Alcino Lázaro da Silva O uso excessivo de álcool, fumo ou café poderia ser urna das causas;
para outros seria primariamente um distúrbio psicossomático no qual o parassimpático
estaria sob estimulação excessiva de origem central. Ao lado disso, a administração de
atropina, que bloqueia as terminações nervosas parassimpáticas, diminui ou abole os
sintomas em alguns pacientes. Os defensores da origem psicossomática da doença afirmam
que unia história clínica bem colhida geralmente revelará episódios traumáticos, na
maioria das vezes recentes, submetendo o paciente a estresse excessivo. Como suporte da
teoria, grupos de pacientes foram controlados radiologicamente por dois anos ou mais
realizando-se estudos do trato digestivo superior com intervalos de três meses ou menos.
Notou-se que períodos de estresse via de regra determinavam piora sintomática e objetiva
(radiológica) do quadro, enquanto ocorria remissão nos períodos de tranqüilidade.3 O prognóstico da gastrite antral é aparentemente bom, embora em
algumas ocasiões a ressecção gástrica venha a ser necessária. 8 Não foram seguidos casos suficientes para se determinar a incidência
de transformações malignas surgidas em relação com a enfermidade. 8
A gastrite é geralmente do tipo hipertrófica, com aumento de
espessura. Há infiltração pronunciada da mucosa por linfócitos e quando se limita a
ela é freqüente o edema do tecido conjuntivo submucoso. Há diapedese ou hemorragia
capilar e pode haver erosão superficial da mucosa gástrica.1,3 Os principais achados patológicos na gastrite antral podem ser
divididos em três grupos:8 (1) um processo agudo edematoso com envolvimento
primariamente da mucosa e submucosa. O exame macroscópico revela induração muscular que
simula neoplasma maligno. A mucosa é edematosa e suavemente avermelhada. Fluido edematoso
exsuda da peça que sofreu ressecção recente. Há notável retração de mucosa; (2)
úlcera mucosa com envolvimento da muscular da mucosa. À macroscopia vê-se induração
não muito nítida, com espessamento moderado da parede gástrica. A mucosa é
avermelhada, levemente edematosa e espessada. Há usualmente úlceras múltiplas,
superficiais, bem demarcadas, variando de 1 a 4 mm de diâmetro (Fig. II-9-1). Essas úlceras são
recobertas por secreção mucóide ou mucopurulenta e geralmente mostram hemorragia
recente e tecido de granulação em suas bordas, o qual pode simular linfoma maligno
quando visto pelo gastroscopista (Fig.
II-9-2), e (3) um processo inflamatório crônico com hipertrofia da mucosa e
infiltração de células redondas na muscular da mucosa, estendendo-se à serosa.
Macroscopicamente há nítida infiltração e espessamento de toda a parede gástrica,
lembrando a infiltração de uma neoplasia maligna. A mucosa está firmemente aderida à
submucosa, como resultado do processo inflamatório prolongado. As pregas mucosas estão
grandemente espessadas, apresentando uma superfície de aspecto verrucoso ou como contas
de rosário. Nesse grupo as úlceras superficiais são raras (Fig. II-9-3). O diagnóstico de gastrite antral não pode ser feito somente em bases
clínicas, devido ao quadro não ser suficientemente definido. A queixa mais comum é desconforto ou dor epigástrica, a qual pode ser
em queimação ou aperto, que piora ou é desencadeada 5-3O min após as refeições. A
epigastralgia é agravada por café, condimentos ou álcool, enquanto alcalinos,
demulcentes e uma dieta branda aliviam os sintomas completamente, ou em parte. Podem
ocorrer náuseas especialmente pela manhã, vômitos e, na maioria das vezes, perda de
peso, que pode ser tão acentuada quanto nas neoplasias avançadas. Essa seria devido à
diminuição do apetite e à limitação na ingestão provocada pela dor pós-prandial.
