03 - Crescimento, mudanças e riscos

Equipe Editorial Bibliomed

Como grupo, os jovens estão entre os membros mais saudáveis da comunidade. Sobreviveram às doenças da infância e contam com os mais baixos índices de mortalidade de qualquer grupo etário, tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento (185, 540). Os riscos relacionados à atividade sexual e aos partos estão entre os mais graves enfrentados pelos jovens. Podem colocar em perigo não só a saúde física como também o bem-estar emocional, econômico e social a longo prazo. Os riscos que os jovens enfrentam contra sua saúde reprodutiva incluem:

  • Doenças sexualmente transmitidas (DSTs) incluindo a infecção pelo vírus da imuno deficiência humana (HIV), que resulta na doença AIDS;



  • Violência e coerção sexual, incluindo estupro, abuso sexual e o comércio do sexo;



  • Gravidez e parto demasiado precoces, com risco elevado de lesões, doenças e morte tanto para a mãe quanto para o bebê;



  • Gravidez involuntária, conduzindo geralmente a um aborto perigoso e a complicações posteriores.



Além disso, os jovens que se tornam pais muito precocemente, sobretudo as moças, enfrentam as conseqüências econômicas e sociais da interrupção dos estudos e de salários mais baixos.

Doenças Sexualmente Transmitidas


Milhões de jovens em todo o mundo são infectados por DSTs a cada ano (394). Entre todos os grupos etários dos EUA, por exemplo, as moças de idade entre 15 a 19 anos têm a mais alta incidência de gonorréia entre as mulheres, enquanto que os rapazes da mesma faixa etária têm a segunda maior incidência entre os homens (498). Além disso, pelo menos a metade — até 6 milhões — de pessoas infectadas pelo HIV têm menos de 25 anos (394). Com 1 milhão de casos de AIDS no mundo inteiro, a alta incidência constatada entre jovens com idade atual na faixa dos 20 anos indica que muitos se infectaram com o HIV antes de completar 20 anos. Os padrões de transmissão, tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento, indicam que as mulheres jovens constituem o grupo que enfrenta o mais alto risco de infecção pelo HIV, através de contato heterossexual (92). Por exemplo, num estudo recente feito no Zimbábue, 30% das moças grávidas, de idade entre 15 e 19 anos, eram HIV-positivas (508).

Os adultos jovens são particularmente vulneráveis às DSTs porque:

  • A maioria sabe pouco a respeito das DSTs, mesmo quando são sexualmente ativos (8, 303). Mesmo quando eles visitam clínicas de planejamento familiar, os jovens podem não receber informações específicas sobre as DSTs. No estudo feito na África do Sul, os voluntários jovens que buscavam preservativos receberam orientação sobre AIDS em somente 1 das 48 visitas às clínicas (5).



  • Mesmo quando estão informados sobre as DSTs, os adultos jovens usam os preservativos de forma inconsistente (146, 175).



  • Quanto mais cedo as pessoas se tornam sexualmente ativas, maior a probabilidade de trocar de parceiro sexual e, em conseqüência, de enfrentar maior risco de exposição às DSTs.



  • Os organismos patogênicos das DSTs podem penetrar mais facilmente no muco cervical das mulheres jovens do que no das mulheres mais velhas. O colo uterino de uma mulher jovem está mais sujeito à infecção gonorréica e à clamidíase bem como ao vírus do papiloma humano (HPV) que é transmitido sexualmente e causa o câncer uterino (64, 312, 340, 341).



  • Os adultos jovens podem relutar ainda mais do que os adultos a buscar tratamento para as DSTs, já que sua atividade sexual é desaprovada. Além disso, os jovens podem não saber que são portadores de uma doença. Podem ter vergonha de procurar uma clínica ou não dispor de acesso a uma clínica, ou ainda não dispor de recursos para pagar pelos serviços. Muitos procuram curandeiros tradicionais não qualificados ou obtém antibióticos em farmácias ou vendedores ilegais de medicamentos, sem se submeter a um diagnóstico adequado. O tratamento das DSTs, quando é inadequado ou incompleto, poderá mascarar os sintomas sem curar completamente a doença, tornando mais provável que a DST seja transmitida a outras pessoas e que resultem complicações tais como a infertilidade (185).



