Capítulo 02.12. Colecistite Aguda

Alcino Lázaro da Silva

Introdução

Além do acometimento inflamatório (mais comum) a vesícula pode apresentar manifestações agudas decorrentes de: traumas, hemobilias, rupturas, torção (vólvulo), hérnias pelo hiato de Winslow, hemorragia maciça (apoplexia), hemorragia de artérias hepática ou cística (aterosclerose).

Há que se distinguir estes acometimentos primários de complicações que se instalam sobre uma colecistite aguda, Por exemplo, ruptura após um quadro de empiema, gangrena ou hidropisia; hemorragias após perfuração de vesícula em isquemia decorrente do processo inflamatório.

O inverso pode ser verdadeiro, como no caso de uma colecistite seguindo-se a torção ou hérnia vesicular.13,19

Colecistite aguda é um acometimento inflamatório agudo da vesícula, com exteriorização anatomopatológica, desde edema, congestão, supuração, necrose, gangrena, até a perfuração.

É bastante freqüente, podendo atingir até 25% entre portadores de litíase biliar, E menos grave no jovem e gravíssimo no velho porque nesta faixa etária, freqüentemente se associa à gangrena.

A mortalidade é de 2,5% na inflamação; de 5% quando se explora o colédoco, no mesmo ato cirúrgico, sem critérios rígidos; de 20% na perfuração com peritonite e de 25% na gangrena.

Se considerarmos que a incidência de litíase, dependendo da raça ou dos países, cujos hábitos se modificam de um para o outro, pode variar entre 10 e 70%, estamos diante de um abdômen agudo freqüente.

Associa-se à colecistite aguda outras lesões biliares: icterícia (21,2%), litíase de colédoco (18,7%) e pancreatite aguda (6,2%). As formas complicadas da colecistite podem aparecer em 33,7% dos casos, o índice de complicação pós-operatória fica em 8,7 %. 40,50

Etiopatogenia

A etiologia divide-se em duas partes fundamentais: obstrução e infecção. A primeira freqüentemente se faz por cálculo. Outras menos importantes são: áscaris, adenopatias agudas, compressão vasculares, aderências ou císticos longos e convolutos. 4,14,22,23,41

Em função do cálculo as colecistites são divididas em litiásicas e alitiásicas.

A infecção pode ser aeróbica: E. coli, Streptococcus faecalis e não-hemolíticos, Klebsiella, Proteus e S. typhi. Entre os anaeróbios temos o CI. welchii e o CI. perfringens. Neste caso, ocorre a colecistite gasosa (enfisematosa ou pneumocolecistite), mais provável em pacientes diabéticos .24

Outros agentes etiológicos podem ocorrer: insuficiência vascular, refluxo pancreatobiliar (canal comum biliopancreático), traumas, choques por acidentes ou queimaduras, bacteriemias, intervenções supramesocólicas, duodenopancreatectomias sem colecistectomia e de causa indeterminada, em que não se encontra nem o fenômeno obstrutivo.

Instalado o quadro etiológico (obstrução aguda do cístico ou infecção), a vesícula e distende, edemacia-se e torna-se congesta. Em seu redor instalam-se uma deposição de fibrina, alças delgadas ou omento no sentido de organizar-se um plastrão defensivo. Desta fase inicial (12 primeiras horas) a evolução pode variar. Nas primeiras 24 horas, caso não tenha havido inicialmente uma infecção, esta aparece em 30% e após 72 horas até em 80% dos pacientes.

Estabelecido o processo obstrutivo, inflamatório e bacteriano, dependendo do paciente, condições físicas, imunológicas, biológicas, quantidade e virulência de germes, idade, sexo, obesidade, diabetes e tempo e tipo de atendimento médico, pode-se ter várias ocorrências. Regredir à custa sobretudo das defesas peritoneais instaladas. Supurar (empiema). Gangrenar. Perfurar (6%). Sangrar. Cronicizar. No primeiro caso, pode-se ter desde pequenas aderências sem maior significado clínico até uma colecistite crônica litiásica ou alitiásica, escleroatrófica; ou fístulas para duodeno, colédoco, cólons, pele etc.; ou uma vesícula hidr6p!ca, fruto da irreversibilidade da obstrução e reabsorção dos sais e fragmentos biliares, restando apenas um conteúdo hídrico.

