Capítulo 02 - Choque, Parada Cardíaca e Hipotensão Ortostática Capítulo 02 - Choque, Parada Cardíaca e Hipotensão Ortostática

Robert C. Leinbach
Roman W. Desanctis e
Mark R. Goldman


Choque

Para os propósitos deste capítulo, o choque será definido como uma hipoperfusão sintomática, isto é, uma síndrome clínica que consiste de sintomas e sinais que podem ser atribuídos a uma perfusão inadequada da circulação sistêmica. Normalmente, o organismo mantém uma cabeça pressórica, cuja média é igual ao produto do débito cardíaco pela resistência periférica total. Enquanto a cabeça pressórica for mantida, o organismo pode alterar sua perfusão através de um leito vascular, alterando a resistência deste leito. Se a alteração da resistência de um leito vascular específico for pequena, essencialmente não ocorre alteração da resistência total e não há necessidade de uma alteração compensatória do débito cardíaco. Sob certas condições, como, por exemplo, febre, as necessidades metabólicas dos tecidos requerem um aumento da perfusão em muitos leitos vasculares e cai a resistência periférica total, com uma queda subseqüente da pressão sangüínea central. O mecanismo barorreceptor atua num padrão de retroalimentação negativa, aumentando o efluxo simpático e o débito cardíaco, através do aumento da freqüência cardíaca e da contratilidade do miocárdio, sendo que ambos tendem a levar a pressão arterial de volta ao normal. O coração, assim, atua como uma bomba de débito variável, proporcionando perfusão através dos leitos vasculares cuja resistência pode ser alterada de modo independente.

A síndrome do choque ocorre quando a perfusão total no circuito sistêmico diminui ao ponto de não mais conseguir satisfazer as necessidades metabólicas, levando ao aparecimento de sinais, sintomas e distúrbios metabólicos do choque. Como cai a perfusão total, o fluxo sangüíneo é desviado de leitos vasculares de baixa prioridade (como pele, músculos e áreas esplâncnicas), numa tentativa de manter a perfusão de órgãos vitais. Finalmente, os próprios órgãos vitais podem sofrer uma perfusão inadequada, resultando em profundos distúrbios de seu metabolismo, numa perturbação de sua função e na liberação de substâncias na corrente sangüínea que acabam contribuindo para a síndrome do choque.55,64 Ao nível celular, a principal resposta à hipoxia engendrada pela hipoperfusão é uma mudança do metabolismo aeróbico para o anaeróbico, resultando em acidose láctica.44

Até um certo ponto, a lesão causada pelo choque é reversível. Entretanto, ocorrem lesões irreversíveis dos órgãos e óbito, se o estado de choque não for revertido em tempo. A recuperação de um paciente chocado depende da idade desse paciente e do seu estado básico de saúde, da presença ou ausência de patologias que compliquem o choque, da gravidade do estado de choque e do tempo interveniente até a sua reversão.

Etiologia e Classificação do Choque

De um ponto de vista simplista, porém terapeuticamente útil, o choque pode ser dividido em duas categorias fisiológicas principais: (1) choque com pressões de enchimento cardíaco normais ou baixas e (2) choque com pressões de enchimento cardíaco elevadas (Quadro 2-1).

Choque com Pressões de Enchimento Cardíaco Normais ou Baixas

O choque hipovolêmico é a forma mais comum deste tipo de choque e resulta de perdas substanciais de sangue, plasma ou líquido extracelular.

O choque hemorrágico segue-se a perdas maciças de sangue por quaisquer causas, especialmente trauma, hemorragias gastrintestinais, ruptura de aneurismas ou após cirurgia. O líquido extracelular pode ser perdido do trato gastrintestinal em quantidade suficiente para causar choque, como resultado de vômitos ou diarréia. Queimaduras, pancreatite aguda, anafilaxia e o uso excessivo de diuréticos constituem algumas das causas de choque hipovolêmico. Perdas de líquido por cetoacidose diabética, diabetes insípido e insuficiência adrenal constituem outras causas mais comuns.

O assim chamado choque distributivo é causado por um colapso do tônus vasomotor - habitualmente tanto arterial quanto venoso - e o represamento resultante de sangue na periferia.11 As pressões de enchimento cardíaco são baixas. O choque neurogênico constitui um exemplo deste tipo de choque e segue-se a lesões da medula espinal ou tronco encefálico, anestesia espinal ou geral ou doses excessivas de drogas depressoras, como, por exemplo, barbitúricos. Uma hipoxia mantida devido à parada cardíaca concomitante pode contribuir para a gênese do choque neurogênico. Efeitos excessivos de drogas vasodilatadoras e graves reações vagais podem também causar choque distributivo. O choque séptico, na verdade, também envolve uma má distribuição de volume.

O choque séptico é uma causa comum e importante de choque com baixa pressão de enchimento. Ele se relaciona, o mais comumente a graves infecções por bactérias gram-negativas e à liberação de endotoxinas bacterianas para dentro da corrente sangüínea. As endotoxinas são lipopolissacarídios complexos que constituem parte da parede celular de bactérias gram-negativas. Entretanto, o choque séptico não relacionado a endotoxinas pode também seguir-se a infecções por organismos gram-positivos, vírus, riquétsias e fungos.62 Uma forma importante e recentemente reconhecida de choque séptico é a assim chamada síndrome do choque tóxico, que aparece tipicamente após uma infecção vaginal localizada por Staphylococcus aureus, em mulheres menstruadas, podendo estar relacionada, em alguns casos, a tampões vaginais. 18,40,105,108 A síndrome do choque tóxico é causada, principalmente, por uma exotoxina estafilocócica.96 Uma condição patológica semelhante foi relatada também como complicação ocasional, porém grave de influenza e patologias influenza-símiles.70

Choque com Pressões de Enchimento Cardíaco Elevadas

O choque cardiogênico é o mais comum desta categoria de choque e habitualmente é conseqüente a infarto ventricular esquerdo maciço. Estudos patológicos mostraram que pacientes que obituam por choque cardiogênico, conseqüente a infarto do miocárdio, habitualmente perderam 40% ou mais de seu miocárdio ventricular esquerdo.81 Infartos menores podem estar associados a choque cardiogênico se houver desenvolvimento de complicações mecânicas, como, por exemplo, ruptura da parede do ventrículo esquerdo, ruptura do septo interventricular ou ruptura ou grave disfunção de um músculo papilar. O choque cardiogênico pode seguir-se também a miocardite: aguda, lesão do miocárdio durante cirurgias cardíacas, repentina e grave disfunção valvar (habitualmente regurgitação aórtica ou mitral) e graves arritmias cardíacas, especialmente em pacientes com patologia cardíaca preexistente. Pode ocorrer também terminalmente em qualquer processo miocardiopático e pode representar uma manifestação terminal de estenose ou regurgitação aórtica.

O choque cardiogênico ocasionalmente se segue a maciços infartos ventriculares direitos. Apesar de estes serem quase sempre associados a certo grau de infarto ventricular esquerdo inferior, também a disfunção que causa o choque pode ser predominante ou exclusivamente ventricular direita. 23.68

A obstrução do enchimento cardíaco constitui outra causa de choque com pressões de enchimento elevadas. No tamponamento cardíaco, as pressões de enchimento dos lados direito e esquerdo se elevam, à medida que o coração é comprimido pelo líquido pericárdico.99 A freqüência cardíaca aumenta em resposta à redução progressiva do débito corrente; porém, se o débito cardíaco não puder ser mantido adequadamente, a pressão arterial cai e segue-se o choque.

Embolia pulmonar maciça causa choque através da obstrução do fluxo sangüíneo pulmonar, levando à insuficiência cardíaca direita aguda e a comprometimento do enchimento ventricular esquerdo. Outras causas de choque devido à obstrução do enchimento cardíaco incluem tumores oclusivos intracardíacos e trombos. A trombose aguda de válvulas protéticas pode também causar choque com pressões de enchimento elevadas.