  • Em todo o mundo desenvolvido, milhões de adolescentes vivem ou trabalham nas ruas e muitos vendem sexo para ganhar a vida, aumentado sua exposição às DSTs (38, 60, 163, 225, 403, 404, 420).



  • Alguns jovens podem ser forçados a uma relação sexual e outros têm pouco poder na relação sexual para exigir o uso de preservativos, particularmente se o parceiro sexual for mais velho (324) — o que constitui um risco duplo, já que homens mais velhos têm maior probabilidade de estarem infectados (76). Em algumas áreas, os homens adultos que buscam parceiros sexuais não infectados para um relacionamento de curto prazo, buscam cada vez mais mulheres jovens (305, 352, 484).



Uma DST não tratada pode causar a infertilidade tanto em homens quanto mulheres, além de ter outras conseqüências devastadoras para as mulheres jovens e seus filhos. Nas mulheres, as DSTs, especialmente a gonorréia e a infecção clamídica, podem provocar a doença inflamatória pélvica (DIP), a qual pode acarretar danos irreversíveis às trompas de Falópio e, portanto, causar a infertilidade (65, 286, 411, 521, 541). Mesmo um único episódio de DIP aumenta o risco de gravidez ectópica, uma condição que pode ser mortal devido à hemorragia interna súbita e grave que é produzida quando a gravidez extra-uterina perfura a trompa de Falópio. A DIP também pode levar a dores pélvicas crônicas, à dor durante o coito, a irregularidade menstrual e a episódios repetidos de DIP (64). A infertilidade é particularmente trágica para mulheres jovens em culturas onde os filhos representam o meio principal de prestígio social da mulher (293, 541).

Em mulheres grávidas, as DSTs podem afetar a saúde do bebê bem como a saúde da mulher. As DSTs contribuem ao nascimento prematuro e ao baixo peso no nascimento (90, 286). A infecção pela sífilis e herpes genital pode causar aborto espontâneo, morte pré-natal ou perinatal (117). A gonorréia e a infecção clamídica podem atingir os olhos do bebê durante o nascimento, prejudicando a visão se não forem tratadas (184, 419).

Violência e Coerção Sexual


No mundo inteiro, adultos jovens e crianças sofrem os traumas físicos e emocionais da agressão sexual e do estupro (202, 463). Como grande parte da violência sexual não é divulgada, é difícil estimar quantos jovens sofrem do abuso sexual, coerção sexual, incesto ou violência. Freqüentemente, os responsáveis pela violência sexual contra crianças e jovens não são pessoas estranhas; pelo contrário, são parentes, vizinhos ou conhecidos (63, 356, 462). Quanto mais jovem for a mulher ao passar por sua primeira experiência sexual, maiores as chances de que essa experiência tenha sido forçada. Entre mulheres americanas, 74% e 60% das que tiveram relações sexuais antes dos 14 e 15 anos, respectivamente, declararam ter sido forçadas (17).

O abuso sexual na infância pode levar a um comportamento de alto risco mais tarde na vida, incluindo o início precoce da atividade sexual consensual (63, 72, 137, 463). Por exemplo, em Barbados, numa amostra de probabilidade de 407 homens e mulheres, o abuso sexual durante a infância era o fator determinante mais importante de uma atividade sexual de alto risco quando adulto jovem (188). Em um recente estudo realizado nos Estados Unidos com 535 mães jovens, 93% das quais engravidaram antes dos 17 anos, dois terços declararam ter sido agredidas sexualmente quando crianças. O estudo determinou que as jovens mães que tinham sofrido abuso sexual quando crianças tinham iniciado sua atividade sexual, em média, um ano antes do que outras pessoas de sua mesma idade que não tinham sofrido abuso sexual. Além disso, elas tinham maior probabilidade de ter consumido drogas e bebidas alcoólicas e menor probabilidade de ter usado anticoncepcionais (63).

