiam este método pois ele exigia a cooperação dos parceiros sexuais e essa cooperação, por seu lado, aprimorava o relacionamento entre os parceiros (247).

Portanto, para criar um serviço melhor, os gerentes devem procurar saber o que as clientes querem, preparando programas e treinando seu pessoal de forma correspondente. E, melhor ainda, eles podem envolver diretamente as clientes e membros e grupos da comunidade no planejamento e acompanhamento dos serviços. Mas é raro ver uma tal abordagem, preocupada com a cliente. Na verdade, as pressuposições dos provedores freqüentemente bloqueiam o acesso à anticoncepção e às opções quanto aos métodos utilizados (299). Às vezes, devido à falta de informação sobre os métodos, os provedores podem favorecer um em detrimento do outro, ou então evitar certos métodos. Devido às pressuposições negativas sobre os clientes, particularmente sobre as mulheres, os provedores podem negara elas a possibilidade de escolher um método ou desencorajar o uso de métodos que exijam uma ação por parte dos clientes, como por exemplo, o uso de métodos de barreira em cada ato sexual ou a ingestão de uma pílula anticoncepcional diariamente.

Como reconhecer o potencial da mulher. Uma boa orientação ajuda as mulheres a identificar seu potencial e desenvolvê-lo ao planejar suas vidas. Na índia, líderes de grupo do Instituto de Gestão de Saúde perguntavam a várias mulheres quem era a pessoa mais importante em seus lares. No início, nenhuma delas mencionava a si própria. Aí os líderes de grupo liam uma lista de tarefas domésticas e perguntavam às mulheres quem fazia cada tarefa em suas casas. Quando os líderes perguntavam de novo quem era a pessoa mais importante do lar, as mulheres respondiam, rindo, que eram elas mesmas (386). Uma boa orientação pode ajudar as mulheres a reconhecer que elas já planejam seu tempo, economizam dinheiro e alimentos e cuidam de suas famílias e de seus lares. Ao desenvolver essas habilidades, as mulheres podem aprender a planejar outros aspectos de suas vidas, incluindo suas vidas reprodutivas, área essa em que, anteriormente, podem ter dependido de outros. Reconhecendo seu próprio papel gerencial no lar, as mulheres adquirem mais confiança quando aplicam essas habilidades em outras situações. Um manual preparado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), sugere um exercício de ajuda às mulheres no desenvolvimento de sua auto-estima: as mulheres devem listar suas habilidades, tais como planejar seu tempo e organizar suas famílias. Em seguida, devem procurar imaginar como essas habilidades podem lhes ajudar numa situação de trabalho (336).

Como melhorar as técnicas de comunicação. Os programas de planejamento familiar podem ajudar as mulheres a manifestar-se sobre assuntos de seu interesse. Mais especificamente, os programas podem encorajar e capacitar as mulheres e homens a discutir o uso de anticoncepcionais e os aspectos de saúde reprodutiva. Os grupos de discussão de mulheres têm sido o meio mais utilizado para ajudar as mulheres a mencionar e discutir essas questões.

Para ajudar as mulheres a aprender a falar sobre o planejamento familiar, foi iniciado um programa na área rural de Bangladesh, com o apoio de JHU/PCS, que promove a organização de grupos de discussão voluntários. O programa foi montado de forma a atingir mais pessoas do que conseguiriam os representantes de planejamento familiar trabalhando no campo em visitas de casa a casa, sobretudo porque as mulheres estavam isoladas e não tinham o costume de discutir o planejamento familiar entre si ou com seus maridos. Os grupos de discussão, denominados Jiggasha (que significa "indagar"), são formados de homens e mulheres, separadamente. Os líderes dos grupos e os locais de encontro são escolhidos de forma a aproveitar as redes de comunicação existentes na comunidade.

As reuniões Jiggasha animaram as mulheres a discutir e usar o planejamento familiar. Cerca de 65% das participantes declararam que, depois de participar de várias reuniões, elas discutiram o planejamento familiar com seus maridos ou com outras mulheres no grupo, sendo que 50% declararam ter conversado com pessoas fora do grupo ou com um representante no campo dos serviços de planejamento familiar. 30% das mulheres começaram a usar um método anticoncepcional moderno e 20% visitaram uma clínica de saúde (169).