Deve ser evidente que as pressões de enchimento elevadas que acompanham este tipo de choque podem provir de um ou ambos os lados da circulação, num dado paciente. Assim, no choque cardiogênico devido a infarto ventricular esquerdo, a pressão de enchimento elevada pode estar presente apenas do lado esquerdo. De modo semelhante, no infarto ventricular direito e na embolia pulmonar maciça, apenas as pressões do lado direito se encontram aumentadas. Todos os tipos de permutações são possíveis.

Além disso, é importante reconhecer que esta distinção entre pressões de enchimento elevadas e baixas é arbitrária. As origens do choque podem ser múltiplas, num dado paciente, como, por exemplo, um paciente com insuficiência cardíaca apresentando uma maciça hemorragia gastrintestinal.

Além disso, todo estado de choque que durar por um tempo suficiente eventualmente levará à disfunção cardíaca. Assim, pacientes em fases terminais com choque e pressões de enchimento cardíaco baixas podem desenvolver pressões de enchimento elevadas quando o coração fica insuficiente, no final.

Fisiopatologia do Choque

Existe uma multiplicidade de fatores que contribuem para a patogênese da síndrome do choque. Conforme foi observado, independente da causa, o denominador comum do choque é a perfusão inadequada dos tecidos e órgãos do organismo. Em muitos pacientes com choque, esta diminuição do suprimento de sangue ocorre em face de um aumento da demanda tissular, como no caso do choque séptico com febre elevada.

No choque cardiogênico, a função de bomba do coração está comprometida a ponto de não mais poder satisfazer as necessidades dó organismo. O débito cardíaco e a pressão arterial caem a medida que se elevam as pressões de enchimento. No choque hipovolêmico, a diminuição da perfusão constitui simplesmente o resultado de um volume intravascular reduzido, secundário às perdas de sangue ou líquidos. No choque séptico, ocorre represamento e seqüestro diferenciais do sangue em compartimentos vasculares de maiores dimensões, como, por exemplo, no leito esplâncnico, reduzindo, assim, a quantidade de sangue disponível para a sustentação de outras áreas, mais vitais.

A resposta do sistema nervoso adrenérgico, ativado reflexamente em resposta à hipotensão, desempenha um papel-chave na patogênese do choque.1 A estimulação betaadrenérgica resulta em taquicardia e aumento da contratilidade do miocárdio, numa tentativa de manter o débito cardíaco. A estimulação simpática alfaadrenérgica causa vasoconstrição na maioria dos grandes leitos vasculares, especialmente nas zonas cutânea, muscular, esplâncnica e renal. A ativação do sistema renina-angiotensina, em resposta à constrição arterial renal, pode estimular ainda mais a constrição arterial periférica.7 Inicialmente, esta vasoconstrição é vantajosa, servindo para manter a pressão de perfusão arterial. Entretanto, ela priva os tecidos, simultaneamente, de uma quantidade adequada de sangue, contribuindo substancialmente para a isquemia tissular e tornando-se eventualmente deletérica, se persistir por tempo suficiente.

Além disso, Lillehei e colaboradores mostraram, em modelos animais de choque, constrição tanto venular pós-capilar quanto arteriolar pré-capilar.67 Se o estado de choque for mantido, as arteríolas pré-capilares relaxam, porém persiste a constrição venular pós-capilar. Esta ação aumenta a pressão hidrostática intracapilar, promovendo o movimento de líquido para fora dos capilares e daí para o tecido circunjacente. O movimento de líquido dos capilares pode ser acentuado pela lesão das paredes capilares devido à hipoperfusão. O sangue dentro dos capilares se toma concentrado e espesso. Ocorre perda de volume adicional do espaço intravascular e a perfusão tissular local é ainda mais comprometida pelos capilares obstruídos. A síndrome da coagulação intravascular disseminada pode ser também desencadeada.52 É muito provável que estes fenômenos ocorram também em seres humanos em grave estado de choque.

O fato de as prostaglandinas poderem desempenhar um papel na fisiopatologia do choque séptico foi sugerido por estudos que mostram que a inibição da síntese de prostaglandina melhora a hemodinâmica de animais que recebem injeções de endotoxina purificada.41 O tromboxano A2 pode também contribuir para a patogênese do choque séptico. Em animais, a inibição seletiva da síntese do tromboxano melhora a sobrevida.109,115 Esse efeito ainda não foi demonstrado em seres humanos.

Privar os tecidos de oxigênio e de outros nutrientes leva a falhas nas vias de metabolismo oxidativo e a uma mudança para o metabolismo anaeróbico. O resultado é a produção de ácido láctico, que pode levar a grave acidose metabólica. Esta pode não apenas comprometer ainda mais as funções de órgãos vitais, como também diminuir a resposta a medidas terapêuticas, como, por exemplo, as catecolaminas exógenas.

De todos os órgãos, os rins são especialmente vulneráveis a uma hipoperfusão prolongada, e a insuficiência renal aguda causada por necrose tubular aguda constitui uma evolução comum do choque.

O trato gastrintestinal pode também sofrer necrose isquêmica devido à isquemia esplâncnica mantida. A perturbação da barreira mucosa intestinal pode permitir a absorção de toxinas bacterianas formadas no intestino.39 Estas podem continuar a promover o desenvolvimento da síndrome do choque.

Como observamos anteriormente, se o choque persistir por tempo suficiente, o coração eventualmente passa a ficar insuficiente, aumentando a dificuldade de manutenção de uma perfusão sistêmica adequada.

Utilizando a cintilografia, Parker e seus colegas documentaram a depressão da função miocárdica (redução da fração de ejeção e dilatação ventricular) em pacientes em choque séptico.82 Naqueles que se recuperaram, essas anormalidades habitualmente melhoraram dentro de 10 dias após o choque. Não se sabe se isso resultaria de uma redução da perfusão miocárdica ou de um fator depressor miocárdico humoral ,propriamente dito, elaborado na corrente sangüínea, durante o estado de choque. Na verdade, acumulam-se as evidências de existência de um fator de depressão do miocárdio, no choque - algo que já foi proposto há anos.30,78,83

Os problemas respiratórios são freqüentes. O assim chamado pulmão de choque apresenta uma possibilidade especialmente elevada de ocorrer no choque séptico e há evidências de que as toxinas associadas à sépsis causariam lesão endotelial capilar pulmonar.20 Traumas pulmonares devidos a queimaduras ou traumas diretos do tórax podem complicar ainda mais os problemas pulmonares. Patologicamente, o pulmão de choque apresenta edema dos septos alveolares, embolia por plaquetas, coagulação intravascular e colapso alveolar. É comum haver sépsis superposta. Essa constelação pode dar origem à síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA), uma complicação com elevado índice de fatalidade.3

Quadro Clínico

As manifestações clínicas da síndrome do choque dependem em grande parte da etiologia e gravidade do último. Tipicamente, ocorre presença de vasoconstrição cutânea e a pele é fria, viscosa e mosqueada. O mosqueamento é a primeira alteração observada, e é mais evidente na pele sobre os joelhos. Pacientes com choque séptico, entretanto, podem estar quentes, secos e ruborizados. O pulso é rápido e fraco e os pulsos periféricos podem não ser detectáveis. As respirações são rápidas e o paciente pode parecer estar "com fome de ar". As respirações podem ser desencadeadas em parte pela acidose metabólica. A pressão arterial sistólica é habitualmente 90 mmHg ou menos, porém pode ocorrer choque com pressões arteriais mais elevadas. A diminuição da perfusão cerebral pode levar à inquietação e obnubilação. Os pacientes freqüentemente ficam mexendo desorganizadamente nas roupas de cama.