Em todo o mundo, a pobreza força muitos jovens de ambos os sexos a exercer uma atividade sexual precoce como fonte de renda. Esses jovens geralmente dispõe de pouco poder de barganha em suas relações sexuais e poderão não ser capazes de se proteger contra a gravidez e as DSTs. Na Tailândia, estima-se que 800.000 moças de idade inferior a 20 anos usam a prostituição como fonte de renda. Na verdade, a prostituição já se tornou uma forma aceitável para as moças ganharem dinheiro antes do casamento (225). Em partes da África, algumas jovens têm relações sexuais com homens muito mais velhos que, em troca, pagam seus estudos ou lhes compram roupas e outras necessidades básicas (305, 352, 484).

Na América Latina, estima-se em 40 milhões o número de meninos da rua, número este que atinge 25 a 30 milhões na Ásia, e 10 milhões na África, crianças essas que fogem de seus lares devido à pobreza, abuso, abandono ou porque a AIDS os deixou órfãos (60, 163). Muitos meninos de rua são homens (38, 404). Somente no Brasil, cerca de 7 milhões de crianças e jovens vivem nas ruas das cidades. Outros 10 milhões trabalham nas ruas em tempo integral, muitos deles dedicados ao comércio sexual (60, 225, 403). Um estudo realizado no Brasil constatou que um terço das mulheres que viviam ou trabalhavam nas ruas e que já tinham tido relações sexuais declararam que tinham sido forçadas a tais relações (507). Como os "meninos de rua" são evitados pela comunidade e, freqüentemente, são recusados pelos serviços públicos, eles tendem a evitar o sistema de saúde, tornando-se particularmente difíceis de alcançar com os serviços de saúde reprodutiva.

Riscos da Gravidez Precoce para a Saúde

Quando uma mulher é muito jovem, a gravidez, seja ela desejada ou indesejada, pode se tornar perigosa tanto para a mãe quanto para o bebê. As complicações do parto e de um aborto feito sem segurança estão entre as principais causas de morte entre as mulheres com menos de 20 anos (394, 439, 461). Mesmo sob condições ideais, as jovens mães, especialmente as que têm menos de 17 anos, tem maior probabilidade que mulheres acima de 20 anos de sofrer complicações relacionadas à gravidez e de morrer devido ao parto (161, 327, 436, 490, 538). O risco de morte pode ser de duas a quatro vezes superior, dependendo das condições de saúde da mulher e de sua condição sócio-econômica (212, 275, 301, 329, 428). (Veja Foto 2) Por exemplo, em um estudo retrospectivo de cerca de 11.000 gravidezes durante um período de 5 anos, os resultados constatados em um hospital de Bengala Ocidental, na Índia, variaram de acordo com a idade, conforme se expõe a seguir:

Idade da mulher

Mortes maternas / 1.000 nascimentos Peso médio de recém-nascido Nascimento prematuro (%) Mortes perinatais / 1.000 nascimentos
12 a 19 3,80 1,9 kg 20 29,6
20 a 30 2,55 2,5 kg 16 18,4
Mais de 31 1,07 2,65 kg 11 4,3

Fonte: Mishra & Dawn 1986 (329)