A supuração e a perfuração (por drenagem de pus ou por gangrena) evoluem para um quadro de peritonite, cuja gravidade dependerá do volume de pus, da quantidade de bactérias, das condições do paciente e do tipo e hora do tratamento instituído.

Anatomia Patológica

Aberto o abdômen, o cirurgião depara-se com dois quadros básicos: colecistite aguda com vesícula grande inflamada e envolvida por aderências fibrinosas frouxas ou peritonite supurada generalizada, supramesocólica, mais o quadro de colecistite aguda de intensidade variável. Aquele é o mais freqüente.

Existem aderências frouxas facilmente deslocáveis ou mobilizáveis, secreções serosa, seropurulenta ou necropurulenta, banhando o hipocôndrio direito ocupado pelo plastrão biológico. Neste, temos no centro a vesícula (inflamada, supurada ou gangrenada); acima, o fígado; abaixo e nos lados existem omento, cólon e às vezes alças delgadas, profundamente, o duodeno e o pedículo edemaciado e envolvido por secreção e adenopatia aguda.

No peritônio encontraremos secreção serosa ou purulenta de quantidade variável, dependendo do grau de peritonite instalada.

As aderências instaladas por fibrina são facilmente destacáveis e variando no tempo podem fazer sangrar a serosa vesicular ao ser mobilizada

A serosa vesicular é túrgida, eritematosa, infiltrada, e o plano de clivagem desaparece à medida que o tempo passa em decorrência do processo reparativo.

Em síntese, há um bloqueio biológico-peritoneal, bastante expressivo e quase impermeável, pois o objetivo é localizar o processo inflamatório e reabsorvê-lo, se for o caso (Figs. II-12-1, II-12-2, II-12-3, II-12-4, II-12-5, II-12-6, II-12-7 e II-12-8).

Evolução

A colecistite aguda pode evoluir para complicações graves: fístula, supuração, gangrena, perfuração, peritonite, morte (Figs. II-12-9, II-12-10, II-12-11, II-12-12, II-12-13, II-12-14 e II-12-15).

Ultrapassadas estas fases críticas, não há definição dos tempos pela imprecisão diagnóstica, anatomopatológica e até histopatológica.

Basicamente, os tempos são divididos em colecistites aguda, subaguda e crônica. Há quem os divida em superaguda ou fulminante, aguda, subaguda, subcrônica e crônica.

A fase aguda localiza-se na primeira semana, a subaguda entre a segunda e a quarta semanas, e a crônica a partir deste tempo. São importantes estas divisões porque o quadro clínico e a conduta terapêutica, especialmente a cirúrgica, variam com elas.

Diagnóstico

Geralmente há um quadro agudo sobre uma história de perturbações digestivas altas ou de cólicas biliares com ou sem icterícia (20 a 25% na litíase sintomática). 16

Há dor aguda, persistente por algumas horas, no hipocôndrio direito ou epigástrico, tipo cólica, com irradiação escapular. Náuseas, vômitos e febre. Dor à palpação no hipocôndrio direito com ou sem resistência parietal (o que depende do acometimento peritoneal) e à inspiração. As vezes palpa-se uma tumefação dolorosa, móvel à respiração, sem limites nítidos. Icterícia leve (20%) e reversível.

Quando o quadro se agrava, a febre persiste elevada, aparecem sinais de desidratação e desvios metabólicos ácidos-básicos, além de um comprometimento do estado geral do tipo toxicoinfeccioso.