O tipo de choque freqüentemente determina manifestações clínicas adicionais. O choque hemorrágico habitualmente causa palidez extrema, e pacientes em choque devido a perdas hídricas maciças apresentam olhos fundos, com uma pele flácida, seca, enrugada. Pacientes hipovolêmicos podem queixar-se de sede intensa.

Uma febre elevada - 40 a 41ºC - constitui a regra, no choque séptico. A insuficiência cardíaca congestiva freqüentemente acompanha o choque cardiogênico, dando origem a dispnéia, taquipnéia, cianose, estertores, um galope com B3, edema pulmonar radiológico e baixa PO2 arterial. A pressão venosa deve ser cuidadosamente avaliada em relação a causas de choque associadas a pressões de enchimento direito elevadas. O pulso paradoxal pode constituir uma pista em relação à presença de tamponamento cardíaco, porém pode ser observado em muitas condições nas quais um baixo débito cardíaco se combina com uma respiração exagerada.

Independente da causa do choque, habitualmente há presença de vasoconstrição renal e o débito urinário é inferior, em geral, a 25 ml/h. Enquanto a função renal permanecer intacta, a urina apresenta uma concentração de sódio inferior a 10 mEq/l.

O perfil hemodinâmico de pacientes em choque é, assim, bastante variável. Tipicamente, as pressões arteriais média e sistólica e o débito cardíaco encontram-se reduzidos e a resistência periférica encontra-se aumentada. Entretanto, no choque séptico e no choque neurogênico o débito cardíaco pode ser elevado e a resistência periférica, baixa .74,79,110 A derivação arteriovenosa periférica pode contribuir para o elevado débito cardíaco no choque séptico.21 O perfil hemodinâmico típico do choque cardiogênico é uma pressão arterial média de 60 mmHg ou menos, com pressões de enchimento esquerdas de 18 a 20 mmHg ou mais e um índice cardíaco inferior a 21/min/m2.33,104 Os padrões hemodinâmicos de várias causas de choque encontram-se listados no Quadro 2-2.

Abordagem do Paciente em Choque

De modo geral, a causa da síndrome do choque pode ser rapidamente suspeitada com base na anamnese e contexto clínico. Trauma, hemorragia, sépsis, queimaduras e anafilaxia podem constituir manifestações evidentes e a presença de um infarto agudo do miocárdio pode ser clara. Todavia, o tratamento inicial deve ser orientado pela impressão clínica e achados físicos, uma vez que o atraso no início de um tratamento eficaz pode acelerar o desenvolvimento de alterações irreversíveis nos órgãos sensíveis à variação de fluxo.

Em todos os pacientes, deve-se obter um ECG e uma radiografia de tórax portátil. O ECG é importante no diagnóstico de infarto do miocárdio, pericardite, embolia pulmonar ("sobrecarga cardíaca direita") e distúrbios de ritmo que podem acompanhar e agravar a síndrome do choque. A radiografia torácica pode mostrar evidências de congestão pulmonar, infecção ou pulmão de choque. Em pacientes com dissecção da aorta ou aneurismas torácicos rotos, pode-se revelar alargamento mediastinal; em pacientes com tamponamento cardíaco, a sombra cardíaca pode aparecer globular. Se o clínico suspeitar de tamponamento, a ecocardiografia pode ser útil na determinação da presença de líquido pericárdico, porém o líquido no espaço pericárdico, por si só, não confirma o diagnóstico de tamponamento. O tamponamento é sugerido por achados ecocardiográficos adicionais como, por exemplo, colapso diastólico ventricular direito ou atrial direito, e é confirmado através de dados hemodinâmicos obtidos durante o cateterismo cardíaco direito.

A abordagem inteligente de pacientes em choque requer uma monitorização cuidadosa, especialmente se o choque não responder rapidamente a medidas terapêuticas simples. Sempre que possível, deve-se colocar, na artéria pulmonar, um cateter com balão na ponta, guiado pelo fluxo (Swan-Ganz), a partir de um local venoso periférico.104 O balão insuflado oclui o ramo periférico da artéria pulmonar onde se encontra e a pressão medida na extremidade do cateter é denominada de pressão capilar pulmonar ou em cunha. Ela reflete indireta, porém muito precisamente, as pressões de enchimento cardíaco esquerdas. Quando o balão é desinsuflado, mede-se a pressão da artéria pulmonar. Na ausência de uma hipertensão pulmonar de longa duração, a pressão diastólica da artéria pulmonar constitui um bom indicador da pressão em cunha, se o balão não puder ser adequadamente insuflado.95 Cateteres mais novos incorporam, numa única unidade, um orifício separado para a mensuração das pressões de enchimento direitas e um eletrodo sensível ao calor para a mensuração do débito cardíaco, utilizando-se técnicas de termodiluição.43 Estes dados são inestimáveis para a abordagem de pacientes em choque complicado.

Em pacientes com função cardíaca normal, a pressão venosa central sistêmica, isoladamente, constitui um guia útil para a reposição de volume, quando a função ventricular for normal.80 Pode-se admitir com segurança que as pressões de enchimento esquerdas são 1,5 a 2 vezes maiores que as do lado direito. Deve-se reconhecer, entretanto, que a pressão venosa constitui o reflexo de muitos fatores diferentes, incluindo o volume intravascular, o tônus do leito de capacitância intravascular e a capacidade do ventrículo direito de acomodar volume.22 Uma pressão venosa elevada pode ser devida a anormalidades em qualquer uma dessas variáveis ou em todas elas.

Além de um cateter arterial pulmonar, é importante um cânula arterial de demora - habitualmente na artéria radial - permitindo a monitorização constante da pressão arterial e determinações periódicas da PO2 arterial. O débito urinário a cada hora deve ser medido através de um cateter urinário de demora e o ECG deve ser constantemente monitorizado.

A determinação da resistência periférica pode ajudar a orientar a terapia. A resistência periférica é calculada através da seguinte fórmula:

Resistência periférica total =

pressão arterial sistêmica média (mmHg) -
pressão venosa sistêmica média (mmHg)
índice cardíaco (1/min/m2)

A resistência periférica normal é de 20 a 30 unidades de resistência/m2 de superfície corporal. (Multiplicando-se o valor por 801 obtemos a resistência em dirias s/cm-5.)

Tratamento do Choque

Nunca é demasiado enfatizar-se ao máximo que o principio mais importante no tratamento do choque é a identificação da causa, instituição do tratamento adequado e reversão do estado de choque o mais rápido possível. Quanto mais tempo persistir o choque, menos provável sé torna sua reversão. Algumas causas de choque exigem por si só uma intervenção urgente. Por exemplo, o tamponamento cardíaco requer uma pericardiocentese imediata. A embolia pulmonar pode responder à terapia trombolítica, porém quando for realmente maciça, pode requerer embolectomia de emergência Se arritmias cardíacas forem responsáveis pelo choque, elas devem ser rapidamente interrompidas.

Volume

Em qualquer paciente com choque, e especialmente no choque hipovolêmico, é importante assegurar que o volume intravascular fique num nível ótimo. Enquanto persistirem a hipotensão e a síndrome do choque, deve-se administrar volume até que a pressão venosa sistêmica fique na faixa de 10 a 12 mmHg (12 a 16 em H2O), em pacientes com função cardíaca normal. Na presença de disfunção ventricular esquerda, habitualmente é ideal uma pressão pulmonar em cunha de 18 a 20 mmHg.28,42 Pressões de enchimento mais elevadas podem resultar em congestão pulmonar, sem aumento do débito cardíaco ou pressão arterial.