No início dos anos 90, os materiais para clientes e provedores produzidos na Bolívia para melhorar a qualidade dos serviços e a orientação sobre saúde reprodutiva, contribuíram para aumentar o nível de comunicação no lar. Pesquisas feitas antes e depois mostram que um número significativamente maior de clientes tinha conversado com seus cônjuges sobre o planejamento familiar depois de ver e receber os materiais - 95%, comparados aos 84% antes de veros materiais nas clínicas. Em comparação, o aumento entre os que não tinham visto os materiais - de 83% a 88%-não era estatisticamente significativo. (343). Produziu-se, depois, um vídeo denominado Hablemos en Pareja (Vamos conversar), que foi exibido nas salas de espera das clínicas para ajudar as clientes a superar as barreiras à comunicação que existem entre os cônjuges.

Os casais descobrem que é mais fácil discutir o planejamento familiar e a saúde reprodutiva depois que já discutiram o assunto com alguém do mesmo sexo. Os programas tais como Jiggasha podem ajudar nesse sentido. Por exemplo, as mulheres de uma área rural no norte da índia não podiam discutir doenças transmitidas sexualmente com seus maridos, mesmo sabendo da possibilidade de ser infectadas por eles. Depois de praticar a conversa em grupo, as mulheres estavam mais preparadas para abordá-las com seus maridos (332).

Quando estão atentos às convenções sociais, os provedores de planejamento familiar podem ajudar os casais a se comunicar melhor. Por exemplo, no México, uma pesquisa revelou que os casais consideravam indecoroso que uma mulher iniciasse a discussão sobre planejamento familiar. Cabia aos homens iniciar a discussão e decidir se o casal usaria um método de planejamento familiar. Por isso, os provedores montaram serviços de orientação para homens e mulheres incentivando que as mulheres iniciassem a discussão e que o casal tomasse uma decisão junto (256).

O fortalecimento das técnicas de comunicação é importante para as mulheres e homens que desejam o apoio e a cooperação de seus parceiros no planejamento de suas famílias e na proteção de sua saúde reprodutiva. Para alguns, a discussão pode ser um passo necessário para adotar a ação mais desejada. Por exemplo, de acordo com dados da DHS coletados em seis países africanos, as mulheres que aprovavam o planejamento familiar tinham maior probabilidade de usar um método anticoncepcional moderno se já tivessem discutido o planejamento familiar com seus maridos no ano anterior à entrevista, do que aquelas que aprovavam o planejamento familiar mas não o tinham discutido (veja a tabela 6). Os estudos realizados em Java e Coréia do Sul constataram que, quando os casais discutem o planejamento familiar com freqüência, eles têm maior probabilidade de usar um método anticoncepcional (168, 359). Além disso, a discussão entre os parceiros pode facilitar o uso contínuo dos anticoncepcionais. No estudo IPPF de 6 países, as mulheres que acreditavam ter a concordância de seus parceiros quanto ao uso de um método de planejamento familiar, tinham uma probabilidade significativamente mais alta de continuar a usar o método do que as mulheres que não tinham certeza se seus parceiros o aprovavam (142). Apesar de os estudos correlacionarem a comunicação conjugal com o uso de anticoncepcionais, a natureza dessa correlação não é óbvia. Não se sabe ao certo se uma maior comunicação leva a um maior uso anticoncepcional ou se, por outro lado, os casais falam mais da anticoncepção porque já adotam ou planejam adotar um método. Também, alguns casais podem não ter uma razão imediata para discutir o planejamento familiar - por exemplo, a mulher pode estar grávida, o casal deseja ter um filho ou eles não têm acesso a anticoncepcionais.

Novas imagens do homem e da mulher. Será mais fácil para a mulher aproveitar novas oportunidades quando a sociedade a respeitar como forte e competente. Os homens terão maior facilidade em ajudar as mulheres quando virem imagens positivas de homens que apóiam essas qualidades nas mulheres. A comunicação em matéria de planejamento familiar pode favorecer essas imagens, ao mostrar mulheres competentes e homens solícitos nas novelas, vídeos, filmes, anúncios e testemunhos de usuários (veja Anexo).

Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA

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