O laboratório colabora pouco. O leucograma altera-se, entre leve (colecistite aguda simples) e acentuada leucocitose na supuração e peritonite. A amilase e as transaminases podem estar elevadas. A bilirrubinemia do tipo colestática é discreta (até 4 mg% é freqüente). O eletrocardiograma afasta a presença ou concomitância e isquemia aguda do miocárdio. O RX de tórax afasta processos pleuropulmonares de base direita. O RX simples de abdômen pode mostrar cálculos radiopacos (20%), gás na região vesícula, calcificação pancreática, distensão de alças. A colangiografia, quando indicada nas formas menos graves, orienta-nos sobre o enchimento ou não da vesícula e estado e presença de cálculos nos canais biliares extra-hep6ticos8 (Fig. II-12-16).

Se a vesícula se opacifica, certamente não há colecistite. Se após quatro horas da injeção do contraste o canal biliar for visto indica obstrução do cístico.

A colecistografia só será feita se houver bom estado geral e sem icterícia. O ultra-som e a tomografia sugerem o diagnóstico com grande certeza, mostrando o cálculo ou a vesícula distendida3,7 (Figs. II-12-17, II-12-18, II-12-19, II-12-20, II-12-21, II-12-22, II-12-23 e II-12-24).

A cintilografia com o Tecnécio 99m HIDA e BIDA (Ácido dimetilacetanil iminodiacético e ácido p-butilacetanil iminodiacético), comparada à colecistografia e ultra-sonografia, mostrou-se superior, com 100% de sensibilidade e 96% de acuidade. Pode ser usado na crise aguda, mesmo com vômito e icterícia, não apresentando reações adversas no seu uso venoso.

Com isto, o diagnóstico, além de clínico e soberano, pode ser feito com a ajuda da colecistografia, colangiografia, ultra-som, tomografia axial computadorizada, Rosa Bengala I 1 ,31 e laparoscopia.39

Para a tomografia por infusão, usa-se o ditrizoato de meglumina que, na inflamação, é captado pelos neutrófilos. Este fenômeno dá uma imagem em forma de anel. 17,20,35

À laparoscopia, vê-se o plastrão ou a vesícula inflamada. Há grande risco pela mobilização de pus ou perfuração de uma vesícula supurada.

No diagnóstico diferencial temos que colocar, para exclusão, as seguintes patologias: (a) úlcera perfurada: história gástrica pregressa, rigidez abdominal e pneumoperitônio; (b) pancreatite aguda: dor mais forte, em faixa, desidratação mais precoce, amilase alta, passado de alcoolismo e superalimentação; (c) apendicite aguda: dor epigástrica seguida pela da fossa ilíaca direita, evolução mais rápida, maior possibilidade de vômitos, diferencial de temperatura axilorretal com mais de um ponto; (d) hepatite aguda: icterícia, transaminases altas; (e) a simulação do infarto pela colecistite é uma realidade, pois admite-se que possa determinar alterações na perfusão coronariana. Não há alterações significantes de eletrocardiograma no segmento ST e da onda T. Essas anormalidades refletem uma coronariopatia de base;15 (o processos pleuropulmonares direitos: história clínica de dor e tosse, alterações na ausculta pulmonar e modificações radiológicas de base pulmonar e cúpula diafragmática direita; (g) infecção aguda renoureteral: dor lombar com irradiação pela fossa ilíaca direita ou escroto e vulva, acompanhada de disúria; (h) cólica renal (litíase): dor lombar, irradiação para o escroto ou vulva, disúria, hematúria macro ou microscópica; (i) a diverticulite duodenal e a obstrução de cólon direito devem ser também lembradas; (j) abscesso hepático: febre elevada, hepatomegalia , quadro geral grave por toxicoinfecção.

No diagnóstico é importante diferenciar a cólica biliar da colecistite aguda. A dor é significante. Na cólica, há e

intermitentes, a duração não é prolongada, não vem acompanhada de febre e melhora com antiespasm6dicos. As vezes, fica atípica porque, em quadro inflamatório, precede ou se segue à cólica biliar.

A importância vem de que na litíase, em cólica, só existe possibilidade, de cirurgia na internação de urgência se houver inflamação ou icterícia associada.