Na presença de pressões de enchimento elevadas normais ou no limite superior, uma rápida infusão de volume, na forma de solução fisiológica, dextrose, plasma ou albumina a 5% pode ser útil. O volume pode ser administrado numa velocidade de 300 ml por hora. Se as pressões de enchimento permanecerem estáveis, pode-se administrar volumes adicionais com uma velocidade menor, até que as pressões de enchimento se elevem ou a hipotensão e os sinais de choque desapareçam. Se as pressões de enchimento se elevarem abruptamente em 3 a 5 mmHg e permanecerem elevadas, a reposição contínua de volume geralmente não mais será útil e a velocidade de infusão de volume deve ser acentuadamente reduzida.

O tipo de líquido escolhido para a reposição de volume deve ser adaptado, obviamente, à causa do choque hipovolêmico. O sangue constitui indicação clara, quando o choque for devido a hemorragia.98 Pode-se usar soluções aproximadas para repor líquido e eletrólitos perdidos através do trato gastrintestinal. Líquidos que contêm albumina são adequados para pacientes que perderam grandes quantidades de plasma, como ocorre em queimaduras e pancreatite aguda. Apesar de haver defensores da inclusão de colóide como parte de todas as reposições de volume no choque hipovolêmico, não existem evidências sólidas de que os líquidos que contêm colóides sejam superiores as simples soluções cristalóides. Através do aumento da pressão oncótica do plasma, a albumina pode ajudar a reter o volume infundido dentro do compartimento vascular e pode ter certa utilidade quando tal efeito for desejável, como, por exemplo, quando a hipovolemia complica o choque cardiogênico com edema pulmonar.

As calças antichoque militares (MAST*) têm sido usadas no choque hipovolêmico, especialmente em hemorragias maciças. A compressão dos membros propele o sangue para as regiões centrais e a insuflação do compartimento abdominal pode ajudar a tamponar o sangramento intra-abdominal por tempo suficientemente prolongado para permitir que o paciente se estabilize até que se possa executar uma cirurgia de emergência. Seu uso é limitado basicamente à situação pré-hospitalar e ao tratamento em pronto-socorro de pacientes que sofreram hemorragias maciças, habitualmente do trato gastrintestinal ou de aneurismas aórticos abdominais rotos.

A correção da acidose e da hipoxemia é vital, no tratamento do choque. Deve-se fazer um esforço combinado no sentido de levar o pH arterial a um nível de 7.3 ou mais. A melhora da perfusão sistêmica e a obtenção de uma oxigenação arterial máxima são cruciais em relação a esta questão. Se necessário, pode-se administrar bicarbonato de sódio endovenoso, na forma de bolos intermitentes de 45 mEq em -50 ml de líquido. Se a acidose for recorrente ou mantida, pode-se administrar bicarbonato de sódio a 5% na forma de infusão constante, porém não é provável que tal terapia seja bem sucedida, a não ser que a perfusão sistêmica seja simultaneamente melhorada.

Uma oxigenação arterial adequada é vital e é obtida com uma PO2 arterial na faixa de 80 a 110 mmHg. Para se obter esta PO2, pode ser necessária a intubação endotraqueal, em pacientes com angústia respiratória. Concentrações elevadas de oxigênio (FIO2 de 90 a 100%), potencialmente tóxicas para os pulmões, podem precisar ser aceitas pelos menos por um período curto, se houver presença de pulmão de choque ou edema pulmonar.77

Catecolaminas


Apesar de as catecolaminas apresentarem efeitos potencialmente adversos, no choque, elas constituem a classe de drogas mais útil para este tratamento. Seus efeitos deletéricos derivam do fato de poderem potencializar a constrição arterial periférica, já lesiva, causar arritmias cardíacas e aumentar a necessidade de oxigênio do coração. Todavia, elas desempenham um papel importante no tratamento do choque. Suas ações alfaadrenérgicas causam vasoconstrição sistêmica e, por isso, aumentam a pressão arterial, enquanto que seus efeitos agonistas betaadrenérgicos aumentam a contratilidade do miocárdio.

As aminas simpaticomiméticas disponíveis para uso clínico exibem uma ampla gama de propriedades adrenérgicas, desde aquelas que são agonistas alfaadrenérgicas puras numa das extremidades do espectro (p. ex., metoxamina e fenilefrina) até aquelas que são betaagonistas puras, na outra extremidade (p. ex., isoproterenoi). 107A maioria apresenta graus variáveis de ações alfa e betaestimulantes. O Quadro 2-3 lista as várias catecolaminas atualmente disponíveis para uso clínico, assim como suas posologias; e propriedades.

Todas as catecolaminas com propriedades alfaadrenérgicas são capazes de produzir vasoconstrição. Esta ação pode ser prejudicial, especialmente nos leitos esplâncnico e renal. Uma exceção é a dopamina, que, em doses baixas a moderadas, dilata seletivamente as artérias renais. Denominada de efeito dopaminérgico, esta ação aumenta o fluxo sanguíneo renal e o débito urinário. Utilizada isoladamente ou em combinação com outras drogas, a dopamina pode ser uma droga útil no tratamento do choque, devido à sua ação única.69,75

Outra catecolamina com propriedades incomuns é a dobutamina. Essa droga não apresenta atividade alfaadrenérgica e sua estimulação de receptores beta é dirigida mais para os receptores betacardíacos que medeiam o inotropismo do que para os relacionados ao cronotropismo. Assim, a dobutamina pode aumentar a contratilidade do miocárdio com uma propensão menor de desencadear taquicardia e arritmias que outras catecolaminas.56 Ela pode ser especialmente útil no tratamento do choque cardiogênico.45

Como pode ser visto no Quadro 2-3, as ações de agonista simpaticomimético das diferentes catecolaminas podem ser dose - dependentes. Por exemplo, a dopamina em doses inferiores a 6mg/kg/min exerce seu efeito dopaminérgico sobre os rins. Entretanto em doses mais elevadas, os efeitos alfaadrenérgicos podem causar constrição arterial renal, contrabalançando, assim, o efeito dopaminérgico. O equilíbrio entre as ações alfa e betaestimulantes pode alterar-se também, com a dosagem das outras catecolaminas.

A seleção de uma catecolamina, ou a combinação destas drogas, deve ser feita de modo a adaptar-se individualmente às necessidades de cada paciente. As mensurações da resistência periférica podem ser muito úteis para orientar essa terapia. Por exemplo, se a resistência periférica for baixa, como no choque distributivo ou no choque séptico, uma droga com uma ação predominantemente alfaadrenérgica, tal como a fenilefrina, pode ser a mais eficaz. Uma resistência periférica elevada pode requerer uma droga com atividade agonista predominantemente betaadrenérgica, como o isoproterenol ou a adrenalina.

Freqüentemente, as combinações de catecolaminas são preferíveis a uma droga única. Assim, no choque cardiogênico, dopamina a baixas doses, 1 a 4 mg/kg/min, pode encorajar um aumento do débito urinário, enquanto que a administração concomitante de uma droga inotrópica mais poderosa, como, por exemplo, a adrenalina, a noradrenalina ou a dobutamina, em doses adequadas, pode elevar o débito cardíaco.

Sempre que possível, as catecolaminas devem ser administradas através de uma veia central. Pode ocorrer esfacelamento da pele após infiltração de tecido em locais periféricos. Não se pode dar regras rígidas e rápidas para a infusão de catecolaminas, porém o objetivo é, geralmente, atingir-se uma pressão arterial sistólica de 90 a 100 mmHg ou nas faixas de 60 a 75 mmHg. Deve-se observar que há possibilidade de haver efeitos adversos das catecolaminas no choque. Estes efeitos incluem suas propriedades arritmogênicas e também a potencialização do que poderia já ser uma vasoconstrição periférica deletéria. Além disso, aumentando a freqüência cardíaca, a pressão arterial e o inotropismo, eles podem elevar substancialmente as necessidades miocárdicas de oxigênio. No contexto de um infarto agudo do miocárdio, tal ação pode contrabalançar o efeito benéfico de um aumento da pressão de perfusão da artéria coronária e resultar na extensão da lesão do miocárdio. Assim, no choque cardiogênico, no contexto do infarto agudo do miocárdio, preferimos elevar a pressão arterial através de outros meios, como, por exemplo, contrapulsação com balão intra-aórtico.33 Entretanto, apesar dos efeitos benéficos da contrapulsação, ainda pode ser necessário administrar catecolaminas, apesar de seus efeitos potencialmente nocivos para manter uma pressão crítica de perfusão coronariana.