Alguns pacientes exibem seqüência ulcerosa, "dói — come — passa",
mas como já foi dito, a dor piora com a ingestão de alimentos.3,8 Ocasionalmente haverá hemorragia gástrica, que varia de leve a grave
e fatal, exigindo ressecções de urgência. Haverá discrepâncias no diagnóstico de gastrite pelo gastroscopista,
radiologista e pelo patologista. O gastroscopista tem oportunidade de observar a mucosa,
seus movimentos e cor e o efeito das ondas peristálticas sobre suas pregas. úlceras
superficiais são facilmente identificadas à gastroscopia. O radiologista pode estudar a
espessura e o movimento das pregas e pode detectar úlceras quando suficientemente
profundas para formarem uma cratera. Também pode fazer um estudo da peristalse. Já o
patologista não tem esses privilégios, mas conta com a vantagem de poder estudar toda a
parede do estômago. Contudo, haverá variações na opinião de diferentes patologistas
quanto ao diagnóstico, já que as alterações da gastrite inicial ou moderada diferem
levemente do quadro microscópico normal.1 Radiologia. Um exame bem conduzido pode fornecer informações
pormenorizadas sobre a condição da mucosa gástrica. A precisão aumenta com a
fluoroscopia e com seriografias. Assim, em muitos casos, as alterações radiológicas
serão suficientes para que o diagnóstico possa ser suspeitado. Em caso de dúvidas a
gastroscopia e a biópsia completarão as informações para se excluir neoplasia. As alterações radiológicas são devidas principalmente a edema e
infiltração da mucosa e submucosa, com espasmo (Fig. II-9-1). Os achados incluem: Hipersecreção: a secreção excessiva de muco é vista
principalmente na fase aguda, impedindo o contato direto do contraste com a parede,
mascarando completa ou parcialmente o relevo, dando aos contornos um aspecto nublado, mal
delimitado, em que a passagem das tonalidades opacas para as transparentes se faz de modo
gradual, roubando toda precisão aos limites. 6 Espasmo (e estreitamento) do antro: pode ser relativamente leve,
incapacitando a região a voltar à largura (dimensão) normal após a contração, mas
às vezes tão intenso que o antro aparece como um canal de pequeno diâmetro (Fig. II-9-4). Quando coexistem espasmo e
úlcera péptica, geralmente localizada acima da região estreiteda, pode-se atribuir o
espasmo à úlcera. Como o estreitamento pode ser intenso tanto na presença como na
ausência da úlcera, é mais lógico pensar que o espasmo é resultado da inflamação de
parede gástrica.2 Por vezes, estudos radiológicos repetidos revelam um antro
espástico em estômago 7 normal com alterações funcionais por doença
adjacente (Fig. II-9-5). Irregularidade da peristalse antral: uma das
características do processo inflamatório é o prejuízo da função. Assim, as ondas
peristálticas tornam-se ineficientes em tempo e em profundidade (intensidade). Retardo do esvaziamento gástrico, que pode ser agravado pelos
fatores que se seguem: (1) espasmo pilórico, cuja presença não é obrigatória; (2)
hipertrofia muscular pilórica. Seria devida à extensão do processo inflamatório à
região pilórica; o sinal radiológico é o alongamento do canal pilórico com
preservação das pregas mucosas. Quando há espasmo pré-pilórico concomitante, como
freqüentemente ocorre na gastrite antral, os limites proximais do canal podem não ser
identificados,2 e (3) deformações da mucosa antral (pré-pilórica), mais
notáveis junto à porção distal da pequena curvatura, incluindo: (a) edema: há
espessamento (alargamento) e elevação das pregas (dobras) mucosas, mas pregas alargadas
podem estar presentes na ausência de doenças; (b) algumas vezes as pregas assumem
aspecto polipóide, porém foram vistos casos em que a mucosa era lisa, como no carcinoma
cirroso;1 (c) rigidez das pregas da região antral, em virtude de infiltração
submucosa. Estudando-se a peça, vê-se que as pregas não se horizontalizam sob a
pressão da mão do examinador, pela adesão da mucosa e da submucosa à camada muscular;
(d) prolapso da mucosa gástrica para o duodeno: as pregas edemaciadas e alongadas
(espessadas) podem se projetar através do piloro e formar defeitos de enchimento na base
do bulbo duodenal, simulando neoplasia,1 e (e) pequenas úlceras nas áreas
envolvidas. Gastroscopia. Os achados variam conforme a classificação
adotada para gastrite.8 Encontram-se: (1) considerável edema e hiperemia da
membrana mucosa. O canal antral pode estar completamente ocluído e nunca se pode ter
certeza se há ou não uma úlcera subjacente. A úlcera, entretanto, não é comum nesse
grupo; (2) mucosa avermelhada, preferivelmente edemaciada. Há úlceras superficiais, a
partir das quais o sangramento é freqüentemente visto pelo gastroscopista. Há
usualmente abundância de material mucopurulento, e (3) a mucosa gástrica tem aparência
pavimentada e pálida. As pregas mucosas são hipertrofiadas de aspecto verrucoso ou
semelhantes a contas de um rosário e pode haver úlcera. O encurtamento normal do antro,
associado às ondas peristálticas, está ausente. A incisura angular e o esfíncter
pilórico parecem estar em posição fixa. O diagnóstico diferencial deve ser feito com: úlcera pré-pilórica,
hipertrofia do piloro, tecido pancreático aberrante na região antral, nódulos
submucosos produzindo pseudopólipos e carcinoma gástrico.1 Esse é o
principal objetivo do diagnóstico: (a) na gastrite antral a transição da área
envolvida para o segmento normal é suave; no carcinoma é brusca; (b) o estreitamento
antral na gastrite é uniforme e concêntrico; no carcinoma o comprometimento pode ser
maior em urna curvatura que na outra;5 (c) as pregas mucosas estão presentes
na área contraída quando se trata de gastrite antral; estão geralmente ausentes no
carcinoma;5 (d) quase sempre existe alguma flexibilidade da parede na gastrite
antral; no carcinoma anular, é completamente rígida 5 (e) a regressão das
lesões com o tratamento clínico obviamente indica gastrite, 3 e (f) a
presença de massa palpável fala a favor de carcinoma. Um dos aspectos principais é não sobrecarregar a mucosa gástrica.