A dor pode variar . Na colecistite litiásica, a dor é central; na distensão da vesícula ela é epigástrica; na vesícula com serosite ou acometimento adjacente, há uma dor localizada no hipocôndrio, por acometimento peritoneal; se há coleção subdiafragmática, há uma referência à escápula; se há acometimento retroperitoneal, uma lombalgia acentuada, e se a dor é generalizada existe uma peritonite generalizada.

Enfim, o diagnóstico da colecistite aguda é essencialmente clínico. Depende de uma boa história clinica, de um acompanhamento estreito e continuo por parte do médico e bom senso ao julgar os dados (sinais e sintomas) fornecidos pelo doente.

Tratamento

O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. 38,44,49

Os fatores que devem pesar na decisão são: idade, estado geral, afecções associadas (diabetes renal, cardíaca, pulmonar), tempo de evolução, complicações, obesidade, icterícia. Em geral, a presença destes, em quadro clínico resistente, após a instalação do tratamento, acelera a indicação cirúrgica apesar de a cirurgia, nesta fase, ser de alto risco.

Estima-se que 80 % das colecistites regridem com o tratamento clínico. Deixados sem cirurgia, 20% evoluiriam mal por complicações graves e óbitos. No entanto, só a cirurgia ou a necropsia podem avaliar a presença e intensidade do processo inflamatório. Pode-se, pois, argüir que muitos pacientes tratados clinicamente como portadores de colecistite aguda não a apresentavam na realidade e por isto evoluíram favoravelmente.

Os princípios básicos do tratamento e comuns a todos os doentes são: internar; hidratar; corrigir desvios ácidos-básicos; cateter nasogástrico se houver vômitos, jejum; analgesia (moderação) (ópio?); antitérmico (moderação); antiespasmódicos (opcional); cateterismo vesical (nas formas graves); vitamina K1 nas icterícias; a cultura da bile é positiva em 27% das colecistectomias realizadas para todas as indicações. Essa incidência aumentada aparece em paciente de alto risco como: colecistite aguda, icterícia, coledocolitíase, diabetes, vesícula excluída, paciente com mais de 70 anos. Os outros pacientes de baixo risco tiveram 7,1% de bile infectada. As bactérias são: gram-negativa sensíveis a gentamicina; 42 colecistite tífica pela Salmonella typhi é tratada com sucesso pela ampicilina; 6 antibiótico, sobretudo se a decisão for para tratamento clínico (ampicilina + oxacilina + doxacilina). Não usar os antibióticos de eliminação hepática por sua ineficácia, pois a vesícula está obstruída e, às vezes, há ictencia.25

Para o tratamento cirúrgico, que é o ideal e o definitivo, temos que agrupar os doentes: (1) formas simples não-complicadas: tratar clinicamente observando-se com cuidado a evolução. Se esta não demonstra sinais de melhora, estabiliza-se ou agrava-se, a cirurgia se impõe; (2)formas não-complicadas com evolução de alguns dias: se possível, evitar a cirurgia pelas dificuldades técnicas nesta fase; (3) formas graves iniciais: operar; (4) formas graves tardias. operar, usando-se métodos mais simples e rápidos de descompressão; (5) formas complicadas: operar, e (6) formas subagudas: tratar clinicamente. Se for por reacutização, operar.

Não se esquecer de que inflamação em processo crônico é menos favorável para a técnica cirúrgica, porque os dutos ficam mascarados, contorcidos ou de difícil dissecção. A operação será "imediata" se praticada nas quatro primeiras horas., "precoce" nas 12 horas seguintes à crise inicial, e "retardada" após o terceiro dia de evolução.

Em resumo, a cirurgia se impõe em todos os casos se o diagnóstico se faz nas primeiras 12 a 48 horas, salvo em doentes que apresentam contra-indicações clínicas absolutas. Passadas 24 a 48 horas, observar rigorosamente, aguardar a evolução e só operar se o paciente não melhorar, pois o período crítico prolonga-se até o 14º dia. Havendo regressão do processo, aguardar no mínimo três meses para maior segurança e eficácia de cirurgia eletiva.