Drogas Vasodilatadoras

Em modelos experimentais de choque, mostrou-se que drogas vasodilatadoras, como a fenoxibenzamina, podem melhorar a perfusão orgânica e ajudar a impedir o choque irreversível.67 Entretanto, o papel das drogas vasodilatadoras no choque humano é incerto. Todas podem potencializar a hipotensão. Elas podem ser úteis, ocasionalmente, no tratamento do choque séptico ou do choque hemorrágico quando ambas persistirem após uma reposição volumétrica adequada. Se for tentado o uso de vasodilatadores, deve-se utilizar apenas drogas endovenosas com curta duração da ação. Estas incluem o nitroprussiato de sódio, 10 a 80 mg/min EV ,17 a nitroglicerina, 25 a 150 mg/min EV46 ou a fentolamina, 1 a 3 mg/kg/min EV.48 No choque cardiogênico, a nitroglicerina endovenosa em baixas doses pode ajudar a aliviar a isquemia do miocárdio. De modo geral, entretanto, a terapia com vasodilatadores não se tem mostrado muito útil no choque cardiogênico ou, quanto a isso, mesmo nos outros choques. Se forem usadas drogas vasodilatadoras, deve-se prestar muita atenção às pressões de enchimento cardíacas, à pressão arterial e ao estado volumétrico do paciente. Administradas por via endovenosa, doses maciças de corticosteróides foram propostas para o tratamento do choque, porém seu papel é incerto.10,97 Se eles tiverem alguma utilidade, ela pode ser devida ao fato de que, em grandes doses, elas também possuem uma ação vasodilatadora. As doses habituais de "choque" situam-se na faixa de 30 mg/kg de metilprednisolona, 100 a 200 mg/kg de hidrocortisona ou 3 mg/kg de dexametasona. Um estudo controlado de corticosteróides no choque séptico mostrou que, no grupo tratado com esteróides, o estado de choque foi revertido mais rapidamente, porém não havia diferenças na taxa final de sobrevida.102 Eles também não levaram a uma melhora da sobrevida no choque hemorrágico.88

Outras Medidas Terapêuticas

A administração pronta de antibióticos tem importância crítica no tratamento do choque séptico.58 Não existem esperanças de reversão do choque séptico a não ser que a infecção seja controlada. Se a bactéria responsável for desconhecida, deve-se iniciar imediatamente uma cobertura de amplo espectro, como, por exemplo, oxacilina ou nafcilina e um aminoglicosídeo. A febre alta deve ser tratada vigorosamente com cobertores de resfriamento, se necessário.

Um tratamento novo. potencialmente útil, porém experimental para o choque séptico foi o desenvolvimento de um anti-soro dirigido especificamente contra o núcleo lipopolissacarídeo da endotoxina.116 Esta substância foi preparada através da injeção, em indivíduos masculinos normais, de Escherichia coli mutante J5 morta por calor. Num estudo controlado aleatorizado, o anti-soro foi comparado com o soro de controle pré-imune administrado nos pacientes por via endovenosa, logo que possível após o início do choque. Este choque foi causado por várias bactérias gram-negativas diferentes. A sobrevida em pacientes tratados foi significativamente melhor que nos controles. A avaliação desta terapia ainda está sendo feita.

Em animais experimentais, o hidrocloreto de naloxona , um antagonista opiáceo, mostrou melhorar a sobrevida em choque causado por endotoxina, lesão medular e hipovolemia.84 Entretanto, ainda faltam evidências de um efeito benéfico semelhante em seres humanos. 11,54

Os glicosídeos digitálicos não são habitualmente úteis, no choque, exceto no controle dos distúrbios de ritmo cardíaco, como, por exemplo, fibrilação atrial. Sua ação inotrópica é tão fraca, em comparação mesmo com doses pequenas de catecolaminas, que eles não possuem nenhum papel no tratamento do choque agudo. Entretanto, alguns pacientes que se recuperam - especialmente aqueles com choque cardiogênico - podem beneficiar-se da administração prolongada de um glicosídeo digitálico.

A amrinona endovenosa, uma droga bipiridamínica não-catecolamínica com ação inotrópica, pode ser tentada em casos terminais de insuficiência cardíaca ou choque cardiogênico.8 Ela é iniciada com um bolo de 0,75 mg/kg administrados em 3 a 5 minutos. As doses de manutenção são de 2 a 5 mg/kg/min e podem ser aumentadas para até 20 a 50 mg/kg/min, se necessário e tolerado. Reações colaterais comuns incluem arritmias ventriculares e mal-estar gastrintestinal. Várias drogas inotrópicas semelhantes estão sendo investigadas.

Assistência Circulatória Mecânica e Choque Cardiogênico

Apesar de terem sido desenvolvidos muitos sistemas de assistência circulatória e de estarem sendo desenvolvidos outros, a forma mais prática e amplamente utilizada, atualmente, é a contrapulsação com balão intra-aórtico. 14 Com a perfeição das técnicas de inserção percutânea, atualmente um operador habilidoso precisa apenas de alguns minutos para colocar um balão intra-aórtico. A contrapulsação com balão intra-aórtico constitui nosso tratamento de escolha imediata no choque cardiogênico.14,33 Inserido na aorta torácica descendente a partir de uma artéria femoral, o balão é programado a partir de um ECG para desinsuflar-se durante a sístole e insuflar-se durante a diástole. A desinsuflação sistólica reduz a pressão arterial sistólica e, por isso, a pós-carga sistêmica, enquanto que a insuflação diastólica produz um pulso na diástole com uma pressão de perfusão que é freqüentemente maior que a pressão sistólica gerada pelo coração. No choque cardiogênico, as conseqüências hemodinâmicas são bastante uniformes, apesar de a magnitude da alteração variar consideravelmente de paciente para paciente. Assim, o débito cardíaco se eleva, enquanto que as pressões de enchimento sistólicas arterial e do lado esquerdo caem (Fig. 2-1). O que é mais importante e contrasta com as catecolaminas, é que estas melhoras hemodinâmicas são conseguidas a um custo de oxigênio menor, pelo coração - uma consideração importante no infarto agudo de miocárdio. Além disso, a elevada pressão diastólica pode aumentar a perfusão coronária.

A contrapulsação com balão intra-aórtico habitualmente leva a uma pronta melhora do choque cardiogênico que complica o infarto agudo do miocárdio, apesar de medidas concomitantes serem freqüentemente necessárias, como, por exemplo, as catecolaminas e a reversão da acidose. Raros pacientes em choque cardiogênico melhoram rapidamente e podem ser desligados do suporte em um dia, aproximadamente. Presumivelmente, trata-se de pacientes com grandes zonas de miocárdio "atordoado", porém com isquemia reversível. Infelizmente, a maioria dos pacientes em choque cardiogênico apresenta uma melhora inicial, no decorrer do primeiro dia, aproximadamente, seguido de uma deterioração inexorável. Não é incomum que os pacientes se tomem dependentes do balão. Tratados apenas com contrapulsação com balão e medicações, 80 a 90% dos pacientes obituam no hospital e a maioria dos poucos que sobrevivem está destinada a sofrer de insuficiência cardíaca congestiva.