Institui-se urna dieta branda com hidróxido de alumínio, como no tratamento para úlcera
péptica. Deve ser lembrado que tão importante quanto a dieta e o antiácido é persuadir
o paciente no sentido de abandonar fumo, álcool e café. A atropina ou beladona pode ser
usada, havendo casos em que se indica o fenobarbital. Outra alternativa é o uso de
bloqueadores dos receptores H2 Essas drogas aliviam os sintomas mesmo nos casos
de pouca colaboração do paciente. 3 Deve ser pesquisado um distúrbio psicodinâmico subjacente, cuja
resolução geralmente promove uma remissão significante dos sintomas. A normalização radiológica é mais tardia, podendo ser encontradas
alterações até 3-4 meses após a melhora clínica. É provável existir uma relação
direta entre a duração da enfermidade e a persistência dos achados radiológicos após
o desaparecimento dos sintomas. 3 O tratamento clínico é de primeira escolha e geralmente resolve a
maioria dos casos. Indicada e aceita a cirurgia, após a abertura da cavidade faz-se o seu
inventário. Constatada a lesão, localizada estritamente no antro, este é mobilizado com
secção além do piloro e das lesões que acometem a mucosa e parede gástricas. A experiência mostrou que temos de envolver maior extensão da
curvatura menor, tornando a secção gástrica oblíqua, no sentido crânio-caudal, da
direita para a esquerda. Nesses casos, obviamente a anastomose deve ser a Biliroth I, que
promove o aproveitamento do duodeno e uma anastomose gastroduodenal fácil e sem tensão.
A vagotomia é dispensável, como nos nossos casos, a não ser que haja hipercloridria
constatada no pré-operatório. A peça, se possível, deve ser examinada por congelação que nos
tranqüiliza ainda mais com o afastamento de degeneração maligna. 1. BERG, H.M. Antral Gastritis. Radiology, 59:324, 1952. 2. GOLDEN, R. Antral Gastritis and Spasm. The Journal of American
Medical Associator, 109:1.497, 1937. 3. HAWORTH, J.B. & RAWLS N.B. PrepyIoric local gastritis.
Radiology, 53:720, 1949. 4. LÁZARO DA SILVA, A. & CASTRO, M.A.M. Antrite Química. Medicina
de Hoje, 292, 1980. 5. PAUL, L.W. & JUHL, J.H. Interpretação Radiológica. Rio de
Janeiro, Guanabara Koogan, S.A., 3 ed., 1977, p. 465. 6. TOLEDO, P.A. Radiologia Clínica do Aparelho Digestivo, São Paulo,
Finocchiaro & Cruso Ltda. Editores, 1948, vol. 1, p. 282. 7. TURNER, C.J.; LIPITZ, L.R. & PASTORE, R.A. Antral Gastritis.
Diagnostic. Radiologic., 113:305, 1974. 8. VAUGHAN, W.W. Antral Gastritis - Roentgenologic and Gastroscopic
Findings. Radiology, 44:531, 1945.
Gilberto Silva Vidal
Generalidades
A gastrite antral, gastrite (local) pré-pilórica ou antrite é uma inflamação do
antro gástrico, de etiologia desconhecida, que se inicia na mucosa e a ela pode se
limitar ou se estender às camadas mais profundas até mesmo à serosa.1
Diferencia-se da antrite química.4
Incide na terceira década, podendo ocorrer dos 4O aos 7O anos e precocemente aos sete
anos de idade. Não há diferença significante entre os sexos.1,3
A maior parte dos pacientes mostra hiperacidez, porém não tão pronunciada quanto a
que ocorre na úlcera duodenal, sendo rara a acloridria.1
Copyright © 2000 eHealth Latin America