As operações que se fazem na colecistite aguda podem ser, após a laparotomia paramediana pararretal interna, supra-umbilical e direita: colecistectomia, com dissecção do fundo para o pedículo (Fig. II-12-25), colecistectomia parcial, deixando-se a parte correspondente ao leito ou hilo hepático, retirando-se a mucosa neste nível (Fig. II-12-9); colecistostomia (Figs. II-12-26, II-12-27, II-12-28 e II-12-29); drenagem de abscesso após laparotomia, maior ou menor, se possível extraperitoneal; coledocostomia (Figs.- II-12-30, II-12-31 e II-12-32); coledocolitotomia mais drenagem de colédoco; papiloesfincterotomia mais drenagem de colédoco.

A escolha de uma delas ou a sua associação dependerá basicamente: (a) do estado do doente e da sua evolução; (b) da experiência, do cirurgião; (c) do ambiente de trabalho (bloco, anestesia, equipe); (d) do bom senso em julgar o caso clínico e indicar a operação menos grave e menos mórbida, e (e) do momento da indicação e execução

O uso de um método menos grave em detrimento da eficácia terapêutica é mais sensato que o inverso, em pacientes de a to risco cirúrgico. No entanto, nas formas iniciais ou simples, podem-se somar os dois objetivos nobres do tratamento, a segurança e a eficácia.

Nas primeiras 24 horas, praticamente, a cirurgia é como se fosse eletiva. Colhe-se material para bacteriologia. Disseca-se a vesícula com clareza, identifica-se o cístico, o qual é intubado para propedêutica, e faz-se a coledocotomia se houver litíase (7 a 25% de incidência) residual. Pode-se ir além e praticar-se a papiloesfincterotomia (entre 5 e 10% dos doentes) nos casos de papilite, de microlitíase ou de impactação de cálculo no esfíncter.

Passadas as 48 horas, a execução fica mais difícil e os riscos de lesão de pedículo biliar aparecem ou aumentam. Após este período, passam-se a usar as medidas terapêuticas provisórias ou paliativas. Se há gangrena, ou plastrão bastante organizado com alterações acentuadas da vesícula, ela será retirada parcialmente. Se o paciente está mal e a vesícula é viável, ela é aberta, faz-se a retirada de todos os cálculos, inclusive aquele impactado no cístico, seguido por colecistostomia. Se a vesícula é inviável e há obstáculo também no colédoco, aquela é retirada parcial ou totalmente e o colédoco é drenado para reintervenção posterior. Se há estado geral grave, abscesso grande e ausência de gangrena, faz-se a drenagem com tubo grosso por contra-abertura à laparotomia.

A drenagem é problema controvertido mas constitui-se numa medida bastante segura, apesar de, às vezes, duramente contestada. Ela será feita no abscesso, na vesícula, no colédoco e excepcionalmente no leito hepático ou na cavidade abdominal nas peritonites. Ou então sob a forma de dreno de segurança intracavitário, quando se faz uma coledocotomia ou uma papiloesfincterotomia.

Halsted foi um dos primeiros a indicar a operação precoce na colecistite aguda, operando a sua mãe, realizando a colecistectomia.40

A colecistectomia precoce é segura, reduzindo o período de doença e incapacidade e de custos, além de diminuir a morbidez da colecistite. Permite fazer uma cirurgia nos padrões de qualidade, incluindo: a colangiografia,

transoperatória;2 procedimentos em colédoco, papila e com uma mortalidade de 1,25%.9

O tratamento conservador é 65% mais caro que o da colecistectomia precoce, além de aumentar o absenteísmo no trabalho. A cirurgia do colédoco é um problema à parte e especial na colecistite aguda,

Se encontrarmos obstrução do cístico, haverá pequena possibilidade de lesão associada coledociana.

A expectativa deve mudar se encontrarmos: icterícia, história pregressa de icterícia, hipertemia grave, quadro tóxico, história de cólica biliar recorrente acompanhada de inflamações, cálculo palpado no colédoco, cálculo encontrado ao RX, colédoco dilatado, quadro ou suspeita de pancreatite aguda, lesão radiológica sugestiva de acometimento do esfíncter de Oddi.

