A circuncisão masculina e o
HIV/AIDS: os adolescentes são a chave?
A circuncisão masculina está associada a índices mais baixos de infecção pelo
HIV, de acordo com estudos epidemiológicos e ecológicos. A circuncisão masculina
é a remoção cirúrgica do prepúcio do pênis (379). Os homens não circuncidados
têm de duas a oito vezes mais chances de contrair o HIV (112, 253, 394).
Além disso, existe evidência de que a circuncisão masculina também protege
contra outras IST’s, inclusive cancro, sífilis, herpes genital e gonorréia. Ela
pode também reduzir o risco de carcinoma peniano e infecções do trato urinário
(252).
A evidência mais convincente sobre a questão do HIV e a circuncisão masculina é
fornecida por Uganda. Em um estudo de 187 casais discordantes—em que a mulher
tinha o HIV, mas o homem não—nenhum homem circuncidado infectou-se com o HIV
durante um período de exame de 30 meses. Entre os homens não circuncidados, 29%
infectaram-se. Entre os 223 casais discordantes em que o homem era soropositivo
mas a mulher não, os homens circuncidados tinham menor probabilidade de
transmitir o vírus às mulheres, porém este efeito protetor diminuía a cargas
virais mais altas (101).
No mundo inteiro, cerca de um quarto dos homens são circuncidados, a maior parte
na América do Norte, nos países do Oriente Médio e da Ásia (onde a população é
predominantemente muçulmana), e em partes da África (252). Nas comunidades
judaicas e muçulmanas, a circuncisão é realizada como um ritual religioso logo
depois do nascimento da criança (175). Em muitas culturas africanas, a mesma
operação é realizada em adolescentes, como um rito de passagem à idade adulta.
Além disso, ela é usada como procedimento médico para resolver problemas de
infecções, lesões ou anomalias do prepúcio (379).
Os pesquisadores acreditam que o prepúcio oferece uma porta de entrada para o
HIV e outros patógenos. A superfície interna do prepúcio tem uma abundância de
células especiais denominadas células de Langerhans. Estas células são
particularmente vulneráveis ao HIV e parecem ser o veículo principal pelo qual o
HIV entra no pênis (348). Além disso, o prepúcio é mais suscetível ao trauma
durante o coito, o que o torna mais vulnerável ao HIV (112). As diferenças de
religião, práticas sexuais ou higiene associadas aos grupos étnicos que praticam
a circuncisão não parecem explicar a associação entre a circuncisão e a infecção
por HIV (17, 394).
A importância da idade
A idade à qual uma pessoa é circuncidada parece ser particularmente importante.
Na região Rakai de Uganda, por exemplo, a circuncisão antes dos 12 anos de idade
parece ter maior correlação com um menor risco de HIV do que quando ela é feita
aos 13 anos ou idade posterior. A prevalência do HIV foi de 7% para os homens
circuncidados até os 12 anos de idade, 15% para os circuncidados aos 13 ou mais
anos, e 14% para os homens não circuncidados (178). Constatações semelhantes
foram relatadas por outros pesquisadores (51).
Os especialistas cada vez mais recomendam que a circuncisão se torne parte de
uma estratégia de saúde pública com o fim de reduzir os níveis de infecção do
HIV (17, 112, 252). Se esta recomendação for seguida, a evidência sugere que os
adolescentes, sobretudo aqueles com idade inferior a 12 anos, terão uma
importante vantagem de partida. Para reduzir substancialmente a transmissão do
HIV, os homens deveriam ser circuncidados antes de chegar à maturidade sexual
(51) e antes de começar a ter relações sexuais.
Outros cientistas recomendam cautela até que as evidências sejam mais
convincentes. Para ter evidência mais conclusiva seria necessário realizar
exames clínicos de circuncisão de garotos, uma situação que implica em difíceis
questões éticas (101).
Pouco se conhece sobre o impacto e custo-benefício da circuncisão masculina como
estratégia de saúde pública. Uma recente conferência de especialistas concluiu
ser prematuro recomendar a circuncisão em comunidades que não adotam já esta
prática (379).
Além do mais, a circuncisão não é uma proteção absoluta contra a AIDS. Os homens
circuncidados continuam a correr riscos (40).
Portanto, alguns cientistas recomendam que os programas que examinam a
viabilidade de promover a circuncisão masculina como forma de prevenção contra o
HIV deveriam também incluir outras medidas eficazes tais como a promoção do uso
de preservativos, mudanças de comportamento e prevenção das IST’s (112).
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs,
The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore,
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