Population Reports - Série M - Nº 12 - Oportunidades para a mulher através da livre escolha reprodutiva - 04 - O uso de anticoncepcionais ajuda as mulheres a planejar
Equipe Editorial Bibliomed
A vida das mulheres jovens está mudando. Em praticamente qualquer parte do mundo, as
mulheres estão adiando o casamento (2). Em 29 dos 36 países que conduziram as Pesquisas
Demográficas e de Saúde, o percentual de mulheres que tinham casado até os 20 anos de
idade era pelo menos 10% menor entre as mulheres pesquisadas que tinham de 20 a 24 anos,
do que aquelas que tinham de 45 a 49 (356). Ao adiar o casamento, as mulheres têm maiores
oportunidades de estudo, para adquirir habilidades mais bem pagas e para escolher seus
maridos melhor ou mesmo para decidir não se casar. (Veja figura)
A possibilidade de evitar uma gravidez não desejada é um fator crítico que permite às
mulheres tomar decisões, especialmente em países onde uma gravidez inesperada apressa o
casamento ou onde ter filhos antes de casar tem conseqüências sociais e econômicas
desastrosas (74). Na América Latina e no Caribe, as Pesquisas de Saúde Reprodutiva de
Adultos jovens (YARHS) relatam que muitas mulheres são sexualmente ativas antes do
casamento, mas não usam anticoncepcionais consistentemente. Por exemplo, numa pesquisa
realizada em 1985 na Cidade do México, 13% das mulheres entre 15 e 19 anos, e 44% dos
homens declararam ter tido relações sexuais pré-maritais. No entanto, somente 22% das
mulheres e 31 % dos homens usaram métodos anticoncepcionais em sua primeira experiência
sexual. Entre as mulheres solteiras, de 15 a 24 anos, metade das gravidezes foram
involuntárias. Entre as mulheres casadas, na mesma faixa de idade, 11 % dos primeiros
filhos foram concebidos antes do casamento (216).
Mesmo assim, a oferta de anticoncepcionais a adolescentes e adultos jovens porém não
casados, continua a ser uma questão controversa. Alguns pais e autoridades estão
convencidos de que a disponibilidade de anticoncepcionais induzirá os adolescentes a ter
relações sexuais antes do casamento. Esta suposição é uma razão pela qual, seja
formal ou informalmente, muitos programas de planejamento familiar não podem servir a
jovens não casadas (333).
Na verdade, não se pode concluir que a maior disponibilidade de anticoncepcionais
estimule a prática sexual prematura (130, 228). A maior parte das pesquisas neste assunto
foi realizada nos Estados Unidos e outros países desenvolvidos. Por exemplo, uma
comparação internacional constatou que a educação sexual e os serviços
anticoncepcionais estavam mais disponíveis na Europa do que nos EUA. No entanto, a
atividade sexual entre adolescentes era tão prevalente no Reino Unido, França e Países
Baixos quanto nos EUA, ao passo que a ocorrência de gravidez entre adolescentes era muito
maior nos EUA (154). Outro estudo conduzido nos EUA constatou que as jovens que recebiam
educação sexual na escola, adiavam sua primeira experiência sexual e tinham menos
chance de engravidar (379). Existem também outros estudos que não descobriram qualquer
ligação entre a existência de clínicas de orientação sobre anticoncepcionais nas
escolas e a atividade sexual dos alunos (176).
Atividade anticoncepcional e educação
Para muitas mulheres jovens, a encruzilhada mais importante de suas vidas coloca, de um
lado, a continuação dos estudos e, de outro, uma gravidez prematura. Evidentemente, são
muitas as barreiras colocadas no caminho de uma jovem que busca aprimorar sua educação.
Alguns pais acham que vale mais a pena educar os filhos do que as filhas, porque existem
mais empregos e melhor remuneração para os primeiros (1 72, 193) (veja o quadro 6). Além disso, muitas jovens são
retiradas da escola para ajudar em casa (172, 197). Algumas famílias não se dispõem a
enviar as meninas a escolas distantes ou quando os professores são do sexo masculino
(329).