Entre o dever e o fazer fica um claro muito grande. Só estaremos autorizados a prosseguir se houver: pacientes em fase inicial de colecistite; estado geral bom, sem complicações; tempo de cirurgia não-prolongada., cirurgião

mais qualificado; equipe mais treinada; boas condições de ambiente operatório; boas condições anestésicas e a certeza de que os procedimentos a serem executados não acarretarão grande morbidez.

Os pacientes portadores de colecistite aguda têm algumas características predominantes: (a) a população é idosa com número maior de homens e diabéticos; (b) há número expressivo de cálculo de colédoco, colecistite acalculosa e de gangrena; (c) há aumento de número de pacientes operados nas primeiras 48 horas. (d) número elevado de pacientes sem história prévia (biliar), e (e) as complicações pós-operatórias e óbitos diminuíram.

Em razão desses dados, os processos alternativos não-cruentos devem ser usados com muito critério e com indicação absoluta. São, principalmente, a colecistostomia percutânea transepática e a papilotomia endoscópica retrógrada. Eles deixam as complicações da vesícula, entre elas a gangrena. 43

Na colecistite (pós-operatória) pode ocorrer a colecistectomia espontânea. Para tal, há necessidade de haver a necrose isquêmica e um orifício de drenagem. 47

Colecistostomia percutânea foi feita em 1921 por Burchardt e Mueller seguindo a colecistostomia lata por Stough Bobbs, em 1867. Nos dias atuais, o ultra-som permite aquele procedimento com mais segurança, pois orienta o operador com mais precisão. Além disto ele permite, colocar próteses, dilatar com balão as estenoses benignas e tratar cálculos dutais.34

Quando a icterícia se associa com febre e dor, temos a tríade de Charcot, significando uma colangite estabelecida, sem pus. Se sobre esta tríade soma-se a confusão mental, progredindo para o choque, teremos a síndrome (penta) de Reynold. Esta sugere um processo séptico.

Não há colangite sem obstrução e estase. A infecção ascendente parece ser rara. O causador maior é a impossibilidade da insuficiente limpeza da bile para o duodeno.45

A associação, pois, de colecistite com colangite exige tuas drenagens, no mínimo: da vesícula e do colédoco.

A colecistite enfisematosa com pneumobilia é rara. Este dado radiológico aparece mais em fístula biliar interna, Oddi incompetente e anastomose bilioentérica. O RX simples de abdômen é fundamental para a suspeita diagnóstica. A colecistectomia ou a colecistostomia serão indicaclas de acordo com o estado geral do doente e o achado anatomopatológico.

A hidropisia ou o empiema podem ser aliviados ou tratados com a aspiração percutânea transepática, cuja punção é dirigida pelo ultra-som. A associação de antibióticos é útil.

A vesícula pode perfurar-se com hemoperitônio maciço, simulando ruptura de aneurisma aórtico.10,18,21,27,28

Colecistite Na Criança

É uma situação rara e grave. As características anatomopatológicas são as mesmas. O quadro clínico pode variar.

Na etiologia, distinguimos basicamente dois tipos. Na primeira infância, deve-se a defeito congênito. Na idade escolar, à litíase. A infecção geralmente provém de uma sistêmica (sarampo, tifo) ou respiratória,

O quadro clínico não é tão típico e pode com muita facilidade confundir-se com apendicite aguda (na criança mais jovem o apêndice é mais alto ou pode ser subepático). Dor abdominal em cólica, náuseas, vômito, febre e reação no hipocôndrio ou hemiabdômen direitos.

O tratamento é cirúrgico, pela gravidade e pelo risco de diagnóstico incorreto, deixando-se passar uma apendicite aguda. O básico consta de colecistectomia, sem exploração de vias biliares, a não ser excepcionalmente (icterícia). Na dúvida, ou em casos tardios, apenas a colecistostomia.

