A Morbidade Materna

É possível que a mulher que sobreviva às complicações da gravidez sofra problemas de saúde subseqüentes, inclusive dor pélvica crônica, doença inflamatória pélvica e infertilidade secundária (96, 154, 166, 292). Também podem correr maior risco de ter uma gravidez ectópica (uma condição que potencialmente coloca a vida em risco, na qual o óvulo fertilizado se implanta e se desenvolve fora do útero, geralmente em uma das trompas de Falópio), um parto prematuro, um aborto espontâneo, um prolapso uterino e incompetência cervical, porque o colo uterino se dilatou excessivamente ou sofreu lesão (292).

Apesar do pouco conhecimento sobre o alcance da morbidade materna nos países em desenvolvimento, é estimado que ocorrem entre 16 e 100 episódios de doença ou incapacidade por cada morte materna (148). A evidência mais recente sugere que estes cálculos provavelmente sejam baixos demais. Em Bangladesh, por exemplo, por cada morte materna, mais 73 mulheres sofreram graves doenças relacionadas à gravidez e no Egito, 56 mulheres. Quando cada episódio de morbidade relacionada à gravidez foi contado separadamente (entre eles a morbidade menor e a morbidade múltipla na mesma mulher), foram somadas até 700 doenças maternas em Bangladesh, mais de 1.000 no Egito e quase 600 na Índia por cada morte materna (75).

Além de afetar a saúde física da mulher, estas doenças também podem ser prejudiciais para seu bem-estar socio-econômico se afetarem a sua capacidade de trabalhar ou de interrelacionar-se com a comunidade (49, 55, 74, 245, 258, 292). Nos países em que a mulher define sua condição social pela sua capacidade de ter filhos, a infertilidade pode ser emocional, social e economicamente devastadora (289).

A fístula obstétrica, uma das morbidades mais sérias e mais comuns relacionadas com a gravidez, resulta do parto obstaculizado. Uma fístula é uma abertura entre a vagina e o reto (fístula reto-vaginal) ou entre a vagina e a bexiga (fístula vésico-vaginal) que permite que as fezes ou a urina entrem na vagina. Uma mulher com fístula sofre de incontinência, e o odor consequente e falta de higiene, que resultam da fístula, causam desconforto à mulher, que freqüentemente é rejeitada pela sua comunidade. A fistula obstétrica pode ser tratada cirurgicamente, mas a maioria das mulheres nos países em desenvolvimento não tem acesso a este tipo de tratamento.


Resposta à Necessidade

Os países desenvolvidos, geralmente têm tecnologias e sistemas administrativos de saúde que podem evitar a maioria das mortes e doenças maternas. Embora o tratamento médico apropriado das complicações relacionadas com a gravidez, geralmente, não requeira equipamento nem treinamento especial em tecnologia avançada (74, 148, 209, 289), em muitos países em desenvolvimento não existe atenção médica disponível, ou a mulher não pode chegar à unidade de saúde em tempo. Sendo assim, torna-se difícil, senão impossível, separar a causa médica imediata de uma morte materna dos fatores sociais, econômicos e culturais que levam e influenciam esta condição médica e seu tratamento (67, 74, 253). Sendo que a mortalidade materna está intrinsecamente relacionada com tantos fatores sociais, a OMS e UNICEF a descrevem como um "indicador crítico da condição social da mulher, de seu acesso à atenção médica e da capacidade do sistema de saúde para responder a suas necessidades", incluindo a disponibilidade, acessibilidade e aceitabilidade do planejamento familiar e a atenção durante a maternidade (4, 295).