No entanto, quando chegam à puberdade, a maior ameaça à continuidade da educação das
meninas é uma gravidez. Quando isso acontece, as jovens geralmente abandonam a escola,
quando não são expulsas pelas autoridades escolares - fato que não ocorre com os
rapazes também responsáveis por tal gravidez. Em muitos países africanos, a gravidez é
a razão mais comum pela qual as garotas abandonam a escola e a razão principal pela qual
a taxa de abandono da escola é maior para as moças que para os rapazes (109).
Para que não sejam forçadas a abandonar a escola devido a uma gravidez involuntária, as
moças precisam estar preparadas para recusar as propostas sexuais indesejadas e ter
melhor acesso a anticoncepcionais, informações e orientação, se desejarem ser
sexualmente ativas. Também, as escolas devem ajudá-las para que as jovens continuem na
escola, ao invés de expulsá-las quando engravidam ou têm um filho.
Uma política que ajude às jovens a evitar a gravidez e permanecer na escola poderá
mudar, eventualmente, a atitude nesse sentido. Os pais e as comunidades poderão estar
mais interessados em investir na instrução de jovens do sexo feminino, se estiverem
convencidos de que dificilmente suas filhas ficarão grávidas e abandonarão a escola
(74). Além disso, aumentando o número de mulheres que terminam seus estudos e que obtêm
um trabalho remunerado, a percepção do potencial feminino começará a mudar, ajudando a
interromper o círculo vicioso que impede o desenvolvimento das mulheres. (Veja quadro 7)
Algumas jovens sabem que, ao evitar a gravidez, estão protegendo seu futuro. Por exemplo,
num estudo feito no Quênia, as alunas de classe socioeconômica mais alta tinham opinião
favorável ao uso de anticoncepcionais. Aquelas classificadas no quartil mais adiantado da
classe tinham quatro vezes mais probabilidade do que outras alunas de ter usado métodos
anticoncepcionais na sua última relação sexual. Estas jovens tinham condições
financeiras para comprar anticoncepcionais e reconheciam que uma gravidez prematura
colocaria em risco suas chances de sucesso acadêmico e segurança econômica (173).
As crianças se beneficiam de várias formas, quando seus pais utilizam os
anticoncepcionais. A educação parece ser uma área em que as mulheres passam o
benefício às suas filhas: tanto filhos e filhas de famílias menores têm melhores
oportunidades de educação que crianças de famílias maiores. Numa comunidade
tailandesa, em famílias que tinham no máximo três filhos, 44% das crianças haviam
cursado a escola secundária básica e 31%, a escola secundária superior. Em
comparação, nas famílias com quatro ou mais filhos, 24% haviam cursado a escola
secundária básica e 14%, a escola secundária superior. Nesse estudo, casais com
famílias pequenas e grandes eram agrupados de acordo com sua renda, religião,
residência, nível de instrução dos pais e grau de interesse dos pais quanto ao nível
de instrução de seus filhos. Todos os casais tinham tido acesso a métodos
anticoncepcionais modernos durante todos os seus anos reprodutivos (131, 178). De forma
similar, em Matlab, Bangladesh, as crianças de famílias menores permaneciam mais tempo
na escola porque não eram necessários em casa para cuidar de irmãos menores (100, 101).
Mesmo assim, tanto na Tailândia quanto em Bangladesh, os pais ofereceram uma educação
mais completa para os filhos do que para as filhas.
Uso de anticoncepcionais e emprego
São muito complexas as relações entre a condição da mulher, o emprego e a
procriação. Alguns estudos estatísticos detectam correlações entre uma menor
fecundidade e uma maior participação feminina na força de trabalho, ao passo que outros
estudos chegam a conclusões opostas (195). Tal inconsistência não causa surpresa,
devido à variedade de empregos e ocupações, características demográficas e
familiares, forças culturais e circunstâncias socioeconômicas em todo o mundo.