Não comparar a físiopatologia da colecistite aguda com a da apendicite. Nesta, há obstrução por fecalito; a sua luz é contaminada permanentemente; em geral não há processo inflamatório precedendo a crise não sendo protegido, a sua perfuração se faz para a cavidade livre. A vesícula possui cálculo, geralmente é estéril, tem processo inflamatório crônico anterior que impede a perfuração para o peritônio livre mas sim para duodeno e cólon no maior número de doentes.

A gangrena se deve à compressão do cálculo na bolsa de Hartmann (recesso pré-cístico), à distensão dá parede com isquemia ou à infecção geral da parede.

Pode haver uma complicação grave que é a colangite, sobretudo se houver obstrução do colédoco terminal, ou a pancreatite aguda.

A icterícia deve-se a obstrução mecânica (cálculo), edema mucoso por acometimento direto e compressão extrínseca por vesícula tensa, acotovelamento de cístico, estiramento de artéria e infartamento, ganglionar.

Vólvulo Da Vesícula

A vesícula pode apresentar-se longa, ultrapassando os limites do fígado e de sua fixação a este, ou ter um meso hepatovesicular frouxo e largo. Estas duas condições estabelecem facilidades para que ela possa ter movimentos que, em situações extremas, culminam com torção sobre seu próprio eixo. Há distensão, dor contínua, alterações reflexas de trânsito intestinal e, se não for desvolvulada, o processo isquêmico leva à gangrena do fundo vesicular com peritonite conseqüente. 12,29,36

O quadro clínico é agudo, a história é de início brusco e pode-se palpar uma tumefação no hipocôndrio direito nos pacientes de peso médio ou inferior.

O ultra-som pode colaborar no diagnóstico da complicação e a cirurgia é de urgência. Na maioria, das vezes, só é necessária a colecistectomia. Se houver gangrena, é prudente drenar o cístico ou a loja hepática após a ressecção.

Colecistite Aguda Acalculosa

É uma condição aguda sem a presença ou a participação da litíase como fator etiológico.

Ela pode se seguir à obstrução por neoplasia, fibrose de cístico, aderências, vermes (áscaris) e compressão por linfonodos ou artérias aberrantes, principalmente a hepática anterior ao pedículo.

A colecistite acalculosa ocorre entre 5 e 10% dos casos agudos, sendo mais freqüente no pós-operatório (86,7%) e crianças (509/6). Sua incidência tem aumentado pelos recursos que permitem prolongar a vida dos pacientes críticos. Ela aparece após queimaduras, traumas, operações maiores, diabetes, sepse, choque prolongado, insuficiência renal, distúrbios cardiovasculares, doenças malignas e nutrição parenteral. A incidência de gangrena e perfuração é elevada.

As hipóteses são: alteração na bile, isquemia, aumento da pressão na ampola de Vater, desidratação, jejum prolongado, aumento da produção de bilirrubna.11, 33,46

Há uma inflamação aguda, inicialmente sem a presença de germes. Estes em geral aparecem quando o processo já é mais evoluído, ou quando há lesão isquêmica da parede vesicular. Provêm da veia porta, artéria cística, linfáticos e duodeno.

Todos os outros aspectos são parecidos com os da colecistite aguda litiásica, variando na forma de início e ria evolução.5,30,31,36

Colecistite Aguda Pós-Operatória

É uma condição rara mas grave e de alta mortalidade. Não depende necessariamente da presença de cálculos (95% sem cálculo). Segue-se a cirurgia abdominal para, duodenopancreatectomia com preservação da vesícula, carcinoma de cólon e apendicite; operações geniturinária, ortopédica, ginecológica e de cabeça e pescoço, e a traumas.

Pode aparecer nos primeiros dias ou até algumas semanas, e a gangrena é a mais provável complicação.

Há gravidade porque acomete pacientes idosos e em pós-operatório, onde os sintomas abdominais são frustros ou atípicos.

Diferenciá-la de infarto, hérnia hiatal, pancreatite e diverticulose. O tratamento deve, inclusive, ser feito por anestesia local pela gravidade da doença. 26,32,37

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