Essa horrível perspectiva levou-nos a adotar uma abordagem mais agressiva destes pacientes e, em 1970, levamos a cabo pela primeira vez uma revascularização cirúrgica aguda num indivíduo masculino de 50 anos de idade em choque cardiogênico.76 Ele sobreviveu bem por 14 anos! Subseqüentemente, nós e outros desenvolvemos uma conduta de estabilizar os pacientes em choque cardiogênico por 24 a 48 horas e, quando não ocorre uma melhora rápida e constante, levamos a cabo a arteriografia coronária, seguida por uma revascularização coronária de emergência em pacientes com anatomia coronária adequada para cirurgia. Isto levou à sobrevida de aproximadamente 40%. 73

Mais recentemente, os avanços na terapia trombolítica e na angioplastia coronária trouxeram consigo uma promessa de uma sobrevida ainda melhor desta doença altamente letal. Se puder ser feita a reperfusão através de unia artéria coronária agudamente obstruída, dentro de 5 horas de sua oclusão, pode-se salvar um miocárdio potencialmente infartado. Obviamente, quanto mais precocemente, após o início do infarto, puder ser feita a reperfusão, maior será a probabilidade de salvar-se o miocárdio.

O uso de drogas trombolíticas no sentido de dissolver o trombo que obstrui a artéria coronária, responsável pelo infarto, tem assumido um papel progressivamente mais amplo no tratamento do infarto agudo de miocárdio (ver Cap. 12). Num grande estudo controlado e aleatorizado, administrou-se estreptoquinase tão logo fosse possível após o início do infarto agudo do miocárdio, por via endovenosa, levando a uma melhora da sobrevida.51 Entretanto, a estreptoquinase pode causar importante fibrinólise sistêmica, o que pode levar a hemorragias e também tornar arriscada a intervenção cirúrgica, se ela for necessária. O ativador tissular de plasminogênio (APt) parece ser mais eficaz que a estreptoquinase na lise bem-sucedida de um trombo oclusivo, com uma menor fibrinólise sistêmica.24 Ambas as drogas receberam aprovação da FDA para uso no infarto agudo do miocárdio.

Entretanto, mesmo o tempo necessário para uma trombólise bem-sucedida pode ser inaceitável no choque cardiogênico e em 20 a 30% dos pacientes, a artéria não pode ser aberta de forma bem-sucedida apenas com drogas trombolíticas. Isto levou à execução de angioplastia percutânea aguda da artéria ocluída em muitas instituições com recursos para levar a cabo este procedimento.37 Num estudo recente de pacientes em choque cardiogênico tratados convencionalmente ou com angioplastia aguda, a sobrevida após 30 dias era significativamente melhor no grupo de pacientes com uma angioplastia bem-sucedida.63 Outros autores defendem a revascularização cirúrgica aguda de pacientes que vêm ao médico menos de 5 horas após o início de um infarto agudo do miocárdio, incluindo pacientes em choque cardiogênico.31 Isto possui a vantagem de permitir uma revascularização mais completa que a angioplastia, porém tem a desvantagem de uma morbidade substancialmente mais elevada, assim como o custo. Poderia ser aventada em pacientes nos quais a angioplastia não fosse bem-sucedida.

Reconhecendo que o tratamento do choque cardiogênico nas complicações do infarto agudo do miocárdio está evoluindo rapidamente, achamos que, no futuro próximo, nosso tratamento será orientado, geralmente, da seguinte maneira: imediatamente após a chegada ao hospital, os pacientes em choque cardiogênico receberão um agente trombolítico, presumivelmente o APt. Os pacientes serão imediatamente levados ao laboratório de cateterismo. Se a artéria responsável pelo infarto permanecer ocluída, ou se houver um grande estreitamento remanescente após uma trombólise bem-sucedida, far-se-á uma angioplastia aguda da artéria relacionada ao infarto. O paciente ocasional, no qual a angioplastia não for bem-sucedida, será submetido à revascularização cirúrgica, se esta puder ser feita dentro das 6 primeiras horas após o infarto. A revascularização cirúrgica pode ser preferível também em pacientes com grave patologia oclusiva em outras artérias coronárias de maiores dimensões.

Deve ser óbvio que a revascularização aguda seja por angioplastia ou por cirurgia - exige uma equipe clínica e cirúrgica altamente qualificada. Deve-se reconhecer, também, que o papel preciso destes procedimentos de alto custo no tratamento do infarto agudo de miocárdio ainda está evoluindo. Nenhum deles pode ser considerado como "padrão aceito de cuidado terapêutico", atualmente. Além disso, muitos dos pacientes - talvez a maioria - vêm a hospitais, nos Estados Unidos, que não apresentam os recursos necessários para esses cuidados agressivos e técnicos. Deve ser suficiente o tratamento convencional, a não ser que o paciente possa ser rapidamente transportado para uma instituição capaz de uma intervenção invasiva agressiva. Deve-se enfatizar que, se não for possível obter-se uma reperfusão dentro de 5 ou na pior das hipóteses - 6 horas após o início do infarto, provavelmente não é adequado proceder-se a uma angioplastia aguda ou revascularização cirúrgica.

Em todos os pacientes com choque cardiogênico no contexto de um infarto agudo do miocárdio, deve-se excluir a existência de uma complicação mecânica aguda. Estas complicações incluem especialmente ruptura do septo interventricular ou grave disfunção de um músculo papilar, ambos tratados eficazmente com contrapulsação por balão.47 Raramente, a ruptura de parede livre ocorre de um modo que não seja imediatamente letal. Estes problemas mecânicos podem ser tratados cirurgicamente com sucesso.

Foram desenvolvidos vários tipos de dispositivos de coração esquerdo e estão sendo desenvolvidos outros, porem nenhum está disponível para uso clínico, atualmente.85 O coração mecânico total, entretanto, já foi usado com sucesso em vários pacientes moribundos em choque cardiogênico como uma ponte temporária para o transplante cardíaco, salvando a vida do indivíduo.49 Isto levou a um dilema ético, pois em todo o mundo há apenas um coração de doador para cada dois ou três receptores potenciais de transplante. Muitos pacientes obituam à espera de um coração disponível. A inserção de um coração mecânico exige que se encontre urgentemente um doador, o que significa que muitos pacientes esperando por um coração transplantável podem não ser submetidos ao transplante para favorecer pacientes com coração mecânico. Este dilema não será resolvido até que haja mais doadores à disposição, o que parece improvável, ou até que o progresso imunológico dos transplantes chegue a um ponto onde se possam utilizar corações de animais ou um coração artificial completo satisfatório para implantação a longo prazo.

O infarto de ventrículo direito complicado por choque cardiogênico provoca problemas especiais. O balão intra-aórtico não proporciona nenhuma medida de alívio para o ventrículo direito infartado e raramente é útil no tratamento do choque causado por infarto ventricular direito, a não ser que haja alguma disfunção ventricular esquerda concomitante. O choque cardiogênico ventricular direito é tratado preferencialmente através da manutenção de uma pressão de enchimento elevada do lado direito e da administração de drogas inotrópicas .23.68 Uma vez que o infarto de ventrículo direito às vezes está associado a bloqueio atrioventricular (AV) ou a um ritmo idioventricular acelerado, é importante manter uma seqüência de contração AV normal, seja através da estimulação elétrica do átrio direito, se a condução AV estiver intacta, seja através da estimulação elétrica AV, se houver presença de bloqueio AV. Encontramos vários pacientes que deterioraram dramática e catastroficamente quando aparecia um ritmo idioventricular acelerado e a sístole atrial era perdida. Apesar de pacientes com infartos maciços de ventrículo direito poderem estar em estado grave, inicialmente, sua perspectiva a longo prazo é boa, se sobreviverem ao período crítico e a função subjacente do ventrículo esquerdo for razoável.12

Apesar de a contrapulsação com balão ser utilizada mais freqüentemente para o choque cardiogênico em seguida ao infarto agudo do miocárdio, ela pode ser útil em várias outras situações. Estas incluem a disfunção ventricular pós-cirurgia cardíaca,13 miocardite aguda e mesmo casos raros de choque cardiogênico acompanhando outras formas de choque, como, por exemplo. o choque séptico. Nós a utilizamos também em pacientes com regurgitação mitral ou estenose aórtica em estágio final até que a valva pudesse ser cirurgicamente corrigida. Não deve ser usada quando houver grave insuficiência aórtica. O balão intra-aórtico não é isento de complicações, sendo que as mais graves são problemas arteriais locais, sépsis e embolia pelo balão. Estas ocorrem aproximadamente em 5% dos pacientes, sendo os problemas arteriais mais prevalentes em pacientes com patologia vascular periférica preexistente.