As complicações da gravidez, que colocam em perigo a vida de mulheres de idade inferior a 20 anos, são os mesmos riscos que todas as outras mulheres enfrentam: hemorragia, septicemia, hipertensão ocasionada pela gravidez, inclusive pre-eclampsia e eclampsia, parto obstruído, causado por desproporção cefalopélvica, complicações resultantes de abortos inseguros, e anemia por deficiência de ferro. As mulheres jovens enfrentam riscos maiores que as mulheres mais velhas de hipertensão, desproporção cefalopélvica, anemia por deficiência de ferro, e abortos inseguros (7, 275, 281, 293, 330, 432, 451). Estes riscos são maiores nas mulheres mais jovens não só devido à sua idade, mas também porque os partos de mulheres mais jovens são geralmente seus primeiros partos, que são mais arriscados que o segundo, terceiro ou quarto partos. Fatores econômicos, tais como pobreza, subnutrição, falta de instrução, e falta de acesso ao atendimento pré-natal ou ao atendimento obstétrico de emergência, podem aumentar ainda mais o risco de uma mulher jovem de sofrer complicações relacionadas à gravidez (19, 212, 428). Entre as jovens, bem como entre as mais velhas, os riscos são maiores para as mulheres mais pobres, que são subnutridas e têm menores chances de obter um atendimento pré-natal.

A hipertensão induzida pela gravidez, quando não tratada, pode provocar parada cardíaca ou derrame, resultando em morte tanto para a mãe como para o bebê. A hipertensão ocorre mais freqüentemente entre as mulheres que estão tendo seu primeiro filho, sendo responsável por uma alta proporção das mortes de mulheres de idade inferior a 20 anos (293, 451).

A desproporção cefalopélvica — ou seja, o caso em que a abertura pélvica de uma mulher é muito pequena para permitir que a cabeça do bebê passe durante o parto — pode retardar ou evitar o parto vaginal. Em alguns casos, se não for possível realizar uma cesariana, o útero da mulher poderá se romper provocando a morte da mãe e do bebê. A desproporção pélvica é comum em mulheres muito jovens, cujo crescimento pélvico ainda não se completou, bem como em outras mulheres de qualquer idade cuja baixa estatura foi provocada por subnutrição quando crianças (281, 330). O parto prolongado associado à desproporção cefalopélvica aumenta o risco de fístula, ou seja, uma laceração entre a vagina e o trato urinário ou reto, que permite o vazamento de fezes ou urina pela vagina. Em muitos países africanos, as lesões de fístula ocorrem mais comumente em mulheres com menos de 20 anos, sendo o parto obstruído a principal causa destas lesões (394, 490, 538). A fístula pode ser reparada por cirurgia. No entanto, quando a mulher não tem acesso a um atendimento adequado, a lesão pode deixá-la incapacitada pelo resto da vida e excluída da comunidade.

Em muitas regiões, a anemia por deficiência de ferro é um fator importante em quase todas as mortes maternas. Uma mulher anêmica tem cinco vezes maior probabilidade de morrer por motivos ligados à gravidez do que uma mulher não anêmica (510). As mulheres anêmicas tem menor capacidade de resistir à infecção e de sobreviver à hemorragia e a outras complicações do trabalho de parto e do parto. A anemia contribui ainda ao nascimento prematuro e ao baixo peso do bebê (47).

A anemia por deficiência de ferro é particularmente comum entre mulheres grávidas, sendo que as grávidas mais jovens têm maior probabilidade de ficar anêmicas que as mais velhas, mesmo nos países desenvolvidos. Por exemplo, uma análise de oito estudos clínicos realizados nos EUA constatou que as mulheres grávidas com menos de 20 anos de idade tinham duas vezes a probabilidade de estar anêmicas do que as mais velhas (432). Um estudo feito nos EUA com adolescentes grávidas que freqüentavam uma clínica pré-natal, constatou que 70% tinham deficiência de ferro (47). O sangramento menstrual normal, uma dieta deficiente em ferro absorvível e a malária são as causas principais de anemia em mulheres grávidas. Para evitar a anemia durante a adolescência, as jovens necessitam de duas vezes mais ferro do que as adultas do mesmo peso (66, 537).

Falta de atendimento pré-natal. Um cuidado pré-natal adequado pode reduzir a mortalidade relacionada à gravidez e suas complicações, especialmente entre mulheres muito jovens (19, 161, 314, 353, 432). No entanto, nos países em desenvolvimento, muitas mulheres não contam com qualquer atendimento pré-natal (417) e as mulheres jovens são as que têm menor chance de obter esse tipo de atendimento, mesmo em países desenvolvidos (248, 460). Quando elas o conseguem, geralmente, já é no final da gravidez (293). Mesmo quando ele está disponível, o serviço de atendimento pré-natal pode não ser usado pois o parto é considerado normal para mulheres jovens e, portanto, como algo que não exige cuidados médicos.