Apesar de a pesquisa estatística sobre a participação da mulher na força de trabalho e
sobre o uso de anticoncepcionais por parte das mulheres não ter permitido conclusões
definitivas, as ligações conceituais são evidentes. Com o uso eficaz de
anticoncepcionais, as mulheres estão mais capacitadas a trabalhar quando necessitam, sem
a interrupção provocada pelo nascimento não programado de filhos. Seu próprio trabalho
em casa poderá ficar mais fácil. Além de cuidar de crianças, as mulheres são
geralmente as que tratam de pessoas enfermas. As mulheres dos países em desenvolvimento
obtêm de 50% a 90% dos alimentos para suas famílias (340). Na maioria das áreas rurais,
as mulheres passam grande parte do tempo carregando água, providenciando combustível e
preparando refeições. É preciso estudar também as formas com que o espaçamento e a
limitação dos nascimentos influenciam as vidas diárias das mulheres que trabalham em
casa.
Nas situações em que uma gravidez não programada limita os tipos de empregos
disponíveis para as mulheres, o uso eficaz de anticoncepcionais pode lhes dar melhores
oportunidades de obter a segurança econômica de um emprego. Quando a mulher não dispõe
da garantia de que poderá evitar a gravidez, suas escolhas ocupacionais ficam limitadas.
Ela poderá ser forçada a contentar-se com trabalhos que podem ser combinados com o papel
de mãe, com flexibilidade de horário e que permitem ausências freqüentes. Esse tipo de
trabalho, quando existe, é caracterizado por uma remuneração baixa e estacionária.
São típicos do setor informal das economias em desenvolvimento, estando sobretudo na
agricultura ou no comércio informal. Mesmo no setor formal dos países desenvolvidos, as
mulheres sempre predominaram em atividades tais como enfermagem e ensino, onde os
empregadores não se importavam se uma gravidez forçava a professora ou enfermeira a
retirar-se depois de alguns anos no trabalho. Essas atividades eram vistas como ideais
para mulheres jovens, antes de formar suas próprias famílias, sendo que, por isso,
pagavam normalmente salários baixos e ofereciam menor possibilidade de promoção e menor
status (22).
São os estudos mais detalhados, e não as análises estatísticas de grande porte dos
níveis de fecundidade e participação na mão-de-obra, que oferecem uma visão mais
clara de como o uso de anticoncepcionais e o emprego estão interligados. Na Nigéria, por
exemplo, pesquisadores descobriram que mulheres jovens e solteiras, depois de terminada a
escola, usavam anticoncepcionais para poderem trabalhar mais tempo antes de se casarem. Em
uma área estudada, 75% das mulheres solteiras, entre 18 e 25 anos, estavam usando
anticoncepcionais a uma taxa superior a cinco vezes a prevalência do uso de
anticoncepcionais por mulheres casadas na mesma faixa de idade (40).
Evidentemente, muitos fatores além do uso de anticoncepcionais afetam a possibilidade de
emprego das mulheres. A autonomia das mulheres dentro do lar é um desses fatores (194).
Em alguns países, os hábitos culturais exigem que a mulher permaneça em casa,
independentemente de quais sejam suas preferências. Alguns empregadores discriminam as
mulheres, sobretudo porque partem do pressuposto de que as mulheres têm menor compromisso
com o trabalho que os homens. No entanto, nas economias em modernização, as mulheres
são uma parte cada vez mais importante da força de trabalho (340). Onde quer que esteja
disponível e seja aceito o uso de anticoncepcionais, os empregadores podem temer menos
que as funcionárias sejam forçadas a deixar o trabalho em função de uma gravidez não
planejada. Por outro lado, a possibilidade de que uma mulher fique grávida não constitui
razão suficiente para que lhe seja negado um trabalho.
Quando as mulheres têm acesso aos anticoncepcionais e a novas oportunidades econômicas,
muitas aproveitam ambos. Em Bangladesh, o Banco Graamen oferece pequenos empréstimos a
mulheres mais pobres, destinados a projetos de geração de renda. As mulheres participam
de reuniões freqüentes, durante as quais são aconselhadas por especialistas. Também
aprendem as "Dezesseis Decisões" - resoluções para executar mudanças em suas
vidas, incluindo o plantio de hortaliças, educação de filhos e formação de famílias
pequenas. As mulheres que tiram partido dessa nova oportunidade econômica têm maior
probabilidade de estar usando anticoncepcionais do que as mulheres que não estão
recebendo empréstimos (293).
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs,
The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore,
Maryland 21202-4012, USA
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