Parada Cardíaca

O Quadro 2-4 lista as causas da parada cardíaca (circulatória). Avalia-se que aproximadamente 500.000 pessoas obituem subitamente a cada ano, nos Estados Unidos. A incidência de morte súbita é mais elevada em indivíduos masculinos que em femininos.61 Os fatores de risco associados incluem patologia arterial coronária, tabagismo e hipertrofia ventricular esquerda (especialmente com estenose aórtica e miocardiopatia hipertrófica).32 A estas causas foi acrescentado, recentemente, o abuso de cocaína. A maioria dos óbitos de causa cardíaca extra - hospitalares resulta de um evento coronário agudo, com a maioria dos sobreviventes apresentando evidências de isquemia do miocárdio.66

Deve-se estabelecer uma distinção entre a parada cardíaca primária e a parada cardíaca secundária. Enquanto a primeira é quase invariavelmente o resultado de uma arritmia repentina e letal, a última freqüentemente constitui um evento terminal (assistolia com dissociação eletromecânica) em pacientes sofrendo de várias doenças potencialmente fatais. A parada cardíaca primará habitualmente não é precedida por esforços físicos101 e ocorre o mais freqüentemente fora do hospital.61,113 As evidências de que o estresse psicológico constituiria um fator são bastante fortes, apesar de circunstanciais,36 e é provável que o sistema nervoso autônomo desempenhe um papel neste fenômeno.65

Os resultados da ressuscitação cardíaca variam dependendo da patologia subjacente e da velocidade e habilidade das equipes de suporte. Pacientes com infarto agudo do miocárdio e em parada cardíaca hospitalar apresentaram uma taxa de sobrevida hospitalar de 59%, comparada a 88% em pacientes sem parada.25 A sobrevida a longo prazo também foi afetada. Todavia, os resultados justificam um esforço vigoroso no sentido de ressuscitar o paciente. Em pacientes críticos em choque, insuficiência respiratória, sépsis etc., a sob r da hospitalar pós-parada pode ser de apenas 15

Na população de pacientes que sofrem de parada cardíaca fora do hospital, as taxas de sobrevida variam de apenas 3% até 88%, dependendo das circunstâncias da parada, da proximidade da equipe treinada e da ressuscitação cardiopulmonar.5,16,35 Existem boas evidências no sentido de que a sobrevida global dos pacientes que sofrem parada fora do hospital seja muito aumentada, pelo início da ressuscitação por transeuntes e pela existência de ambulâncias móveis equipadas com sistemas de suporte vital e equipes treinadas em técnicas avançadas de ressuscitação.26,27 Trata-se de um resultado previsível que aponta para a importância de se iniciar a ressuscitação, tão logo seja possível, após a parada cardíaca.34 A melhora da sobrevida de pacientes com paradas cardíacas extra-hospitalares em seguida à ressuscitação por pessoal não-médico ou equipes coronárias móveis não é significativa apenas em números, porém também em qualidade de vida. Muitos destes pacientes e, em alguns estudos, a grande maioria, retornaram a uma capacidade funcional igual ou quase igual à que precedeu a parada cardíacas.6 Assim, é obrigatório que se continue a divulgar amplamente as técnicas simples de ressuscitação cardiopulmonar para grandes segmentos da população geral. Além disso, a expansão do uso de equipes móveis de salvamento, equipadas com pessoal treinado - e dispositivos para ressuscitação avançada, pode permitir uma melhora ainda maior do prognóstico do grande número de pacientes vítimas de parada cardíaca.

Ressuscitação Cardiopulmonar

Estudos em cães demonstraram que se a parada cardíaca durar menos de 2 minutos, não ocorre nenhuma lesão cerebral permanente. Se a parada durar entre 5 e 9 minutos antes da restauração do fluxo sangüíneo, evoluem sinais de lesão cerebral permanente .114 O mesencéfalo e o tronco encefálico são menos sensíveis à isquemia e podem sobreviver por vários minutos sem fluxo sangüíneo. Quando o tronco encefálico sofre isquemia, as pupilas se dilatam e se tornam não responsivas à luz; o paciente pode vomitar e, se a freqüência do impulso respiratório ainda estiver intacta, pode aspirar. O tônus vascular é progressivamente perdido.

A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) exige o estabelecimento imediato de uma via aérea, ventilação e massagem cardíaca a tórax fechado. A manutenção das vias aéreas e a ventilação adequada são importantes não apenas para proporcionar oxigênio ao tecido hipóxico, porém também para aliviar a acidose respiratória que se segue rapidamente à apnéia. A respiração boca-a-boca ou boca-a-nariz é eficaz, com manobras apropriadas para manter a permeabilidade faríngea.

O primeiro princípio do suporte vital básico continua sendo a respiração efetiva sem volume ou força excessiva, pois ambas levam à distensão e à regurgitação gástricas. As respirações podem durar de 1,0 a 1,5 segundos com um volume corrente suficiente para elevar o tórax. Ao iniciar a RCP, faz-se duas respirações iniciais, dando-se tempo para a expiração entre elas. Aplica-se as compressões torácicas da maneira tradicional, com uma depressão de 4 a 5 cm da metade inferior do esterno. A freqüência das compressões deve ser de 80 a 100 por minuto. A meta é a compressão em aproximadamente 50% do tempo do cicio. Assim, um ressuscitador solitário executa 15 compressões seguidas de duas respirações, até chegar o auxílio. Dois ressuscitadores podem proporcionar uma razão mais satisfatória: 5 compressões seguidas de uma pausa mais curta para uma respiração única .2

Com a chegada de mais assistência, podem ser feitas medidas de ressuscitação mais avançadas, incluindo a instrumentação das vias aéreas diretamente ou através de dispositivos obturadores do esôfago e desfibrilação ventricular cega34 ou dirigida por ECG. A desfibrilação automática pode permitir uma rápida desfibrilação por uma equipe com menor treinamento eletrocardiográfico.103 O valor da estimulação elétrica do coração, seja por marcapasso transcutâneo ou transvenoso, permanece limitado, pois, tardiamente, no processo de ressuscitação a captura elétrica habitualmente não produz um pulso. A estimulação elétrica nos primeiros 5 minutos de parada pode ser eficaz.106 Os principais agentes farmacológicos são: o oxigênio a 100%, a adrenalina 0,5 a 1,0 mg (5 a 10 ml de uma solução 1:10.000), administrada EV, e agentes antiarrítmicos quando a desfibrilação for malsucedida. A adrenalina atua principalmente através da estimulação alfaadrenérgica, aumentando o fluxo sangüíneo do miocárdio e do sistema nervoso central, durante a RCP. O bicarbonato de sódio é usado em excesso, habitualmente, e deve ser administrado principalmente em casos com indicações reconhecidas e não como medida de rotina na parada cardíaca. O cálcio, de modo semelhante, não possui nenhum papel na ressuscitação de rotina. Devemos lembrar que a adrenalina, a lidocaína e a atropina podem ser todas administradas através de um tubo endotraqueal, se não houver uma via endovenosa disponível. A dose recomendada de adrenalina e de 1 mg (10 ml de uma solução de 1:10.000)2