Maiores riscos para os bebês. A gravidez antes dos 20 anos traz também riscos para o bebê da jovem mãe. Os dados das Pesquisas Demográficas e de Saúde (DHS) e de outros estudos demonstram que os índices de mortalidade e morbidade são mais altos entre os bebês nascidos de mães mais jovens (468). As mães mais jovens, especialmente aquelas com menos de 15 anos, enfrentam índices maiores de parto prematuro, aborto espontâneo, morte do bebê ao nascer e bebês de menor peso (161, 314, 329, 353, 394, 428, 432, 434, 464, 493, 538). Quando o bebê sobrevive, o alto risco de morte persiste durante toda a primeira infância (32, 56, 113, 314, 329, 432, 464, 468, 490, 493).

Gravidez Involuntária e Complicações Resultantes de Abortos Perigosos


Quando se deparam com uma gravidez involuntária, muitas jovens mulheres buscam o aborto como solução, mesmo quando ele não é legal ou seguro. As estimativas de abortos entre mulheres de idade inferior a 20 anos nos países em desenvolvimento variam de 1 milhão a 4,4 milhões, anualmente. A maioria desses abortos é feita sob condições precárias de segurança, sendo que para algumas mulheres, esses abortos inseguros resultam em incapacidade permanente, infertilidade ou morte (65, 106, 227, 319, 394, 566). Quando o aborto não é seguro, ele pode se constituir num dos maiores riscos de saúde que uma mulher jovem, sexualmente ativa, enfrenta na vida (301).

As mulheres com menos de 20 anos contribuem de forma desproporcional ao número de casos de complicações de abortos e de mortes daí resultantes que são relatados por hospitais dos países em desenvolvimento (207, 394, 410, 473). Por exemplo, estudos feitos na América Latina demonstraram que de 14% a mais de 40% das mulheres hospitalizadas por complicações de abortos durante os anos 80 tinham menos do que 20 anos (34, 397). Em estudos conduzidos na África, os percentuais eram ainda mais altos: as mulheres com menos de 20 anos eram responsáveis por até 68% das complicações de abortos tratadas em alguns hospitais (9, 11, 78, 328). As mulheres jovens e solteiras têm maior probabilidade que mulheres mais velhas de recorrer a pessoas não capacitadas para fazer um aborto, bem como de tentar abortos tardios e, freqüentemente, auto-induzidos (54, 147, 220, 394, 538). Além disso, devido ao medo, vergonha, falta de acesso ou falta de dinheiro, as mulheres jovens têm maior probabilidade de adiar a busca de cuidados médicos adequados quando surgem complicações após um aborto (566).

Os riscos dos abortos perigosos à saúde incluem a septicemia (infecção) causada por instrumentos anti-higiênicos ou abortos incompletos, hemorragia, lesões aos órgãos genitais (tais como laceração cervical e perfuração uterina), além de reações tóxicas a substâncias químicas e medicamentos usados para induzir o aborto. Entre as complicações não fatais incluem-se a infertilidade e a fístula vesicovaginal (241, 282).

Conseqüências Sociais e Econômicas da Procriação Precoce

Para as mulheres jovens que apenas começaram sua vida adulta, os riscos da procriação não terminam no parto. Comparada com uma mulher que adia a procriação para depois dos 20 anos, a mulher que tem seu primeiro filho antes dessa idade tem maior probabilidade de:

  • Obter um nível mais baixo de instrução,



  • Contar com menos possibilidades de emprego e rendimentos mais baixos,



  • Se divorciar ou se separar de seu parceiro (405, 450), e



  • Viver na pobreza.