A fisiologia da RCP foi reestudada à luz de trabalhos que mostram que a compressão torácica sem compressão cardíaca direta produz a saída do fluxo de sangue do tórax, com a direção do fluxo estabelecida pelas válvulas venosas, e das evidências ecocardiográficas, mostrando permeabilidade das valvas mitral e tricúspide, durante a RCP.112 Foram desenvolvidas técnicas combinando a pressão positiva da ventilação com a compressão torácica ou combinando a pressão abdominal com a pressão torácica,60 para acelerar a ejeção de sangue da cavidade torácica. Nenhuma dessas técnicas é recomendada, ainda, para o suporte vital básico. Entretanto, a maior conscientização do papel passivo desempenhado pelo coração, neste procedimento, fortalece o papel do indivíduo que faz a compressão torácica, que não mais imagina o enchimento e ejeção seqüenciais do coração, do modo como ocorre na massagem cardíaca a céu aberto. Finalmente, tem havido um renovado interesse pela massagem cardíaca a céu aberto, uma vez que, através desta técnica, melhora muito a dinâmica circulatória tanto cerebral quanto coronária. Esta técnica deve ser utilizada mais freqüentemente quando tanto o método tradicional quanto o método de tórax fechado atualizado forem inadequados e houver equipamentos adequados à disposição.

Sabe-se que pacientes ressuscitados de fibrilação ventricular apresentam um risco mais elevado de apresentar um outro episódio. Pacientes que apresentam fibrilação ventricular sem infarto agudo do miocárdio associado exibem um risco muito elevado de recidiva da fibrilação ventricular (47% de mortalidade após 2 anos) e um risco muito mais elevado do que aqueles pacientes que apresentam fibrilação ventricular associada a um infarto agudo do miocárdio (14%).6 Quando a fibrilação ventricular ocorrer durante a fase aguda do infarto ou durante a isquemia aguda, que é depois revertida, pode não ser necessária, após a alta, a terapia de manutenção antiarrítmica. Acreditamos que pacientes que sofrem uma parada inesperada extra-hospitalar, secundária à taquicardia/fibrilação ventricular, devam ser submetidos a cateterismo cardíaco (se não estiver contra-indicado), seguido habitualmente por estudo eletrofisiológico com estimulação elétrica programada90-92 e devem receber alta com drogas de eficácia comprovada. Este conceito é discutido em pormenores no Capítulo 7.

Hipotensão Ortostáfica

Faz-se um diagnóstico de hipotensão ortostática se a pressão sistólica na posição ereta cair 25 mmHg ou a diastólica cair 10 Hg com uma sensação concomitante de tontura.93,94 A atenção diagnóstica deve ser dirigida inicialmente para posologias de drogas. As causas principais seriam o uso excessivo de diuréticos vasodilatadores e agentes anti-hipertensivos, especialmente inibidores das descargas simpáticas e potentes dilatadores periféricos como a nifedipina. Deve-se interrogar também a respeito do uso de agentes psicotrópicos e sedativos, assim como maconha.72

Na ausência de uso de drogas, deve-se pensar em outras patologias gerais antes de se pensar nas vias nervosas periféricas. Diabetes melito mal controlado, insuficiência adrenal e diabetes insípido têm sido implicados. As causas neurológicas centrais incluem a disautonomia familiar, que apresenta uma evidente instabilidade autonômica,29 a encefalopatia Wernick9 e alguns casos de síndrome de Parkinson.50

As causas neurogênicas periféricas de hipotensão ortostática podem ser divididas em lesões das vias aferentes e lesões das vias eferentes. Avalia-se que aproximadamente um quarto dos pacientes com diabetes melito apresenta disfunção do membro aferente da regulação barorreceptora. Todavia, a maioria dos pacientes com hipotensão ortostática neurogênica apresenta lesões das vias eferentes. Trauma, mielite transversa e tumores da medula espinhal podem interferir com a vasoconstrição simpática nos membros inferiores. O envolvimento periférico do sistema nervoso autônomo pode ser induzido por diabetes melito, alcoolismo, amiloidose e porfiria. Na síndrome de Shy-Drager, com degeneração dos sistemas córtico-bulbar, córtico-espinhal, extrapiramidal e cerebelar, 53,100 pode haver presença de hipotensão ortostática sem comprometimento sensorial ou demência. Nesta síndrome, os níveis de noradrenalina são normais no repouso, porém não aumentam normalmente na posição ortostática.

A hipotensão ortostática idiopática é um diagnóstico de exclusão. Pode haver uma predisposição genética, sendo os indivíduos masculinos afetados com uma freqüência cinco vezes maior que os femininos.93 O início é lento e pode ser acompanhado por distúrbios esfincterianos e disfunção sexual. A evolução é variável e imprevisível e, em alguns pacientes, a hipotensão ortostática pode persistir sem posterior degeneração.57 No repouso, os níveis de noradrenalina encontram-se acentuadamente reduzidos e, na posição ortostática, não ocorre elevação da concentração sangüínea de noradrenalina, sugerindo disfunção periférica.86,117

O tratamento de pacientes com hipotensão ortostática é difícil quando não se trata apenas de retirar ou reduzir drogas. Quando os pacientes estão de pé, eles devem mover-se o máximo possível, para aumentar a ação bombeadora muscular dos membros inferiores. Se os pacientes observarem uma hipotensão pós-prandial relacionada a represamento esplâncnico, deve-se tentar a ingestão de refeições reduzidas e freqüentes. À noite, os pacientes devem dormir com a cabeça e a região superior do corpo elevadas, para levar à liberação de renina. Podem-se obter trajes, disponíveis no comércio, que comprimem o corpo, desde os membros inferiores até os rebordos costais, reduzindo o represamento periférico.

O acetato de fludrocortisona é o tratamento com droga única mais eficaz para a hipotensão postural.93 Este agente promove, inicialmente, a expansão do volume sangüíneo, podendo, mais tardiamente, no decorrer da administração, aumentar a liberação de noradrenalina a partir dos nervos eferentes simpáticos e sensibilizar os receptores vasculares as aminas pressoras. Uma dose inicial de 0,1 mg/dia pode ser gradualmente aumentada para até 1,0 mg/dia, num período de semanas. Os efeitos colaterais incluem hipertensão e insuficiência congestiva especialmente acentuada na posição de decúbito. Uma ingestão elevada de sódio, que em alguns pacientes é suficiente, isoladamente, para obter-se a expansão de volume desejada, pode potencializar o efeito da fludrocortisona. A mensuração diária do peso proporciona uma diretriz útil para conhecer-se a eficácia da droga na expansão do volume intravascular e, além do controle sintomático, freqüentemente é adequado estabelecer-se como meta terapêutica um número específico de quilos a serem ganhos. Foram tentados outros agentes, com graus variáveis de sucesso, incluindo a fenilefrina,4 a efedrina, a diidroergotamina administrada por via parenteral,93 o tartarato de ergotamina por via oral,19 a indometacina, para inibir a formação de prostaglandina59 e o pindolol,71,93 que é um agente betabloqueador com ação simpaticomimética intrínseca. Recentemente, o hidrocloreto de clonidina,89 um agonista parcial de receptores alfaadrenérgicos, com ações tanto central quanto periférica, foi usado com sucesso num pequeno número de pacientes. Seus efeitos parecem ocorrer através de estimulação de receptores alfaadrenérgicos pós-sinápticos supersensíveis. Está sendo pesquisado também um dispositivo mecânico para a infusão intermitente de noradrenalina para mimetizar o efeito do arco reflexo barorreceptor.87 Combinações destes agentes, como, por exemplo, vasopressores ou agonistas betaadrenérgicos parciais com fludrocortisona, podem ser necessárias para manter a pressão arterial na posição ortostática.

Notas

* N.T.: Miluary Anti-Shock Trousers.

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