As conseqüências sociais da procriação precoce variam de acordo com as várias culturas. Quando as mulheres se casam cedo e começam a procriar também cedo, a maternidade acaba trazendo maior prestígio social e respeito. Quando se espera de uma mulher que prove sua fertilidade como parte do processo matrimonial — como ocorre em algumas partes da África — mesmo a gravidez involuntária pode melhorar as circunstâncias sociais da mulher jovem, ao acelerar o processo do matrimônio ou garantindo o suporte econômico (55, 373, 398). Também nos casos em que as moças têm poucas chances de continuar seus estudos ou de conseguir um trabalho remunerado, a maternidade precoce, mesmo se a moça não for casada, pode ser vista como a melhor rota em direção à maturidade e à satisfação social (49, 50, 398, 458).

No entanto, muitas sociedades condenam as jovens mulheres solteiras que dão à luz e consideram que elas merecem o sofrimento emocional e econômico (366). Assim, muitas famílias preferem dar suas filhas em casamento quando ainda estão muito jovens, para evitar o risco de que uma moça engravide antes de casar. Em sociedades onde o divórcio é inaceitável, as mulheres forçadas a se casar cedo por estarem grávidas, certamente enfrentarão a violência e o abandono sem possibilidade de recurso (359). Se uma mulher jovem engravidar antes do casamento, ela poderá ser expulsa de casa ou enviada para longe. Se uma mulher jovem sentir que as sanções sociais e familiares são demasiado fortes para suportar, ela poderá fugir ou tentar o suicídio (293). Em todo o mundo, é desproporcionalmente alto o número de suicídios cometidos por adolescentes grávidas (89, 162).

Conseqüências educacionais. As mulheres jovens que iniciam muito cedo o processo de procriação, têm nível de escolaridade mais baixo do que as mulheres que adiam a procriação para depois dos 20 anos (272, 273, 406). Nos países em desenvolvimento, as estudantes que ficam grávidas raramente voltam à escola, sejam casadas ou solteiras (178). Somente no Quênia, cerca de 10.000 alunas são forçadas a abandonar a escola a cada ano por estarem grávidas (154). No Quênia e em outros países, as escolas freqüentemente expulsam mulheres jovens que ficam grávidas, apesar de raramente se tomar medidas contra os alunos homens que também sejam responsáveis por uma gravidez. Muitas mulheres jovens arriscam abortos perigosos para evitar ter que deixar a escola. Apesar de alguns países estarem modificando sua política de expulsão de alunas grávidas, a maioria delas não podem voltar à escola pois devem cuidar dos filhos (178). Alguns programas de extensão e centros femininos em todo o mundo procuram ajudar essas jovens mães a combinar a função maternal com a escola (232, 385, 409). Por exemplo, o Programa de Centros Femininos da Jamaica relatou que 64% de suas participantes voltaram à escola, comparado com 15% das não participantes (232). Infelizmente, programas como esse são pouco freqüentes. (Veja Foto 3)

Conseqüências econômicas. Devido às mudanças sociais e econômicas que estão ocorrendo em todo o mundo em desenvolvimento, as conseqüências econômicas da paternidade precoce são, freqüentemente, mais extremas e duradouras hoje em dia do que no passado. Cada vez mais os jovens, sejam homens ou mulheres, se dão conta de que necessitam de trabalhos remunerados e que, para obtê-los, é preciso se educar. Na verdade, onde as mulheres jovens contam com poucas oportunidades de avançar economicamente, como nas áreas rurais de muitos países em desenvolvimento, a procriação precoce pode não piorar a sua perspectiva econômica. A maioria das áreas urbanas oferece algumas oportunidades de trabalho remunerado à uma mulher jovem, desde que ela tenha a habilidade necessária. Nas cidades, portanto, se uma mulher tem um filho antes dos 20 anos, ela poderá sofrer as mesmas dificuldades econômicas que mulheres semelhantes de países desenvolvidos, principalmente porque sua instrução foi interrompida (209, 530). Na relação entre a pobreza e a paternidade precoce, a causalidade parece existir em ambas as direções (582). Quanto mais pobre a mulher, maior a probabilidade de que tenha filhos ainda jovem, ao passo que aquelas que têm filhos ainda jovem têm maior probabilidade de continuar pobres (23, 43, 179, 273). No caso extremo, muitas jovens mães solteiras são forçadas a praticar o comércio sexual para manter-se a si e aos filhos (516).

A maioria dos países em desenvolvimento toma poucas medidas legais para exigir que o pai dê suporte financeiro à mãe e ao filho. Mesmo quando esse suporte é exigido, como no caso dos EUA, o cumprimento da lei é irregular ou ineficaz. Em algumas sociedades, as jovens mulheres solteiras que dão à luz recebem suporte econômico do pai da criança ou de sua família, sobretudo quando o pai reconhece oficialmente a paternidade (373). Este suporte poderá ser suficiente para salvar a jovem mãe da pobreza, como demonstra um estudo chileno (79), mas o suporte poderá ser irregular ou ser interrompido depois de alguns anos (530). (Veja Foto 4)

Conseqüências para os rapazes. Apesar da paternidade precoce poder aumentar o prestígio social de um jovem em determinadas sociedades, os rapazes que se tornam pais muito cedo podem perder oportunidades de melhorar seu nível de instrução ou progredir economicamente. Quando eles se casam, deixam a escola para poder manter sua nova família (440). Só recentemente, os pesquisadores começaram a analisar o impacto da paternidade adolescente sobre homens jovens nos países desenvolvidos (42, 277, 369, 453). Pouca informação existe no caso dos países em desenvolvimento.

Custos sociais. Especialmente quando as famílias não oferecem o suporte econômico aos jovens pais e seu bebê, a procriação precoce impõe um custo à sociedade. Estes custos, raramente quantificados, incluem a perda de produtividade de jovens com baixo nível de instrução e empobrecidos, que se tornaram pais muito precocemente, especialmente as jovens mães (82), além das despesas incorridas pelos serviços governamentais. Nos EUA, o serviço de bem-estar social gasta anualmente US$10 bilhões com mulheres que tiveram o primeiro filho antes de completar 20 anos (77). Apesar dos custos de bem-estar social não serem tão altos na maioria dos outros países, os custos de saúde para jovens mães e seus filhos podem representar uma parte considerável dos gastos totais em seguro social.

Atenção às Necessidades e Prevenção dos Problemas

Os adultos jovens formam um dos maiores grupos cujas necessidades de serviços de saúde reprodutiva continuam insatisfeitas. Necessitam ser capazes de se proteger contra o sexo indesejado, as DSTs, a gravidez não planejada, a procriação precoce e os abortos perigosos. Infelizmente, os adultos jovens enfrentam, geralmente, esses riscos sozinhos. Em muitas partes do mundo, o apoio tradicional da família e da comunidade não se encontra mais disponível ou não consegue mais acompanhar a realidade que muda continuamente. As medidas sociais e de saúde organizadas pela comunidade ainda não conseguiram preencher as lacunas, se bem que, em certos lugares e apesar da controvérsia, tais medidas começam a ser implantadas. Apesar da revolução na área de planejamento familiar ter ajudado a atender às necessidades de saúde reprodutiva de muitas mulheres casadas e casais mais velhos, os jovens foram deixados à margem desse processo.

Com muita freqüência, quando os adultos discutem os jovens, a palavra mais usada é "problema", ou seja, o problema da gravidez, o problema das DSTs, os problemas de comportamento, de instrução dos jovens e da falta de responsabilidade. Mesmo assim, os jovens são o potencial de crescimento e desenvolvimento de uma sociedade. São eles os pais, trabalhadores e líderes de amanhã. Para atender às necessidades de saúde reprodutiva dos adultos jovens de hoje é preciso muito mais do que resolver problemas. Exige-se investimento no potencial dos jovens, ajudando-os a prevenir e resolver seus problemas por conta própria.


Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA

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